Slasher Story escrita por PW, Felipe Chemim, VinnieCamargo


Capítulo 9
1x09: Eu Nunca Menti


Notas iniciais do capítulo

Escrito com sangue e vísceras por PW.



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Flashback on

Três meses antes...

Leon entrou na sala de maneira metódica, carregando sua mochila nas costas e uma pasta verde contendo alguma papelada sobre seu plano de aula. No momento em que o homem entrou, a sala nem sequer fez cerimônia de ficar em silêncio, e prontamente entenderam que deveriam silenciar pelo simples motivo de: Literatura ser a melhor aula de toda Reaperswood High.

— Bom dia, galera. — Leon disse, antes que alguém tipicamente soltasse alguma piadinha sobre seu corte de cabelo meio hipster atual.

— Bom dia, querido professor. — Tory sussurrou da fileira frontal de carteiras. Todos já haviam notado o total interesse da garota no orientador.

— Olá, Victorya. Pronta para a aula de hoje?

— Eu nasci pronta pra tudo. — Encheu o peito para responder.

Algumas fileiras atrás, Gabriella e Brenda se entreolharam. A morena soltou um pequeno riso, enquanto Brenda fazia uma careta de repulsa. Elas sabiam que existia tensão sexual entre o professor e a abelha-rainha, elas só não entendiam como um homem como ele poderia se interessar por uma garota com o perfil dela. Embora já soubessem que era difícil alguém resistir a sua persuasão.

— Vamos falar sobre Trovadorismo de novo, Sr. Moreira? Se for, tô fora. — Lucky falou de seu lugar. Marley, bem ao seu lado, sorriu e concordou com a cabeça.

— Eu também. Vou ficar entediada de qualquer maneira. — Kat murmurou.

— Estou torcendo para que seja Romantismo. — Retrucou Miles, olhando para o atleta que piscou. A garota corou imediatamente. — É um dos meus assuntos preferidos.

— Nenhuma das duas. — O professor interrompeu-os, ajustando a armação branca do óculos. — Vamos falar sobre o gênero gótico. Mais precisamente, o horror das histórias slashers.

Miles, Hannah e mais alguns alunos fizeram uma cara de reprovação.

Johnny e Brenda comemoraram de onde estavam. Viram Vince mostrando o polegar para eles. Finalmente eles tinham a chance de mostrar ainda mais seus potenciais na aula de literatura. Os olhos do trio brilharam.

— E então, quem pode me dizer uma história slasher bastante conhecida?

— Sexta-Feira 13. — Vince respondeu convicto.

— Halloween. — Johnny foi o segundo a retrucar. — O assassino mais imortal!

— Brinquedo Assassino. — Brenda respondeu olhando para os amigos do clube de cinema. — Eu adorava assustar minhas amigas com uma réplica do Chucky.

Leon pareceu analisar as respostas dadas pelos três alunos, enquanto o restante da turma encarava sua reação. Pensativo, colocou a caneta atrás da orelha direita.

— Podem dizer-me algo em comum nessas três histórias? — Sentou na beirada da mesa.

— Um assassino lunático persegue suas vítimas para se vingar de algo que aconteceu a ele ou simplesmente satisfazer seus desejos sádicos. — Johnny parecia ter a resposta na ponta da língua.

— Isso! Seriais Killers podem ser movidos tanto por vingança, quanto pelo prazer de matar. — Leon cruzou os braços, adorando o rumo do debate. — Poderiam me dar outros exemplos de histórias slashers?

— You’re Next. — Peter, que até então permanecia em silêncio, disparou. — Além dos clássicos, algumas histórias atuais são bem estruturadas e rendem ótimos momentos.

— Eu Sei O Que Vocês Fizeram no Verão Passado. — Phillip também aproveitou a oportunidade para expor seu pensamento.

— Jennifer’s Body. — Foi a vez de Tory retrucar.

— Texas Chainsaw. — Mark respondeu baixo, um pouco receoso, mas Leon entendeu sua resposta e acenou positivamente.

— Vejo que vocês são bastante aficionados no gênero, não é? — Olhou para a pasta em cima de sua mesa, e então, de volta para os alunos. — Mas, não vamos nos prender aos filmes...

A turma começou a comentar entre si suas opiniões a respeito deste tipo de gênero, e enquanto o professor percebia a baderna na qual iria se alastrar, resolveu cortar o barulho com outra pergunta:

— O que me dizem sobre Fanfics?

— Ficções escritas por fãs? — Mash perguntou, recebendo um olhar imediato de “Mr. Óbvio” de Newton, que estava na carteira ao seu lado. — Eu gosto.

— Adoro fanfics! — O rapaz indígena comentou.

— São minhas histórias slashers favoritas. — Gabriella abriu um grande sorriso ao tocar no assunto. — Muitas vezes é melhor ler uma morte gore, do que assistir. Você se sente fazendo parte do sofrimento do personagem, porque sente cada detalhe, cada corte, cada víscera saltando...

— Até porque, muitas cenas de filmes são bem rápidas. Você pisca e a garota já tem a faca cravada no silicone. Ler a morte é uma sensação lenta e prazerosa. — Brenda completou.

— Gabriella, você é bizarra. — Tory olhou por cima dos ombros e comentou.

— Vai se ferrar, Biscatorya! — Brenda não esperou que a amiga devolvesse.

— Não se mete Vandinha Addams! — Kat estava próxima de Tory mostrou o dedo do meio para a gótica.

— Do que você chamou ela, porquinha acéfala? — Gabriella alterou-se, se colocando de pé. Kat também fez o mesmo.

Quando Leon notou, todas as quatro garotas estavam de pé, trocando ofensas. Ele achou que tinha perdido o controle da aula.

— Eu gosto disso, é muito adulto. — Marley balbuciou, dando uma gargalhada. Lucky acompanhou-o no deboche. Os dois deram um High-Five e continuaram olhando a bagunça.

Peter e Phillip apenas encaravam a cena cotidiana, com semblante de desdém. Não era a primeira, nem seria a última que o quarteto se desentendia. Então, uma garota que estava sentada no fundo, no canto da sala, disse em voz alta:

— Não se pode transformar um slasher em uma fanfic.

Todos olharam para ela num rompante. A garota encolheu os ombros e semicerrando os cílios, sentindo-se intimidada. Mark, que estava na sua frente, olhou por cima dos olhos e sorriu de lado.

— Você está errada. — Johnny retrucou ao longe.

— Claro que pode. — Gabriella sentou-se, virada para a garota de bochechas grandes. — Vários livros novels baseados em filmes slashers deram super certo, não vejo porque não poder transformá-los em fanfics.

— Não subestime a criatividade de um fã do gênero. Muitas vezes, sabem conduzir melhor uma história do que os próprios roteiristas desses filmes.

— Não dá. Eles perdem completamente a consistência. — A garota continuou. — São curtos e diretos, não dá pra prolongar isso em mais de cem páginas.

— Antes de virar websérie, American Slasher Story era uma fanfic escrita por mim. — Vincent proferiu, fazendo Peter olhá-lo no mesmo segundo. Johnny fez o mesmo, com um ponto de interrogação imaginário sobre a cabeça. — Acabei de quebrar sua teoria.

— Você nem poderia chamar aquilo de websérie. — A garota olhou-o com certo desprezo. Vincent não entendeu o motivo da agressividade, somente ignorou. — E Peter, sua atuação é péssima. Sua melhor cena foi quando seu papel foi cortado.

Vincent nem conversava muito com aquela menina, mas se ela havia procurado a websérie, era um forte indício de que tinha algo naquela personalidade. Já Peter apenas sorriu de maneira sarcástica para ela. A vida já tinha lhe castigado demais, para que ele viesse desgraçá-la ainda mais. Phillip falou das bochechas dela no ouvido do irmão, que fez questão de rir na sua frente.

— Quem nunca escreveu uma fanfic, que atire a primeira pedra. — Lucky disse, surpreendendo a todos.

— Eu já li uma fanfic sua. — Miles riu corada. O atleta também corou por breves segundos.

Leon aproveitou a brecha para alterar o rumo mais uma vez do debate:

— Levante a mão, quem já escreveu uma fanfic do gênero slasher e tem habilidade com escrita!

Boa parte dos alunos permaneceu com seus braços abaixados. Gabriella, Peter, Phillip, Johnny, Vince, Brenda, Mark e Lucky levantaram seus braços, respondendo positivamente.

Leon observou-os com semblante de orgulho. Assim como ele, vários de seus alunos também apreciavam a literatura de horror.

Flashback off

x-x-x

O sol entrava fracamente pelas frestas do quarto pouco arrumado. A estante cheia de livros era iluminada pelos mesmos, enquanto o raio de sol escorregava pela parede ao lado da mesa o computador de Mark repousava. O rapaz ajeitou o óculos sobre o nariz e analisou a página do Word. Sua trama estava chegando no último parágrafo da primeira parte da história.

Ele sorriu satisfeito, se espreguiçando. Havia passado a noite toda escrevendo, lembrando-se de todos os detalhes das cenas. A xícara de café da série Arquivo-X estava vazia, de modo que a bebida ajudou-o a se manter acordado. O início da manhã trazia uma brisa gelada para o cômodo, de modo que Mark desistiu de concluir o que estava fazendo. Salvou o arquivo e dirigiu-se até a cama.

Após jogar-se e cobrir-se, fechou os olhos esperando não esquecer de tudo que estava planejando para as próximas páginas.

OPENING THEME

SLASHER STORY

1X09: Eu Nunca Menti

O clima no bosque estava insuportável. Enquanto os feixes de luz da lua eram fatiados pelos galhos tortuosos e monstruosos das árvores, desenhavam uma trilha assustadora no chão repleto de folhas e pedregulhos. O vento zunia no ouvido do grupo, em meio ao desespero e nervosismo. Apressados, pisavam em folhas mortas, quebrando-as numa sinfonia desconfortante ao longo do caminho.

As pesadas gotas do suor frio desciam pela testa de Peter, segurando o tapete ensanguentado com certa dificuldade, por causa da jaqueta enroscando no objeto, enrolando o que parecia ser um corpo. Do outro lado, Lucky encarava-o com receio, os dentes batiam de frio e o olhar incerto denunciava sua aflição. Ele também suava frio, sua pele grudava no tecido interno da jaqueta do time da escola.

— Vamos andar mais depressa, não quero correr o risco da guarda florestal pegar a gente. — Peter repetia para o restante do grupo.

— Maldita hora em que isso foi acontecer! — Lucky protestava, embora não tivesse chances de voltar atrás.

Ele queria ser forte, mas só de lembrar o que aconteceu até ali, ele tinha vontade de largar aquele tapete e voltar para o carro.

— Não é hora para lamentarmos o feito, Lucas. Era o certo a se fazer, não seja bebê chorão. — Victorya proferiu, segurando a parte do tapete ao lado da que Lucky segurava. — Depois Reaperswood irá nos agradecer, vamos ganhar medalhas de honra e um monumento com nossos rostos será erguido bem no centro da cidade.

A capitã das cheeleaders tinha os cabelos negros bagunçados constantemente pelas rajadas de vento, olhando fixamente para o tapete. As mechas coloridas chacoalhavam à medida que eles andavam. Apesar do imenso frio que sentia, com a blusa cropped colada ao corpo – com um emblema bem peculiar da chamada “Irmandade Tory” – e os shorts curto, Victory tentava ao máximo desligar-se do ambiente e concentrar-se em livrar-se do tapete. Mas com a bota que usava, estava difícil, já que pisava constantemente em poças de lama.

— É uma péssima hora pra engrandecer seu ego, Tory. — Brenda exprimiu de onde estava.

A gótica viu Tory lançar um olhar de desdém para ela. Brenda usava uma jaqueta preta, uma camiseta de mesma cor e uma calça de um jeans escuro, sentindo uma parte do converse machucar seu calcanhar. Os cabelos curtos estavam pouco bagunçados e a maquiagem pesada realçava o olhar inquieto. Ela segurava uma parte do tapete com a ajuda de Johnny.

O rapaz, que até então estava em silêncio, se pronunciou:

— Se fizemos a coisa certa ou não, isso não pode chegar aos ouvidos de ninguém.

— Imagina como iriam reagir se soubessem que pegamos o assassino? — Tory olhou para ele. — Já pararam pra pensar? Seríamos os heróis! E eu realmente estou muito a fim de ver um monumento meu na cidade.

— Acorda Tory, cometemos um assassinato! — Johnny retrucou, olhando-a incrédulo. — Como pode pensar em recompensa se não temos certeza se pegamos o Reaperface certo?

— A questão é exatamente essa, Tory. Pegamos o assassino? — A voz de Brenda ecoou direta, silenciando a cheerleader e o gótico.

— Todos os indícios apontavam que sim. — Peter comentou. — Independente se foi acidental ou proposital, fizemos, e não vamos conseguir reverter isso. Se acharem o corpo, acharão nossos DNA’s. Vamos nos foder de qualquer forma! — O rapaz parecia ofegante.

— A única coisa que temos que fazer é guardar a porra do segredo e depois fingirmos que nada aconteceu, não é verdade? — O cabelo de Lucky estava um pouco molhado de suor e suas feições pareciam paranóicas. Seus lábios tremiam e o olhar transitava por todos os lados. — Vai ser fácil, galera! Vai ser fácil fingir que nada aconteceu!

Os outros três acenaram com a cabeça, concordando.

Eles estavam levando o tapete para as margens de uma pequena clareira próxima, e lá, eles concluiriam o que foram fazer dentro do bosque. O carro fora estacionado há dois quilômetros de onde o grupo estava, seria burrice desistir da tarefa quase no fim do percurso.

De repente o corpo pesou.

— Droga! — Um grito, seguido de um gemido ecoaram pelo local.

O grupo olhou para trás e todos viram Hannah soltar a ponta do tapete em que segurava. Ela tinha lágrimas nos olhos arregalados e a tiara de coroa no topo dos cabelos dourados estava torta. Assim com a maioria dos colegas, seu vestido bandage branco, com o emblema da “Irmandade Tory”, estava manchado de sangue. O colete de pele sintética rosa que usava sobre o vestido não conseguia cobrir nem metade das manchas.

— O que houve agora, Hannah? Não podemos ficar parando a cada cinco minutos por causa dos seus chiliques! — Brenda proferiu.

— Se for por causa dos insetos, vamos deixar você aí sozinha. — Comentou Johnny, tentando transparecer calma.

— É bem pior do que isso...

Hannah atritava os braços para aquecer-se.

— Então desembucha, garota! — Tory perdia a paciência.

— Perdi uma pulseira! Acho que deixei ela cair no meio do trajeto. — Olhou em volta, para se certificar de que não caíra ali.

— E o que a gente tem a ver com isso? — A líder de torcida ergueu uma das sobrancelhas.

— Na verdade, era sua pulseira de brilhantes, com nossas digitais.

Tory fuzilou-a com o olhar.

— O quê? Como você-

— ESQUECE A PORRA DA PULSEIRA! — Peter interrompeu. — Deixe essa merda pra trás, precisamos continuar! Ainda temos que enterrar o corpo!

x-x-x

Quatro dias antes...

— Sabe o que deu na cabeça deles para retornarem às aulas? — Peter indagou, sentindo-se sufocado dentro do carro.

Estacionou o conversível vermelho em uma das vagas da escola. Continuou:

— Qual é, tem um assassino à solta, um toque de recolher que não serve pra nada e nenhum esforço em capturar o psicopata. Estão brincando de “E Não Sobrou Nenhum” e metade da nossa turma de literatura foi assassinada.

Os gêmeos saíram do veículo simultaneamente, batendo as portas juntos e arrumando as mochilas nas costas. Vestiam-se como sempre, com jaquetas, blusas em corte “v”, jeans e coturnos. Tinham os cabelos bem penteados e óculos escuros.

— Disseram que o Xerife autorizou o retorno das aulas com uma direção diferente e com policiamento reforçado. — O irmão respondeu, observando o movimento. — Como se isso bastasse. Pff!

— Se Reaperswood High já parecia uma prisão, agora o fato se consumou.

Ambos fizeram seu ritual de caminhada e passaram pelo pátio. Peter sentia ser observado e quando olhou para frente, a maioria dos alunos olhavam-nos de maneira estranha. Alguns aproveitavam para cochicharem e outros apenas os encaravam como em uma vitrine móvel. Phillip arriscava encarar de volta, mas os irmãos não conseguiam ouvir o que eles cochichavam.

Um grupo de estudantes passou por eles e um deles soltou:

— Ora, ora, se não são os causadores do massacre.

— Vocês estão acabando com vidas inocentes e a reputação da cidade. — Retrucou outro.

Phillip sentiu uma raiva crescente em si. Disparou:

— Não somos os assassinos, seus otários!

Peter continuou calado, apenas caminhava e fingia não ouvir as acusações.

— Não dissemos que são os assassinos, e sim, o pivô disso tudo. Alunos estão morrendo, os adultos estão com medo e a polícia está perdida por causa de vocês!

— Vai tomar no cu! — Peter surpreendeu o garoto com o soco no meio do nariz.

O rapaz caiu desorientado e com o nariz sangrando. Peter massageou o punho e olhou ao redor, todos os estudantes falavam deles. Phillip passou o braço pelo ombro do irmão e ambos andaram rapidamente até a fonte, onde encontraram Lucky com sua jaqueta do time de Lacrosse e Miles sentada em seu colo, lendo alguns papéis.

— Oi Pin e Ploy. — Lucky cumprimentou-os com um olhar cansado. O sol batia em seu rosto.

Os gêmeos acenaram. Peter sentou ao lado do atleta, enquanto Phillip permaneceu de pé, prestando atenção no que Miles lia. Ela fazia algumas caretas e vez ou outra piscava, parecendo incrédula.

— Vocês já deram uma olhada nisso? — Lucky pegou uma das folhas e mostrou para os gêmeos. Peter pegou-a e começou a ler. — É a narração da morte da Terry. É a cena em que ela morre no jornal.

— O desgraçado está escrevendo mesmo uma adaptação das mortes? — Exaltou Phillip.

— Ele mata as vítimas e em seguida, transforma isso em cenas de um livro. Ele está narrando todos os acontecimentos em forma de capítulos. Onde nós somos os personagens. — Miles tremeu só de pensar.

— Quer dizer, como numa fanfiction? — Indagou o gêmeo mais novo.

— Isso! — Miles respondeu, colocando uma mecha de seu cabelo castanho para trás. — Mas uma história baseada em fatos reais. Lembram da aula do professor Leon, antes das férias? O assassino está escrevendo uma história slasher baseada no próprio massacre que ele criou.

— Ou... — Peter pronunciou —... Alguém está realizando o massacre por ele, e ele está apenas adaptando para um livro.

Lucky coçou o queixo.

— É uma boa hipótese.

— Onde conseguiram isso? — Peter balançou os papéis.

— Está disponível online, em um site anônimo chamado “slasherstory.com”. Ele está atualizando a história a cada morte. Essa semana ele postou o oitavo capítulo, o link se espalhou pelo Facebook. Provavelmente ele irá querer concluir a obra. — Miles olhou para o trio.

— Não tem como sabermos quem é o próximo? — Lucky franziu o cenho.

— Totalmente imprevisível, ele não deixa nenhuma brecha ou pista entre as mortes. — Phillip concluiu. — O Xerife deve estar se descabelando pra tentar conectar as vítimas.

O grupo riu, exceto Peter. O gêmeo mais velho estava analisando a cena que acabara de ler. Ele pensou por mais alguns segundos, até disparar:

— Não acham que essa morte da Terry lembra a morte da Sasha em Urban Legend?

O casal olhou igualmente para ele, enquanto o outro Van Der Hills aparentou prestar atenção em algo por milésimos de segundos.

— É mesmo! Assim como a da Gabriella, com perdão pelo assunto, lembra a de Casey Becker em Scream. — Lucky estava com os olhos brilhando. — A morte de abertura!

Todos ficaram espantados com a coincidência. Lucky achou o momento oportuno.

— Sem falar da morte da Kat ter sido praticamente chupada de Final Destination 3, Ashley e Ashlyn...

— Lembro que eu e Peter chegamos a assistir aquele péssimo The Gallows, a morte do Marley lembrou aquelas mortes com as forcas, não acham? — Phillip cruzou os braços.

Imediatamente Peter olhou-o confuso.

— Como sabe que Marley morreu assim? Você tinha sido raptado pelo assassino...

— Você me contou, lembra? Logo depois que esfriou a cabeça. — Phillip ficou desconsertado. — Deve ter esquecido, como sempre.

— Deve ter sido isso mesmo.

— Isso quer dizer que o Reaperface também está se baseando em filmes de terror conhecidos para as mortes? — A voz de Lucky quebrou o silêncio que iria se intensificar.

— A Forca nem é tão conhecido assim. — Miles deu de ombros.

x-x-x

O quarteto ficou conversando por mais alguns minutos na fonte. Kat e Marley estavam mortos e Victorya acabava de se aproximar. A líder de torcida usava uma camiseta preta estampada com um emblema vermelho e dizeres: “I’m the Queen of Sororitory” e uma saia de pregas também vermelha.

— Que porra é essa? — Peter prendeu o riso.

Atrás de Tory surgiram Hannah e Wendel. A garota tinha uma blusa rosa com o nome “Sororitory” estampado em cor branca, os cabelos presos através de rabos de cavalo nas laterais superiores; enquanto o rapaz mantinha-se com uma blusa em tom coral, também com “Sororitory” estampado em cor branca. Os dois sorriram e cruzaram os braços, parando ao lado de Tory.

— Vocês estão olhando para meu novo clã. — A garota falou com tom de imponência na voz.

— Incrível como se desfez de Kat tão rápido. — Lucky comentou.

— Já faz algumas semanas desde que ela partiu e eu não poderia ficar sem seguidoras. Felizmente encontrei esses dois, eles não são como minha irmã de cutícula, mas preencherão o vazio deixado por aquela vaca. — Tory estourou uma bola de chiclete na frente dos quatro.

— Sororitory... Nome bastante original. — Phillip não conteve o sarcasmo.

— Obrigada.

Embora Tory detectasse um sarcasmo à longa distância, resolveu entrar na dança.

— Você também cairia bem dentro de uma dessas blusas corais, Phill. Venha para meu clã, todos são recompensados. — Ela piscou para o gêmeo que apenas sorriu de lado.

— Melissa, que pena ter recusado meu convite. — Tory virou-se para a atriz.

— Deixa pra próxima, esconder-se atrás da sua popularidade não é um dos meus sonhos de vida. Me admira ter aceitado se prestar a um papel desses, Hannah. Nunca demonstrou gostar de ser sombra de alguém...

— Questão de necessidade, amiga. Além disso, hoje em dia vejo Tory com outros olhos. — Hannah piscou algumas vezes para a cheerleader que sorriu debochada em retorno.

Melissa sentia muito pela sua amizade com Hannah que durou tanto tempo, estar se desfazendo aos poucos. Quanto mais ela buscava a aproximação, mais a loira forçava a barra com a amizade de Tory. Ela não entendia a urgência desse contato, já que nunca fora notório um interesse por parte da assistente de rádio. Agora, Miles percebera o quanto Hannah estava passando dos limites.

E a distância expandia a incógnita.

— O assunto está bom, mas a esta altura já tem vários garotos no vestiário. — Wendel falou. — Vamos Tory?

— Claro, irmãs. — A imponente abelha-rainha saiu dali a passos largos, rebolando. Os outros seguiram-na. — Não é esse Cara de Ceifador imbecil que assassinará minha ninfomaníaca interior.

x-x-x

O grupo estava preparado para sair da fonte. Dois deles tinham aula de biologia, então precisavam ir. Miles sempre empurrava o namorado para os estudos. Ela tinha que colocá-lo na linha, já que Lucky possuía mais empatia pelo seu esporte predileto do que pelos livros.

— Olhem lá. — Apontou Phillip. — Aquele não é o Mark?

Todos olharam. Enxergaram Mark a alguns metros, parado e recostado em uma coluna, olhando atentamente para os lados. Ele vestia um moletom de capuz e uma calça desgastada. Na sua frente, uma garota baixinha e gordinha falava bastante. De onde estavam, os jovens percebiam a alteração no ânimo de ambos.

— Ele está de novo com a Letrisha? — Peter pôs as mãos nos bolsos da calça, parando ao lado do irmão.

— Os dois provavelmente estão discutindo a relação. — Lucky arriscou.

— Que relação? — Peter retrucou. — Não sei se lembram, provavelmente não. Mas no verão passado, no rancho dos pais da Terry, numa festa do cabide moderna que mais lembrava uma casa de orgia, os dois brigaram feio e terminaram o namoro.

— Por causa do pinto no zíper ou da masturbação no mastro? — Lucky olhou-o bem interessado no assunto. — Não fui a essa festa por causa de uma clavícula fraturada. — O atleta então apontou para os ombros.

— Nenhum dos dois. — Miles respondeu com uma voz serena, apesar de ter contido a risada. — Não deu para eu ir a tal festa, mas Hannah me deixou atualizada de tudo que rolou por lá. Contou que Letrisha foi humilhada por Tory, Kat e um bando de adolescentes bêbados. Ela quase tomou uma garrafa pet cheia de urina.

— O que isso tem a ver com o rompimento?

— O motivo vem a seguir. Mark deixou que a pobrezinha fosse escorraçada. Não fez absolutamente nada pra evitar, apenas viu sua namorada ser ridicularizada na frente de uma centena de gente.

— Que cara bizarro... — Lucky comentou. — Talvez a gente devesse levar esse complexo dele de fobia mais a sério, seria um motivo mais do que sustentável para cometer crimes brutais.

— Fala das mortes? — Em resposta positiva com acenos de cabeças, Peter completou: — Ele não pode ser o Reaperface, galera. É o Mark. Vai ver, tem algo a ver com esquizofrenia.

— Nós que convivemos com ele no clube de teatro, mais do que ninguém, sabemos que ele tem essas crises de fobia. E diferente dos ataques de pânico, esse é um transtorno mais brusco e violento. — Miles afundou-se nos braços do namorado.

— Pra mim, essa merda toda é frescura de rabo. — A conclusão de Phill quietou o grupo. — Estamos falando do mesmo garoto do zíper e do mastro. Pff!

Os gêmeos encararam o casal, que ficou em silêncio, observando Mark e Letrisha ao longo, trocando farpas.

Letrisha Morrinson era garota persistente da aula de literatura. Estatura baixa, acima do peso, com sardas e cachos castanhos na altura dos ombros; Ex-namorada de Mark e repleta de cicatrizes emocionais, remorsos e culpas. Uma garota infeliz, que viu seu futuro relacionamento sólido ser arruinado. O atrito entre os dois acontecia primeiro na troca de olhares, e então, vinham as ofensas. Eles culpavam um ao outro pelo término, mas no fundo, todos sabiam de quem era a mente que pesava mais.

— Com certeza o pior já passou. Perder o título de Miss Reaperswood Mirim porque não conseguiu manter o peso e engordou, deve ter acabado com ela. — Peter pensou em voz alta.

— Ou se dar mal na aula de química por causa da máscara natural grudenta de pasta de abóbora, repolho e queijo Gorgonzola, após querer se vingar da Gabriella por perder na maratona acadêmica três vezes seguidas.

— O aroma do queijo ainda deve estar empreguinado...

x-x-x

A sala de cinema estava silenciosa e as persianas fechadas davam tonalidade sombria ao cômodo. Brenda e Johnny estavam sentados um de frente para o outro, no chão. Feixes de luz desenhavam seus rosto. Ao redor deles, as cadeiras posicionadas em círculo e no centro, seus livros de física e aritmética.

— Trouxemos eles e nem sequer tocamos. — Brenda encarou a pilha de livros.

Johnny tombou a cabeça para trás.

— O que está acontecendo com a gente?

— São esses assassinatos, eles estão me deixando péssima. — A gótica balançava os pés, as pernas esticadas.

— Precisamos dar um passeio no cemitério pra ver se te deixa um pouco melhor. — O garoto virou o rosto para a janela.

Os feixes bateram bem seus olhos. Três segundos até que a visão de Brenda proporcionasse vislumbres do rosto do amigo. A garota chacoalhou a cabeça, afastando aquele sentimento dali para bem longe. Esse tipo de sensação era a última coisa que poderia nutrir para si.

O batom escuro de Brenda revelou um sorriso torto.

— Claro. Não foi nada, só uma vibração estranha. — Brenda comprimiu os lábios. — É bom ouvir uma ideia melhor do que fugir da cidade de vez em quando, sabe? Já basta minha mãe querendo empurrar eu e Vincent para Los Angeles.

— Olha que não desisti dessa ideia. Ainda está na minha lista de coisas a se fazer antes de conhecer meus pais.

Johnny olhou instintivamente para baixo. Infelizmente Brenda entendia aquele movimento e tinha ciência do que se tratava.

— O passeio no cemitério ainda está de pé, né? — Ela deitou no chão e encarou o teto.

Estendeu os braços e simulou uma cruz.

— É óbvio! Hoje é lua cheia, será perfeito! — Johnny também deitou ao seu lado e admirou a mesma paisagem que ela. A tinta roxa do teto da sala de cinema. Cor que ela mesma escolhera.

Repentinamente a porta se abriu e rangeu, revelando um garoto loiro de pé, segurando a maçaneta. Ele estava suado e o blusão de mangas longas que usava grudava ao peitoral. Brenda se levantou num pulo, olhando o garoto de maneira estóica. Johnny continuou sentado, recostado nos próprios braços, indiferente.

— Thiago, o que ta fazendo aqui? — A gótica perguntou.

— Ainda tem alguma vaga no clube dos filmes?

— É clube de cinema. — Johnny retrucou.

— Isso aí. E então, tem?

Brenda cruzou os braços e olhou por cima dos ombros. Johnny somente encarou-a, embora fosse bastante expressivo, ela não soube dizer o que ele sentia naquele instante. Olhou de volta para Thiago, ele ainda aguardava uma resposta. Os fios ensopados do seu cabelo caindo sobre os olhos.

Johnny deu de ombros.

x-x-x

Tory havia acabado de entrar no banheiro, estava apertada.

Do lado de fora, recostada à parede, Hannah enrolava uma mecha do cabelo em seu dedo. Ela fazia uma bola de chiclete e observava o vai-vem dos alunos pelos corredores. Identificou dois policiais no final do corredor e um a paisana passou rapidamente por ela. Ela fez uma cara confusa para Wendel, que olhava algumas fotos no celular.

— Transformaram mesmo a escola na nova prisão de Reaperswood, estou me sentindo intimidada.

— Com policiais fardados? — Wendel indagou, ele estava prestando atenção na melhor amiga, embora seu foco total no celular.

— Escolherem policiais gatinhos pra vigiarem a escola não anula o fato de eu estar desconfortável com a situação constrangedora. — A loira estourou outra bola de chiclete.

— Por causa daquela policial que te revistou? — Ele deu uma prevê olhada para a loira.

— Ela é maluca! Quase fez um exame ginecológico em mim. — Cruzou as pernas.

Wendel meneou a cabeça, assentindo e rindo.

— Hey, Wendy! O que ta fazendo? — Hannah tentou ver o que ele tanto olhava no celular.

— Você já viu as nudes do Phillip, sossega! — Wendel recuou dois passos.

— De novo encarando essas nudes, não se cansa? Elas já saíram de moda. São mais velhas que a saia de pregas da Tory. — A última parte, Hannah sussurrou.

— Fala mais baixo, Hani! Quer que ela chute nossas bundas? Ser seguidor dela é minha chance de ser alguém dentro desse colégio. — O rapaz guardou o celular.

— Todos conhecem seu passado, Wendy, ele está tanto nos arquivos da rádio quanto na mente dos alunos. Wendel Matthews e a cera de vela nos mamilos. Além disso, esse sonho é único e exclusivamente seu.

Hannah queria rir, mas Wendel era seu melhor amigo, e não queria afastar-se dele da mesma forma como fez com Miles. Primeiro a melhor amiga, e depois o sidekick, seria horrível pra ela.

Wendel puxou a loira pelo braço, que reclamou do movimento. Estourou outra bola de chiclete. Os dois agora estavam um pouco afastados, sussurrando.

O rapaz franziu o cenho.

— Wendy, nunca te escondi que tudo que eu quero nessa vida é derrubar a Tory. Acabar com sua reputação. Não sou nenhuma atriz, nem faço parte do clube de teatro como você, mas interpretar o papel da zangão-cega pela abelha-rainha está sendo divertido. — Ela ria. — Só se aproximando pra saber seus pontos fracos... E eu quero afundar o dedo na pior ferida dela, entendeu?

Hannah estourou outra bola de chiclete na frente do amigo.

Ao término do discurso, Wendel estava paralisado, ele sabia que Hannah não ia muito com a cara de Tory, mas seu plano parecia ser muito mais do que uma simples vingança, a loira queria acabar com Tory de todas as formas.

— Hani você é diabólica.

— Se eu consigo acabar com Gabriella King, eu consigo destruir Victorya Levin. — A loira piscou.

— Nós temos aula de educação física agora, vamos! São exatamente três minutos até os garotos se trocarem! Aqueles shortinhos soltos não podem me esperar!

— Calma! E a nossa querida e venerada Tory? — Hannah ironizou.

— Deve estar vomitando o lanche da Sra. Bean! Aquela gororoba embrulhou até o estômago do garoto-elefante!

Dessa vez foi a garota quem puxou Wendel. O rapaz não esperou o movimento e escorregou pelo corredor junto com ela.

x-x-x

Ao sair do banheiro, entretida com seu celular, vendo algumas selfies suas na hidromassagem de casa, Tory esbarrou em alguém.

Professor Leon desculpou-se e sorriu. O sorriso do homem derreteu a capitã das cheerleaders, que se jogou nos braços dele, abraçando-o. O homem apenas retribuiu o abraço gentilmente, afastando-a um pouco.

— Sabe que professores e alunos não podem ser vistos desta forma.

— Foi apenas um abraço amigável, Leon... — A garota colocou as mãos na cintura e olhou o educador dos pés à cabeça. — Já que não posso ter mais do que isso.

— Olha, Victorya, eu queria pedir desculpas por todas as vezes que te desanimei, mas é que não dá, de verdade. Não posso alimentar falsas esperanças. — Ele olhou em volta. — Agora se me der licença...

Tory se pôs no caminho do homem, que recuou. Ela acenou negativamente.

— Então se desculpe da melhor maneira. Um jantar na sua casa amanhã à noite. — Ela piscou. — Estarei lá às sete.

— Victorya, já disse que-

— Quer se desculpar? — Ela saiu andando pelo corredor, procurando seus seguidores. — Faça direito! — Olhou por cima dos ombros e piscou.

Começou a bufar por não encontrar os outros membros da Sororitory.

— E não ouse esquecer do nosso jantar!

x-x-x

Mais tarde naquele mesmo dia, Hannah chegou em casa exausta, jogou sua bolsa sobre a cama e jogou-se na mesma em seguida. Ela e Wendel haviam passado na loja dos pais do garoto no shopping, e ela ficou tentada a comprar uma cópia barata de uma Prada, mas controlou-se.

Encontrou o notebook coberto por pelúcia rosa sobre a cama e abriu-o. Deitou-se bruços e rapidamente pôs em seu perfil no facebook. Aproveitou para colocar uma música para acalmar seu ânimos. Shake it Off começou a tocar alto no quarto pomposo. Ela rebolava os quadris, vendo as mensagens deixadas por vários fãs de Terry em seu perfil. Eles estavam sentindo falta da podcaster.

— Em breve vocês terão com quem contar, queridinhos. Meu podcaster surpreenderá a todos! A assistente da rádio agora será reconhecida pela sua eficiência em podcasts. — Sorriu. — Embora triste, sua morte trará uma nova chance pra mim, Terry. Só tenho a agradecer... Mas seus fãs precisam de um novo programa, não é mesmo?

Hannah cantava:

Got nothing in my brain

That's what people say

That's what people say

I go on too many dates

But I can't make them stay

At least that's what people say

That's what people say

Seus animais de estimação apareceram no quarto. A loira olhou-os vindo em sua direção. O poodle tingido de rosa saltou na cama e sentou-se ao lado da dona, enquanto o gato branco da raça persa, de olhos azuis, desfilava próximo da cama.

— Honey e Hello Kitty, espero que papai e mamãe tenham alimentado vocês. — Ela pegou a gata e colocou-a em cima do teclado do notebook. — Da última vez que esqueceram, você quase partem dessa pra melhor comendo algodão, né garota?

Hello Kitty, a gata persa e Honey, o cão rosa haviam sido presentes de seu Super Psycho Sweet Sixteen.

Cause the players gonna play, play, play

And the haters gonna hate, hate, hate

Baby I'm just gonna shake, shake, shake

Shake it off

De repente Hannah ouviu o barulho da notificação do inbox do facebook. Rapidamente tirou Hello Kitty de cima do teclado limpou alguns pelos da gata que ficaram ali. Abriu o inbox e seu corpo tremeu, era mais uma mensagem do perfil hackeado de Gabriella King.

Gabriella King says: Eu detesto Shake it Off, ainda mais porque ela pede pra deixar pra lá, e eu nunca deixarei pra lá, Hannah.

A loira soltou um gritinho e sentou rapidamente na cama, assustando Honey. O poodle rosa correu para fora do quarto, latindo. Hannah assustou-se e olhou em volta, aflita. O corredor que dava acesso às escadas estava escuro, mesmo que ainda fosse tarde e o sol iluminasse seu quarto.

Voltou para a cama.

Hannah Swift says: O que você quer? :o

Gabriella King says: Você verá na hora certa.

Gabriella King sendo a video.

Como da última vez, ao clicar no mesmo, ela percebeu que ele estava bloqueado.

Gabriella King says: O vídeo será desbloqueado quando eu quiser que ele seja divulgado. Até lá, morra de curiosidade.

Hannah Swift says: Vai se ferrar, ok?

Gabriella King says: Até breve, Hannah.

Em seguida, o perfil mandou um link direcionando para o youtube. Ainda receosa, Hannah clicou e ouviu Badblood tocar.

Alguém estava vigiando-a.

Ligeiramente fechou o notebook e correu para fora do quarto, quase trombando com Hello Kitty. A gata encarava o closet da dona de maneira estóica.

x-x-x

O calor não impedia que Peter caminhasse pela calçada de uma das ruas da cidade. Ele andava apressadamente, passos longos e desejando chegar o mais rápido possível no endereço anônimo enviado para seu email. Era uma pista do assassino sobre a chave que deixara nas entranhas do zelador, a mesma que Mark estava interessado.

Olhou para o relógio, pouco mais que cinco da tarde. O copo de café do Starbucks chacoalhava em sua mão e o vento frio do final da tarde lambia seus cabelos negros.

Chegou ao endereço poucos minutos depois. O café tremia em sua mão.

Na sua frente, uma residência completamente abandonada, diferente da casa do vizinho, ou melhor, da vizinha, Tory. Peter estava na antiga casa de Tommy Warland, a residência em que ele morou com sua família a vida toda, antes de enlouquecer e cometer todos aqueles assassinatos.

Respirou fundo, contou até três e se abriu a porta. O rangido arrepiou-o e seus olhos só enxergavam um cenário de abandono e velhice. As paredes descascadas, o piso cheio de buracos, imensas teias de aranhas enfeitavam o teto e os cantos das paredes; o chão rangia insistentemente e o barulho de canos vazios batendo na parede invadiam seus ouvidos.

Digno de um filme de terror.

O gêmeo mexeu o nariz quando sentiu um cheiro de mofo vindo dos móveis restantes. Em suma, velharias empoeiradas e quebradas.

Um rato passou rapidamente em seu pé, arrancando-o um espasmo de susto. Ele tapou a boca e se odiou por ter se assustado. Continuou caminhando devagar, procurando algo que pudesse servir de fechadura para a chave. A fechadura da porta da frente estava quebrada, e no cômodo que ele estava não havia outras portas.

Experimentou subir aqueles degraus velhos e quebrados. Chegou ao andar de cima, pulando-os de dois em dois. Chegou ao corredor já entediado, ele sabia que não encontraria nada de muito importante, que o assassino só queria lhe pregar peças. Peças de um quebra-cabeça que não lhe levaria a lugar nenhum.

Até empurrar a chave na fechadura do último quarto do corredor e girá-la.

A porta se abriu e revelou o quarto de um bebê. Dentro do berço velho, uma foto de Tommy Warland ao lado de uma criança, que Peter não soubesse distinguir quem era por conta de uma rasura intensa sobre ela.

Porém, ao virar a fotografia, leu os seguintes dizeres:

“Férias com o melhor presente de todos! Papai te ama!”

Vendo aquela foto, Peter só poderia imaginar que Tommy Warland não tinha sido aquele monstro, que ele já tinha sido um bom pai. Ou apenas sua psicopatia estava escondida atrás daquele sorriso paterno.

— Então, o assassino quis me mostrar todo este tempo que Tommy Warland tinha um filho... — Ele olhou através da janela quebrada do quartinho com a pintura desgastada. — Será que-

Peter virou-se e encontrou Reaperface parado na soleira da porta. O mascarado segurava sua famosa faca de caça.

x-x-x

Jacqueline lia um livro de poesias deitada em uma poltrona reclinável, seus pés sobre a mesa e uma caneca de chocolate a sua frente. Os feixes alaranjados do final de tarde misturavam-se aos fios vermelhos de sua madeixa. Este tipo de momento dava belas inspirações à moça, que nas horas vagas da escola, divertia-se em mergulhar nos poemas.

Lembrou-se do beijo em Phillip.

Uma música da Lana Del Rey tocava suavemente em seu celular, de modo que lhe acalmava e aproximava os pensamentos bons.

Quando a campainha do apartamento tocou.

Jacqueline fechou o livro e pausou a música no exato instante.

Amarrou os cabelos que passavam um pouco dos ombros em um rabo de cavalo. Dirigiu-se à porta e surpreendeu-se com a visita. Letrisha Morrinson estava prostrada na frente de sua porta com um sorriso melancólico no rosto. As bochechas grandes e rosadas do clima abafado e carregando um semblante indecifrável.

— Entrre. — Jacqueline deixou que a garota entrasse.

Letrisha sentou-se e esperou que a ruiva fizesse o mesmo. Jac cruzou as pernas e esperou que a outra disse algo. Letrisha parecia acanhada.

Jac resolveu começar:

— Fiquei realmente surprresa. O que te trrouxe aqui?

— Só quis relembrar os velhos tempos. — Ainda havia receio em sua voz. — Depois que foi embora, eu fiquei sem chão, sabe? Era minha única e melhor amiga de infância. Nunca te esqueci.

Jac apenas assentia, não tinha a menor noção do que dizer, mas arriscou:

— Não demorrei, viu?

— Quem quer enganar?

Jac não entendeu a investida.

— Quando soube que voltou, fiquei tão feliz, mas aí disseram que era uma garota intercambista francesa e fiquei me perguntando o motivo de tamanha mentira. Já que nunca foi pra França, não é mesmo? Pode me contar a verdade, Jac, somos amigas. — Disse a ex-miss mirim. — Amigas desde sempre, né?

Jacqueline pensou em empurrá-la para fora do seu apartamento ali mesmo, mas não queria mais problemas do que já tinha.

— Mas tenho que confessar, seu sotaque francês é bem convincente e o sobrenome Belmont é bonito até.

— Com certeza não está aqui por causa dos velhos tempos, Letrisha. Espero do fundo do coração que não seja para me afrontar. Então desembucha, o que quer? — Jacqueline foi firme.

— Saber o que está escondendo. — Letrisha rebateu. — Por que está fingindo ser uma estrangeira na cidade em que nasceu e foi criada até dar as costas?

— Nada disso é da sua conta!

— Okay, não precisa ser grossa, flor. — A morena ergueu-se. — Já entendi que você prefere esconder o jogo do que confiar em mim, a pessoa que sempre esteve do seu lado e te apoiou.

Jac somente apontou para a porta. Letrisha foi caminhando devagar.

— Não tem medo de o seu segredo escapulir? Falsidade ideológica é crime, sabia? Mas acho que tem algo pior por debaixo desse tapete.

— Por favor, vá embora e não volte aqui nunca mais... — Jac respirava fundo.

— Eu juro que vou descobrir o que você esconde de todos, Jac. O motivo de ter voltado, o motivo de estar fingindo ser outra pessoa, e se isso tiver a ver com essa merda na qual Reaperswood está sofrendo, uma hora as autoridades competentes irão saber. — Letrisha abriu a porta. — Talvez por mim.

Jac bufou.

— Saia daqui agora!

Letrisha abriu um sorriso entre as bochechas com sardas. Disse:

— Jacqueline Belmont, ou melhor... Leda Parker você é uma falsa!

— VÁ EMBORA! SAIA DAQUI AGORA!

A ruiva empurrou a garota para fora do apartamento e bateu a porta com força. Recostou-se na mesma e deslizou as costas até o chão, onde sentou e tombou a cabeça para trás, pondo as mãos no rosto. O que ela faria se Letrisha descobrisse tudo? Jac tinha que dar um jeito urgentemente.

x-x-x

O sol do crepúsculo já era engolido pelas colinas e montanhas que rodeavam Reaperswood.

Peter avançou na direção da janela, na intenção de abri-la, mas encontrou-a emperrada. Porra! Deu a volta no berço, enquanto Reaperface estava em seu caminho e agarrou um abajur quebrado em uma escrivaninha próxima. Arremessou o objeto e Reaperface recuou.

Peter aproveitou para correr dali e o assassino veio correndo, erguendo a faca logo atrás. O jovem começou a descer as escadas atordoado, olhando para trás muitas vezes, Reaperface no seu encalço.

No segundo seguinte, Peter tropeçou e foi escada abaixo. Bateu as costas no corrimão e reclamou da dor ao bater no piso de madeira. Ele pensou que seria seu fim, quando viu o Cara de Ceifador descendo os degraus cautelosamente, a faca sendo iluminada pelo final de tarde.

A visão foi ficando turva.

Peter arrastava-se na direção da porta, esticando os braços e tentando ir o mais rápido que podia, mas os músculos das suas costas doíam a cada movimento. Então o sol que banhava seu rosto desapareceu e ele confuso, ergueu a cabeça, avisando uma silhueta.

Sua visão reagiu, Mark estendeu os braços na sua direção. Peter comprimiu os olhos e olhou para trás, nenhum sinal do assassino. Mark continuou de braços estendidos, mas Peter se recusou e levantou sozinho do chão, tocando as costas e sentindo a dor escorregar pelas suas costelas.

— O que está fazendo aqui? — Perguntou o gêmeo.

— Recebi um email estranho, pedindo que viesse até aqui. Parece que você chegou primeiro, e não está nada bem.

— É mesmo? — Peter fuzilou-o com o olhar.

Mark recuou alguns passos, temendo represálias.

— O assassino me atacou, ele estava bem aqui a um segundo atrás. — Peter encarou Mark desconfiado.

x-x-x

Já era noite quando Peter chegou até o Hotel & Hostel, onde ele e Phillip estavam hospedados, através um cartão de crédito Golden dos pais. O gêmeo mais novo assistia tevê, mudando os canais de maneira robótica e desanimada. O mais velho estava verificando sua caixa de mensagens. Nada ali. Peter suspirou completamente perdido.

— O que vamos fazer? — Ele começou.

— A gente precisa fazer alguma coisa? — Phillip finalmente parou de mudar os canais.

Agora, o gêmeo mais novo estava com os braços apoiados nos cotovelos, de bruços na cama. A programação exibia American Horror Story: Hotel. Que oportuno...

— Acabei de te dizer que o assassino me levou até uma pista. Tommy Warland tinha um filho, talvez é isso que ele quer que desvendemos. Esse tal filho pode estar por trás dos assassinatos! — A mente dele fervilhava.

— Por quais motivos? Não adianta pensar no assassino, se não nos motivos.

— Será que pode me ajudar um pouco, Phill? Eu to tentando encontrar o assassino pra darmos um fim nisso. Não aguento mais as ligações, os corpos se acumulando ao nosso redor!

Phillip compadeceu-se da situação, sentindo a tensão. Fez muxoxo e saiu da cama em direção ao irmão. Posicionou-se atrás dele e massageou seus ombros.

— Relaxa, mano... É trabalho da polícia, não da gente. — Explicou. — Já somos suspeitos suficientes por si sós, melhor ficarmos longe de encrencas.

— Seja quem for, ele matou Gabriella e nossos colegas. Eu vou encontrá-lo custe o que custar!

— Mas não fará isso agora, Vendetta. Porque daremos um passeio, precisamos de ar fresco. — Phillip saiu empurrando Peter quarto afora.

x-x-x

O ar daquela noite estava ficando pesado demais, Peter já respirava de maneira ofegante. Lucky fazia o mesmo, sentindo o calor tremendo e a pele grudando na jaqueta. Tory continuava pedindo que Hannah não fraquejasse, que eles já estavam chegando e que elas resolveriam sobre a pulseira quando parassem. Brenda e Johnny se entreolhavam constantemente, conversando em silêncio, apenas através do olhar.

— Alguém tem ideia se estamos indo pelo lugar certo? Parece que estamos caminhando sem rumo. — Lucky proferiu.

— Meu rumo é só enterrar essa porcaria de corpo e me mandar de volta pro carro. — Hannah falava com dificuldade, devido ao peso do tapete, que mesmo que estivesse dividido, continuava pesado.

De repente, o celular de Peter começou a tocar e ele escapou do bolso de sua jaqueta.

— Merda!

Tory olhou para o visor brilhando entre as folhas e leu:

“Blaire chamando...”

— Quem é Blaire?

Quando deu por si, Peter já estava sendo encarado pela ex-namorada. A garota franziu o cenho de maneira confusa, mas ao mesmo tempo ameaçadora.

x-x-x

Três dias antes...

Os gêmeos desceram até o hall principal do Hotel & Hostel, onde encontraram uma pequena aglomeração, e uma garota histérica abraçava Penny escandalosamente. Um grupo de pessoas conversava ao redor da terceira Van Der Hills, acompanhada de outra garota alta e esguia. Os gêmeos também avistaram Vincent, ele estava apontando para os inúmeros painéis artísticos coloridos e pendurados em todas as paredes do hall, de frente à recepção.

Eles se aproximaram imponentes, embora a feição cansada de Peter fosse evidente. Penny avistou os dois e sorriu.

— Meninos, chegaram em boa hora!

O grupo que os acompanhava estava em cinco.

— Estes são alguns turistas que o amigo da Alex, Vincent, nos apresentou. Eles chegarem hoje e vão ficar aqui no hotel. Vieram até a cidade para gravar um documentário sobre Reaperswood, não é um máximo? — A cantora apontou para a garota que apertava sua cintura em um abraço de urso. — Começando por ela. Seu nome é Cindy-

A garota rapidamente se desvencilhou do abraço e ao encarar os gêmeos seus olhos brilharam. Ela estendeu a mão para um aperto.

— Cinthya Aläuk, muito prazer! — Sua voz soava rápida e sem qualquer pausa para respirar. — Podem me chamar apenas de Cindy, não tem nenhum problema, gosto que me chamem assim.

Cindy Aläuk era a mais tagarela do grupo, isso era claro. Sempre otimista e hiper comunicativa, como dá pra se notar em alguns segundos conversando com ela. Cindy possuía descendência latino-indiana, com olhos grandes e expressivos, um pouco escondidos pelas sobrancelhas sisudas e pelo cabelo escuro; A pele lembrava muito a tonalidade bronzeada dos latinos, mas seu rosto possuía mais traços indianos. Vestia-se com uma blusa de mangas longas vermelha, estampada com uma caveira mexicana, e um jeans simples.

Cindy estava responsável pelas questões de cenário e maquiagem do documentário. Por fim, era fanática por Penny Queen, sendo esta, sua artista pop preferida da atualidade. Voltou a abraçá-la.

— Estes são Rowen e Gabe. — Vince aproveitou a deixa para continuar a apresentação dos turistas.

O jovem acenou, enquanto a garota soltou um riso breve e cruzou os braços impaciente. Rowen Acchord era um rapaz de aparência um tanto exótica, uma mistura de rosto comum com traços exóticos orientais. Era baixo e atlético. Usava um topete metodicamente arrumado em sua cabeça e vestia uma jaqueta de couro marrom, blusa preta e jeans. Estudante de cinema e cinéfilo, um artista nato responsável pela parte gráfica do projeto do documentário sobre Reaperswood, incluindo filmagem e edição de vídeo.

Já Gabe Riley Heathers era esbelta e baixa, mas seu tamanho era disfarçado pelo sapato de salto de cano alto. Cabelos castanho-claros, rosto bastante expressivo e olhos azuis vibrantes. Nos lábios, um batom vermelho-sangue e no pescoço um colar que brilhava, com as siglas GR; A jaqueta preta sobre o corpete vermelho e a calça jeans pareciam terem sido desenhados exclusivamente para ela.

Era a cabeça realista do grupo, extremamente sincera, que chegava a ser brutal. Cindy considerava-a uma vadia do bem, que ficava quieta, até pisarem em seu calo. Responsável pelas partes mais sociais do projeto.

— Ela parece ou não parece a Tove Lo? — Vince perguntou.

— Dá pra calar a boca? — Ela disparou. Vince assobiou.

Peter acenou positivamente e Phill rolou os olhos.

— Por último, estes são Roderick e Blaire. — Penny disse.

Ambos acenaram. Ele mais rápido e ela de maneira mais tímida.

Roderick Forest era um gótico bem chamativo. Assemelhava ser o mais alto do grupo, mas aparentemente não chegava aos 1,75. A pele pálida contrastava fortemente com os curtos cabelos negros caindo sobre os olhos. Vestia-se com uma jaqueta preta sobre uma blusa de botões de mesma cor e calça escura. Por fim, os coturnos nos pés. Possuía barba rala e olhos verdes vazios, um rosto arredondado e alguns acessórios nos dedos. A cabeça responsável pela pesquisa e desenvolvimento do roteiro do curta-metragem.

A última integrante do quinteto, Blaire Anderson era uma garota de cabelos ruivos alaranjados, visivelmente tingidos, olhos castanhos, pele pálida e algumas poucas sardas. Com estatura mediana, ela conseguia esconder-se facilmente no grupo, pelo seu jeito acanhado e tímido. Vestia-se com um vestido preto, repleto de rosas vermelhas e um chapéu preto sobre as madeixas. Responsável pelas questões legais do documentário, papeladas etc.

Os olhos dela bateram com os de Peter imediatamente. A troca de informações naquele segundo foi suficiente.

— Desculpa acabar com a felicidade de vocês. — Phillip tocou o ombro do irmão. — Mas foi uma péssima hora pra chegar na cidade, não acham?

— Do que ele está falando? — Cindy olhou para Vince.

O barbudo coçou a cabeça, sentindo amargamente a cagada de Phill naquele momento.

— Do massacre. — Peter disse. — Tem um psicopata a solta cometendo assassinatos e ele pode atacar de novo a qualquer momento.

— ISSO É DEMAIS! — Cindy levantou os braços, comemorando.

Gabe Riley encarou-a instantaneamente. O resto do grupo fez o mesmo.

x-x-x

O grupo dispersou-se rapidamente, depois da torta de climão. Peter e Phillip passearam pelos arredores do hotel, mas voltaram logo. Agora, estavam novamente no quarto, Peter jogado em uma poltrona e o irmão na cama. O episódio gravado de American Horror Story estava acabando.

— Eu vi a maneira que você e aquela ruivinha se olharam, Pete. Rolou um clima, não foi? — Phill fez uma cara de safado e abriu um sorriso diabólico nos lábios.

— Claro que não, pff! — Peter riu nervoso.

— Pegou o número dela?

— Phill, a gente mal ficou no mesmo lugar!

— Deixa comigo, eu pego o número dela pra você. Qual é, você é um Van Der Hills, meu irmão gêmeo, não vem dizer que depois dos assassinatos você esqueceu como conquistar alguém. — O irmão atiçava com tom malicioso.

— Claro que não, eu só-

— Só nada. Amanhã o número dela estará nas suas mãos, não vai precisar fazer muito esforço.

Os dois riram.

— Você precisa mesmo conhecer uma pessoa nova, chega de remoer sentimentos passados!

Phillip bateu duas vezes no colchão, afastando e dando espaço ao irmão mais velho. Peter caminhou até a cama e deitou-se. Os dois dedicaram alguns minutos a procurar alguma programação boa.

Até que a porta abriu-se, revelando seus pais. Sra. Van Der Hills foi a primeira a entrar, com a voz trêmula, visivelmente nervosa. Ela apalpou o rosto dos gêmeos, que sentiram-se desconfortáveis. O pai entrou logo em seguida, fechando a porta e ficando de frente para os dois.

— Já fomos até a polícia. Vocês nos devem algumas explicações.

— Pai... — Peter arriscou.

— Nós saímos por alguns dias E VOCÊS EXPLODEM NOSSA CASA!

Pamela Van Der Hills tinha os cabelos tingidos de um loiro platinado e a pele clara estava um pouco bronzeada. Os olhos grandes e azuis da mulher estavam marejados. Ela abriu os braços e os garotos se renderam a um abraço.

Pamela chorou.

— Se eu tivesse perdido vocês, não saberia como viver...

— Desculpa. — Peter disse. — Mãe, a gente não teve escolha.

— Era caso de vida ou morte, o assassino... — Phillip engoliu as palavras.

— Então foi ele. — O Sr. Van Der Hills aproximou-se dos três.

Usava uma blusa gola pólo azuis e calça caqui. Os cabelos variavam em fios negros e grisalhos, já os olhos eram castanhos e o corpo ato e atlético.

— Precisamos resolver isso, meus filhos não podem continuar aqui. Vamos embora para a Florida, há tempos que planejamos isso. — Pamela comentou, beijando o topo da cabeça dos filhos. — Meus dois bebês estarão mais seguros.

— Seus três bebês, não é? — Phillip olhou para a soleira da porta.

Os pais fizeram o mesmo e avistaram Penelope entrando. Ela abraçou o pai fortemente, não queria largá-lo. Era bom um abraço protetor no meio daquela tempestade.

— Querida, o que está fazendo aqui? — Pamela arregalou os olhos. — Achamos que estiver em Tour.

— É uma longa história, mamãe.

x-x-x

A tarde do dia seguinte chegou num piscar de olhos. Na delegacia os ânimos estavam elevados, vários assuntos para resolver e pendências para serem concluídas. Xerife Browning encontrava-e de mãos atadas, até aquele presente momento, após diversas mortes e semanas, ele não tinha a menor ideia de como avançar a investigação, já tentara de tudo. Porém, o assassino era bom, ele sabia encobrir as pistas.

Pedira para examinarem uma faca encontrada na escola, mas não era a mesma que matara parcela das vítimas, era apenas uma pista falsa. O homem encontrava-se desorientado, de mãos atadas. Onze corpos e apenas uma pequena pista no meio de tantas teias. Uma amostra de DNA fora encontrada por Evellyn e examinada. Browning só aguardava o resultado do mandado de busca expedido para o suspeito.

O calor fez Browning afrouxar a gravata.

— Xerife! — A porta abriu-se, um rapaz de óculos e fardado entrou rapidamente. — Temos algo que vai querer ver.

Sem cerimônia, Browning ergueu-se da cadeira e marchou até a sala vizinha. O rapaz de óculos acessou um dos computadores e mostrou arquivos para o xerife.

— Isso é uma multa?

— Sim. — O rapaz respondeu. — Uma multa por velocidade. Foi dada a Peter Van Der Hills na noite do assassinato de Gabriella King, a primeira garota morta.

Os olhos de Browning brilharam.

— O horário foi esse mesmo?

— Entre dez e quinze minutos após o homicídio. Van Der Hills foi multado por uma das patrulhas da rodovia McKinley.

— McKinley é a única rodovia que dá acesso ao endereço da garota. — Xerife pensou alto.

— Mas isso não é tudo, xerife.

Browning olhou para o oficial, que arrumava os óculos e ia até outro computador. Ele apertou em um dos botões e foi redirecionado para uma central de câmeras. Uma filmagem exibia em loop o momento em que um veículo vermelho passa diante da câmera.

— O conversível vermelho de Peter Van Der Hills foi flagrado pela câmera de um armazém nas imediações do endereço da garota.

O xerife abriu um sorriso de orelha a orelha. Instintivamente olhou a data das filmagens.

— Esse flagrante foi pouco antes do horário da morte. — Browning segurou o queixo. — Sabe o que isso significa? Temos provas maiores contra meu suspeito favorito. Parece que ele fará uma visitinha à delegacia nas próximas horas.

x-x-x

Na mesma de jantar, Tory e Leon jantavam. A garota dava garfadas desinteressadas na comida, enquanto o homem tentava descobrir do que ela mais gostava. Mas Victorya parecia sempre estar disposta a levar a conversa a um rumo diferente.

— Se você tem uma coleção de filmes de terror no quarto, com certeza eu quero conferir. Devem ser muitos, hein? — Ela sorriu.

— Sim, são mais de cinco dúzias.

— Uau! — Tory abriu um sorriso maior e encostou os cotovelos na mesa, aproximando o grande decote do prato.

— Inclusive, tenho Jennifer’s Body, que eu sei que adora tanto. — Leon olhou-a e sorriu de lado.

Tory ergueu-se da mesa.

— Posso usar seu banheiro um instantinho? — Arrumou o decote da blusa.

— Claro. No corredor superior, segunda porta à direita.

O professor olhou-a entrar no corredor e desaparecer na escuridão.

Tory entrou na primeira porta e encontrou o quarto de Leon. Entrou vagarosamente e encostou a porta. O cômodo não era tão grande. Nas paredes, pôsters de filmes de terror slashers 80’s, na estante vermelha, diversos livros que julgou serem de literatura de horror também, já que viu O Iluminado e O Exorcista, um do lado do outro.

A garota andou alguns metros e ficou de frente para um apoio de parede contendo diversos tipos de faca. Tapou a boca e soltou um gritinho, recuando. Os objetos afiados estavam dispostos um ao lado do outro. Sobre a mesinha bem abaixo, vários papéis e uma foto de Tommy Warland entre dois deles.

Na porta entreaberta, Leon a observava.

Ela ouviu um barulho e saiu rapidamente do quarto, entrando no banheiro. Retocou a maquiagem e saiu minutos depois, tropeçando nos próprios pés.

— O que aconteceu? Parece assustada. — Leon dava mais uma garfada na comida e levava à boca.

— Não estou me sentindo bem, preciso ir.

— Fique mais um pouco, tem sobremesa. — Ele levantou e fitou-a marchar apressada em direção à porta.

— Tenho mesmo que ir. — Ela soltou um beijinho nervoso no ar e abriu a porta, correndo pelo gramado.

— Posso levá-la de car-

Tarde demais, Tory já saíra.

Pela janela, Leon conseguia vê-la descer a rua. Por um segundo, a morena olhou para trás.

x-x-x

Pisando sobre a terra recém-molhada e algumas folhas secas, o grupo chegou até os limites da clareira minutos depois. Peter encarou o grupo, que o encarou de volta. Eles largaram o tapete, completamente suados. O frio que fazia ali era em vão.

— Lucky e Johnny, me ajudem a cavar! — Peter ordenou. — Tory e Brenda podem verificar se há algum pertence que possa identificá-lo e Hannah fica de vigia.

A loira sentou em uma pedra e começou a chorar.

— De novo não... — Brenda e Tory olharam a garota desmanchar-se em lágrimas.

— Hannah, eu sei que é uma perdedora, mas para de mostrar isso pro mundo! — Tory segurou seus braços, chacoalhando-a.

— Me larga, vadia! — Ela gritou entre lágrimas.

— O QUÊ? DO QUE ME CHAMOU, PIRANHA?! Eu estou vários andares acima de você na pirâmide da dignidade, então cala a droga dessa boca, para de chorar a vigia a porra do perímetro!

— Ei, vocês duas! — Peter exclamou. — Parem de dar PT e façam o que eu mandei!

— Nem nessas horas, para de ser mandão. — Johnny comentou.

— Quer ir pra cadeia ou pro inferno?

— Que pergunta retórica... — Johnny balbuciou de volta, dando um meio riso.

O gótico bufou em seguida e pegou uma das pás que Lucky acabara de lhe dar. Ele não soube dizer como Lucky vinha segurando o tapete e carregando os objetos. Tory e Brenda colocaram luvas pretas que haviam dentro do carro e começaram a desenrolar o corpo do tapete. Hannah levantou da pedra e ficou olhando em volta, aquecendo-se com os braços. Parecia ser a única a sentir frio, a ponta de seu nariz estava vermelha.

Após desembrulharem o corpo, enquanto os garotos abriam a cova, Brenda e Tory se encarregavam de vasculharem os bolsos do corpo inerte, ao mesmo tempo em que analisavam a expressão de pânico na qual o infortuno permaneceu após a morte.

Leon Moreira, o professor de literatura, estava com os olhos arregalados e a grande mancha de sangue encharcava sua blusa.

— Estão ouvindo isso? — Hannah disparou.

Peter, Lucky e principalmente Brenda, aguçaram os ouvidos.

— Vem vindo alguém! — A loira avisou.

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Dois dias antes...

Na noite seguinte, Lucky e Miles estavam de frente para seus respectivos notebooks, com as webcams ligadas. O atleta estava descamisado, apenas com uma cueca boxer e Miles usava um sutiã amarelo e um shorts leve, os cabelos castanhos caindo sobre os seios. Eles conversavam há um bom tempo, já era noite e ambos os quartos estavam escuros. Lucky sorria saliente e Miles, embora tímida, exibia mais do que o comum.

— Então, vai mostrar ou não vai?

— Lucky... Você sabe que eu não consigo fazer isso, nunca experimentei esse tipo de coisa, geralmente a gente fica bem mais próximo que isso. — Ela disse envergonhada.

— Dessa vez, com o toque de recolher pronto pra levar jovens delinquentes pra delegacia, prefiro fazer isso à distância. Sabe que tenho reputação social e familiar. — Riu. — Nem pra empresa eu fui.

— Me poupe destes discursos partidários. — Miles deitou a cabeça no travesseiro. — Todo mundo sabe que de santo, você não tem nada.

— Vamos lá, amor, tira esse sutiã, está atrapalhando minha visão. — Ele fez muxoxo e projetou o notebook contra o abdômen, dando pra ver parte da cueca. — Se quiser tirar o shorts também, estará fazendo um favor.

— Que namorado safado eu fui arrumar, hein?

— Tira, tira, tira! — Lucky começou a batucar.

Miles sempre cedia quando ele insistia demais. Ela se odiava por isso. Mas entendia que eles estavam longe e ficar perto não era opção. Tocou a parte traseira do sutiã. E foi abrindo-o aos poucos.

— Isso, garota! — Lucky massageou o membro. — Mais um pouco.

Miles arriscou uma dancinha sensual, enquanto tocava uma música qualquer nos fones de ouvido.

— Vai, mostra pra mim...

No instante em que o sutiã cairia para frente, três janelas do Skype se abriram na mesma chamada. Peter, Hannah e Tory surgiram na tela.

— Porra! — Lucky saltou para fora da cama, deixando o notebook cair.

Miles apressou-se em cobrir os seios, a bochecha corada violentamente. A garota foi recolocar o sutiã e alguma camiseta. Lucky vestia uma bermuda rapidamente.

Ouviram as risadas de Peter, Tory e Hannah do outro lado.

— Nossa, chegamos no momento do Redtube! — Peter gargalhou.

— Deveriam ter continuado, Lucky ganharia um brinde. — Tory mordiscou os lábios, em seguida deu uma risada.

— Amiga, que micão. — Hannah falou.

Miles e Lucky voltaram aos seus lugares.

— Oi pra vocês também. — Melissa fez um coque rápido, ainda dava para ver suas bochechas vermelhas. Acabara de vestir uma blusa da saga Hunger Games.

Hannah vestia um de seus variados vestidos rosa, cheio de acessórios, enquanto Tory vestia um corpete mais uma calça preta e Peter uma blusa branca em corte “v”.

— Vocês não perdem a oportunidade, não é? — Lucky comentou, arrumando o notebook em seu colo.

— Não mesmo, queridos. — Tory soltou uma piscadela.

— E então, o que temos pra esta noite, além do strip tease fail da Miles? — Peter indagou.

O grupo não soube o que responder, apenas ficaram em um silêncio mortal. A gata de Hannah começou a miar em seu colo.

— Onde está o Phill, Pete? — Tory perguntou. Ela estava sentada em uma cadeira giratória.

— Ele, Penny e uma amiga saíram juntos, mesmo nossos pais tagarelando nos nossos ouvidos sobre o toque de recolher. Eu não estava afim mesmo de sair, então resolvi preencher minha cota diária de perversidade na internet mesmo. — Deu de ombros.

— Gente, vou buscar alguma coisa pra comer, só um minuto. — Miles levantou e saiu da visão de todos.

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O grupo não esperava mais três janelas acendendo na conferência. Duas delas estavam sem webcam. A terceira revelou Mark em um ambiente bastante escuro. O garoto mantinha uma expressão confusa.

— O que está fazendo aqui? — Hannah perguntou, cruzando as pernas sobre a cadeira.

— Não sei, me colocaram aqui.

Peter e Tory olharam desconfiados pra ele.

— Foi um de vocês? — A loira perguntou.

Peter levantou as mãos e negou com a cabeça. Tory fez uma cara de reprovação e também negou. Hannah olhou de volta pro rapaz.

— Vaza, Mark, não vem com essa de que te adicionaram. — Hannah falou de maneira séria.

— Já sei que não sou bem-vindo, Hannah. — Mark ficou desapontado, mas não surpreso.

JBaphomet666: Alguém pode me explicar o que estou fazendo no ninho das cobras?

— Também querro saberr quem me adicionou.

O grupo já ouvira aquela voz, especialmente o sotaque. Era Jacqueline, a francesa.

— Por que vocês não estão aparecendo?

JBaphomet666: Estou sem cam.

— A julgar pelo nickname, eu diria que é o Johnny Gótico. — Peter concluiu.

JBaphomet666: Vai ganhar uma balinha de veneno por ter acertado! Agora podem me dizer quem me pôs aqui?

— Não foi nenhum de nós, galera. — Afirmou Lucky.

— Eu não teria o menor interesse em ter algum de vocês na conferência. — Tory sibilou. — Falo mesmo.

— Estou com a Tory. — Hannah completou. — Um gótico, um esquizofrênico e uma garota com a qual eu nunca falei na vida... Até parece que estou satisfeita com o serviço delivery do circo dos horrores.

— Minha webcam está com prroblemas, mas ainda estou ouvindo tudo, pessoal. Parrem de fingir que não estou aqui, s’il vous plaît. — Jac falou.

Tory rolou os olhos e conferiu as unhas. Hannah respirou fundo e mexeu no cabelo.

Gabriella King: Fui eu quem colocou vocês aqui. Sejam bem-vindos!

— Mas que porra é essa?! — Peter sentiu o coração acelerar.

— Esse perfil já estava aqui antes? — Lucky perguntou.

JBaphomet666: Gente, estou perdido.

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Miles acabara de voltar com um sanduíche e um copo de suco. Pôs os fones de ouvido.

— Por Deus! O que ta acontecendo aqui? — Perguntou incrédula.

— O fantasma da Gabriella juntou alguns alunos pra uma festinha particular no Skype. — Mark comprimiu os lábios. — Já vi esse filme antes.

Gabriella King: Unfriended, isso mesmo. Eu serei Laura Barns, a vingativa, e vocês, os otários que vão se ferrar HAHAHAHAHA. Se já assistiram, saberão exatamente o que acontecerá hoje à noite.

— Não sei e não pretendo ficar pra saber. — Mark retrucou e desligou-se da chamada. — Fui!

— Que brincadeira de mau gosto! — Miles observava o que os outros estavam fazendo.

— Estou tentando desligar e não consigo! — Jacqueline clicava no botão desesperada.

— Por que o Mark conseguiu e eu não estou conseguindo? Que bosta! — Lucky reclamou.

Todos escutaram um barulho vindo da casa de Tory. A morena virou-se e voltou-se para a tela com os olhos arregalados.

— Vocês ouviram isso? — Sua voz embargou. — Essa droga desse perfil deve ser o assassino... Ele está querendo brincar com a gente.

A líder de torcida ouviu o barulho pela segunda vez. Vinha do andar de baixo.

— TORY! TORY, VENHA JÁ AQUI, SEI QUE ESTÁ AÍ EM CIMA! VOU ACABAR COM VOCÊ! — A voz soava irônica, furiosa e infantil ao mesmo tempo.

Houveram várias batidas.

Tory olhou confusa para todos. Peter reconheceu a voz que vinha da casa de Tory. A voz soou baixa, mas ecoou o bastante para que ele reconhecesse.

— É o Phill? — Peter perguntou.

— O que ele quer? — Lucky perguntou. — Tory?

A chamada de Tory silenciou. Logo, as luzes se apagaram e a garota saiu da visão da câmera. Começaram a ouvir seu sussurro:

— É o Phill, ele está furioso com alguma coisa... Ele-

— TORY! — A voz ficou mais forte.

Toryyy: Puta que pariu! Phill é o assassino!!!

Tory desligou-se.

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Gabriella King: As peças do meu tabuleiro começaram a se mover.

— O que você quer dessa vez, seu desgraçado?! — Peter gritou.

Gabriella King: Jogar, óbvio. O que mais eu viria fazer aqui nessa noite a não ser levar mais alguém pro meu leito?

— Já chega de joguinhos sádicos, Reaperface! — Lucky bateu o punho no colchão.

Gabriella King: Hoje eu sou Gabriella King. Esqueçam do Reaperface por essa noite apenas. Eu quero jogar e vocês são meus participantes.

— Vai se ferrar, que eu não vou jogar porra nenhuma com você, otário! — Hannah ergueu-se da cama e saiu da visão da webcam.

Logo, as luzes do quarto da garota se apagaram. A loira gritou e correu de volta ao seu posto.

Lucky e Peter olhavam apreensivos. Eles não podiam ver Johnny e Jac, mas a intercambista e o gótico também estavam nervosos diante de seus respectivos perfis. Peter batia os dedos no teclado impaciente, enquanto Hannah enchia os olhos de lágrimas.

JBaphomet666: Vamos manter a calma, só precisamos jogar o jogo dele, galera.

Lucky bufava e Miles tremia. Ele sorriu pra ela e pediu calma, a namorada respirou fundo e deu um meio sorriso.

Gabriella King: Agora sabem o que acontece com quem tenta desistir do jogo antes dele terminar. Peter, Lucky, Miles, Johnny, Jacqueline e Hannah... Quem vai morrer essa noite?

— Droga, droga, droga! — Lucky socou a parede. — Ninguém aqui precisa morrer!

— Okay, vamos manter a calma, ninguém vai querer desistir antes do fim do jogo. Então, vamos seguir as malditas regras dele. — Peter tentava ter o controle da situação, mesmo ciente de que nada estava bem.

— Dê suas regras! — Hannah gritou.

Gabriella King: Meu maior motivo de estar aqui é vingança. Todos vocês acabaram de algum jeito com a minha vida, direta ou indiretamente. E esta noite, quero que paguem por cada mal que fizeram a mim!

— Do que ele ta falando? — Lucky olhou para os demais.

JBaphomet666: Meu navegador está bloqueado, não consigo acessar nada :o

— Lembrem-se, é Gabriella King que está aí, não o assassino. — Miles murmurou.

Gabriella King: Garota esperta. Espero que todos já tenham ouvido falar do jogo do Eu Nunca. Já jogaram Eu Nunca?

Todos se entreolharam e não disseram nada. Hannah acenou negativamente com a cabeça, os olhos marejados.

Gabriella King: Antes de começar a explicar as regras, quero que conheçam a sétima participante.

Tory surgiu no chat num ambiente completamente escuro. Ela estava encolhida em um canto, com o notebook no chão e os olhos vermelhos. Era nítido que havia chorado. Peter notou algumas caixas e objetos cobertos por lençóis. Victorya estaria em um depósito?

— Tory, Tory! Onde está o Phill? — O gêmeo mais velho perguntou.

— Lá em cima, eu vim para um anexo do porão... — Ela sussurrava. — O que-O que está acontecendo aqui? Por que a Gabriella King está aqui?

Gabriella King: Bem-vinda, Tory! Você completa nosso jogo. Sem mais delongas, vamos às nossas regras!

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Gabriella King: Todos deverão erguer suas mãos esquerdas e mostrá-las pra mim. Eu farei uma afirmação do tipo “Eu nunca...” e quem já tiver feito tal sentença, baixará um dos cinco dedos. Até não restar nenhum, e adivinha o que acontece com quem baixar todos?

— Isso não pode estar acontecendo, mas que merda! — Peter lamentou.

Gabriella King: Morre!

— Não tem como você prever quem vai atacar, não tem como estar em todos os lugares ao mesmo tempo. — Hannah supôs.

Gabriella King: Não duvide da minha capacidade, querida. Você já duvidou muito de mim, não é agora que repetirá o erro.

A loira tremeu.

Miles não podia mais nem olhar para o sanduíche ou o suco ao seu lado que seu estômago embrulhava. Lucky olhava constantemente para a namorada, certificando-se de que estava bem. Jacqueline roia as unhas, aflita. Johnny apenas encarava a tela silenciosa, esperando outra investida do perfil.

Tory ouvia os passos no andar de cima.

Gabriella King: Aos que estão sem a visualização de câmera, digitem “1/5” e assim por diante. E lembrem-se! Não tente me enrolar... I know everything, I’m devil!

— Vamos, comece! — Peter mandou, bufando impaciente.

Todos ficaram com suas mãos erguidas e estendidas. Era impossível que as mãos não tremessem.

Gabriella King: Eu nunca traí.

Peter, Lucky, Hannah e Tory não pensaram duas vezes antes de baixar um dos dedos. Johnny e Jacqueline não escreveram nada. Miles já sabia que Lucky traíra outras de suas namoradas, mas até onde sabia, ele nunca havia traído-a.

Gabriella King: Muito bem, vejo que estão bastante empenhados em chegar ao final. Aí vai a próxima... Eu nunca falei mal dos meus amigos pelas costas.

Peter, Tory e Hannah rapidamente baixaram mais um dedo. Lucky pensou um pouco, mas baixou logo em seguida. Miles foi a última a baixar seu primeiro dedo. A maioria estava agradecendo internamente por não serem perguntas tão invasivas. Até agora.

Gabriella King: Aí vai a terceira, queridinhos! Eu nunca transei com Phillip Van Der Hills, enquanto namorava o irmão gêmeo dele.

Peter inclinou a cabeça. Tory arregalou os olhos e Hannah semicerrou os cílios. Lucky e Miles se entreolharam, incrédulos. Jacqueline franziu o cenho, enquanto Johnny apoiou a cabeça no cotovelo.

— Mas que merda de afirmação é essa? — Tory sussurrou, mesmo que em tom mais elevado.

Gabriella King: Eu não tenho a noite toda.

Tory olhou para Peter, o rapaz encarou-a. Ela tentava suplicar de maneira muda, apenas com o olhar, mas ele ignorou o gesto e disse:

— Vamos lá Tory, não se acanhe, baixe logo a porra desse dedo!

— Não, eu nunca fiz isso.

— Gente, que babado fortíssimo! — Hannah tapou a boca.

Gabriella King: Se a Tory não baixar em dez segundos, eu mesma vou escolher quem morre.

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— Tá esperando o que, Tory? Baixa o dedo! — Lucky gritou.

JBaphomet666: Tory, querida, não quero morrer. Faça o favor de baixar o dedo.

A garota baixou, rendida.

Foi a deixa para que um vídeo fosse adicionado à chamada. Todos esperaram carregar, mas pela miniatura, Hannah sabia do que se tratava. Era o mesmo vídeo que o perfil hackeado de Gabriella enviara pra ela há alguns dias. Desta vez, o mesmo estava desbloqueado.

A cena inicial era a seguinte: Tory sobre Phillip em uma cama, os lençóis espalhados. Os dois transavam loucamente. A capitã das cheerleaders rebolava e o irmão gêmeo de Peter segurava seus seios. Ela gemia e ambos mordiscavam os lábios.

Os dois deram um beijo.

— Ele não pode saber... — Ela falava.

— Ele nunca vai saber. — Phillip completou.

Peter estava estóico, ele não conseguia assistir àquilo. Uma raiva descomunal cresceu em si e ele sentiu vontade de arremessar o notebook.

Os demais assistiam ao vídeo, chocados. Poucos segundos antes dele acabar, Gabriella apareceu atrás da câmera, escondida atrás de um móvel. Ela sorriu e desligou a filmagem.

— Estávamos bêbados, meu Deus, que vadia! Ela armou e gravou tudo! — Tory começou a chorar. — Peter, eu posso...

— CALA A BOCA, PIRANHA! Não estamos mais juntos, não me deve nenhuma satisfação!

Gabriella King: Prontos para o próximo round? Eu tenho as fotos da Hannah trocando de roupa que estavam no computador de Lucky, mas acho que Miles já viu essas. Então, antes de partir para a próxima sentença... Miles, querida, veja essa foto do seu fiel namorado e da sua fiel amiguinha!

Lucky e Hannah se entreolharam por um segundo. Tory ainda chorava e Peter evitava olhar para a tela. O coração de Miles acelerou e pareceu sair pela boca.

Quando a morena tomou um soco no estômago.

A foto era uma foto pós-sexo, uma selfie tirada por Lucky. A loira estava na cama, com a cabeça rente ao peitoral do atleta, fazendo biquinho. Ele sorria e segurava o celular. Atrás, em um espelho, escrito com batom, estava a frase:

“O sexo mais selvagem!”

Hannah olhou para a amiga completamente abalada. Ela pôs a mão no peito. Miles recuou atordoada, não demorou muito para que as lágrimas rolassem pelo rosto. Lucky sabia que não adiantaria explicar, a junção dos fatos era suficiente.

— Miles, me perdoa, por favor! Eu não sei aonde eu tava com a cabeça...

— Eu sei muito bem onde que você estava com a cabeça, seu filho da puta! — Melissa gritou e mostrou o dedo do meio para ele e para Hannah.

— Calma, flor. — Hannah disse, em posição de deboche.

— Eu vou quebrar tanto sua cara, que seus dentes vão saltar que nem pipoca, sua vadia! — Miles gritou novamente, furiosa. — Todo este tempo fingindo ser minha amiga, quando só queria sentar no meu EX-NAMORADO, né? — A palavra fez Lucky sentir na alma e baixar a cabeça.

Sentia-se um cuzão. E foi.

— Pra começar, ele que ficou me vendo pelada pela webcam, okay? Eu não fiz muito esforço pra que ele quisesse ir pra cama comigo. Aconteceu, Miles, e ele é o maior culpado disso tudo! Um sociopata que me perseguia virtualmente! — Hannah cuspiu tudo que queria dizer.

— Você sabia da cam?

— É claro! Acha que nasci ontem? — A loira fez um “L” com os dedos e pôs sobre a testa.

— Gente, que baixaria. — A voz de Jac ecoou.

JBaphomet666: Concordo, mas está melhor que a versão original de Unfriended. LOL

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Gabriella King: Bom, já que a conversa chegou no rumo em que eu queria… Chegou a hora da última etapa, uma etapa diferente da primeira. Mais elevada.

Todos já estavam exaustos de revelações. Permaneciam quebrados e tensos.

Gabriella King: Lucky, Hannah e Miles, o triozinho da vez, receberão cada um, uma imagem. Terão um minuto para decidir o que farão. A partir daí é com vocês, queridinhos. Boa morte!

Em seguida, as imagens de cada um carregaram em suas mensagens privadas. As pernas de Lucky ficaram bambas, enquanto Miles observou tomada pela raiva. Hannah apenas engoliu em seco. Os segundos estavam passando.

Tory não ouvia mais nenhum passo no andar superior. Acho que Phill foi embora, pensou.

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— E então, o que há na imagem? — Peter perguntou.

— Não posso falar. — Lucky respondeu firme.

— Eu quero ver, Lucky! — Miles gritou. — Aposto que é mais uma foto de vocês juntos, não é? Você é uma decepção!

— Por que não mostra a sua, Miles? — Hannah sugeriu.

— Os segundos estão passando, galera, precisam resolver! — Jacqueline retrucou. — Vamos lá!

— Mostra logo, Lucky!

— JÁ DISSE QUE NÃO POSSO!

— Para de mandar ele mostrar e mostra você, mulher! — A loira gritou.

— Vai continuar escondendo as coisas de mim? — As lágrimas de Melissa não tinham fim.

— Eu não posso... — Ele não conseguiu se segurar, e o choro foi inevitável.

Hannah observava tudo bastante atônita. Milhões de pensamentos rodeavam sua cabeça. O tempo estava acabando.

— Lucky, não esconda mais isso de mim! Já é o bastante tudo que fez... Não suportarei mais mentiras.

— MILES OLHA PRA MIM! — Ele chorava copiosamente. — Eu te amo, okay? Não me peça pra fazer isso, eu juro que não pode acabar assim!

Quinze segundos.

— Gente, eu não quero ver banho de sangue e não consigo sair da videoconferência, então mostrem logo essa porra, antes que eu mesma vá até aí e faça! — Jac gritou.

— MILES OLHA PRA MIM, POR FAVOR! OLHA AQUI! — Lucky pedia, mas Melissa ignorava-o, ela chorava agarrada a um travesseiro. — MILES!

A atriz olhou inconformada e afogada pelas próprias lágrimas. Era um porta-retratos com uma fotografia dos dois nas docas. Um grandioso pôr-do-sol mergulhava a paisagem em um tom laranja. Os cabelos de Miles ao vento, esvoaçantes e o atleta com um boné do time de lacrosse.

Subitamente uma imagem foi enviada para a chamada. Nela estava escrita a frase em negrito:

“Se mostrar essa imagem, Melissa morre!”

Hannah ainda estava paralisada, após apertar a tecla enter.

Lucky e Peter arregalaram os olhos. Tory gritou com os olhos inchados de tanto chorar.

A porta do quarto de Miles bateu e a garota berrou, saindo da cama com um pulo. Reaperface surgiu no quarto como um vulto ágil e segurando uma imensa tesoura de jardinagem. Na primeira tentativa de cravar o objeto no peito de Melissa, a morena desviou e se protegeu com os braços. A tesoura afiada afundou em sua mão e ela berrou novamente.

O corte abriu de imediato e o sangue desceu pelo seu braço. Atordoada, tentou correr para fora do quarto.

O notebook desequilibrou-se e caiu para fora da cama. Todos que estavam na videoconferência, viram a última imagem de Miles correndo cômodo afora. Reaperface apanhou o objeto e sua máscara assustou Jacqueline, que engoliu em seco. Hannah chorava. Peter não sabia o que fazer e Tory permanecia estóica.

— Alguém pode me dizer o endereço dela? Quero ligar pra polícia, tem que dar tempo. — Jac tateou seu celular.

— Lucky, o endereço, rápido! — Peter pediu.

Lucky não esperou mais e saiu correndo. Ele chegaria à casa de Miles, custe o que custasse.

— Gente, ele acha que é o Flash? — Hannah perguntou, roendo as unhas.

— Cala a boca, Hanna! — Mandou Tory. — E liga pra polícia, manda ela pro endereço da Miles, RÁPIDO!

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Miles passou pelo corredor, as pernas trêmulas, os calcanhares doloridos e a visão um pouco turva. Atrás dela, o manto preto do assassino deslizava facilmente pelo corredor. A garota gritava, esperando receber algum tipo de ajuda, mas sabia que ninguém viria até ela. Os vizinhos juntos de seus pais haviam saído para uma convenção da igreja que frequentam.

Melissa desceu os degraus da escada às pressas, segurando no corrimão e sempre olhando para trás, só para confirmar que o mascarado vinha correndo bem rápido.

— Droga! — Enquanto corria, visualizava cada canto da casa, a procura de um aparelho celular.

Em vão.

A porta da frente estava ficando mais próxima. Ela já podia sentir a rua se aproximando, seria mais fácil de pedir ajuda. O sangue quente escorria no braço, os cabelos assanhados cobriam seu rosto, os pés trêmulos davam passadas desconfortáveis e apressadas.

A porta estava logo à frente.

Quando Reaperface alcançou-a e chutou suas costas. Miles virou sobre um pedestal contendo um vaso de plantas. O vaso de vidro estilhaçou-se e a morena caiu por cima dos cacos. Ela urrou de dor, enquanto tentava erguer-se o mais rápido possível, com todas suas forças. Seu tórax e abdômen ficaram dormentes com o impacto e os buracos causados pelos vidros.

Ela arrastou-se para um canto e avistou o assassino se aproximando com sua tesoura de poda. Ele estava pronto para atacá-la, no momento em que a morena apoderou-se de um dos cacos e enfiou no tornozelo do mascarado.

A pessoa por trás da máscara de Reaperface urrou e cambaleou para trás. Miles aproveitou o momento oportuno para levantar e alcançar a porta mais próxima.

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Ao passar pela porta, Melissa deu de cara com o quintal.

Rapidamente, ela correu e abaixou-se atrás de um latão. Completamente ofegante e machucada, a morena puxava o ar, mas os ferimentos impediam que ela respirasse direito. Tentou tirar alguns dos cacos, mas a cada toque, ela urrava com a dor imensa. Desistiu de retirá-los.

A blusa da série Hunger Games estava ensopada, grudando o sangue com a pele, enquanto o ferimento de sua mão só doía ainda mais. As pesadas gotas de suor molhavam sua testa e seus cabelos castanhos.

De repente, passou a ouvir os passos do assassino ao longe, mas iam se aproximando a cada dois segundos.

— Merda, merda, merda... — Segurava a mão, como pudesse estancar o sangue que não parava de deslizar do ferimento.

Os passos mais próximos, o barulho metálico da tesoura de jardinagem.

Então, a voz gutural retumbou na noite silenciosa:

— Sorria, Melissa, você está no nono capítulo da minha história! É a virgem moderna, a típica garota que sofreu uma desilusão amorosa, que foi traída pelas pessoas que mais gostava, e que agora, tudo que mais quer é morrer... Vou estar te fazendo um favor te matando, querida. — Reaperface balançava a tesoura, a medida caminhava.

Miles comprimiu os olhos e trouxe a mão machucada para junto do peito. Os cacos machucavam, mas ela poderia fazer tudo, menos chamar atenção do assassino.

— Apareça pra mim, enfrente o desígnio dado a você.

Reaperface estava mais perto.

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Somente de calção e camiseta, Lucas corria esbaforido pela rua. Ele não saíra com celular, logo, não teria êxito em ligar para a polícia. Naquele momento, tudo girava em torno da culpa pela possível – ou não – morte da namorada. Ele não queria matar ninguém, e sua imagem ameaçava matar Hannah. Nem ela, nem Miles, mereciam ter um fim pelas mãos do impiedoso Reaperface.

— Estou chegando, meu amor!

O suor era expelido durante a corrida, o vento levava as lágrimas, mais alguns quarteirões. A lua desaparecera do céu e as pessoas das ruas. Lucky enfrentava o toque de recolher.

De repente, ouviu um veículo se aproximando e o contraste vermelho e azul pousando sobre o asfalto.

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Miles lutava contra sua própria respiração. A dor dos ferimentos era tamanha, que ela não resistiu e grunhiu, pressionando a mão. A morena apoiou-se nos joelhos e decidiu verificar se o assassino, agora em silêncio, ainda vinha.

Segundos depois, um barulho de metal cortando o ar foi audível e o ouvido de Melissa zuniu quando a tesoura de jardineiro passou raspando seu rosto, cortando sua pele feito papel. Ela berrou.

O sangue do corte desceu em seguida, quente e ligeiro, banhando sua bochecha.

Miles levantou o mais depressa possível e tropeçou nos próprios pés ao jogar no latão no caminho do serial killer. Reaperface saltou o objeto, que rolou pela grama. Miles conseguiu tempo para subir em um suporte de madeira, carregado de rosas e um pequeno jardim suspenso.

O assassino observou a luta para a garota chegar até o topo e alcançar o telhado. O sangue pingava de seu braço e bochecha. Ele agarrou a tesoura e, enquanto Miles tentava equilibrar-se pelo telhado da casa, afastou-se alguns passos.

E arremessou a tesoura, que mais uma vez, cortou o ar. O objeto atingiu o alvo na primeira jogada.

As costas de Miles.

A jovem atriz sentiu a pior dor, dessa vez, com as lâminas da tesouras cravas em sua coluna. Desequilibrou-se e abriu os braços, entrando em queda, direto no teto de vidro da estufa de sua mãe. O corpo chocou-se contra os vidros e o barulho dos estilhaços se permutou ao seu sôfrego e abafado grito. Miles caiu entre as plantas, de cara no chão, desacordada.

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Lucky não esperou que os policiais na viatura interrogassem-no sobre estar quebrando o toque de recolher. Ele contou tudo o que estava acontecendo, e diante do seu desespero, os policiais pediram que ele entrasse no veículo.

Ele estava cada vez mais perto de Miles.

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Melissa abriu os olhos e a boca, num grito mudo pela garganta ressecada. Seus ossos doíam terrivelmente. Tudo que via ao seu redor eram plantas e acima de si, um imenso buraco no teto de vidro. A lua iluminava-a como um holofote, diante da escuridão parcial da estufa.

Ela arrastou-se pelos cacos de vidro, sentindo-os penetrarem em sua coxa sem qualquer chance de saída. Gemia de dor e chorava ao mesmo tempo. Estava exausta de tentar fugir, ela infelizmente não teria chances. Reaperface era mais rápido e inteligente, ele deveria ter toda a situação calculada.

Mas Miles tentaria.

Arrastou-se por mais alguns centímetros, enxergando algumas plantas a sua frente.

Segurou o braço ensanguentado e fez uma careta com a bochecha latejando. O choro se misturava ao sangue.

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Mal conseguiu arrastar-se mais, quando Reaperface entrou na estufa, balançando a ferramenta de jardinagem. Chegava a ser poética a cena. Ambos no meio das flores, Miles adorava flores; A luz da lua iluminando-a como num palco de teatro e ele com uma ferramenta de poda. Ele podaria a vida da atriz, antes mesmo da carreira começar.

Miles era uma flor murcha que ele não queria mais em seu jardim.

A jovem gritou percebendo a aproximação do mascarado. Arrastava-se pelo chão, suas forças se esgotando, os gritos roucos em vão. Os cacos iam entrando em sua pele a medida que avançava pela estufa. Seu reflexo apavorado era visto no vidro.

— Por favor, não me mate!

Reaperface balançava a ferramenta e alcançava o corpo.

— Hannah faz a escolha dela, Melissa. Sua querida amiga fez isso com você, seu namorado fez isso com você. Ele preferiu deixar você morrer, do que deixar Hannah morrer. Eles fizeram a escolha deles. — Disse a voz gutural e modificada.

— Não, eu... Eu-

— Fez a sua escolha também, eu sei.

Reaperface alcançou de vez a morena e virou-a de peito para cima, observando suas infinitas lágrimas molharem seu rosto. Miles chorava copiosamente.

A tesoura brilhou quando o assassino ergueu-a. Miles ouvia a sirena ao longe, mas nenhum grito sairia mais de sua boca, pois o assassino deferiu um golpe contra seus lábios e o lábio inferior afundou com o impacto.

Houve um espasmo e Miles arregalou os olhos. A parte superior de sua arcada dentária foi esmagada, dois dentes saltaram como pipoca para fora da boca. A garota cuspiu algum sangue e o assassino não a poupou.

Reaperface viu o queixo torto e começou a golpear o rosto de Melissa diversas vezes. A tesoura entrava e saía da face com barulhos grotescos de ossos, músculos e sangue. As lâminas rasgavam cada centímetro de pele, deformando rapidamente a atriz.

Treze, quatorze, quinze golpes. Mais espamos.

Miles não tinha mais vida, mas mesmo assim, o assassino fez questão de continuar golpeando-a brutalmente na testa, olhos e bochechas. Um dos olhos castanhos da garota escorregou e pendeu para o lado, pendurado por algum nervo. Seu nariz quebrado estava torto, suas bochechas abertas pelos cortes fundos e sua testa tornou-se apenas um conjunto de pele torcida.

Com o rosto da garota inundado no líquido rubro, Reaperface admirou uma última vez a visão poética do corpo iluminado pela lua, entre as flores. Então, ao soar das sirenas das viaturas, ele saiu da estufa, deixando a faca de jardinagem para trás.

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Lucky entrou na estufa aos prantos, gritando desesperadamente pelo nome da namorada, até encontrá-la jogada no centro do local, inteiramente deformada. Tentou se aproximar, mas dois policiais seguraram seus braços. Aquela era a cena de um crime, ele não poderia interferir nisso.

Caiu de joelhos.

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Peter, Lucky e Johnny, com a ajuda de Tory, arrastaram o corpo para detrás de uma árvore. Brenda e Hannah agarraram o tapete e trouxeram para junto do corpo. Naquela noite de silêncio assustador, eles podiam ouvir os passos rápidos e incessantes pisando nas folhas secas e nos galhos quebradiços do terreno.

Ligeiramente, o grupo dispersou-se e interessou-se em encontrar esconderijos. Peter e Brenda abaixaram-se ao lado do corpo, enquanto Johnny e Lucky foram para trás de algumas árvores; Tory e Hannah se jogaram por trás de uma pedra, e a Queen-bee tapou a boca da loira.

Uma luz vagou pela floresta, por entre as árvores.

A luz de uma lanterna.

— Eu sei que estão aí, apareçam! — A voz grossa soou como um relâmpago. — Não vão querer que logo eu saiba sobre esse segredo e esteja na posse da arma do crime, né?

Brenda ergueu-se rapidamente, seguida de Peter. A luz da lanterna encandeou a vista de ambos, que taparam os olhos com as mãos.

— Dá pra apontar isso pra outro lugar? — Peter indagou.

O grupo saiu de seus esconderijos logo depois.

— Achei que não tivéssemos sido seguidos. — Brenda cruzou os braços. — Por ninguém.

— Irmãzinha, você está fodida.

Vincent apontou a lanterna para o próprio rosto, de baixo pra cima e sorriu vitorioso. Além da lanterna, ele segurava a arma que matara Leon.

— Acho que isso aqui pertence a vocês. — Ele estendeu o objeto na direção de Brenda e Peter.

Uma estatueta de bronze.

Peter encarou-o e disparou à queima-roupa:

— Ótimo! Mais um pra ajudar a cavar a cova do professor e enterrar a merda do segredo.

Tory e Hannah foram até o tapete e enrolaram-no. Brenda ajudou-as a trazê-lo de volta.

— O tapete nós vamos queimar? — Tory perguntou.

— Vocês não acham essa porra toda muito parecida com How To Get Away With Murder? — Vincent coçou a barba.

— Vince! — A voz de Brenda ecoou.

— Okay, desculpa.

Após enterrarem o corpo, o grupo de sete viu as chamas consumirem o tapete, enquanto a fumaça se dissipava no ar.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Não esqueçam de comentar! Quem acham que é o assassino?



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