O Brasil chorou escrita por 0 Ilimitado


Capítulo 3
O sangue lavará nossos olhos


Notas iniciais do capítulo

O começo.



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Acredito que fui certamente voraz na análise e crítica, não procuro redenção, e sim integridade, portanto estou disposto a estabelecer todas as cartas na mesa, dessa vez sem apostas, torcemos que agora não estamos no período ditatorial, consoante o tabuleiro tem vários lados e não só um.

Concordo com algumas teorias e conceitos de um filósofo alemão, Friedrich Hegel. Este homem tinha uma teoria objetiva de que toda a transformação que o plano terreno sofre tem a sua necessidade e fim. Sabe qual a conclusão? A necessidade da ditadura foi mostrar-nos qual a consequência de focalizar o poder nas mãos duma minoria repressora, e este foco mesmo que indiretamente, gerou consequências que mancharam um nome, um quadro, vidas inglórias.

Como segundo ponto, serviu para levar-nos ao próximo nível da evolução, um Brasil de cores e gestos, músicas e danças, claridade e escuridão, bastando procurar para achar. Um Brasil hipoteticamente livre.

Son House (1902-1988) com toda a sua liberdade de expressão, com a força das cordas vocais, a viola tingindo, fumegante, com o sentimentalismo escapando pelos olhos... Freedom.

Voltando no outro filósofo, o mesmo diz que a história tem os chamados Indivíduos Cósmicos Universais, já explicarei, são considerados Heróis que foram linha de frente para grandes mudanças de panoramas históricos. Na época em questão, não houve nenhum dado indivíduo, houve o que considero como “Grupo Cósmico Universal”. O povo. Levantou, como um gigante adormecido no meio da terra, levantando carregando maremotos, ciclones, erupções, trovejando sobre aqueles que perpetuaram sofrimento.

No período militar em função de calar a boca dos reivindicadores de direitos: a Lei Suplicy é assegurada, extingue a UNE (União Nacional dos Estudantes) e barra todas as organizações estudantis se já fizeram um protesto.

Juntaram-se as primeiras organizações de resistência. O Show Opinião com Zé Keti, Nara Leão, Maria Bethânia e João do Vale representou a resistência artística.

“Podem me prender, podem me bater, podem até deixar-me sem comer que eu não mudo de opinião”.

No dia 18 de outubro de 1965, 156 professores pedem demissão da UnB (Universidade de Brasília) após inutilização de 15 docentes. No próximo dia, outros 43 professores seguem o mesmo caminho e partem.

No mesmo mês: Castello Branco decreta o AI-2, extinguindo partidos políticos, instaurando eleições indiretas para presidente. O Brasil abandona o multipartidarismo e se transmuta num sistema eleitoral bipartidarista. O partido do governo é a Arena e a oposição é o MDB. Em 66 a eleição indireta também serve para governador e prefeitos. Gradualmente os militares põe quem eles querem no poder.

O povo cresce, aparece, ganha forma: 1 de junho de 1968, A passeata dos cem mil, no Rio de Janeiro, reúne todos os inconformados, entre eles: intelectuais, estudantes, sindicalistas, famílias com perdas, artistas. Em protesto contra os abusos da ditadura.

Se a Ditadura já estava radical, tornou-se mais em Dezembro do mesmo ano, Presidente Costa e Silva permite que forças militares efetuem encarceramentos, interrogatórios, caças sem mandado judicial. Pessoas começam a desaparecer exorbitantemente. Abdução. AI-5!

Para não dizer que não falei das flores: os cinco anos de governo de Emílio Garrastazu Médici (30/10/1969 a 15/03/1974) são marcados pelo "milagre econômico" e... Também pelo período de maior repressão política da história.

Mesmo após a minha morte e a destruição de grupos armados opositores aos militares, surgiram outras juntas armadas. Como a Guerrilha da Araguaia, o confronto entre jovens de várias metrópoles contra militares na Amazônia terminou com cerca de 70 mortes no total.

Alastraram-se nos anos de 1979 e 1980 greves trabalhistas, em busca de melhores condições e pagamentos.

Quando o Brasil percebeu realmente o quanto sangrava e a necessidade de estancar, motins começaram, insurreições surtaram, e os alicerces de outrora não mais surtiam efeito, ruíam como um débil castelo de cartas. Você pode calar uma pessoa com balas até o chão, porém uma finalidade, uma visão, uma necessidade é a prova de balas. Pessoas morreram, a inocência se foi, todos foram obrigados a amadurecer, estavam cortando os pulsos enquanto gritavam “gol”, mas o legado resiste até hoje, a força que uma corrente interligada pode ser quando articulada.

O AI-5 cai. A Operação Condor é mostrada. Descoberta por jornalistas.

Dois repórteres da Veja em Porto Alegre descobrem um apartamento onde um casal é torturado por militares, logo a informação surge. A operação era uma aliança entre as ditaduras militares da América Latina para perseguir os que se opunham aos regimes autoritários ainda que fugissem para países vizinhos.

A maior ironia é quando os militares visavam os opositores como terroristas, se ao longo do período de redemocratização brasileira (governo de Figueiredo), os militares organizavam os atentados “terroristas”. Procurando desestabilizar a abertura política e amedrontar a sociedade forçando-a acreditar que necessita da Ditadura Militar para melhor proteção. Aplausos, por favor.

O regime vai se desfalecendo. A Lei de Anistia permite a cessação da pena de exilados políticos, presos... Contudo, favorece os agentes da repressão. Pois a ação deveria ser "ampla, geral e irrestrita". Uma faca de dois gumes.

O desespero e descontrole, mostrando realmente quem estava no poder, objetivou-se num possível atentado que foi articulado por um sargento e um capitão do Exército. Trabalhadores realizavam um show no Centro de Convenções do Riocentro, e o atentado articulado consistia em explodir uma bomba no meio de todos.

“Estranhamente”, a bomba detonou antes e o carro Puma foi destroçado pela explosão. Figueiredo, contudo, impossibilitou que o inquérito policial apresentasse os responsáveis.

A alta voz do povo levou as chamadas: “Diretas Já!”, os conhecidos protestos que se difundiram. Procurando eleições diretas. O orgulho danoso da minoria: as eleições para presidente de 1985 foram indiretas.

O descontentamento da cessação da voz popular levou o povo a não eleger nenhum presidente militar nos anos que seguiram com o retorno genérico da democracia. Dão-te algumas cartas e pedem para escolher uma.

Eu estou morto, afinal. Provavelmente, por estar lendo isso, se chegou até aqui, está vivo e pode saber muito mais que eu. O que fiz nestes pequenos textos foi mostrar através do olhar dum determinado a revolucionário como o mundo se mostrava num século de colossais movimentos e rotações...

Peço perdão por qualquer erro de data, o mundo se abre num leque quando a vida se esvai, são tantos dados, pessoas, mortes e saudade que tudo se torna uma cacofonia estridente. Ainda me sinto numa batalha, ao sair da floresta penumbrosa em que me encontro tenho certeza que estou ouvindo o destravar de armas e alguém gritando no fundo para não errarem nenhum tiro... Olho, e parecem comigo.

Sonhos, insanos sonhos.

No final deste texto devo dizer que uma melancolia aponta meu coração, apodera da palha que acomoda meu corpo nas noites mais frias... Tenho medo por um lado, de que os militares tentem mais uma vez uma ação tão descarada, ou já estão no poder por detrás dos governantes, no entanto, por outro lado me sinto confiante e a melancolia é só um detalhe, pois se houver o impacto de novos déspotas, hipócritas, demagogos, autoritários e afins, o povo estará apto para lutar e se não estiverem, o sangue lavará os olhos dos cegos e amadurecerá a sociedade.

É cedo, mas devo ir, devo procurar um abrigo, sonhos inquietos tendem a surgir. Adeus e lembre-se: o mundo é dos livres. Essa é a nossa bandeira.


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