—Muito bem – disse Estrela, esperando que Lua explicasse seu novo trabalho de professora de inglês em nossa escola – Diga, então. O que você quer lecionando aqui?

Eu e o diretor apenas olhávamos a discussão das duas.

—Vou explicar – falou Lua, em tom dramático – Na verdade, tudo começou...

Ela fez uma pausa.

—Tudo começou quando fiz um curso de licenciatura na clínica de reabilitação e descobri que ser professora era a minha paixão! - disse ela, com os olhinhos brilhando.

—Isso é a mesma coisa que você disse na aula! - reclamou Estrela.

—O que posso fazer se é verdade? - insistia ela.

—Mas por que justo na Terra? - perguntei.

—Como eu disse...queria testar minhas habilidades em um planeta em desenvolvimento, aliás, muito desenvolvimento. A Terra é um ótimo lugar – explicou Lua.

—Tá. Tudo bem – retrucou Estrela - Concordo que a Terra é um lugar extremamente atrasado, primitivo, sem recursos...

—Estrela, por favor – falei – Dá pra maneirar?

—Que seja. Por que veio justamente para a minha escola? - reclamou Estrela.

—Ah, desculpe. Esqueci que a senhorita é o centro do universo. Não poderia apenas ter escolhido esta escola por acaso? - retrucou Lua.

—Por acaso? Até parece... - disse Estrela, cruzando os braços e com uma expressão insatisfeita.

—Tá...tudo bem. A primeira escola que eu lembrei foi a sua, por ter visto o uniforme uma vez – disse ela – Mas e daí? Não posso ter uma profissão normal como qualquer outra pessoa do universo?

—Você? Profissão normal? Não me faça rir – respondeu Estrela. Se bem que ela ri pouco mesmo...

—Pense o que quiser – disse Lua, mostrando a língua – Nada muda o fato de que eu sou a sua professora de inglês e você me deve respeito, tá ouvindo? Isso mesmo. Além de sua irmã mais velha, sou sua professora, tá ligada? O próprio diretor me contratou por um bom salário!

Estrela voltou-se imediatamente para o diretor.

—E como você foi capaz de contratar uma alucinada dessas? - disse Estrela.

—Alucinada? Mas a indicação que ela apresentou de resultados do curso que fez é excelente. Além disso, não é qualquer escola que tem uma graduada intergaláctica – justificou o diretor.

—Eu tenho uma formação superior à dela e sou sua aluna! O que você tem na cabeça? - Estrela continuava contrariada. Lua era uma das poucas pessoas que conseguia tirá-la do sério. Nem mesmo alienígenas perigosos a faziam perder a calma daquele jeito.

—O ministério da educação aprovou – continuou o diretor.

Com a falta de professores no nosso país, qualquer pessoa com disposição para dar aula é aprovada pelo ministério da educação...

—Aceita que dói menos, queridinha – provocou Lua.

—A prova de admissão que ela fez também se mostrou excelente – disse o diretor – Essa moça tem total capacidade para lecionar inglês para vocês.

—Diretor...o senhor não está entendendo... - tentei entrar na conversa.

—Confiem em mim – continuou ele – Sempre fui bem criterioso em todas as minhas contratações.

—Nosso monitor de informática era um robô assassino caso não se lembre – disse Estrela.

—Mas não muda o fato de que ele era um ótimo profissional – justificou o diretor.

—Diretor! - Estrela disse exaltada – A minha irmã tentou jogar um asteroide gigante na Terra!

—Ai, Estrela, como você é presa ao passado – reclamou Lua – Tá. Admito. Fiquei chateada e tentei destruir a Terra forçando um asteroide gigante a colidir com ela. Quem nunca? Não faz bem ficar remoendo as coisas desse jeito.

—Mas, Estrela – disse o diretor – Se a clínica que sua irmã estava a liberou, então está tudo certo, não está?

—Não está nada certo – falou Estrela – Não vai demorar muito para ela endoidar.

—Você realmente não confia em mim, maninha – disse Lua em tom choroso – Eu até estou tentando viver independentemente.

—Como assim? - perguntou a irmã mais nova.

—Isso mesmo – disse Lua – Pode ficar orgulhoso de sua irmã mais velha! Não vou precisar morar de favor na sua casa. Estou morando...

E ela faz um suspense, mas acabou falando.

—Aqui na escola mesmo! - explicou ela.

—O QUÊ?! - Estrela e eu gritamos juntos.

—É verdade – confirmou o diretor – Lua também se ofereceu para arrumar a escola durante a noite. Ela decidiu se entregar de corpo e alma ao trabalho. Temos o quartinho da zeladoria com cozinha e tudo lá na cobertura. Avisamos o guarda noturno e tudo.

—Está falando sério? - perguntou Estrela.

—Seríssimo – disse Lua, olhando bem nos olhos da irmã – Posso morar aqui se ajudar na manutenção da escola, já que estamos com alguns gastos nessa parte.

—E durante o dia ela leciona – falou o diretor – Não podia fazer um negócio melhor.

—Você não sabe quem ela é – disse Estrela – Pode ser muito perigoso.

—Mas você é a irmã responsável, não é, Estrela? - disse o diretor – Tenho certeza que saberá cuidar bem dela, já que é a parente mais próxima.

—Nós duas nos cuidamos muito bem, diretor – disse Lua, abraçando a irmã que, como era de se esperar, não correspondeu – Ah, sim. Vim aqui para confirmar meu pagamento.

—Falaremos disso agora – falou o diretor, sorrindo – Estrela. Vitor. Poderiam nos dar licença?

—Tchau, maninha. Não esquece de fazer a lição de casa – falou Lua, fazendo joinha com as duas mãos e com um sorriso de orelha a orelha.

—Realmente, você e sua irmã não são nada parecidas – comentei, assim que saímos da sala.

—Minha irmã não é nada previsível, você sabe – disse Estrela, com um ar preocupado – Temos que ficar de olho nela ou pode ser muito perigoso...para a Terra inteira.

Não vimos mais Lua naquele dia. Ao encontrarmos com Mabi e Eduardo na hora do intervalo, comentamos sobre a nova professora.

—Sério que a Lua vai dar aula aqui? Que legal! - disse Mabi.

—Legal? - estranhou Estrela – Você lembra que a Terra quase foi destruída da última vez que ela nos visitou, não lembra?

—Tecnicamente, parte daquilo foi culpa sua, não foi? - disse Eduardo, com seu ar calmo e sorridente irritante de sempre – Se você não tivesse cancelado o compromisso com a Lua, ela não teria se irritado.

—Qualquer ser mentalmente equilibrado teria entendido a situação – respondeu Estrela.

—Não manjo muito das coisas de alienígenas e ficção científica que vocês vivem se metendo, mas...é muito fácil de ver que a Lua te adora, Estrela – comentou Mabi.

—Talvez esse seja o perigo – disse Eduardo – Fazendo uma análise superficial da psicologia da Lua, posso dizer que ela tentará de tudo para chamar a atenção de Estrela.

—Droga – reclamou Estrela. Estava zangada, mas pelo menos não estava desequilibrada.

—Mas a Lua explica bem? - disse Mabi – Ainda não tivemos aula com ela.

—Ah, sim. Explica muito bem – falei – Como professora, ela tem uma ótima didática.

—Legal – falou Mabi, com um sorriso lindo – Só estudo inglês na escola, então é bom ter uma professora didática nessas horas.

Ela era tão linda. Ver o sorriso da Mabi sempre alegra o meu dia.

Apesar dos pesares, Lua até que se comportou bem durante os outros dias. Parece que não tínhamos muito com o que nos preocupar. Isso até chegar o momento de nossa segunda aula com ela.

—Turma – disse Lua – Prova surpresa!

—Prova surpresa? - todos repetiram...surpresos.

É. E uma prova surpresa sempre estraga o meu dia.