Então o último fragmento do último cristal Eternium estava na universidade central em que Estrela trabalhava. Precisávamos ir até lá sem que os representantes do governo, que tinham uma visita agendada ao local, no vissem, afinal, Estrela não era mais uma pesquisadora da universidade.

—Bom, não temos tempo a perder – disse Estrela – Vitor. Prepare-se. Vamos pegar logo esse último fragmento.

—Já vão? Não querem descansar mais um pouquinho? - comentou Galáxia, a mãe de Estrela.

—Mãe. Se não andarmos logo, os caras do governo podem chegar na nossa frente – explicou Estrela.

—É o destino do universo que está em jogo – complementei.

—Vocês sempre fazendo drama com tudo – lamentou Galáxia.

—Boa sorte – disse Solar, o pai dela – E Vitor...

—Já sei o que vai dizer – interrompi – Prometo proteger a sua filha...no que for possível.

—O que está falando? - disse Solar – Eu ia dizer para você obedecer tudo que Estrela disser. Se tem alguém que precisa de proteção é você.

—Ah...tá – respondi, meio sem-graça.

—Já passamos por muita coisa juntos – falou Estrela – Já estamos acostumados com isso. Vamos logo.

Estrela abriu um portal e, imediatamente, caímos na sala da universidade em que o radar apontava a presença do cristal.

—É aqui – disse ela, não sem antes passar um tipo de filtro em seu rosto que enganava as câmeras. Ela parecia estar usando um daqueles óculos de brinquedo com nariz e bigode.

—Que droga é essa? - perguntei – O que fez com o seu rosto?

—Não trabalho mais aqui, lembra? - disse Estrela – Se alguma câmera reconhecer o meu rosto, certamente virão atrás de mim. Disfarçada assim posso pelo menos passar por visitante. Tome.

—O que é isso? - questionei, quando ela me entregou um tipo de crachá.

—É um crachá de visitante – disse ela – Tenho vários guardados. Sabia que seriam úteis algum dia.

—Com isso aqui ninguém vai nos encher, heim? Bem pensada – falei, colocando o crachá na mesma hora.

No mais, o local parecia tranquilo. Dessa vez, acho que não passaríamos por muitos apertos para encontrar o nosso fragmento. Mas onde estava o fragmento exatamente? Estrela reativou o radar e viu que o fragmento se movia. O que isso significava?

—Alguém deve estar com ele – disse Estrela – Vamos ter que encontrar essa pessoa.

—E onde ela está? - perguntei.

—Está...vindo para cá – disse ela.

E, de fato, logo um senhor careca na maior parte do cabelo, mas com alguns poucos cabelos brancos e um grande bigode branco, usando um jaleco, entrou na sala. Não preciso dizer que ele levou um grande susto quando nos viu ali.

—Quem são vocês?! - disse o tiozinho, quase caindo para trás.

—Nós fazemos as perguntas aqui...o senhor é...não é possível.

—Você me conhece? - estranhou o pobre senhor.

—É o Professor Orion, não é? - disse Estrela – O historiador especialista no estudo de origens do Setor W.

Agora eu estava reconhecendo. Era o mesmo professor que Estrela mostrou quando nos contou sobre a tal história da Unificadora e que motivou toda a nossa missão em busca dos fragmentos.

—S-sim. Sou eu mesmo – gaguejou ele – Posso ajudá-la em alguma coisa?

—Podemos...conversar em um lugar reservado? - perguntou Estrela.

—D-desculpe...estou muito ocupado – disse ele.

—É uma questão muito importante – insistiu Estrela – O senhor...tem um fragmento de cristal Eternium aí, não tem?

Ele ficou paralisado por alguns segundos.

—Eu preciso ir – disse ele, desejando fugir imediatamente. Mas a idade avançada não ajudou muito na corrida dele – Ah, minhas costas.

—O senhor está bem? - perguntei.

—Estou ótimo – disse ele – Vocês não vão me deixar em paz, vão?

—Não – disse Estrela.

—Tudo bem. Já imaginava que meus dias acabariam assim. Ameaçado por um vilão usando óculos de nariz e bigode – reclamou ele.

—Isso é só um disfarce, mas não posso mostrar meu rosto aqui – disse Estrela – Vamos logo para um lugar mais reservado.

—Tá bem – disse o professor Orion – Vamos para a minha sala.

A sala dele não era muito longe. Seria mais fácil usar um Portal Gun, mas Estrela contou uma vez que só poucas pessoas no Setor tinham permissão de usá-lo. Estrela, nesse caso, era uma das poucas privilegiadas. Também não podíamos usar o Portal Gun de Estrela, pois as câmeras poderiam pegá-lo (só viemos por ele porque ela calculou a chegada a um local sem câmeras).

—É aqui – disse ele – O que querem de mim? Querem levar o fragmento, não é?

Estrela tirou o disfarce e revelou seu verdadeiro rosto.

—É. Isso mesmo – falou ela.

—Uau! Que mocinha linda! - disse o professor – Sim, pode levar. Pode levar tudo que quiser de mim.

—Fácil assim? - perguntei.

—Mas...o que exatamente o senhor estava fazendo com o fragmento? - perguntou Estrela.

—Bem, eu o tenho há um bom tempo – respondeu ele – Mas não queria revelar muito sobre isso, ainda mais agora com os caras do governo novo agindo de um jeito estranho.

—E vai entregá-lo para a gente assim de mão beijada? - perguntei – Como sabe que não somos vilões?

—Não tem como uma garota tão lindinha como ela ser má – falou o professor, praticamente avançando para abraçar Estrela, mas ela o parou com a mão direita.

—Eu...assisti à sua palestra um tempo atrás – disse Estrela – O senhor conhece bem a história da Unificadora, não é?

—Ah, sim. Aquela história – falou ele – Dizem que é uma lenda, mas eu tenho certeza de que é real. Tenho certeza de que há um segredo escondido em Edenis. Mas a missão de conseguir desvendar o segredo é impossível. Tudo que tenho é este fragmento de cristal que encontrei em escavações. Precisaríamos dos três cristais Eternium para isso.

—E se eu disse que já tenho dois cristais Eternium e todos os outros pedaços do último cristal? Só falta o seu pedaço – disse Estrela.

—Só pode estar brincando! - exclamou Orion – Se isso é verdade...você pode provar uma lenda de bilhões de anos!

—É justamente o que pretendemos – disse Estrela – Talvez...se encontrarmos a Unificadora, possamos impedir os planos do governo.

—Se estão contra o governo, então estão do lado certo! - disse Orion, feliz – Ficarei feliz se conseguirem usar o poder dos cristais para impedi-los. Estão falando mesmo sério?

—Sim, estamos – falou Estrela – Descobrimos muitos podres deles.

—Exato – disse o professor, agora com uma expressão mais séria – Os governantes estão exigindo cada vez mais energia. A população não sabe dos planos secretos, mas eu tenho uma ideia do que seja.

—Abrir portais para outras dimensões – completou Estrela.

—Sim – concordou Orion - É exatamente isso que eles querem.

—Ouvi do próprio Aster, um dos funcionários mais próximos do alto escalão do governo – falou Estrela - Isso antes dele me demitir.

—Então você também trabalha para o governo? - perguntou ele.

—Já trabalhei nessa universidade – respondeu Estrela.

—Uma gatinha dessas tão perto de mim e eu nem percebi – disse o professor, tentando agarrar o braço de Estrela, mas ela se desviou bem rápido – Seja como for...se estão mesmo planejando ir contra o governo, possuem todo o meu apoio.

—Se o senhor não ver problemas em entregar o fragmento, então não temos tempo a perder – disse Estrela – É tudo que precisamos.

—Sim. É melhor se apressar – disse Orion – Representantes do governo pretendem vir na universidade ainda hoje. Se virem você por aqui...

—Eu sei. Será problema – falou Estrela – Então...pode dar o cristal logo?

—Claro – disse ele. Mas assim que a troca seria efetuada, um portal se abre bem diante de nós, na sala do professor. Quem aparece diante de nós é Aster e mais dois caras que não pareciam muito...amigos.

—Ora, ora. Quem estamos vendo aqui? - disse ele – Se não é minha velha amiga, Estrela? Parece que chegamos em uma boa hora.

—A-A-Aster – gaguejei, nervoso.

Parece que agora estávamos encrencados.