—Isso mesmo – continuou Lua, retirando um maço de papeis de sua pasta – Prova surpresa! Podem guardar tudo e deixar só lápis e caneta em cima da mesa.

—Mas...professora – disse um aluno sentado à frente, um tanto timidamente – Esse é só o segundo dia de aula.

Lua apenas sorriu.

—Não importa – disse ela – Só quero testar como anda o conhecimento de inglês de vocês.

—Mas – embora o aluno tentasse falar mais alguma coisa, parece que não conseguiríamos tirar isso da cabeça dela.

—Prova surpresa...o que vou fazer? Não estudei nada! - comentei, já preocupado e com as mãos na cabeça.

—Ninguém estudou nada, Vitor – disse Estrela.

—Ah, é verdade...sempre conseguimos entender os aliens quando você está por perto por causa do tradutor universal. Por que isso não funciona quando temos prova de idiomas? - perguntei.

—É simples. Desligo o tradutor durante as aulas por ética – disse ela.

—O quê?! - exclamei espantado.

—Ora, Vitor. Se todo mundo entendesse outros idiomas enquanto estou por perto seria muito suspeito, não acha? - explicou ela.

—Não pode abrir uma exceção? - perguntei.

—Relaxe. É só um capricho da Lua – disse Estrela – Estou mais preocupada com o que ela faz fora daqui.

As folhas foram distribuídas. Ao ver que todos receberam, Lua disse:

—Todos receberam? Ótimo. Podem começar. Vocês tem quarenta minutos para terminar a prova. Boa sorte!

Olhei para minhas questões e me deparei com um texto bem complicado para ser traduzido, algumas questões de preencher lacunas e outras de responder com a sentença correta. Aparentemente era uma prova de inglês básico, mas eu, pessoalmente, estava achando difícil.

—Caraca. Isso é mais divertido do que eu pensava – falou Lua, sorridente.

—Está..se divertindo? - comentei em voz baixa.

—A graça de ser professor é aplicar provas e ver a cara de vocês. Não queria esperar tanto para ver isso! - disse ela, impressionantemente animada.

—Típico – comentou Estrela, em tom sério.

Mais ou menos quarenta minutos depois, o tempo termina e Lua recolhe nossas provas. Com exceção de Estrela, a maioria da sala parecia desanimada.

—É isso aí, turma! - disse Lua, satisfeita – Trarei suas provas corrigidas na próxima semana. Espero que tenham ido bem!

E, depois desse discurso em um tom alegre totalmente distoante do clima da sala, Lua sai de cena.

—Ainda bem que não vale nota – disse Priscila – Achei bem difícil. Tinha muita coisa que eu não lembrava.

—Preciso agradecer a minha mãe por ter passado as férias no exterior – comentou Bruna – Pelo menos treinei meu inglês.

—Caraca, bem que ela podia ter dado algumas fórmulas – comentou Veterano Caio.

—Isso era uma prova de inglês e não de matemática – disse um dos alunos.

—Ah, por isso achei estranho – comentou Caio.

—Devo admitir que essa Lua está se saindo bem como professora – comentou Kevin – Avaliando o conhecimento dos alunos desde cedo. Muito bom.

—Bem, analisando o conteúdo de inglês do Ensino Médio...devo concordar que foi bem acima do nível para uma turma de primeiro ano – disse Estrela.

—Será que fui bem? - falei, com um ar de preocupação.

—Pare de se preocupar – disse Estrela – Vamos continuar de olho na Lua durante esses dias!

E foi o que fizemos. Mas, por incrível que pareça, Lua estava se adaptando muito bem ao colégio. Foi o que comentei com Mabi e Eduardo.

—A Lua até que tem sido bem legal, né? Apesar da prova surpresa que ela deu ter sido bem difícil – comentei.

—Ela deu uma prova surpresa na sala de vocês? Na nossa, ela só nos mandou fazer a tradução de um texto – disse Mabi.

—Como assim? Que injusto! - reclamei.

—Ela provavelmente está pegando mais pesado com vocês por que a Estrela está na sala – comentou Eduardo – Não deve ser fácil desafiá-la, não é, Estrela?

—Não preciso ser desafiada – disse Estrela, enquanto comia seu lanche – Já tenho uma formação no nível de pós-graduação do planeta de vocês. Só estou disfarçada de estudante para trabalhar aqui, esqueceram?

—Mas a Lua deve estar levando isso bem mais a sério – falou Mabi.

—Só estou esperando a hora que a Lua vai aprontar alguma – disse Estrela – Não acredito que ela esteja se adaptando tão bem.

—Mas está – comentou Eduardo – Ela parece limpar a escola para passar o tempo antes de dormir e deixa tudo ainda mais brilhante do que a equipe de limpeza. Parece que deixá-la morar no quarto da cobertura da escola tem sido bem vantajoso para o colégio.

—Além disso os outros professores tem falado muito bem dela – comentou Mabi.

—Puxa, por essa eu não esperava – comentei.

—Não sei... - Estrela parecia receosa.

—Bom. Parece que a Lua quer mesmo ser apenas uma boa professora e viver tranquila aqui, não é, Estrela?

—Vamos esperar para ver – disse ela.

E foi o que fizemos. Na semana seguinte, quando tivemos aula com ela, demos de cara com uma Lua nada feliz.

—Vocês... - disse ela, entrando realmente furiosa na sala – Como vocês conseguiram?

—Amada mestra – disse Bruna, um pouco receosa – Aconteceu alguma coisa?

—As notas de vocês na prova surpresa foram péssimas! - disse ela – Estou inconformada com o nível de inglês dessa sala.

—Bem, professora. A senhora... - mas Bruna foi interrompida.

—Senhora, não. Senhorita. Ainda não sou casada! - disse ela – Bem, até estou aceitando currículos para pretendentes, mas...ainda não sou casada.

—Tudo bem...err...senhorita – continuou Bruna – A senhorita precisa concordar que a prova estava bem...difícil.

—Vocês acharam, é? O que vocês precisam é...auto-confiança – continuou Lua, aliás, ela até escreveu as palavras “auto-confiança” na lousa – E eu sei o método perfeito para isso!

—Como assim? - perguntou Priscila.

—Ouçam. Vou dar uma outra prova na próxima semana – disse Lua – A matéria será a mesma da prova que vocês fizeram. Todos vocês já viram esse conteúdo no fundamental, não viram?

Na verdade, vimos bem superficialmente. Mas, de fato, o conteúdo fazia parte do que estudamos anteriormente, embora em um nível bem mais avançado.

—Sendo assim... - prosseguiu a professora, andando de um lado para o outro com as duas mãos nas costas – Todos farão uma nova prova. A nota novamente não entrará na média final, mas...

E esse mas é o que mudou tudo.

—A nota de cada um de vocês será usada para impedir uma calamidade – continuou ela. Nessa hora, Estrela mudou de uma expressão entediada, para uma expressão preocupada.

—Como assim? - perguntou Kevin.

—É simples. Tem uma bomba no subsolo dessa cidade. Ela é ativada por um código correspondente a soma das notas de vocês. Essa sala tem vinte e um alunos. Se a soma das notas de vocês for menor do que 210...a bomba irá explodir e mandar tudo aqui pelos ares!

Todos ficam em silêncio. Pelo visto, ela não surpreende apenas com provas surpresas...