Alien Panic escrita por Metal_Will


Capítulo 68
Crise 68 - Encontro de Outro Mundo


Notas iniciais do capítulo

Postando no sábado? Pois é. Aproveite! ;)



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Crise 68 - Encontro de Outro Mundo

 

 Bartô, nosso colega de classe que acabou se interessando por Estrela, havia me pedido para arranjar um encontro com ela. Meio relutante, ela aceitou e agora estava ali, na praça marcada para o encontro, indo em direção ao pobre garoto apaixonado. Se apaixonar é um momento cruel na vida de uma pessoa, ainda mais quando você se apaixona por uma garota que sequer é do mesmo planeta, como era o caso de Bartô (embora ele não soubesse da verdadeira identidade de Estrela). Estava me sentindo meio mal de bisbilhotar o encontro dos dois, mas Eduardo tinha um argumento científico para isso, afinal, gostaria de ver o comportamento de uma w-ana em um relacionamento social. Estrela, como vocês devem saber, não é a pessoa mais social do mundo, mas nosso colega não parecia se importar muito com isso. Assim que Estrela se aproxima, ele abre um sorriso de orelha à orelha. Mabi, Eduardo e eu víamos tudo à uma distância segura e escondidos. Eduardo conhecia um pouco de leitura labial, então podíamos entender mais ou menos o que estava se passando, mesmo não podendo ouvir muito bem daquela distância.

 

—E-Estrela - gaguejou ele - Você veio mesmo?

 

—Bem, achei que deveria vir - disse ela - Você...é da escola, não é? Bartolomeu...o Vitor falou de você.

 

—Fico feliz em saber que se lembra de mim - disse ele - Você está linda!

 

 É verdade que Estrela era bonita, mas também era verdade que ela foi para aquele encontro com a roupa de casa. De qualquer modo, Bartô não parecia se importar muito com isso.

 

—Qualquer outra menina teria se arrumado toda, mas você é original, você tem auto-confiança para mostrar que não precisa de maquiagem ou roupas da moda para ser bonita.

 

 Estrela apenas fez um sinal positivo com a cabeça em agradecimento e, logo, Bartô voltou a falar.

 

—Aqui - disse ele, entregando os chocolates para ela - Achei que deveria trazer um presente.

 

—Isso seria...

 

—Não vá me dizer que está de regime? - disse ele desesperado - Eu sabia que devia ter perguntado se você podia comer chocolates antes!

 

 Estrela simplesmente abriu o pacote e começou a comer os chocolates.

 

—Muito bom. Obrigada - disse ela, saboreando os doces. É, acho que independente do planeta, garotas sempre vão gostar de chocolate.

 

—Sério? Fico feliz que tenha gostado! Achei que isso seria um presente muito comum!

 

—É, é bem comum, de fato - concordou Estrela. Estrela! Os sentimentos dele! O que nós falamos sobre isso? Queria dar um toque nela, mas não podia me mostrar.

 

—Oh, bem, não sabia o que achar de original - disse Bartô, coçando a cabeça - Devia saber que você não é uma pessoa como as outras.

 

—Como assim?

 

—Pude ver pelo seu olhar que sua visão para a ufologia é bem crítica - disse ele - Sem dúvida, você deve entender de estudos sobre vida extraterrestre.

 

—Sim, é o meu trabalho - disse ela, secamente.

 

—Como?

 

—Oh, quero dizer...gosto de tarefas ligadas à ciência - Estrela tentou consertar, embora não tenha parecido nada convincente.

 

—O que você tem estudado sobre ufologia ultimamente? - perguntou Bartô, bastante interessado.

 

—Principalmente a vida terrestre - disse ela, claramente desinteressada, enquanto comia mais um chocolate

 

—Na Terra? Mas...

 

—Bem, quero dizer... - mas antes de Estrela explicar, Bartô já encontrou uma desculpa razoável.

 

—Ah, entendi! Você deve estudar a teoria de que a vida na Terra surgiu por panspermia! - disse Bartô, animado.

 

—O que ele falou? - perguntei, ao ouvir a tradução simultânea de Eduardo.

 

—Panspermia é a ideia de que componentes orgânicos primitivos circulam pelo espaço até encontrarem algum planeta ou ambiente em que possam se reproduzir. Alguns teóricos acreditam que a vida na Terra surgiu dessa maneira - explicou Eduardo.

 

—Mas nesse caso não teríamos que explicar como esses componentes orgânicos se originaram? - perguntei.

 

—Sim. Isso só tira o problema da origem da vida na Terra para outro local - prosseguiu Eduardo - Esse tema ainda é muito controverso.

 

—Gente, eles estão falando mais alguma coisa! - apontou Mabi.

 

Bem, voltando para o "casal", a conversa continuava.

 

—E então? O que fazemos em um encontro? - perguntou Estrela.

 

—Ah, eu estava pensando...em...em tomarmos um suco! - sugeriu ele - Ou sorvete..

 

—É só isso? - falou ela.

 

—Poderemos conversar mais sobre teorias ufológicas enquanto tomamos sorvete - disse Bartô, extremamente animado.

 

—Pode ser - Estrela concordou, coçando a cabeça.

 

—Vamos, gente - disse Mabi, assim que os dois começaram a se afastar - Eles estão indo para a sorveteria.

 

—Um encontro com sorvete, heim? Que clássico - disse Eduardo. E isso me fez pensar quantas vezes ele e Mabi já tomaram sorvete sozinhos juntos. Que inveja...mas agora a história não é sobre mim e sim sobre a Estrela. Eles já estavam na sorveteria e nós também estávamos ali, observando tudo à uma distância segura.

 

—Quero...um sorvete de blueberry - pediu Bartô - O bom dessa sorveteria é que eles tem vários sabores. Qual você vai pedir?

 

—Pistache - disse ela.

 

—Você gosta de pistache? - perguntou ele.

 

—Não sei. Vou experimentar agora. É um sabor que desconheço - falou ela.

 

—E ainda por cima é aberta a novas experiências. Você é mesmo demais - disse Bartô com um olhar apaixonado.

 

—Eu só quero experimentar um sabor diferente - respondeu Estrela, mas, antes mesmo de fazer o pedido, ela ouve um toque de seu Portal Gun quando se move um pouco para a direita.

 

—Seu celular está tocando - reparou Bartô - Isso é incrível! Qualquer pessoa acharia educado deixar o telefone no silencioso durante um encontro, mas você é original em não se prender a esses padrões sociais.

 

—É que é importante - disse Estrela - Vou pedir licença, ok. 

 

—Estarei aguardando - falou Bartô, animado.

 

Estrela saiu pela porta da sorveteria, onde estávamos escondidos. Ela me puxou pelo braço na mesma hora.

 

—Presença alienígena a uns poucos metros daqui. Vamos nessa - disse Estrela, me puxando. Mabi e Eduardo deram de ombros e nos seguiram.

 

—O quê?! Mas e o seu encontro?

 

—Não sabemos quantos aliens ainda devem estar por aí, mesmo com os buracos de minhoca dos andróides fechados - falou Estrela - Deter uma ameaça alienígena é mais importante do que um encontro.

 

Sempre responsável. Entramos em uma padaria onde o Portal Gun de Estrela não parava de apitar diante da seção de frios.

 

—Posso ajudá-la? - perguntou o atendente.

 

—O que tem aí? - perguntou Estrela.

 

—Mortadela...de vários tipos. Qual vai querer?

 

—Claro. Isso deve ser aquilo...que começa com S e termina com A - balbuciou Estrela, enquanto não estávamos entendendo muita coisa.

 

—Sim, temos essas marcas - explicou o atendente, mas não era bem disso que Estrela estava falando.

 

—Serga, é claro! - falou ela, emitindo um som com o Portal Gun que fez um dos pedaços de mortadela já cortados começar a flutuar pela padaria toda.

 

—O que é essa coisa? - o atendente ficou espantado.

 

—Serga - explicou Estrela - É uma espécie alienígena com mesma cor e formato desses pedaços de mortadela. É uma forma de vida bem primitiva, deve ter caído aqui por um buraco de minhoca e achado que os frios dessa padaria eram seus semelhantes. Pelo menos ela é sensível a certos sons e é difícil de pegar.

ergas ficam descontroladas voando por aí. Ainda bem que o seu rosto estava na frente e a atrasou o suficiente para eu pegá-la.

—Difícil de pegar? - questionei.

—É - disse Estrela - Espera...Ela está indo para o seu lado! Cuidado!

De fato, a tal Serga ou seja lá o que for praticamente grudou na minha cara como um Metroid de mortadela e não queria sair de jeito nenhum. Mas Mabi conseguiu arrancá-la e jogá-la para o alto. Nessa hora, Estrela simplesmente usou o Portal Gun para se livrar da Serga. Depois, apagou rapidamente a memória de todos os presentes na padaria e tudo voltou ao normal.

—Pelo menos foi uma espécie inofensiva dessa vez - disse Estrela - Ótimo. Menos mal. Obrigada, Vitor. 

—Mas por que ela veio para cima de mim? - perguntei.

—Talvez tenha gostado do seu rosto - disse ela.

 

 

—Falando em gostar..agora que já resolveu esse problema, pode voltar ao seu encontro? - perguntei.

 

 

 

—Tenho mesmo? Aquele garoto não me interessa em nada - disse ela.

 

 

 

—Estrela, você veio até aqui. Precisa pelo menos ir com o encontro até o fim.

 

 

 

Estrela apenas suspirou e voltou para a sorveteria. Fomos com ela e, assim que chegou, Bartô mais uma vez abriu seu sorriso de orelha a orelha.

 

 

 

—Achei que fosse demorar mais - explicou Estrela.

 

 

 

—Que bom que já voltou! - disse o apaixonado garoto - Pedi seu sorvete.

 

 

 

—Ah, sim, quando você pretende terminar o encontro? - perguntou ela. Estrelaaaa! Sentimentos, lembra?

 

 

 

—Bem, achei que ainda pudéssemos conversar mais um pouco - disse ele, mas Estrela o interrompeu.

 

 

 

—Você tem alguma coisa para me dizer? - perguntou Estrela.

 

 

 

—Ah, bem, não pensei que fosse tão direto...bom, eu, desde o instante em que te vi, eu gostaria de saber se...se...

 

 

 

—Diga..

 

 

 

—Se... - Bartô estava ficando mais corado - Podemos ser namorados?

Ele falou. Ele finalmente falou. Por algum momento tive inveja dele dizer algo que sempre quis dizer para Mabi, mas as circunstâncias eram bem diferentes, claro. Estrela era solteira e Mabi namorava o meu amigo Eduardo. Não era a mesma coisa, mas ele era bem corajoso. Agora era torcer para Estrela considerar os sentimentos dele.

—A resposta é não - disse Estrela - Mas falo isso com respeito aos seus sentimentos.

Estrelaaa! Não adianta dizer isso com essa expressão apática!

—Não...não mesmo? Você já está interessada em alguém?

—Não, só não quero ter um relacionamento com você. Claro, falo isso com total respeito aos seus sentimentos.

—Entendo - disse Bartô, com uma expressão de lamento - Sabia que isso poderia acontecer.

—Você tem mais alguma coisa para dizer? - perguntou Estrela.

—Não - disse ele.

—Bem, se é assim, então com licença - falou ela - Ainda preciso resolver algumas coisas.

Ficamos tristes por Bartô, mas, antes de sair, Estrela fez uma pausa dramática. Ela parou e se voltou para ele.

—Ah, sim, ainda tenho algo para dizer.

Bartô sentiu um fio de esperança. Será que Estrela diria algo mais sensível agora?

—O meu sorvete. Ainda não experimentei o sabor de pistache.

—Ah, é claro. Pode deixar que eu pago - falou Bartô.

Finamente, Estrela sai de cena, deixando Bartô chorando suas mágoas e enchendo a cara de sorvete de blueberry. Claro que ele não percebeu que estava sentando bem abaixo de uma goteira. Quando Estrela se aproximou, tive que tirar satisfações.

—Estrela! Eu não disse para respeitar os sentimentos dele?

—Mas foi o que eu fiz - disse ela - Vocês me disseram para me colocar no lugar dele. Eu gostaria de uma resposta sincera.

—Mas poderia ter sido mais sensível - insisti.

—Isso poderia dar esperanças a ele, não acha? - continuou Estrela, enquanto tomava um pouco de seu sorvete - É melhor ele pensar em outro caminho. Você viu o que aconteceu hoje, não viu? Como posso ter um relacionamento estável com um trabalho tão instável? A menos que eu encontre alguém que entende meu trabalho, não posso me envolver.

A resposta dela foi insensível, mas foi racional. Talvez seja melhor lidar com a frustração de uma vez ao invés de se iludir. Seria um sinal? Será que eu deveria contar o que sinto para Mabi e abandonar todas as esperanças de vez?

—Além disso... - Estrela interrompeu meu pensamento com mais alguma frase. Será que ela tinha mais algo importante para dizer? - ...sorvete de pistache é mesmo bom, mas prefiro os chocolates.

—É, Estrela é madura, mas acho que ela poderia ser um pouco mais sensível - disse Mabi.

—Eu também acho - concordei. Mas, de fato, era algo que nunca daria certo. Bartô devia estar arrasado. Certamente iria carregar essa tristeza por mais alguns dias. Mas, no dia seguinte, ao chegar na escola, Bartô vem falar comigo novamente.

—Vitor! - disse ele - Pode me arranjar um encontro com Estrela novamente?

—Hã? Mas...

—Tive um sonho - prosseguiu ele - E nesse sonho fui abduzido por alienígenas humanóides, onde um deles era parecido com uma garota linda. Agora finalmente entendi meu destino. Meu amor não está na Terra e sim no espaço. Quero conversar com Estrela sobre isso, ela é a pessoa que mais confio sobre assuntos ufológicos!

—Vou tentar..

 

—Obrigado. Você é mesmo um grande amigo! - disse ele, me abraçando mais uma vez e saindo animado - Espaço sideral, aí vou eu!

Pena que ele tropeçou em uma grelha solta do ralo da escola e bateu com a cara no chão. É, Bartô não tinha muita sorte, mas se recuperava fácil das decepções. Talvez eu deva me espelhar nele...ou será que não?

 

 


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Notas finais do capítulo

E Bartô já tem novos planos. Talvez ele apareça mais vezes, não sei.

Amanhã já devo postar o próximo capítulo (tive um tempinho a mais nessa semana). Até :)