Pelo que parecia, Estrela ficou empolgada, bem, pelo menos com o máximo de empolgação que uma Estrela pode apresentar. Ela se virou rapidamente para seu painel de controle e começou a digitar algumas coisas. Eu, como você já pode prever, não estava entendendo nada, mas acho que todas as coisas que aquela garota de cabelos brancos me falou fez Estrela lembrar de algo.

—Achei! - disse ela, embora essa exclamação pareça revelar bem mais empolgação do que realmente aconteceu (de qualquer forma, digamos que ela estava mais empolgada do que de costume).

—O que você achou? - perguntei, tentando olhar para uma tela cheia de textos e diagramas esquisitos.

—Você me disse que a tal menina de cabelos brancos falou sobre ter apenas três cristais Eternium no mundo, não disse? - perguntou ela.

—Sim. Pelo menos foi o que ela falou – respondi.

—E disse que era uma má ideia mantê-los juntos, não é? - ela insistiu.

—Exato – concordei, enquanto balançava positivamente minha cabeça.

—Bem, existia uma história no Setor W, uma história muito antiga sobre três pedras preciosas que nunca poderiam ser unidas – explicou ela.

—Uma história? - perguntei.

—Exatamente.

—Então, o Setor W tem uma lenda sobre isso? - ponderei.

—Lenda? - Estrela olhou para mim com um olhar claro de reprovação – Quem está falando de lenda? Estou falando de história! Você acha que o Setor W dá importância para narrativas falsas?

—Está dizendo que aconteceu mesmo? - indaguei.

—Sim – respondeu ela – Temos muitos registros em vários documentos históricos. Vamos ver, para o tempo da Terra isso é equivalente a algo que aconteceu há mais ou menos uns 8 bilhões de anos.

—Bilhões? Isso é tempo pra caramba!

—Bem, o Setor W é uma das civilizações mais antigas – lembrou Estrela - Mas, pelos documentos, essa é a data mais provável em que a Unificadora surgiu.

—Unificadora? Como assim? - perguntei.

Estrela apontou para uma das imagens na tela.

—Essa figura de uma mulher de cabelos compridos é uma representação dela – ela seguiu explicando – O Setor W, na verdade, não é um planeta, mas uma unificação de diversas regiões separadas pelo espaço, mas interligadas por um grande ecossistema. Veja só essas fotos. São imagens recentes de lá.

Ela começou a mostrar mais imagens. Era a primeira vez que Estrela falava sobre seu local de origem com tantos detalhes. As fotos mostravam diversas plataformas, com diversos complexos de alta tecnologia, como se tudo fosse uma grande empresa de tamanho intergaláctico. Não via árvores ou nada muito natural.

—Note que não temos muito verde ou nada do tipo. Apesar disso, a vida é possível, pois temos energia suficiente para sintetizarmos todos os componentes importantes para a vida de um w-ano.

—Parece um lugar bem triste – comentei.

—É...nesse ponto, até o planeta do Kaldi tinha mais verde, com toda aquela plantação de amendoim – ela comentou.

Embora Estrela sempre nos censurasse pela falta de tecnologia, em certo sentido, ela parecia nos invejar pela beleza natural de nosso planeta. Pelo menos do ponto de vista de um terráqueo, não devia ser muito saudável morar no Setor W.

—E como conseguimos tudo isso, você deve estar se perguntando? - disse ela.

Eu até ia comentar alguma coisa, mas ela foi mais rápida.

—A resposta é simples: tudo começo quando a Unificadora nos deixou as três fontes de energia – disse ela – Toda a energia do Setor W veio de três objetos minerais que, embora separados por uma distância, forneciam energia o suficiente para desenvolver todos esses complexos.

—Então, esses três objetos minerais eram os Eternium? - perguntei.

—Na verdade, ninguém sabe – disse Estrela – Tudo que sabemos é que essa Unificadora foi a líder dos primeiros w-anos. Ela uniu esses seres para formarem uma colônia desse porte. Mas a parte misteriosa é que...a Unificadora sumiu assim que o Setor W ganhou uma certa estabilidade.

—Sumiu? - falei – Sumiu mesmo? Desapareceu, do nada sumiu?

—Isso mesmo – respondeu Estrela – Mas não foi só isso. Os três minerais também sumiram e ela deixou um minério gigante único que é o núcleo de energia do Setor W até hoje.

—Um minério gigante...e não é o Eternium? - perguntei.

—Não, mas é um minério muito massivo – disse ela, mostrando uma imagem do tal minério – Essa coisa tem fornecido nossa energia por bilhões de anos e, pelos nossos cálculos, ainda aguentará mais alguns bilhões de anos.

—Ele é tipo...o nosso Sol? - indaguei.

—É. Podemos dizer isso – concordou Estrela – A diferença é que temos como estudar nosso minério com mais facilidade do que o Sol de vocês. Ele libera energia de modo seguro e permite até que copiemos um pouco da informação dele para desenvolvermos sinteticamente outros cristais de energia.

—Sério?

—Bem, a bateria do Portal Gun funciona a base disso, lembra? - ela explicou – Você imagina a quantidade de energia necessária para viajar pelo espaço e pelo tempo com tanta facilidade? Aliás...

—Tem mais?

—Sim. A técnica de viagem pelo espaço e pelo tempo por portais também foi desenvolvida pelo conhecimento deixado pela Unificadora – continuou Estrela – Obviamente, é bem mais difícil viajar pelo tempo do que pelo espaço...lembra a vez que fizemos isso? Só voltamos algumas horas para o passado. Na verdade, isso é o máximo que o Portal Gun consegue fazer e mesmo as máquinas do tempo mais eficientes do Setor W só conseguem voltar um dia no passado, e ainda assim com muito gasto de energia.

—Então tudo começou com ela? - continuei perguntando.

—É o que parece. Mas o que ninguém entende é a razão dela ter sumido e por que ter levado os três minérios. Tudo que ela deixou foi um minério de energia limitada. Tem bastante energia, mas ainda é finita.

—E você suspeita que esses três minérios são cristais Eternium? - perguntei.

—Sim – disse ela – Depois do que você me contou, tenho a suspeita de que essa garota esquisita tem algo a ver com a Unificadora. Mas não temos informações sobre nenhuma delas e não temos nenhuma prova de que aqueles três minérios eram mesmo cristais Eternium.

—E como vocês ficaram sabendo do cristal Eternium? - indaguei.

—Bem, todos os planetas que visitamos tinham uma lenda comum: algum minério, cristal ou pedra misteriosa com poderes milagrosos – disse Estrela – Nossos cientistas sociais uniram todas essas histórias em um único tipo de material que chamamos de Eternium. Esse nome se tornou popular e se espalhou por outras regiões do universo.

—Pedra com poderes milagrosos... - repeti pensativo – Lembrei! Aqui na Terra tínhamos uma lenda assim. É, o Eduardo me falou isso uma vez. Séculos atrás, cientistas antigos chamados alquimistas queriam encontrar uma pedra assim...eles a chamavam de Pedra Filosofal ou algo do tipo.

—Exatamente – confirmou Estrela – Essa ideia não surgiu à toa. Ela vem de um conhecimento antigo de cristais com poder infinito. Alguns poucos estudiosos e filósofos do Setor W tinham uma teoria de que nossa minério fonte de energia era uma variação de Eternium e que os três minérios da Unificadora poderiam ser cristais Eternium, mas...não tínhamos nenhuma evidência de que poderia haver mais de um Eternium. Mas, agora, está tudo se encaixando...

—E o que você pretende fazer com essa informação? - perguntei – Vai mesmo mandar isso para seus superiores?

—Até agora, somos os únicos que sabem da existência de mais de um cristal – disse Estrela – Se os meus superiores souberem disso, as coisas vão ficar complicadas.

—E então? O que você vai fazer? - indaguei.

—Acho melhor...juntar o máximo de informação possível – falou ela – A CICE e o idiota do Kevin não me deixaram ter acesso ao Eternium que eles possuem, mas agora que você tem um, posso pelo menos tirar alguns dados dele.

—Vai estudá-lo? Temos tempo para isso? - falei.

—Todo esse tempo andando comigo e você ainda não me conhece, Vitor? Tenho tecnologia o suficiente aqui para analisar o cristal e tirar muitos dados, mas..

—Mas o quê?

—Para fazer isso, você precisa confiar em mim – disse Estrela – Vitor, eu...

Ela fez algo surpreendente depois disso. Sim, nunca me esquecerei. Ela se ajoelhou.

—Desculpe – disse ela.

—E-Estrela? O que está fazendo?

—Ouvi dizer que se ajoelhar é um sinal de humildade nesse planeta – disse Estrela – Estou pedindo perdão por ter apagado sua memória. Eu sempre disse que você é a única pessoa em que posso confiar, mas...eu não confiei em você o bastante. Por favor, me perdoe.

—Estrela... - falei em tom de lamentação – Bem, imagino que você também tenha vários problemas. Mas é claro que te desculpo e...também peço desculpas por achar que você poderia ser má. Tudo bem. Vou confiar em você. Sei que você saberá o que fazer para ajudar a Terra.

Entreguei o cristal nas mãos dela.

—Finalmente – disse ela, levantando-se imediatamente – E ficar de joelhos é horrível. Nunca mais me obrigue a fazer isso.

Parece que ela voltou ao normal bem rápido.

—Agora – prosseguiu Estrela, colocando o Eternium em um compartimento de seu painel de controle – Vamos ver o que é essa coisa.