Depois de encontrarmos o último fragmento do último cristal Eternium juntamente com o professor Orion no Setor W, um portal se abre e, diante de nós, Aster aparece acompanhado de outros dois capangas. Parece que levar nosso fragmento não seria tão simples assim.

—Aster – disse Estrela, com uma expressão séria – Não imaginava vê-lo tão cedo.

—E eu muito menos – disse ele – Acho que...alguém que não trabalha mais como uma pesquisadora de nosso governo não tem autorização para entrar aqui, ainda mais usando um Portal Gun.

—O que você veio fazer aqui? - perguntou ela.

—Acho que eu deveria fazer essa pergunta, não? - respondeu Aster – Nossa visita já estava agendada. Mas a sua...acho que não.

—Não imagino o que nosso governo tem a tratar com o professor Orion – retrucou Estrela, em tom irônico – Ele é apenas um pesquisador de história.

—Talvez...ele tenha mais a nos dizer sobre o cristal Eternium que tanto precisamos. Afinal, graças a você, ficamos sabendo que existe mais do que um – devolvou Aster – E, segundo o nosso governante, parece que deveríamos levar mais a sério as pesquisas do professor.

—Ah, então agora vocês vão me dar ouvidos, não é? - disse Orion, irritado – Meu trabalho sobre as origens do Setor W nunca foi reconhecido por vocês.

—É claro. O governo só se interessa por pesquisas que o favoreçam de alguma maneira – respondeu Aster secamente – E o governante acredita piamente que o trabalho do professor Orion tem chances de estar ligado ao Eternium.

Eu apenas ouvia tudo escondido atrás de Estrela. Não sabia do que aqueles caras eram capazes, mas Estrela não parecia estar com medo.

—Parece que você veio bem armado para uma simples visita – disse Estrela.

—Isso? - disse Aster, olhando para os homens com cara de poucos amigos ao seu lado – Ah, são apenas seguranças. Não precisa se preocupar com eles...a menos que vocês ofereçam alguma ameaça.

De qualquer modo, Aster não viu o fragmento do cristal Eternium nas mãos de Estrela, então, desde que ele não percebesse nada, talvez até pudéssemos passar despercebidos. Mas ele não era tão idiota assim.

—Mas você não respondeu a minha pergunta, Estrela – continuou Aster – Afinal, o que veio fazer no Setor W? Não vai querer que eu acredite que você veio aqui, tirar suas coisas e, acidentalmente, encontrou o professor Orion no caminho e ele te chamou para beber alguma coisa aqui?

—Sei que é difícil acreditar – disse Estrela – Mas vim aqui, tirar minhas coisas e, acidentalmente, encontrei o professor Orion o caminho e ele me chamou para beber alguma coisa aqui.

Pisquei para o professor e ele se direcionou a um tipo de torneira que estava próxima a parede, estalou os dedos e, imediatamente, um mecanismo logo abaixo foi ativado, liberando um copo e ativando a torneira que, por sua vez, tirou um tipo de chá.

—Aqui está seu chá, querida – disse o professor.

—Obrigada – disse ela.

—Sua cínica! Está tramando alguma coisa, não está? - perguntou Aster.

—O que eu poderia estar tramando? - perguntou ela.

—Eu não sei, mas... - Aster pegou Estrela pelo braço – Acho que deveria levá-la comigo para fazer algumas perguntinhas.

Nisso, meio que instintivamente, bati na mão de Aster, fazendo-o soltar o braço dela imediatamente.

—Você – Aster não me olhou com uma cara muito boa. Um dos seguranças imediatamente me pegou pela gola da camisa e me levantou facilmente.

—E-Eu – gaguejei, enquanto Aster me olhava nos olhos ali, pendurado pelo guarda-costas – Err...não precisamos resolver isso com violência, precisamos?

—Você ainda trouxe um terráqueo com você sem autorização, Estrela? - perguntou Aster – Você só está piorando a sua situação.

—Não se preocupe. Assumo toda a responsabilidade por esse terráqueo – disse Estrela – Cuido de toda a burocracia mais tarde, quando tudo estiver esclarecido.

—“Quando tudo estiver esclarecido”, você diz – repetiu Aster – Não acho que o governante será muito conivente com uma traidora.

—Ainda bem que vivemos em uma república, não é? - respondeu Estrela – Provarei minha inocência em meu julgamento, se meu plano der certo.

—Plano? - perguntou Aster – Então você está mesmo tramando alguma coisa...

—Certamente que está – disse uma voz mais grossa, aproximando-se por outro portal. Diante de nós, aparece um homem forte, braços largos, cabelos verdes, expressão séria e uma roupa branca com detalhes dourados.

—Governante Quasar – disse Aster – Por que o senhor veio para cá?

—Os seguranças possuem câmeras embutidas nas roupas – disse ele – Observei toda a conversa até agora e, olhando para as expressões faciais de Estrela, posso ter certeza de que ela está pensando em alguma trama. Sim, eu nunca te vi antes, mas sou ótimo em perceber quando estão querendo me passar a perna.

Estrela não desviou o olhar.

—Não podia ficar apenas parado olhando isso tudo – disse Quasar – Resolvi participar da visita pessoalmente.

—Então o senhor é o tal governante novo? - falei.

O governante fez um sinal para me soltarem e caí com o traseiro no chão. Enquanto tentava me reerguer, ele comentou.

—Então você é um terráqueo, heim? Interessante...sua anatomia é bem parecida com a nossa – comentou ele, mas logo voltou-se para Estrela – Sabe, Estrela. É uma pena que você tenha traído o governo. Li um pouco de seu trabalho publicado e, de fato, você é uma excelente pesquisadora.

—Agradeço o elogio – disse ela – Mas não posso colaborar com um governo tão suspeito.

—Entendo sua desconfiança, mas acredite que expandir as fronteiras de nosso conhecimento só beneficiará o Setor W – disse Quasar.

—Mas é difícil imaginarmos as consequências de ligar mais de um universo – falou Estrela – Você tem ao menos ideia de como fará isso?

—Apenas confie em mim – foi tudo que Quasar disse – E entregue logo o Eternium que está com você.

Todos arregalamos os olhos. O suor frio no rosto de Estrela agora era evidente.

—Como sabe sobre isso? - perguntou ela.

—Ora, não sou tão idiota quanto Aster – disse Quasar – Você revelou que existem dois cristais Eternium com você. A lenda das origens nos falam de três minérios...se esses minérios são os cristais Eternium e o professor tem algo a ver com isso, acho que é seguro concluir que você está com o último Eternium também, não está?

—Estrela – Aster parecia nervoso – Estava tentando me enganar de novo?

—Está bem – disse ela, mostrando um pequeno pedaço do cristal de seu bolso – Acho que não tenho muita escolha.

—Irá entregá-lo? - disse Quasar – Fico feliz que ainda mantenha um mínimo de inteligência.

Estrela deu um peteleco no fragmento e jogou-o para o governante, mas, assim que fez isso, ela aproveitou a fração de segundos de distração daqueles quatro, que olhavam para o fragmento lançado, e me pega, juntamente com o professor Orion e abre um portal.

—Onde pensam que estão indo? - disse Aster.

—Não é da sua conta – disse ela, já entrando no portal – Vocês já tem o que precisam, não tem?

—Você ainda tem muito a declarar e...

Mas já havíamos entrado no portal e caído na casa de Estrela.

—O-onde estamos? - perguntou o professor Orion.

—Na minha casa – falou Estrela, enquanto Plum fazia festa para ela – Seja bem-vindo.

—Ai, ai. E agora? Deixamos o último cristal para trás – comentei, já nervoso.

—Quem disse? - disse Estrela, mostrando um fragmento de cristal.

—Como? Como você conseguiu? - estranhei.

—Você acha mesmo que iria entregar o último fragmento assim tão fácil? - perguntou ela – Joguei um pedaço falso de cristal. Levei um no bolso, apenas por garantia. Já imaginava que algo do tipo poderia acontecer.

—Então...você está com todos os cristais Eternium agora? - disse o professor.

—Sim – falou Estrela, olhando para os quatro fragmentos que ela tinha unido em sua casa – Agora todos os Eternium estão conosco. Só nos resta saber se a lenda é verdadeira.

Sim, nossa ideia era usar os três Eternium para falar com a Unificadora. Será que vamos conseguir?