Estrela pegou o cristal Eternium que estava comigo e o colocou no compartimento de seu painel de controle. Não preciso dizer que não entendi nada dos números e imagens que apareciam na tela, mas, pela expressão de Estrela, também pude perceber que ela só estava aguardando. Para quebrar o silêncio resolvi perguntar.

—Estrela...o que exatamente esse negócio faz? - perguntei.

—Vai analisar os componentes químicos do cristal e mostrar do que é feito – explicou ela – Isso pode levar alguns minutos.

—Bem, o jeito é esperar, né? Tenho que passar por isso quando meus jogos precisam de atualização – falei.

—Não é o melhor programa que existe, mas deve servir para o que queremos – prosseguiu ela – A central do Setor W certamente conseguiria um resultado melhor e bem mais rápido.

—E o que exatamente estamos querendo? - perguntei.

—A primeira coisa é ver se esse Eternium é genuíno e descobrir mais algumas informações. Talvez...eu consiga negociar com o Setor W em troca de informações – falou ela – Se eu conseguir que eles não façam nada com a Terra em troca dos dados seria um bom negócio, não acha?

—Mas ainda tem o cristal em posse da CICE, não é? - falei – Eles podem querer aquele também.

—Aí terei que negociar com a CICE – respondeu Estrela – Seria mais fácil roubar o cristal deles, mas se fizer isso, aqueles imbecis vão me considerar uma criminosa e não poderei ficar na Terra sossegada.

—Não diga roubar! Podemos ser melhores do que isso – falei.

—Esse seu jeito inocente ainda vai acabar te custando caro – respondeu Estrela, em tom mais sério. Mas, antes que eu pudesse falar qualquer coisa, algo mudou na tela.

—Parece que temos alguma novidade – disse ela.

—Mas já? - estranhei a velocidade do processo. Foi bem mais rápido que qualquer atualização de jogos, mas eu já devia saber do poder de processamento da tecnologia w-ana.

Estrela começou a olhar para a tela e acionar diversos comandos. De novo, é desnecessário dizer que eu não estava entendendo nada. Ainda assim, pelo olhar de Estrela, podia perceber que ela estava bastante intrigada.

—É mesmo muito interessante – disse ela – A estrutura molecular tem elementos desconhecidos, mas também tem alguns conhecidos...mas tem algo bem mais interessante.

—O quê? - questionei.

Estrela pegou seu Portal Gun e o abriu. Ela mostrou o pequeno cristal que era usado para o abastecimento de energia do aparelho.

—Veja – disse ela – Muitos dos componentes do Eternium são parecidos com o cristal que abastece o Portal Gun.

—Mesmo? - falei – Então...não é totalmente estranho.

—Pois é. Os dois cristais são diferentes, mas possuem muitas coisas em comum – respondeu ela.

Depois disso, Estrela colocou o cristal de seu Portal Gun no analisador e, novamente, ativou o programa. Após alguns instantes, ela também tinha um relatório dele.

—O que você fez? - questionei.

—Analisei a composição do cristal combustível – disse ela – Agora, vou fazer um cruzamento dos dois relatórios.

Ela mexeu em mais um monte de comandos que não entendi e, após alguns instantes, um gráfico apareceu na tela.

—É, mais de 50% de semelhança na estrutura dos dois cristais – falou ela – Claro, mesmo 1% de diferente ainda pode ser relativamente muita coisa, mas mais de 50% de semelhança não pode ser apenas coincidência.

—E aí? No que está pensando? - perguntei.

—Parece que minhas suspeitas estão indo para o caminho certo – disse ela – Sem dúvida, o cristal do Portal Gun tem alguma relação com o Eternium. E, como os cristais combustíveis são originários de nossa fonte de energia, podemos deduzir que nossa fonte de energia tem algo a ver com o Eternium.

—Então...

—A conclusão disso tudo – interrompeu Estrela – É que o Setor W, de fato, tem alguma relação com o Eternium desde sua origem.

—Caraca – falei, realmente espantado – Então toda aquela história da unificadora e tals era mesmo a menina de cabelos brancos e os cristais Eternium?

—Calma. Ainda é muito cedo para afirmar isso – falou Estrela – Mas acho que é seguro concluir que essa tal garota de cabelos brancos tem algo a ver com a unificadora.

—Unificadora? - disse uma voz, saindo praticamente do nada – Espera! Tá falando daquela história chata que a vovó contava nas reuniões de família?

—Lua?! - Estrela e eu exclamamos juntos.

—Oi, gente. Há quanto tempo, né? - falou ela.

—O que está fazendo aqui, Lua? - perguntou Estrela.

—Ai, isso é jeito de tratar sua irmã? - respondeu ela – Eu só estava em casa, de boa, e resolvi abrir o portal para fazer uma visitinha. Só calhou de eu ter ouvido algo sobre o cristal do Portal Gun ter algo a ver com cristal Eternium. Por quê? Vocês estão de segredinho por acaso?

Estrela estava com uma expressão preocupada e não poderia culpá-la por isso. Certamente, envolver a Lua nessa história não seria uma boa ideia.