A Filosofia do Existir de um Imortal escrita por Teffyhart


Capítulo 5
V




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Aquilo era o inferno.

Não importava suas forças ou o quanto ele lutava para que os pulmões continuassem respirando, aos poucos ele sabia que estava morrendo. O sangue descia quente por sua pele, deixando suas roupas - ou o resto delas - empapado com o líquido viscoso.

Olhou ao redor, fraco demais para sustentar o peso de sua própria espada, deixando-a cair na terra, levantando poeira. Ao redor ele ouvia gritos, ele ouvia o encontro entre armas, ele ouvia a morte. Essa que chamava baixinho por seu nome, que estendia suas garras sobre sua alma.

Ele riu de si mesmo. Ele era apenas um garoto. Em um lugar que não pertencia. Concluiu. Ainda era muito jovem para uma guerra. Talvez não estivesse preparado para morrer. Suas mãos tremiam demais e seus joelhos pareciam manteiga, impedindo que seus passos continuassem a acontecer. Ninguém parecia notar sua existência, porque ali, naquele inferno, ele era somente mais uma alma perdida.Não é como se alguém esperasse por ele na volta, ele não tinha ninguém.

Não é como se alguém se importasse. Não é como alguém fosse, sequer lembrar-se dele.

Seus joelhos finalmente cederam e ele caiu no chão, vendo que tudo rodava ao seu redor. Estava realmente morrendo. No entanto, apenas uma frase circundava sua mente. Estou morrendo antes que possa me tornar herói. Estou partindo deixando para trás nada além de um legado vazio.

Afogava-se no seu sangue, então tossiu, cuspindo muito dele no chão. Pelos rasgos de sua roupa podia ver a mancha enorme em seu abdômen, restos de uma hemorragia interna. Limpou o rosto com a mão, vendo que podia retirar o sangue que escorria dele, mas acabava o sujando com terra.

Buscou um foco, buscou uma imagem. Talvez se desviasse toda sua atenção para ela a dor amenizasse. Seus olhos focaram nos guerreiros que brandiam espadas no campo de batalha, todos eles tinham inúmeros cortes e machucados, mas conforme o vento levava embora o cheiro da morte, também levava as feridas deles. Grandiosos.

Por trás deles, uma mulher comandava à todos, brandia seu martelo e trazia, para aquele inferno, a paz.

Foi a primeira vez que a viu. Foi a primeira vez que ela o viu. Ajoelhado, sujo de sangue e terra. Meio morto, meio desesperado.

Mas essa primeira vez também parecia que seria a última na mente do garoto. Tirando forças de algum lugar que ele não sabia de onde vinha, buscando a coragem no fundo do seu ser, o momento pareceu estender-se para sempre.

Eu posso talvez morrer sem virar o herói para toda uma geração.

Concluiu em um pesar, mas no tempo que ergueu-se como um escudo na frente da dita mulher, alguém que nunca havia visto antes, e deu sua vida pela proteção dela, observando como o machado do inimigo o rasgava do ombro ao quadril.

Mas eu serei um herói ao menos para ela.

E então o tempo que havia se dilatado, encurtou-se. Tudo o que lembrava-se depois disso era o gosto árido da terra e o quanto aquela escuridão pareceu acolhedora.

Acordou assustado, como muitas outras vezes acordara, e escorreu a mão pelo rosto suado. Ele podia sentir o corte que o rasgou para a morte. Ele podia sentir o gosto da terra. Depois de todos esses anos, ainda não esquecia a cor do inferno, o cheiro dele. A Deusa que encontrara em sua perdição.

Como ele poderia negar viver em função dela, pagando pelo favor que ela o fez depois? Como ele poderia sequer um dia pensar em abandonar a missão qual ele deu sua vida por? A sua primeira vida. Aquela que ele deixou para trás para se tornar o que era.

Ergueu-se, começando as tarefas diárias. Afinal, os pássaros já cantavam, o sol já estava quente o suficiente para fazer as flores desabrocharem e ele podia ouvir, com clareza, o som do vilarejo ao pé da montanha, abaixo do templo.

Já haviam passado quantos anos? Infinitos? Ele não sabia. Não importava, de qualquer maneira. Ele sabia que ainda tinha outros infinitos por vir.


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