Alien Panic escrita por Metal_Will


Capítulo 15
Crise 15 - Desordem


Notas iniciais do capítulo

Não resisti em já escrever o próximo capítulo ;)



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Crise 15 - Desordem

Sem muita escolha fui carregado pelo Veterano Caio até a casa dele para fazermos nosso trabalho de geometria. Mesmo estando não muito confortável em cima do ombro dele, consegui pegar o meu celular e mandar uma mensagem para a minha mãe dizendo que eu não iria almoçar em casa.

– Chegamos - disse ele, finalmente me colocando no chão. Eu estava diante de uma casa bem grande (não tanto quanto a da Bruna). Digamos que o Veterano Caio morava bem, embora a casa não fosse lá muito bonita. As paredes, por exemplo, pareciam bem rachadas.

– Então é aqui que você mora? - perguntei.

– É. Desde que nasci - disse ele.

Isso foi há dezoito anos atrás. Já comentei que o Veterano Caio tem esse apelido por ser a única pessoa com dezoito anos na minha sala da oitava série? Deixando isso de lado, reparei que apesar de ter aberto o portão, ele não abria a porta de entrada. Estava apenas ali, olhando com um sorriso para a porta.

– E então?

– O que foi? - disse ele, voltando-se para mim.

– Err...não vamos entrar? - perguntei timidamente.

– Pois é. Acho que ninguém viu que chegamos.

– Você não tem a chave?

– Só a do portão. Normalmente meu tio sempre abre a porta da casa.

– Será que ele não está aí? Não quer tocar a campainha?

– Relaxa. Quem precisa de campainha!

Veterano Caio simplesmente se dirigiu à parede ao lado da porta (que por sinal era a parte mais feia da residência) e deu um enorme chute, derrubando todo o concreto e levantando uma enorme nuvem de poeira. Simplesmente não acreditei no que vi.

– Para que ficar esperando? - disse o Veterano, como se tivesse feito a coisa mais normal do mundo.

– Você...destruiu a parede da casa - falei, ainda pasmo e me recuperando de toda aquela poeira, apontando para o estrago que estava na minha frente.

– Relaxa. Essa parede já estava quase quebrada mesmo - foi a resposta. Será que não é exatamente por ele entrar na casa desse jeito? Parece que estávamos falando com uma pessoa que gosta de resolver as coisas do próprio jeito.

– Aí, tio! Cheguei! - gritou ele. Logo um homem careca, barrigudo, de bermuda, chinelo e regata chegou no local com uma cara de confuso.

– Caio? - disse ele - Quebrou a parede de novo?

– Ô, tio. O senhor não atendeu a porta.

Deduzi que aquele devia ser o tio dele.

– Foi mal, eu estava lá na cozinha preparando o almoço e o rádio estava ligado bem alto.

De fato, estava ouvindo Amado Batista tocando quase que no último volume.

– É...vou ter que dar uma rebocada nessa parede aí depois, heim? - disse o tio, coçando a cabeça, mas não muito preocupado. Como...se já estivesse acostumado com aquilo.

– E o que tem de almoço hoje? - perguntou o Veterano Caio, mudando totalmente de assunto.

– Ovo frito com miojo - disse o tio.

– Opa. Legal. Se bem que ainda prefiro aquele hamburger com miojo que o senhor fez ontem.

Não parecia ser a refeição mais nutritiva do mundo. Mas quem sou eu para contrariar?

– E quem é esse garoto?

– Ah, sou o Vitor. Prazer - disse, oferecendo a minha mão. Ele me cumprimentou e devo dizer que o termo aperto de mão nunca fez tanto sentido. Nunca vi alguém apertar tão forte assim! Depois que ele soltou, tentei recuperar o movimento dos dedos, enquanto ele alegremente dizia.

– Faz tempo que você não traz nenhuma visita aqui. Vou quebrar mais um ovo para o seu amigo.

E lá se foi o tio para a cozinha novamente, cantando algo como "No hospital, na sala de cirurgia.." (*).

– Hehe. Meu tio é uma figura, fala aí?

– Você só mora com ele?

– É. Meus pais ganharam na loteria e decidiram viajar pelo mundo. Daí, eles mandam um pouco de dinheiro para o meu tio ficar aqui e cuidar de mim, já que ele não arranjava emprego em lugar nenhum.

– Ah...entendi - embora ainda estivesse admirado dele falar algo como "ganhar na loteria" com tanta naturalidade. Então ele morava longe dos pais. Apesar disso, ele parecia levar a situação muito bem.

– Não quis ir junto com eles? Não sente saudade dos seus pais? - perguntei.

– Ah, nem deu muito tempo. Quando receberam a notícia do prêmio os dois já caíram fora e depois me explicaram a situação toda.

– Mas isso não é abandono?

– Não. Meu tio estava em casa no dia. Tá certo que ele estava dormindo e roncando no sofá na hora, mas estava em casa. Além disso, meus pais mandam mensagens para mim o tempo todo. Saca só.

Ele mostra no celular uma foto de seus pais curtindo uma dança de Macarena em algum hotel de algum país tropical ou algo assim.

– Mas...você está bem mesmo aqui? Comendo miojo e ovo...quando seus pais milionários viajam pelo mundo?

– Claro. E não como miojo com ovo todos os dias.

Fiquei um pouco mais aliviado.

– Tem dia que comemos miojo com hamburger...e outros dias hamburger com ovo. Fora nos domingos, quando descongelamos lasanha.

Retiro o que disse. Como assim? Ele tinha pais milionários e vivia daquele jeito?

– Mas seus pais não mandam dinheiro? Não daria para contratar uma cozinheira?

– Ah, não. Meu tio não confia em ninguém aqui dentro de casa. Ele prefere tomar conta de tudo sozinho.

Reparei. E a casa estava mesmo bagunçada, por sinal. Quer dizer, acho que não é muito comum ver um varal de roupas estendido no meio da sala de televisão.

– É. Meu tio acha que venta mais aqui na sala e a roupa seca mais rápido - explicou o Veterano.

– Sério? - realmente não conseguia acreditar no que estava vendo. Achei que não me impressionaria com mais nada depois de ver a casa da Estrela, mas estava começando a mudar de ideia.

– Bom, o almoço vai demorar um pouco, então vamos adiantar alguma coisa do trabalho lá no quarto - disse ele.

– Demorar? Mas não demora só três minutos para fazer o miojo?

– A parte mais difícil é encontrar o miojo na cozinha - respondeu Caio.

– Mas se vocês não cozinham muita coisa, não deve ser muito bagunçado.

– Na verdade é um pouquinho - disse ele - Mas a gente tenta se esforçar.

– Mesmo?

Subimos as escadas e, depois de eu quase tropeçar em um dos pés de um par de patins jogado no meio do degrau, chegamos ao quarto do Veterano Caio.

– É aqui - disse ele, abrindo a porta e revelando seu refúgio, seu lar doce lar. Assim que a porta se abriu, foi como se eu tivesse sido atingido por uma verdadeira avalanche...talvez por ser algo assim mesmo.

– Opa. Foi mal - lamentou ele, ao me ver praticamente soterrado em centenas de papeis, cadernos, brinquedos velhos, caixas, canetas, roupas e sapatos. Consegui voltar à superfície com uma meia na cabeça (que, por sinal, não era uma das coisas mais agradáveis do mundo). O que diabos era aquilo?

– Você disse que se esforçava, não?

– Bem, nem sempre dá tempo de arrumar a bagunça - respondeu ele.

– Por que você tem tanta coisa? - perguntei - Tipo...essa camiseta aqui nem cabe mais em você.

– Ah, sim. Deve ser de quando eu tinha uns três anos.

Três anos? Sim, agora eu estava começando a entender. O Veterano Caio...é um acumulador! E um caso bem grave!

– Relaxa - disse ele - Eu sei bem onde ficam minhas coisas...se bem que faz tempo que não entro aqui.

– Faz tempo que não entra em seu próprio quarto?

– Acho que já faz mais de um mês. É que às vezes é mais fácil dormir no banheiro do andar de cima.

– Por que você dorme no banheiro?!

– Meu tio jogou um colchão lá outro dia e vi que dava para dormir lá tranquilamente. Além disso, fica fácil quando você acorda apertado no meio da noite.

Não parecia muito higiênico, mas considerando a situação daquele quarto, não dava para falar muito sobre higiene. Daí, então, ele finalmente resolveu entrar em seu próprio quarto depois de...quanto tempo? Um mês? Ele não entrava no próprio quarto por um mês? O que iríamos encontrar lá?

– Caraca! - disse ele, quase saltando para trás ao adentrar naquele inóspito recinto (é, estou falando do quarto dele).

– O que foi, Veterano Caio? - perguntei, meio assustado. Foi aí que vi o que havia acontecido.

– Como é que pode um negócio desses? - Caio parecia admirado.

– O seu quarto...está...maior por dentro - balbuciei. O que estava diante de nós não era apenas um quarto. Era uma enorme floresta recheada de tranqueiras por todos os lados.

– Não lembrava do meu quarto ser tão grande assim - disse ele.

– E não devia ser mesmo - comentei.

– Cê é loco, cachoeira! - disse ele, meio que com um sorriso de entusiasmo - Será que abriu uma passagem para Nárnia?

– Não diria Nárnia, mas...tenho comigo que não deve ser algo muito longe disso, não.

– Como assim?

– Tem alguém que pode ter uma ideia melhor sobre isso - falei, tirando meu celular do bolso.

– Quem? - perguntou Caio.

– Nossa colega de sala, Estrela - falei. Diante daquilo, não tinha muito o que esconder. Só Estrela saberia o que fazer com uma coisa daquelas. O que será que está escondido nessa dimensão que o quarto de Caio se conectou? E por que isso aconteceu?

(*): Música do Amado Batista


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Notas finais do capítulo

Mais explicações no próximo capítulo. Até lá! :)