Weechester Collections escrita por Pat Black


Capítulo 4
Como se apaga a luz de um olhar?




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Como se apaga a luz de um olhar?

 

 

John olhou para o filho com a arma nas mãos pequenas e estremeceu levemente.

 

A automática era uma das mais leves do seu arsenal e seu coice ao atirar era quase nulo em suas mãos grandes, mas nas de seu pequeno e amado filho, ela parecia um pequeno canhão.

 

E toda vez que este atirava na lata, que servia como alvo há cerca de dez metros, seu corpo pequeno dava dois passos para trás e se firmava após cambalear por dois segundos. Franzino e fatigado, o menino estava determinado a fazer o melhor, a só parar quando conseguisse acertar o alvo... Sendo que, a cada novo mirar, apontar e atirar, John sentia seu coração e o do filho rachar um pouco mais... Quebrar um pouco mais.

 

Outro disparo... Dessa vez o tiro chegou mais perto. A bala cravou na madeira bem abaixo da latinha e John não pode se furtar de um pequeno e breve sentimento de orgulho diante da habilidade nata de seu rebento. Mesmo que, e apesar de, não desejar aquela vida para o menino... De não querer estar ali ensinando seu filho a futura ou brevemente matar.

 

Odiava-se por ter que estar agachado abraçando o filho por trás, não como um gesto carinhoso, mas sim para lhe indicar e explicar como mirar melhor. E sussurrar temeroso em seu ouvido que deveria apontar um pouco para o lado se a intenção fosse acertar o centro, já que com o coice o tiro tendia a desviar um tanto do local em que se estava mirando. O seu coração paterno atormentado por estar arrancando a cada disparo, um pouco da inocência do filho, que já nem piscava mais ao apertar o gatilho.

 

Ensinar como empinar uma pipa, montar um brinquedo, jogar bola, nadar, encostar-se a uma árvore com os dois ao seu lado e viver uma vida simples e calma era o que seu coração quebrado desejava.

 

Contudo, sonhos e realidade são planos opostos e caminhos distintos na vida de uma pessoa. E John já abandonara a estrada dos sonhos há alguns anos, seguindo sem volta no caminho do desconhecido e real mundo das coisas que para muitos, não passavam de invencionices e crendices dos que nada tinham para fazer, ou dos que eram demasiados tolos para se deixar enganar por mitos e lendas.

 

Odiava sua vida. Odiava com todas as suas forças ser um caçador perseguir demônios, enfiar balas de prata no coração de lobisomens, salgar os ossos para se livrar de fantasmas e espíritos. No entanto, não era forte o bastante para esquecer, dar meia-volta e mudar seu destino... E todas aquelas loucuras, todo aquele odioso conhecimento teria que repassar ao pequeno. Pois tinha que prepará-lo, armá-lo e torná-lo algo que ele mesmo odiava ter se tornado.

 

Jesus... O olhar que ele lhe dera quando sentados juntos na mesa, enquanto limpava as armas e seus utensílios sujos de sangue, enfim abrira o jogo sobre a vida que levava não saía de sua cabeça.

 

John nunca poderia se livrar da dor que sentiu diante do rosto incrédulo e logo depois firme do seu menino, enquanto com a voz dura discorria sobre o que caçava, no por que de estar sempre longe e voltar geralmente machucado. Na razão de sempre estarem sempre indo e vindo nessas estradas, vivendo em motéis ou sendo largado aos cuidados de amigos.

 

A imagem do filho após lhe escutar: a boca crispada, os olhos fixos no chão, as mãos fechadas em punho sobre as coxas marcadas pela calça jeans surrada foi a pintura de sua derrota como o pai que queria ter sido... Que Mary desejaria que fosse.

 

- Foi um desses monstros que matou a mamãe?

 

Ele lhe perguntou após um momento com a voz cheia de esperança. Louco que de seus lábios saísse uma negativa... Uma resposta que nunca poderia lhe dar.

 

E ao afirmar com a cabeça, pois sua garganta apertava de um jeito que se sentia incapaz de falar, John viu a pequena luz que ainda brilhava nos imensos olhos verdes se apagar aos poucos bem diante de seus olhos... Como uma estrela solitária caindo do firmamento... Soube naquele instante que o filho tinha deixado de ser criança.

 

Agora, naquele local ermo, observava o resultado de sua sinceridade, na firme determinação do Dean que atirando contra as latas vazias, no alto de seus sete anos, tentava ser o adulto que seu pai precisava que fosse... Ser o protetor que Sam necessitava e precisaria no futuro... Não se permitindo sofrer por seu destino, ou ter pena de si mesmo... E mais que tudo, não deixando que as lágrimas de medo e raiva rolassem pelo seu rosto... O que lhe exigia mais esforço do que segurar a arma, mirar, atirar e enfim, acertar o alvo.

 

 


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Notas finais do capítulo

Eu, particularmente, odeio John Wincherter.