Slasher Story escrita por PW, Felipe Chemim, VinnieCamargo


Capítulo 10
1x10: Coração de Cicatriz


Notas iniciais do capítulo

Escrito com sangue e vísceras por Felipe Chemim.



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Ao longe, vestígios da fumaça ainda pairavam no ar, entre as copas das árvores. O vento levava-os para longe, enquanto a noite ainda engolia toda a mata. Peter também dera um jeito de se livrar da arma do crime, enterrando a estatueta de bronze em um lugar diferente, longe do corpo. Aquela mata não era tão visitada, então levaria um bom tempo até que encontrassem tanto ela, como o corpo do professor de literatura. Até lá, os jovens estariam safos.

Mortos, talvez.

O grupo de sete, já exausto, se dividiu entre os veículos de Peter e Vince. Tory, Hannah e Lucky foram com Van Der Hills, enquanto os góticos Brenda e Johnny seguiram com Vincent. O irmão mais velho encarou Brenda, que virou o rosto em direção da janela. Johnny permaneceu em silêncio, apenas conferindo as mangas longas de sua blusa.

Tory e Hannah nem sequer se olhavam e Lucky tinha o olhar distante, provavelmente pensando no fim que chegou para sua ex-namorada, Miles, por causa de Hannah. Ele não sabia dizer nem para si mesmo o que sentia a partir daquela noite, mas sempre que olhava para a loira, continha-se para não avançar na mesma.

Por um segundo, Peter olhou pelo retrovisor e fechou os olhos. O veículo de Vince arrancou pela estrada de terra rapidamente e Peter seguiu atrás.

***

Um dia antes...

O Suicide Squad estava quase completo na sala de conferências do estúdio da Roadhouse. Quase completo, pois Phillip não estava ali, ele não pudera comparecer porque seus pais pediram que ele os acompanhasse a algum lugar para resolverem questões sobre uma nova moradia. Então, só estavam presentes: Vince de um lado, Peter, Brenda, Tory, Johnny e Jacqueline do outro. A francesa olhava impaciente para o relógio, enquanto Peter tentava o máximo evitar contato visual com a cheerleader.

Vincent havia convocado uma reunião de emergência, já que mais uma garota, desta vez a gentil Melissa, havia sido cortada da fanfiction de Reaperface. Eles estavam aflitos e desesperados por soluções, mas quanto mais se aproximavam de desevendar algo, ficavam cada vez mais distantes. A morte nunca foi tão certa, mas era a única escolha que tinham. Era morrer pelas mãos de um serial killer ou consumidos pelo medo da próxima noite. Esquadrão Suicida nunca foi um nome tão conveniente.

— Podemos ir dirreto ao ponto? Tenho que resolver algumas coisas pendentes. — Jacqueline levou o olhar novamente ao relógio.

— Não levará muito tempo, Jac, prometo. — Vince respondeu. — Foi bom saber que minhas dicas serviram pelo menos para sobrevivermos até hoje. Só quero saber se temos mais pistas que possam nos levar ao assassino. Alguém?

— Como não quero prolongar muito essa reunião, tenho novidades sim. — Tory retrucou. — O nosso professor de literatura, Leon Moreira, é o assassino! Tenho certeza.

Ela estava convicta.

— Como ele pode serr o assassino? — Jac perguntou.

— Faz sentido, além de conhecer bastante sobre escrita, ele gosta muito de filmes de terror e literaturas do gênero. — Comentou Johnny.

— Sem falar que ele, coincidentemente, abordou fanfics como assunto da aula antes das férias. Um mês para planejar tudo. — Tory concordou com o gótico, num aceno de cabeça.

— Não são teorias tão fundamentadas, pessoal. — Vincent resolveu expor sua opinião. — Muitos de nós também gostamos de escrita, filmes de terror, literaturas desse gênero... Ou seja, é comum entre todos.

— Se bem que faz parte da cultura pop atual. — O comentário de Peter saiu baixo.

— Eu chamo de modinha. — Vince pigarreou.

— Mais um motivo para desconfiarmos de qualquerr um. — Jac cruzou os braços. — Voltamos à estaca zerro.

O estúdio ficou em um tremendo silêncio. Até o gêmeo quebrá-lo:

— Claro que não, porque eu também tenho novidades. Descobri que Tommy Warland tinha um filho, e a julgar por datas, eu diria que o professor tem idade suficiente para ser o tal filho.

Os demais lhe olharam confusos. Vince coçou a barba.

— Isso sim faz sentido. — Respondeu. — O sistema da prisão foi invadido e ele foi liberado. Vai ver ele é hacker e queria libertar o pai para que ajudasse no massacre.

— E então, o pai morreu, o que o fez ficar ainda mais furioso e impiedoso. — Johnny murmurou.

— Achamos nosso Reaperface, só precisamos de um plano para confirmar isso. — Vince disparou. — Não vamos conseguir colocá-lo atrás das grades apenas com suspeitas ou rumores.

— Quem melhor que a Tory pra servir de isca? — Tory olhou incrédula para Peter, fazendo uma careta e mostrando o dedo do meio.

Vince ergueu-se da cadeira giratória.

— Ué, ele tem toda razão. Tory, você vai atraí-lo para a armadilha. Vamos arrancar o máximo de informações possíveis sobre seu envolvimento com os crimes.

***

A casa de Tory estava mergulhada em um completo e profundo silêncio. Ela estava sentada na poltrona, de pernas cruzadas e de frente para outra poltrona. Nela, Leon encarava-a de maneira confusa, sem saber o que estava acontecendo. E o que estava prestes a acontecer. Do lado de fora da casa, olhando pela janela dos fundos, estavam Peter, Johnny e Brenda. Vincent estava atrasado, Jacqueline não estava ali por motivos de compromissos, muito menos Phillip.

Peter não queria olhar na cara do irmão, pela vontade aguda de socá-lo no meio do nariz. Seu sangue fervia só de tocar no nome do outro gêmeo, sentia como se ele tivesse arrancado sua confiança brutalmente.

— Vamos fazer silêncio e ver no que dá. — Johnny cochichou.

— Será mesmo que ele vai assumir os crimes? Não estamos sendo otários em armar isso? — A voz de Brenda também saiu em um sussurro.

Johnny apenas deu de ombros.

Peter sentiu o celular tocar em seu bolso e ergueu-se rapidamente, desligando-o. Brenda fuzilou-lhe com o olhar e Johnny fez uma cara feia.

— Você não desligou essa porcaria? — A garota indagou.

Peter mostrou o dedo do meio e saiu dali, olhando no visor.

“Uma chamada perdida de Blaire”. Ele suspirou e guardou-o o aparelho. Voltou para onde estavam os demais. Ele sabia que tinha marcado um encontro com Blaire naquela noite, e após a reunião do Esquadrão Suicida não conseguiu desmarcar em cima da hora. Depois ele tentaria resolver a situação, porém, primeiroeles tinham um assassino para desmascarar.

Dentro da casa, Tory confrontava Leon:

— Você nunca me falou dos seus pais, Leon... Eles são moradores daqui?

O homem apenas encarou-a e sorriu de lado, buscando entender a pretensão da garota.

— Não, eles eram de Los Angeles, mas infelizmente faleceram... — Ele baixou o olhar, enquanto Tory cruzava os braços, descrente.

A garota riu freneticamente. O professor de literatura ainda não entendia a situação e Tory preferiu ir direto ao ponto.

— Ah, qual é, Leon? Nós dois sabemos que seus pais moravam aqui.

— Do que está falando?

— Para de se fazer de sonso! Sabemos que seu pai, Tommy Warland, era um assassino e não morava em Los Angeles, morava aqui! Eu vi a foto dele, vi o arsenal de armas brancas que você tem no quarto, eu fotografei tudo se quer saber. Vou até a polícia, vou denunciá-lo e colocá-lo atrás das grades, seu desgraçado!

— Tory, pare com isso! — Ele dizia, enquanto recebia investidas da líder de torcida.

Victorya o empurrava e esbofeteava seus braços, Leon se defendia tentando segurá-la. Tory estava descontrolada.

— Você matou minha amiga, e mesmo que eu saiba que não foi grande perda pro mundo, você matou vários adolescentes! — Ela deferiu um arranhão contra o rosto de Leon.

O professor não resistiu e a raiva foi maior do que ele. Segurou os punhos de Tory e empurrou-a para trás. As costas da garota bateram contra uma estante e ela caiu. Neste momento, Peter entrou pela porta, deferindo um soco certeiro no maxilar de Leon, que caiu.

Lucky andava pela calçada, quando avistou o rebuliço e a correria na casa de Tory. Johnny corria para dentro, enquanto Brenda tentava entrar pela janela. Lá dentro, ele avistou Peter socando o rosto do professor. Rapidamente correu até lá.

Desde que Tory chegara em casa, Hannah permanecia escondida embaixo da cama. Ao ouvir o barulho no andar de baixo, a loira guardou rapidamente a pulseira de brilhantes que segurava e saiu do quarto às pressas. Havia pegado-a das coisas de Tory, quando a dona da casa chegou.

Ela chegou ao último degrau da escada com as pernas bambas e viu a seguinte cena: Lucky entrando pela porta esbaforido e recebendo um soco acidental. Peter investiu do homem novamente e tentou lhe socar mais uma vez, mas Leon desviou e o chutou.

A loira tentou passar despercebida pela sala, mas Brenda interceptou-a no meio do caminho, segurando forte seu pulso.

— O que está fazendo aqui? — Perguntou.

— Me solta, bruxa de Salém! — Reclamou.

— Primeiro me diga o que diabos faz aqui?

Antes que pudesse responder, Hannah viu Peter vindo na direção das duas. Os três foram ao chão, quando Leon o chutou pela segunda vez. Johnny tentou segurar o professor e Lucky aproveitou para dar dois socos em seu rosto. Leon deferiu uma cotovelada contra o gótico que recuou. O professor cambaleou e apoiou-se numa mesinha. Lucky viu Peter erguer-se e partir para cima do homem novamente.

— Acabou Leon Moreira!

O jogador também percebeu que o homem retirava um objeto pontudo do bolso e gritou para Peter. O gêmeo olhou para ele de relance e distraiu-se. Leon ergueu o canivete e avançou.

Caiu no segundo seguinte, num baque surdo. Seu corpo tombou com um enorme buraco na cabeça. Tory estava parada atrás dele, segurando uma estatueta de bronze. O sangue começou a espalhar-se pela tapeçaria. Ele ainda mexia-se, quando Peter tomou a estatueta das mãos de Tory e afundou duas vezes o crânio de Leon, que não mais agonizou. Seus olhos abertos encaravam o grupo do outro lado da sala, sem vida.

Hannah via a cena com horror, Brenda e Johnny tinham pesar no olhar. Lucky, que estava próximo, arregalou os olhos e limpou o sangue que respingara em seu rosto com a manga da jaqueta do time de Lacrosse.

— Esse corpo não pode ficar aqui. — Peter murmurou.

— Para onde vamos levá-lo? — Victorya perguntou ao grupo.

Após um silêncio retumbante, Johnny respondeu:

— Para o bosque.

— Será que é uma boa ideia? — Brenda comentou. — Pegamos mesmo o Reaperface?

— Espero que sim.

Johnny encarou-a. Os dois deram as mãos por brevessegundos.

— Não, não, não! — O grito de Hannah atraiu a atenção do grupo. — Não quero e não vou participar disso!

Lucky olhou-a por um mísero segundo, o bastante para dar passos largos até lá segurá-la pelos braços, prensando-a na parede. Sussurrou:

— Você também é parte disso agora... E vai com a gente até o final! Está me ouvindo?

A loira comprimiu um dos olhos e desviou o rosto do encontro de Lucky. Acenou levemente com a cabeça, assentindo. O jogador soltou-a e caminhou de volta ao grupo.

— Vamos Lucky, me ajude com o corpo, precisamos tirá-lo daqui. — Disse Peter suando.

— É melhore enrolá-lo ele no tapete. — Brenda sugeriu.

Peter olhou para o casal de góticos parados. Disparou:

— E então, vão ficar aí parados feitos duas gárgulas? Vem até aqui e nos ajudem!

A gótica suspirou e andou até lá. Johnny interceptou-a.

— Não precisa fazer isso se não quiser.

— Eu quero. — Ela disse, por fim.

Ambos ajudaram Peter, Lucky e Tory a enrolarem o corpo do professor no tapete e carregá-lo até o carro do Van Der Hills. Hannah vinha atrás, seguindo-os.

Na mesma rua, em um carro parado de faróis apagados, Vince assistia tudo.

OPENING THEME

SLASHER STORY

1x10: Coração de Cicatriz

A música alta dentro da loja fazia Hannah requebrar os quadris e dançar pelo estabelecimento inteiro. O espaço era amplo e ali estavam colocados vários estofados de cor rosa, paredes adesivadas de estamparia animal, cabides coletivos, manequins elegantes nas vitrines, roupas expostas nas laterais, empilhadas em caixas decoradas etc.

Barely moved, we've arrived

Lookin' sexy, lookin' fly

Baddest chick, chick inside

Enquanto Bootylicious das Destiny’s Child tocava, a loira jogava os cabelos para o lado e outro, jogando os quadris e movendo os braços de forma sensual. Em seu pescoço, uma echarpe de plumas vermelhas e um chapéu de penas de cisne na cabeça. Wendel ria da amiga, enquanto arrumava a roupa de um dos manequins espalhados pela loja.

There you are, come on baby

Don't you wanna, dance with me

Can you handle, handle me?

Seus pais haviam saído para receber encomendas vindas diretamente da Europa. O rapaz usava um colete preto sobre uma blusa branca de gola larga, a estampa gritante das cinco membros do grupo Fifth Harmony.

— Sabia que está parecendo uma galinha desse jeito? Falta só por o ovo. — O comentário infeliz de Wendel arrancou uma careta de Hannah.

— Por falar em ovo, sei que não vê um há muito tempo... Então seria um favor que eu faria a você. — Ela continuava rebolando.

— Está me chamando de sexualmente inativo?

— Talvez. — Soltou um beijo no ar.

O rapaz viu Hannah jogar-se no sofá e balançar as pernas no ar.

— Você deveria me ajudar a colocar essas caixas cheias de casacos de pele nos fundos da loja e trazer as calças jeans novas que chegaram essa semana da Romênia. — Ele caminhou até o balcão e visualizou as caixas empilhadas logo atrás.

— Calças contrabandeadas da Transilvânia não são as minhas preferidas, desta vez eu passo. — A loira começou a enrolar os cabelos longos e brilhantes. — Prefiro continuar aqui, balançando no meu lustre.

— O que veio fazer aqui, então? Hoje não é uma boa noite pra mim. Meus pais continuam me tratando como a mucama branca deles...

— Falando desse jeito, não vai conseguir me expulsar. — Hannah jogou o cabelo. — Esqueceu que é meu sidekick? Se eu quiser ser uma Final Girl bem sucedida, preciso ter um até o último ato.

— Desculpa por estar sendo tão grosso, esqueci que é cliente assídua da loja.

A loira encarou o jovem no fundo dos olhos e sorriu de lado.

— Já falei pra você sentar e conversar com eles, não é mandando seus pais irem se foder que vai conseguir fazer as pazes. Precisa saber primeiro por que te tratam assim, e só então, ver o que pode fazer pra reverter isso. — Hannah cruzou as pernas assim que a música acabou.

— Parece até que sou o culpado deles me tratarem assim. — Wendel recuou. — O que quer que eu faça? Seja o garotinho hétero que o papai sempre quis ou a criança com habilidades para a música, como piano, saxofone e todas aquelas coisas toscas e clássicas que minha mãe adora se gabar que toda sua família tem? — Wendel soltou ar pesado.

— Não foi isso que eu disse, Wendy...

— Mas foi isso que quis dizer! Não aguento mais fingir que sou outra pessoa, parece que estou vivendo a vida deles e não a minha!

A loira comoveu e caminhou até o melhor amigo sem pestanejar. Abraçou-o com ternura e ele não resistiu ao gesto. Hannah deu um breve selinho de amiga.

— Primeiro passo é conhecê-los bem, segundo é fazê-los gostar de você do jeito que você é, sem precisar mudar nada. Assim como gosto de ti, assim como gosto de te ver. — Ela abriu um sorriso largo. — Sendo você mesmo, Wendy.

— Não está falando assim só pra ganhar desconto, né? — O rapaz virou-se na direção das caixas.

— Claro que não, seu ridículo. — Ela riu. — Até porque, tenho outros arsenais pra conseguir um Vale Compras Golden aqui.

Wendel pegou uma caixa. Hannah ajudou-o com a outra, pondo-a em cima da primeira.

— Bom, se quiser ouvir mais música, basta escolher na playlist. Vou arrumar as coisas no fundo da loja. Daqui à pouco irei fechar.

A loira assentiu e mudou a música. Desta vez, Blank Space da Taylor Swift, começou a tocar.

Uma batida na porta de vidro assustou a garota, que deu um gritinho e um pequeno pulo. Olhou para lá e a presença lhe intrigou. Lucky estava parado diante da vidraça, esperando Hannah abrir. Do lado de fora dava pra ver que estava tudo parcialmente escuro e as outras lojas já haviam encerrado seu expediente no Outlet.

Hannah não queria abrir, estava evidentemente com medo do que ele pudesse fazer, ele já agira com violência uma vez. Ela não acreditava na feição amigável que ele carregava naquele momento.

Resolveu perguntar:

— O que quer aqui uma hora dessas?

— Conversar.

— Como sabia que eu estava aqui? — Ela cruzou os braços.

— Tory me contou. — Lucky viu a garota se aproximar.

Hannah girou a chave na tranca da porta e abriu-a. O rapaz entrou e passou a fitá-la. Parada e de frente pra ele, Hannah disparou:

— Se veio até aqui pra falar sobre aquela foto, eu juro que não vazei nada. Não sei como a porra do assassino foi achá-la. — A cada olhar do jogador de lacrosse, Hannah sentia-se paralisada. Ela estava sim, com muito medo.

— Olha, quero ser bem direto, Hannah... — Lucas foi aproximando-se aos poucos, passos curtos e metódicos, a raiva fervilhando o sangue sob a pele. — Até hoje tento entender o que aconteceu naquela noite, ainda não digeri tudo, acredita? Foi demais pra mim.

Hannah recuou um, dois, três passos. Lucky estava cada vez mais próximo. Quando de repente ele agarrou-a pelo pescoço e empurrou-a contra a parede. A loira bateu as costas, soltando um gemido abafado pelo baque e encarou os olhos enfurecidos de Lucky. Queimavam como brasa. Ardiam em chamas.

— Esperei todo este tempo só pra te dizer o que direi agora. — Deu para ver as veias saltarem em suas têmporas. — Você foi a maior vadia de todas com quem um dia disse ser sua melhor amiga... Você me tirou a pessoa que eu mais amava nesse mundo! Ela era jovem, carinhosa, éramos feliz, MILES ERA TUDO PRA MIM! E VOCÊ ACABOU COM TUDO!

A expressão de pavor estampada no rosto de Hannah, agora fazia parte de um riso nervoso e debochado. Mesmo que a mão de Lucky estivesse comprimindo sua garganta, ela conseguia rir do que ele disse.

— Do que está rindo, vadia?

— Acha mesmo que eu sou a culpada de tudo? Sério? — Ela olhava no fundo de seus olhos, conseguia enxergar o fogo queimá-lo. — Foi você quem matou a Melissa, você era o namorado dela! Foi quem traiu a confiança e o amor que ela te deu, e fez sua escolha. Teve sua chance e acabou me escolhendo para viver, Lucky! Um de nós três perderia o jogo e sabíamos dos riscos!

— Você foi uma puta egoísta! Não pensou em ninguém, só em si mesma...

— O que queria que eu fizesse? Nós três morreríamos se algo não fosse feito. — Hannah sentia o ar diminuindo.

— Eu não queria que ninguém morresse, PORRA! Ninguém merecia... Nem mesmo você! — Ele gritou, os olhos já estavam marejados. — Mas posso reverter a situação. Não é algo de que eu vá me arrepender no futuro.

— É melhor soltar meu pescoço, senão eu gritarei tão alto que seus tímpanos estourarão que nem bombinhas... Além disso, basta apenas um movimento pra você perder o que chama de bolas, seu otário! — Hannah cuspiu.

Lucky bufou, estava prestes a cometer uma besteira, mas largou a garota, que respirou aliviada pelo oxigênio ter voltado normalmente.

— Isso não vai ficar assim, Hannah, você vai pagar pela morte da Miles, tame ouvindo? Vai pagar na mesma moeda! Vou tirar tudo que tem!

— Boa sorte, perdedor!

Viu o rapaz sair pela porta e encará-la dez vezes mais furioso do que quando entrou. Ela apenas mostrou o dedo do meio e virou o rosto com desdém. Blank Space já estava no fim, quando começou Because of You, Kelly Clarkson. Hannah passeou pela loja e entrou em uma das cabines de provadores.

I will not make

The same mistakes that you did

I will not let myself

'Cause my heart so much misery

De frente para o grande espelho, ela encarou-se. As palavras de Lucas ecoavam em sua mente:

“Você foi uma puta egoísta! Não pensou em ninguém, só em si mesma...”

— Sua puta egoísta, só pensa em si mesma! — Disse ela para seu reflexo. Socou o espelho.

I will not break

The way you did, you fell so hard

I've learned the hard way

To never let it get that far

Hannah sentou no chão da cabine do provador.

Não queria ser essa vadia egoísta, não queria se sentir a pior pessoa do mundo por ser uma das responsáveis pela morte da ex-melhor amiga. Ela sabia que o que fizera causou um impacto gigantesco na vida de Lucas, mas reconhecia que os dois erraram mutuamente, e não havia como reparar. Miles estava morta, Reaperface conseguiu o que queria. Separar o trio de uma vez por todas.

Because of you

I never stray too far from the sidewalk

Because of you

I learned to play on the safe side

So I don't get hurt

— HANNAH, SOCORRO! — O grito de Wendel eclodiu pela loja e a loira saiu do provador às pressas. — HANNAH!

Chegou aos fundos da loja com a garganta seca e os lábios ressecados. Viu Wendel pálido, duas caixas caídas e objetos espalhados. O amigo abraçou-a ligeiramente.

— O que aconteceu? — Ela perguntou respirando fundo.

Só então notou que o braço do amigo tinha um corte espesso, de onde escorria muito sangue. Entre um choro baixo, Wendel respondeu:

— Ele estava aqui! Reaperface me atacou!

Because of you

I find it hard to trust

Not only me, but everyone around me

Because of you

I am afraid

— Vamos estancar esse sangue, vou te levar pro pronto-socorro. — Ela disse, abraçando o rapaz franzino novamente. — Vai ficar tudo bem, já estou aqui, darling.

O rapaz soluçava de tanto chorar.

— Ei, shiu, estou aqui, vou te proteger. Vai ficar tudo bem, Wendy...

Naquele instante, Hannah só conseguiu pensar em uma pessoa por trás do assassino: Lucas.

***

Na manhã do dia seguinte, Lucky mantinha seu olhar um tanto quanto dissimulado sobre a foto que enfeitava o porta-retrato, em cima de uma escrivaninha perto de sua cama. Na fotografia, Miles mostrava estar totalmente feliz, ao lado do rapaz. A moça parecia uma estrela cadente, radiante e alegre, e recebia a ajuda de um belo pôr-do-sol no fundo da imagem, tornando a visão ainda mais bela do que naturalmente.

Agora, aquele sorriso e alegria só existiriam em fotografias e memórias, pois Miles se fora para sempre.

Algumas gotas de um choro desolado escorreram pela face maliciosa do atleta, que deitou-se, fitando o teto. Uma luz fraca e tímida do sol invadia o quarto por uma fresta da cortina semi aberta, iluminando apenas um ponto do quarto escuro e bagunçado, em pleno fim-de-semana. Ele ainda não acreditava que havia perdido aquela garota. A sua garota.

Em seu coração, cresciam-se sentimentos misturados e negativos. Culpa, arrependimento, dor, sofrimento e lamentações se entrelaçavam formando uma teia cicatrizada em seu peito, que o lembraria até o dia de sua morte das escolhas que havia feito.

Sua mente acelerava como um feixe de um relâmpago. Uma parte rebobinava todas as cenas de duas noites atrás, mostrava a ele a imagem que o assassino utilizou para colocá-lo em um beco sem saída.

“Se mostrar esta imagem, Hannah morre.”

Lucky não queria que ninguém morresse. Nem Hannah, nem Miles. Em um raciocínio óbvio, o atleta ainda pensava na imagem que estaria com a falecida. “Se mostrar esta imagem, Lucky morre.”

Até o último suspiro de sua vida, Miles protegeu o garoto, mesmo sentindo nojo e repulsa pela traição dele. A morena não merecia ter passado por aquilo. Talvez se não tivesse envolvimento com Lucky, poderia estar feliz. Talvez com outro alguém, talvez livre. Porém, viva.

Respirou fundo, sentindo o ar adentrar em seus pulmões e logo em seguida, deixá-los tão rapidamente como veio. Não tinha mais nada para fazer, além de se acostumar com a dor da saudade, e teria que sobreviver com as consequências de suas escolhas – ou a falta delas.

***

Letrisha olhava fixadamente para sua imagem, refletida no espelho recém-limpo. O vestido cor de abóbora era leve e com tecido fino, deixando seu corpo livre e confortável. Em sua cabeça, uma coroa brilhante de Miss enfeitava seus cabelos escuros e ondulados.

Ela analisa si mesma. Seu rosto. Seu corpo. Seus cabelos. A coroa. Sua coroa.

– Não achei que você estaria tão vulnerável naquela casa. – a garota falou com a coroa, enquanto ajeitava o objeto, que não respondeu.

Terminou de passar um brilho labial cor-de-rosa em sua boca e retocou alguns pontos do rosto. Sua mãe sempre lhe disse que ela não precisava de rímel, já que seus cílios já eram grandes naturalmente. As espinhas, que na atual fase de adolescência pareciam explodir pela sua face, estavam escondidas atrás de blush e outros truques femininos. Pela primeira vez em muitos anos, Letrisha se sentia um pouco bonita. Não se comparava com as outras garotas, mas aquela coroa erguia sua auto estima. O objeto deveria pertencer a ela desde o começo, pensava consigo mesma.

Ao seu redor, o ambiente de seu quarto combinava com a garota. As paredes de cor lilás se juntavam, na visão, com o lençol rosa da cama branca. Troféus concebidos nas vitórias de dança e shows de talentos de alguns anos atrás dividiam espaço com diversos livros nas prateleiras. Entre um e outro, sobrava espaço, onde deveria estar um livro da série Maze Runner, mas que fora queimado por ela após o rompimento com Mark – era o livro favorito dele.

Enquanto analisava sua própria imagem, com um olhar oblíquo, Letrisha lembrava-se de todos seus ferimentos.

***

Mama said, "You're a pretty girl"

What's in your head, it doesn't matter

Brush your hair, fix your teeth

What you wear is all that matters

Letrisha estava no camarim, junto com diversas outras garotas que concorriam na competição. O espelho, rodeadopor lâmpadas na borda, era muitas vezes motivo de conflitos entre duas ou três competidoras que queriam terminar de retocar a maquiagem pela milésima vez ou ajeitar um fio de cabelo desalinhado dos demais. Não havia espelho suficiente para todas. Muito menos chance ou pódio.

Era a primeira vez que Let arriscava. Já havia desbancado algumas dúzias de garotas nos processos seletivos anteriores. Sentia-se confiante. Até chegar na prova do traje de banho.

Muitas garotas corriam para lá e para cá, com bíquinis e maiôs em mãos. Todas com corpos magros e cheio de curvas. Algumas beiravam até a anorexia.

– Esse maiô é meu, Vanda! – uma loira alta gritou, enquanto puxava a roupa de banho de outra garota.

– Sai fora, vagabunda! – a outra, uma ruiva peituda, respondeu – Se veste com saco de pão, Lina!

Letrisha permanecia com o seu em mãos. Ainda não havia se vestido. Não tinha coragem. Todos os maiôs eram feitos sob medida para cada participante. As medidas eram extraídas há algumas semanas e ninguém podia ganhar uma grama e aumentar um centímetro desde então. A roupa de banho era branca como neve, o que denunciaria qualquer forma a mais ou defeito que não deveria estar ali.

Ela tinha medo. Nas últimas semanas havia exagerado. Saía com suas duas amigas em fast food, comia pizza e de vez em quando beliscava alguns doces. Temia estar fora da competição por causa do seu peso. Sentia que começava a engordar. Seu corpo já não era mais tão atlético e durinho.

Se encaminhou para uma das cabines para trocar de roupa. Pendurou o maiô branco na portinhola um pouco velha e se despiu. Paralelo a ela, um espelho servia como companhia para Letrisha.

Vestiu a roupa de banho e alisou o corpo. Fingiu-se de cega quando avistou algumas dobrinhas de gordura em sua cintura. Olhou para sua imagem no espelho. Realmente, as gordurinhas eram facilmente identificáveis. Estava tudo acabado para Letrisha.

Encostou-se na parede, com os olhos marejados. As paredes beges ficavam borradas em sua visão, devido as lágrimas que começavam a escorrer pelas suas bochechas. Foi deslizando pela parede, até se encontrar sentada no chão, com seu choro molhando suas pernas.

Maquiagem borrada se desmanchava pela sua face, enquanto ela olhava fixamente para a lâmpada da pequena cabine. Do lado de fora, um dos organizadores bateu freneticamente na porta e gritou com uma voz afeminada:

– Queridinha, o espetáculo começa daqui dez minutos, esteja pronta!

Letrisha ouviu os passos apressados dele indo embora. Levantou, apoiando na parede, meio desnorteada devido a cegueira momentânea por ficar olhando a luz da lâmpada. Se encarou novamente no espelho. Passou o dedo embaixo dos olhos, retirando o rímel borrado. Ganhar o concurso de Miss era seu grande sonho desde os quatro anos. Ela não desistiria tão fácil.

Just another stage

Pageant the pain away

This time, I'm gonna take the crown

Without falling down, down,down

Terminou de retirar a maquiagem borrada com os dedos e saiu da pequena cabine. No camarim, as últimas canditadas saíam tão apressadas que não notaram Letrisha, muito menos o jeito que estava. Roupas estavam espalhadas por todo o lado, penduradas em cadeiras, jogadas no chão. O ar cheirava a laquê e um dos espelhos estava borrado com batom.

Letrisha usou um banquinho para retirar uma maleta de primeiros socorros de cima de um grande armário. Sentou-se em uma poltrona, colocando o material em seu colo. Abriu-a e começou a mexer, jogando seringas e remédios para fora.

Achou o que procurava, então deixou a maleta no chão. Com alguns rolos de gaze em uma mão, despiu o maiô até a altura das costelas. Pegou o material de algodão e começou a enrolar em volta de sua cintura, escondendo suas “imperfeições” e criando uma falsa cinturinha lisa.

Depois de sentir que estava tudo certo, começou a recolocar a peça de banho. Neste momento, Leda entrou, com uma caixa de sapatos em mãos.

– Garota, você está louca! – Leda deu um gritinho – Vai começar em cinco minutos!

– Eu sei, acabei me atrasando. – Letrisha mentiu – Me ajuda aqui, por favor.

Leda acatou o pedido da amiga e ajudou, puxando o botão no topo das costas do maiô e fechando-o. Por sorte, não reparou nas faixas de gaze na cintura.

– Obrigada. – Letrisha agradeceu, correndo para frente de um espelho e retocando seu rímel – Viu meus saltos por aí?

– Eu os trouxe. – Leda respondeu, entregando a caixa que trouxera.

– Nossa, Leda! Muito, muito obrigada! – a candidata agradeceu – Não sei o que seria sem você!

Leda riu em resposta e observou a outra correndo enquanto colocava os saltos. Em trinta segundos, começariam a ser chamadas no palco. Mesmo se apressando, Letrisha chegou ao local quando estavam chamando Kamilla, a garota antes dela.

– Finalmente, queridinha! – o organizador comemorou – Achei que tivesse desistido!

– Jamais. – Letrisha respondeu seca, arrumando uma mecha de seu cabelo.

Ao ter seu nome chamado, Letrisha foi palco adentro. O som de seus passos com salto alto era abafado pelo som da música.

Ain't got no doctor or pill that can take the pain away

The pain's inside

And nobody frees you from your body

It's the soul, it's the soul that needs surgery

Todos os holofotes mantinham-se Letrisha como sempre. Ela desfilava com as mãos na cintura, cruzando as pernas em passos lentos. Para a garota, o mundo estava em câmera lenta. Aquele momento era único. Mantinha um sorriso em seu rosto, embora fosse um pouco forçado.

As faixas de gazes em sua cintura ameaçavam se soltar, mas Letrisha tentava manter tudo sobre controle. Passou pelo meio da passarela. Ao lado, em uma mesa, a bancada de sete jurados analisava a moça que desfilava em passos delicados e graciosos.

Chegando ao final da passarela, Letrisha parou em uma pose clássica. Fotógrafos de jornais registravam o momento da garota. Ela se sentia poderosa.

Sorriu.

Plastic smiles and denial can only take you so far

And you break when the paper signs leaves you in the dark

You left a shattered mirror

And the shards of a beautiful girl

Deu meia volta e começou a se encaminhar para fora da passarela. Olhares curiosos ainda observam-na. Alguns jurados escreviam algumas observações em suas folhas. Passou do meio da passarela e sentia satisfação em seu peito. Tudo deu certo.

Até ouvir o estalo de baixo de seus pés.

O desequilíbrio veio tão rápido quanto o flash de uma máquina fotográfica. Letrisha torceu um pé e olhou para baixo. Seu salto havia quebrado. Tentou reverter a situação mas apenas piorou. O outro salto imitou o seu par e quebrou-se também.

Letrisha rodou os braços em tentativa de se equilibrar, mas foi ao chão. Um terceiro estalo explodiu de suas costas e ela olhou incrédula. O botão havia voado como um tiro e toda a parte traseira do maiô se abriu como um leque.

– O que é aquilo na cintura dela? – um dos jurados gritou, apertando os olhos para focar melhor a visão.

Ainda caída no chão, Letrisha olhou ao redor. Seus olhos começavam a marejar novamente e seus cabelos estavam totalmente despenteados. Uma coordenadora ranzinza se aproximou e começou a puxar um pedaço da faixa de gaze.

– Não me toca! – a garota gritou.

Levantou-se, mesmo com dificuldade. Olhou ao redor novamente e lágrimas escorreram pelo seu rosto. Saiu correndo da passarela, com uma semblante de dor e sofrimento.

Pretty hurts

Shine the light on whatever's worse

Perfection is a disease of a nation

Correndo sem rumo certo, Letrisha lembrava-se de tudo. Todos os meses de treinamento para se comportar da maneira certa. Todas as regras de etiqueta e dieta. Tudo havia sido por água abaixo. Enquanto corria, passou por Leda. Mesmo sem ter certeza, pensou ter visto ela sorrindo, satisfeita.

Saiu do prédio onde o concurso estava sendo realizado e andou pelas ruas, desolada e sem rumo. Em um beco sem saída, sentou no chão e encostou na parede. Dezenas de lágrimas escorriam pela sua face. Olhou para o céu, mas tudo estava escuro. Nem a lua estava ali para lhe fazer companhia.

Mais lágrimas desceram como chuva.

Pretty hurts

Shine the light on whatever’s worse

Tryna fix something

But you can’t fix what you can’t see

It’s the soul that needs a surgery

***

Sentada em sua cama, Letrisha analisava um álbum de fotos que trazia todas essas recordações. Virando diversas páginas, via seu rosto, mais magro e encaixado nos padrões de beleza. Como o tempo havia passado tão rápido e passado uma rasteira na garota?

Na última página, uma notícia de jornal estampava a primeira página. Era o resultado do concurso de Miss naquele ano em que Letrisha concorreu. A foto era o pódio com as três garotas vencedoras.

No número um, o mais alto, estava Leda. Vestida em um maiô branco que combinava com o sorriso estampado em sua cara, segurava um buquê de rosas vermelhas. Uma coroa brilhante em sua cabeça fazia par com a faixa de vencedora em seu corpo.

Letrisha demorou algum tempo até se recuperar do trauma sofrido naquela noite. Depois de alguns dias, sem querer pensar no concurso, resolveu ver os resultados. Na época, sentiu-se chocada com a postura de Leda. Como a garota que dizia ser sua amiga havia ganhado o concurso?

Investigando mais ao fundo, Letrisha descobriu tudo. Leda havia sabotado Let em tudo que fosse possível. Desde o salto quebrado até o botão do maiô. Naquela noite, com uma competidora a menos, os organizadores do evento correram a procura de uma nova garota para substituir Letrisha. Por coincidência, uma bela garota estava nos bastidores do desfile.

Letrisha soube, através de informantes, que ganharia o concurso. A coroa seria sua, junto com a vitória. Mas Leda roubou tudo isso para ela. Depois de vencer o concurso, sumiu da cidade e Let nunca mais a viu.

Até os dias de hoje.

***

– Vocês não têm um quarto de hóspede por aqui, não? – Peter perguntou, sentando na cadeira da sala de interrogatório – Estão me chamando praticamente todo dia.

O Xerife Browning soltou um riso falso e sínico.

– Vamos direto ao ponto, garoto. – ele disse, jogando uma pasta na mesa e mostrando diversas fotos dentro dela – Nós achamos essas imagens de câmeras de seguranças. Isso é perto da casa da Gabriella King, na noite em que ela foi assassinada. O horário também coincide. Este carro é seu, não é?

– Sim.

– Pode me dizer o que você estava fazendo lá?

– Bom… Eu ia visitá-la. – Peter disse – A gente estava em um período difícil do relacionamento. Eu estava com saudades, queria vê-la. Mas desisti.

– Por quê desistiu? – o xerife perguntou, olhando Peter em seus olhos.

– As luzes da casa dela estavam apagadas. Ela não atendia o telefone, sempre dava errado. Ou ela não estava em casa, ou estava ocupada. – Peter respondeu – Então, resolvi não insistir. Fui embora.

O xerife analisou Peter por alguns segundos, com uma expressão desconfiada. Disse para o garoto ficar ali, que logo voltaria. Assim, deixou o gêmeo mais velho solitário na sala de interrogação. O estranho clima de silêncio tomou conta do espaço.

Peter começou a dar leves batucadas nas coxas, tentando aliviar a tensão. Olhava ao redor. As paredes pintadas com tinturas bordôs já começavam a desbotar. Na parede perpendicular a ele, um vidro escuro sobrecarregava o clima estranho da sala. O jovem sentia que estava sendo observado.

A certeza veio logo depois, quando uma parte do vidro foi iluminada e um rosto cadavérico apareceu perto da superfície. Mesmo sem expressão, parecia sorrir satisfeito com a posição em que Peter se encontrava. O gêmeo se pôs logo de pé e encostou na parede em suas costas, assustado.

O assassino estava ali, em sua frente, separado apenas por um vidro. Peter saiu correndo da sala de interrogatório e correu por entre os corredores, tentando achar o caminho certo. Após várias tentativas, conseguiu achar o que queria.

Adentrou no espaço separado da sala de interrogatório em que estava. O maníaco não estava mais lá. Apenas uma fraca lâmpada iluminava o canto do recinto. De baixo da luz, uma folha de papel um pouco desgastada pedia por atenção. Peter se aproximou e segurou o pedaço de papel. Encarou a mensagem, escrita com letras recortadas de revistas e jornais:

“Gostei do seu testemunho. É uma pena que você não sabe mentir, embora a mentira esteja no seu sangue.”

***

Phillip estava sentado na cama do hotel, com as costas apoiadas em um travesseiro, contra a parede. Com o controle da televisão em mãos, passeava por entre os canais, procurando algo para se distrair. Seu irmão foi “convidado” novamente pelo Xerife Browning para dar um depoimento sobre algo. O gêmeo mais novo esperava que Peter não estivesse em encrencas.

Sia fazia uma performance em um programa, enquanto em outro canal era exibida a entrevista com um ex-participante de realitty showque tinha uma cara de esquilo. No canal de notícias, uma ex-modelo havia se jogado do segundo andar de um prédio, mas o único dano grave foi seu silicone estourando de seus peitos.

Em uma sincronia, Phillip decidiu desligar a televisão no momento em que seu celular começou a tocar. Era um número desconhecido. Resolveu atender, mesmo temendo ser o assassino.

– Alô? – atendeu, com a voz firme.

– Oi, Phillip. – Jacqueline disse do outro lado da linha – Acabei de comprar esse telefone descartável.

– Céus… - Phillip respirou aliviado – O que você quer?

– Eu estou criando algumas suspeitas em cima daquela menina, a ex namorada do Mark. – a garota respondeu.

– Letrisha?

– Isso! – confirmou - Estou observando-a há algum tempo, e sei lá, o comportamento dela me levanta dúvidas.

– O que você está sugerindo? – Phillip perguntou confuso. Onde ela queria chegar com isso?

– Uns dois dias atrás, eu estava fazendo uma ronda perto da casa de Vince. – Jac contou – E adivinha quem eu vi parada lá na frente? Isso mesmo, essa tal de Letrisha.

– Hum… - Phillip respondeu – Bom, sendo ex-namorada do Mark, já é estranha o suficiente. Mas o que você pensa em fazer, invadir a casa dela e vasculhar as coisas por uma simples impressão sua?

– Sendo sincera, sim. – Jac confirmou – Você poderia me levar até lá?

– Não tenho nada melhor para fazer. Te ligo depois, no número verdadeiro.

Com a ligação encerrada, Phillip jogou seu celular em sua cama e botou a mão no queixo bem desenhado, com alta expressão de desconfiança. Esta história da Jac estava muito suspeita, então ele pagaria para ver.

Ouviu três rápidas batidas na porta. Em passos rápidos, chegou perto e aproximou seu rosto, alinhando sua visão no olho mágico. Obteve uma ampla visão do corredor do hotel, mas não viu ninguém. Resolveu abrir a porta.

Inclinou seu corpo, apoiando-se na porta. Olhou para ambos os lados e não viu nem um simples vulto. Perto de seus pés estava uma caixa grande feita de papelão e fechada com várias voltas de durex.

Com relutância, segurou a caixa, entrou para o quarto e fechou a porta. Depositou a encomenda em cima de uma mesa e saiu a procura de um estilete. Após achar o objeto, cortou as faixas de durex e segurou firme nas bordas da tampa.

Respirou, e em um movimento rápido, abriu a caixa.

***

Enquanto dirigia de volta ao hotel, Peter pensava no irmão. Havia sido duplamente traído, quando seu irmão transou com Tory. Quando foram dormir, não olharam na cara um do outro. Phillip tentou aproximação, mas recebia uma cara fechada, olhar sólido ou resposta grossa do outro.

Quando acordaram, já conseguiram trocar algumas palavras. Peter ainda sentia um nó em seu coração, mas sabia que não poderia perder tempo com coisas desse tipo. Esse era o objetivo do assassino: manipular os sentimentos negativos dele.

Mesmo que esses ideiais não diminuíssem a dor de Peter, lhe davam a chance de dominá-la. Se o Reaperface estava utilizando truques tão baixos nesse jogo de azar, o gêmeo precisaria virá-lo.

***

Jacqueline pousou o livro de poesias em uma mesinha ao lado, junto com o celular descartável que havia roubado de uma lojinha de esquina. Phillip iria ajudá-la, mesmo sem saber o real motivo. Letrisha estava atrapalhando seu caminho e poderia arruinar todo seu plano, se revelasse mesmo o segredo que mantinha guardado consigo.

A falsa francesa levantou-se da poltrona de couro e parou diante da janela, fechada com uma cortina bege, observando o movimento do lado de fora por algumas frestas. Letrisha já entrou em seu caminho uma vez, e foi tirada dele sem dó. Parece que não aprendeu a lição. Jacqueline tinha certeza que precisava repetir a dose e mostrar o quanto era poderosa e superior em relação a outra garota.

Letrisha deveria manter algo podre escondido em sua casa. Todos escondem. Jac só precisava descobrir o que era e fazer o jogo virar. Estava perdendo, e odiava este sentimento.

Caminhou por entre a grande sala, que possuía uma grande estante de livro em um canto. Mesmo estando de dia, algumas lâmpadas estavam acesas, devido a escuridão daquele cômodo da casa.

Andou até a estante e procurou na segunda prateleira por sua coroa de Miss. Não achou. Foi até a sala e nada. Procurou por todos os cômodos e voltou até a sala de leitura. Pegou um pequeno banco e subiu em cima, para observar melhor os objetos.

A coroa realmente não estava lá. Jac precisava dela. Sempre buscava pensar mais fácil com o objeto em sua cabeça. Sentia-se confiante.

As luzes começaram a piscar e a garota achou tudo estranho. Olhou em volta, confusa. Desceu do banquinho e a iluminação se foi de vez. O cômodo de leitura ficou completamente apagado, com grande escuridão.Jac aproximou-se da janela e abriu a cortina, permitindo a entrada da luz do sol.

A janela estava curiosamente aberta, então Jac a fechou, com um pouco de dificuldade. Levantou a cabeça e se assustou. No reflexo do vidro, viu Reaperface se aproximando, com uma faca em mãos.

Então, gritou.

***

O primeiro livro de Stephen King quase acertou a cabeça do Reaperface, que desviou rapidamente. Para infelicidade de Jac, o seu plano falhou e o assassino continuava em seu caminho. A faca e a máscara de caveira sobrecarregavam o ambiente, que já estava bastante sombrio.

Um jogo de gato e rato começou pelo cômodo. O maníaco tentava acertar Jac com algum golpe, que por sua vez, focava em achar um modo de sair dali. Se não fosse rápida e esperta, seria morta em cinco minutos.

Tentou jogar o abajur no assassino, que defletiu o objeto para a esquerda com um soco no ar. Jac tentou sair correndo, mas foi puxada pelos cabelos e veio ao chão. Reaperface ergueu sua faca, pronto para desferir um golpe, mas foi atingido por um chute da garota e quase perdeu o equilíbrio.

Jacqueline, bêbada de adrenalina, resolveu contra atacar. Pulou e agarrou a última prateleira da sua estante de livros, forçando sua queda. Saiu do caminho e viu uma pilha de livros cair sobre Reaperface.

Alguns segundos depois, com um silêncio implantado na sala, Jac andou em passos lentos, forçando sua visão para tentar ver algo. Mas nada. Reaperface havia sumido e em seu lugar, havia apenas uma pequena montanha de livros. A garota chutou alguns e teve a confirmação de seu sumiço. A cortina balançava, com a janela agora aberta.

Jac olhou para seus pés e avistou a faca de Reaperface, abandonada pelo dono. Sorriu satisfeita, enquanto a luz ressurgia.

***

Phillip havia descoberto que a caixa havia sido deixada pelo correio. Dentro dela estavam vários pertences salvos da mansão, após a explosão. Algumas roupas sobreviveram ao fogo, junto com utensílios de cozinha, alguns álbuns velhos de fotografia, da época em que o pai deles se formou no ensino médio.

O gêmeo mais novo vasculhava os objetos para os lados, procurando alguma coisa interessante, mas na verdade só estava matando o tédio. No fundo, acabou achando um porta-retrato, com uma foto antiga. O registro estava sem cor e agredida pelo tempo. Era quase impossível de ver o rosto de algumas pessoas.

No canto superior, um casal bonito e sorridente olhava para a câmera. Phillip soltou um riso desprentencioso ao olhar para seus pais na versão jovem. Seu pai era um homem charmoso desde aquela idade. Sua mãe era e ainda é uma mulher de parar o trânsito.

O riso se desfez ao arrastar o olhar para a pessoa ao lado. Phillip queria estar enganando, mas reconhecia aquele rosto. Tommy sorria simpaticamente, como se tivesse sua sanidade mental bem equilibrada. Segurava uma criança, que olhava em outra direção, distraída com alguma coisa. Ao seu lado, Edward, o pai de Vince, se mantinha alegre, com a mão para o alto, segurando um copo de bebida.

Phillip se assustou ao ouvir o barulho da porta abrindo e acabou derrubando o porta-retrato. Pequenos cacos se espalharam pelocarpete. O gêmeo se aprontou em se ajoelhar e recolher o objeto, enquanto Peter se aproximava.

– Calma, flor. Está assustado? – Peter ironizou – O que é isso?

– São objetos salvos da explosão da nossa casa. – Phillip disse e mostrou o porta-retrato – Você já sabia que nossos pais e o pai de Vince conheciam Tommy?

– O quê…?

– Eles parecem ser bem amigos e felizes juntos. – Phillip comentou. Ele sentiu-se aliviado de ver que a relação com seu irmão estava mais suave.

– Nossos pais nunca falaram que o conheciam. – Peter disse – E não me lembro de terem muita comunicação com o Edward.

– E quem são esses? – Phillip falou apontando para outro casal – Essa moça parece a mamãe. Seria nossa tia?

– Não pode ser. – Peter respondeu – Ela sempre nos disse que era filha única.

A moça também segurava uma criança, que podiam deduzir ser uma garotinha pelo delicado vestido que usava.

– Tem alguns álbuns na caixa. Podemos dar uma conferida. – Phillip sugeriu.

Em comum acordo, se aproximaram da caixa. Cada um pegou um álbum de fotografias e começaram a vasculhar por entre as páginas.

***

Wendel terminava de passar um creme de baunilha da Victoria Secrets que estava na penteadeira de Tory, tomando cuidado com o corte em seu braço, quando Hannah o repreendeu.

– Wendel! – a loira gritou – Você sabe que a Tory odeia que mexam nas coisas dela!

– Sinta esse cheiro ma-ra-vi-lho-so na minha mão e veja se estou ligando! – Wendel esticou seu braço que não estava ferido, lambuzado de creme – Eu poderia usar todo perfume da Britney Spears que ela tem e colocar água sanitária no lugar. Nem iria perceber.

– Tory é piranha, mas não é burra. – Hannah respondeu arrumando suas mexas loiras. Ela vestia uma saia colegial vermelha e uma regata justa cor-de-rosa, que apertava seus peitos. Em amarelo, estava escrito: “I’mcute, but I move my booty”. – É uma vaca. Nos chamou aqui logo de manhã, mas saiu para correr.

– Manter este corpinho gostoso aqui não é para qualquer um, querida. – Tory respondeu, entrando em seu quarto, com roupas curtas e esportivas, totalmente suada – Você deveria tentar.

Tory tirou o foninho de ouvido de seu MP4 e os jogou em sua cama. Tirou suas roupas, ficando apenas de roupas íntimas. Pegou seu celular e botou músicas para tocar, enquanto se encaminhava pelo corredor com uma toalha em mãos.

– Vou tomar uma chuveirada e volto já. – Tory disse enquanto caminhava no ritmo da música, acompanhando a letra – WEIRD PEOPLE ON THE DANCE FLOOR, WE JUST DOING WHAT WE CAME TO DO…

Hannah e Wendel se entreolharam.

– Eu te disse que ela poderia ouvir. – o garoto comentou.

Hannah se jogou na cama da garota, afundando seu rosto no travesseiro roxo de Tory, esbravejando sua fúria. Gritava e dava pequenos socos na cama. Levantou-se, agarrou um perfume da penteadeira e arremessou pela janela. Lá em baixo, um som de vidro se quebrando foi ouvido.

– Calma, Hannah! – Wendel advertiu – Você ficou louca?

– Foi só um ataque de fúria, darling, relaxa. – Hannah disse – Só estou cansada de ser pisoteada pela Tory.

– Logo você vai conseguir tirar ela do trono. – Wendel falou – E você será a abelha rainha, espera para ver.

– Isso é óbvio. – Hannah disse olhando para o corredor. Tory se aproximava, enrolada em uma toalha – Tory, por quê nos chamou aqui?

– Porque iremos dar uma pool party, daqui uma hora e meia. – Tory respondeu animada, balançando seu cabelo em frente ao espelho.

– O quê? – Wendel perguntou – Eu não estou depilado!

– E eu não tenho bíquini! – Hannah completou – Tory, você precisa me emprestar um!

– Relaxa. – Tory respondeu – Talvez tenha alguma coisa na sacola de doações, que você possa vestir. E Wendel, você tem menos pelo que eu, me poupe!

Tory pegou seu secador de cabelo e o ligou, batalhando para sua voz superar o barulho.

– Vão lá em baixo e separem bebidas! Podem pegar tudo do bom e do melhor e levem para a piscina, já acompanho vocês! – Tory gritou.

Mesmo com raiva, Hannah desceu com Wendel, em busca de bebidas. Pela janela, podiam ver que a piscina estava límpida e convidativa. O sol iluminava, glorioso no céu e a visão parecia um cenário perfeito para dar tudo certo.

***

A cabeça de Vince repousava, encostada na parede do quarto do hotel. Os olhos se mantinham fechados e poderia até dizer que estava dormindo, mas leves gemidos soltos pelo rapaz o denunciaram. A cabeça em baixo do lençol branco subia e descia, por vezes aumentando de ritmo, outrora descendo lentamente e demorando subir.

Levou mais alguns segundos até Vince chegar ao ápice. Seus sons foram diminuindo até não restar nada, apenas seu corpo mole solto na cama, ainda recebendo o relaxamento do momento. Logo depois, Penny emergiu do lençol, deitando-se ao lado do rapaz, passando rapidamente o dedo indicador pelos lábios de sua boca.

– Vocês podiam avisar. Ou pelo menos terem ido tomar banho comigo. – Alex disse, saindo do banheiro, enrolada em um toalha e com os cabelos molhados – Economizaria água.

– Não precisa ter ciúmes. – Penny respondeu – Me dê cinco minutos para minha boca descansar e você vai revirar seus olhos. De novo.

Vince soltou uma risada rouca e levantou-se, se encaminhando para o banheiro.

– Minha vez de tomar uma ducha. – ele disse – Se divirtam, garotas.

Enquanto fechava a porta, Vince recebeu um tapa de Alex, em suas nádegas. Se virou, e visou Penny com a coluna ereta contra a parede. O lençol branco cobria seu corpo desnudo e sua boca bebericava um gole de whisky.

– Você está livre hoje a noite? – apopstar perguntou.

– Acho que sim. – Alex respondeu – Por quê?

– Eu vou performar na Sex n’ Love. – Penny falou, se referindo a uma famosa boate no centro da cidade – Showzinho privado. Queria que você estivesse lá.

– Ah, claro. – Alex respondeu vestindo uma calcinha – Eu vou adorar.

– Ei! Esta calcinha é minha! – Penny gritou, rindo.

As duas moças, alegres e se divertindo, iniciaram uma briga descontraída de travesseiros. Vince, agachado do outro lado da porta, observava a cena pela fechadura da porta, com expressão desconfiada.

***

– Eu disse há dois minutos atrás que você parecia um elfo naquela foto. – Phillip disse rindo, enquanto virava mais uma vez o álbum de fotos para o irmão – Mas aqui você está muito igual!

– Já mandaram você ir à merda hoje, Phil? – Peter respondeu sério.

– Qual é! Você está muito fofinho! – o mais novo rebateu.

– Estamos olhando esse álbuns faz mais de meia hora e nada! – Peter mudou de assunto.

– Alguns deles, eu nem lembrava que existia. – Phillip comentou virando mais algumas páginas – Nossos pais guardavam tudo isso no porão – e então jogou o álbum que segurava no chão e pegou outro.

– Você percebeu que nossos pais nem mudaram muito? E tem fotos de uns vinte anos atrás, parece…

– Achei! – Phillip cortou a fala do irmão, levantando-se – Um álbum de família!

Peter se aproximou do irmão, para também obter visão. A foto mostrava a mãe deles ao lado dos pais, segurando as mãos de dois idosos simpáticos. Ao lado, estava outra mulher, também de mãos dadas com os velhinhos. Ambas se pareciam muito, tinham o mesmo sorriso e olhar carismático.

– Mamãe e nossos avós. – Peter disse.

– Então, nós temos mesmo uma tia que nunca vimos falar? – Phillip indagou.

– Por quê esconderiam isso da gente? – Peter refletiu – Será que tiveram algo a ver com o massacre de Tommy há anos atrás?

– Nossa suposta tia segura uma criança naquela foto. – Phillip lembrou – Temos uma tia e uma prima misteriosas?

– Bom, só vamos saber se perguntarmos para mamãe.

– Perguntar o que para mim? – a mulher disse, entrando no quarto dos filhos, com diversas sacolas de compras.

Os gêmeos se entreolharam e então encararam a mulher.

– Mamãe, - Peter começou – precisamos conversar.

***

Quando Tory chegou na piscina, já avistou um cara de sunga lambendo alguma bebida por entre os peitos de uma garota.

– Gente, eu estou chocada. – Tory disse para Hannah e Wendel, que vinham logo atrás – Isso tá maravilhoso!

A líder continuou andando, rebolando para todo o lado. Vestia um bíquini vermelho minúsculo, mostrando todas as curvas possíveis de seu corpo. Wendel se mantinha com um calção na altura da coxa e uma regata com estampa de palmeiras. Hannah, com cara fechada, vestia um maiô laranja com algumas penagens roxas ao redor da cintura e bolinhas de diversas cores, dado por Tory.

Muitas e diversas bebidas eram distribuídas e jogadas de um lado para outro. Músicas com batidas fortes se dispersavam das caixas de som, animando a festa. Jovens com corpos esculturais e roupas de banho curtiam o ambiente. Uma passarela de vidro foi montada acima da piscina. A pegação, obviamente, rolava solta. Chupões em pescoço, bebidas pelo corpo, beijos e amassos.

– Não estou vendo muita gente conhecida. – Hannah notou – Cadê a galera no colégio?

– É! Cadê Phillip? – Wendel perguntou, corando levemente – E Peter, óbvio.

– Eu mandei mensagens para eles, mas não viram até agora. Essas princesas devem estar fazendo compras. – Tory respondeu – Para o Lucas, eu resolvi nem mandar, já que ele ficou viúvo faz algum tempo.

Hannah manteve-se em silêncio, agitando seu sangue.

Tory chegou perto do DJ que havia contratado e pediu para diminuir o som e um microfone. Assim, que o fez, ela começou com um discurso:

– Boa tarde, meus amores! – Tory disse – Espero que estejam curtindo a festa! E eu sei que estão, já vi até gente sendo penetrada ali em baixo! É, é de você mesma que eu estou falando… E ao final da tarde, quero todos vocês comigo no Sex n’ Love!

Gritos e comemorações foram expelidos pelo público.

– E não se preocupem com idade ou algo do gênero. Eu já dei uma conversadinha com o promoter da festa, e está tudo combinado! – Tory avisou – Então, vamos nos divertir!

Após o discurso, Tory aumentou o som, rasgou a regata do DJ e lhe deu um beijo na boca. Saiu de perto, pegou uma garrafa de vodka e se encontrou com Hannah e Wendel.

– Eu estou, realmente, de saco cheio desses assassinatos! – Tory disse, tomando um gole da bebida – Parece que esquecemos como é ser adolescentes irresponsáveis! - e saiu de perto dos dois.

– Tory está bem louca. – Wendel comentou.

– Ela está me irritando. – Hannah respondeu.

– Ah, Hannah, não fique mal-humorada. Sabe do que isso é falta, né? – ele disse, fazendo gesto obsceno com as mãos e a boca – Vai se agarrar com algum gostosão poraí.

– Vestindo este maiô horrível? – Hannah protestou – Eu virei motivo de zoação! Essa merda aqui não marca meu corpo, não me deixa gostosa. Só me deixa cada segundo mais envergonhada.

– Pede para alguém tirar. – Wendel riu.

– Vai se fuder.

Hannah, mal-humorada, se afastou do amigo, que mergulhou na piscina, em uma roda de garotos. A loira passeou pelo local, desfilou pela passarela de vidro, percbendo os olhares maliciosos e piadas que falavam sobre ela. Caminhou até o jardim dos fundos da casa, que possuía algumas palmeiras artificiais, com pedras grandes e um ofurô.

Sentia um pouco de mal agouro ao lembrar-se que Kat havia morrido naquela casa há algumas semanas. Hannah invejava todo o poder que Tory tinha, mas jamais gostaria de que alguém morresse para isso.

Atrás de uma palmeira, achou Tory aos amassos com um rapaz alto e forte. As mãos dele apertavam as nádegas da garota, que arranhava as costas do rapaz. Ao perceber, que estava sendo observada, parou com o beijo.

– Hannah, aí está você. – Tory sorriu falsamente – Vai lá para a piscina, garotão. E desarma essa barraca para usarmos depois.

O jovem saiu de perto, mas antes olhou Hannah da cabeça aos pés e soltou uma risada incontrolável. A loira resolveu fechar os olhos, respirar fundo e contar até cinco.

– Está se divertindo, querida? – Tory perguntou sinicamente.

– Claro, meu anjo. – Hannah resolveu entrar no jogo de Tory – Nunca vi festa tão animada!

– Ah, você não viu nada! – Tory respondeu sorrindo – Tenho uma surpresa especial preparada!

– Surpresa? – Hannah ficou sem reação e obteve até uma pontada de esperança em seu peito.

– É. Vem, vamos voltar para piscina.

Durante o trajeto, Tory entrelaço o seu braço com a loira e aproveitou o momento para encurralar Hannah.

– Espero que não fique brava.

– Pelo que? – Hannah perguntou confusa.

– Ah, você não reconheceu? – Tory perguntou – Aquele garoto… É o Miguel.

Hannah lembrava-se desse garoto. Foi sua paixão platônica por quatro anos. A loira sofreu muito pelo rapaz, que a esnobava. No começo do ano, começou a desapegar destes sentimentos. Tory havia feito de propósito.

– E vamos combinar, latinos sabem usar bem a língua. – Tory riu.

O sangue de Hannah ferveu e ela já estava fazendo contagem regressiva para explodir, mas por fim, chegaram no ambiente aquático. Wendel estava entre dois rapazes, derramando tequila em seus troncos e sugando com a boca. Tory se aproximou do DJ novamente e tomou o microfone para si.

– Galera, atenção! – ela sorriu – Como sabem, há algumas semanas eu perdi, infelizmente, minha fiel escudeira, Kat.Ela era uma ótima amiga e sempre viverá em meu coração! Esta festa é em sua homenagem, aquela vaca arregaçada!

Mais gritos e comemorações.

– Como sabem, eu sempre tenho uma acessora pessoal que anda comigo para todos os lugares, sabe de minha vida e se junta ao topo da hierarquia. Então, como a minha antiga se foi, vou dizer agora o nome da pessoa que será unha e carne comigo.

Hannah sentiu uma mistura de ansiedade e felicidade. Sendo a nova seguidora principal de Tory, seria mais fácil de derrubá-la do topo. Sua hora de brilhar finalmente havia chegado.

– Wendel! – Tory gritou, apontando para o garoto, que ficou pálido sem reação.

A galera batia palmas e ovacionava a situação, gritando o nome de Wendel. O garoto, por sua vez, alternava o olhar entre as pessoas, Tory – que sorria friamente – e Hannah, que estava surpresa.

– Vamos, joguem essa vagabunda na piscina! – Tory mandou.

Os rapazes ao lado de Wendel o levantaram e arremessaram para a piscina. Logo em seguida, pularam também, formando uma rodinha em volta do garoto.

– O quê? Mas… Eu… - Hannah começou a gaguejar.

– Achou que seria você? – Tory completou – Hannah, querida, a sua hora ainda não chegou.

– Você só me humilha. – Hannah protestou – Me prestou a vestir essa coisa brega e horrorosa…

– Hannah, calma. – Tory disse – Prove que você é forte. E penas combinam com você, querida. – e saiu rebolando, se jogando na piscina.

Hannah correu para longe da festa, se encaminhou para o jardim dos fundos, escondendo-se atrás de uma palmeira. Sentada, lágrimas escorriam pela sua face. Wendel havia sido colocado no lugar que era para ser dela e Tory forçava a linha do limite da loira.

– Essa vadia vai ter o que merece. – ela disse, entre soluços.

***

– Por quê você nos escondeu uma tia misteriosa? – Phillip atacou.

– E uma prima? – Peter acrescentou.

A mãe, Pâmela, tomou para si uma expressão de quando é encurralada. Fechou os olhos e respirou fundo por alguns segundos, largando a sacola no chão. Garantiu que a porta estava fechada e sentou-se na cama, batendo de leve em ambos os lados do colchão, convidando-os para sentar.

– Vocês teriam que saber uma hora ou outra.

Os gêmeos se comunicaram pelo olhar em um relance e sentaram-se ao lado da mãe, sendo envolvidos pelos seus braços.

– O nome dela era Úrsula. – Pâmela começou – Nós éramos muito unidas. Cuidávamos uma da outrao tempo todo. Ela era três anos mais velha, praticamente um exemplo para mim. Humilde, bonita, responsável… Tudo que eu nunca consegui ser.

A mãe deles mantinha o olhar reto e fixo em um ponto aleatório do quarto, como se estivesse voltando a viver cada mísera palavra que proferia para seus filhos.

– Certo dia, ela resolveu ir em uma festa. Acabou embebendo, era jovem como vocês. Conheceu um cara que parecia bacana, era todo gostosão e tinha olhos claros. – a mãe contou – Mesmo meio bêbada, ela mantinha consciência do que fazia, mas não tinha força o suficiente. O rapaz fingiu ser educado e que a levaria para casa, mas acabou indo para um beco sem saída.

Ouve uma pausa em seu fôlego. Ela olhou para os filhos, que a ouviam sem piscar e com expressões indefinidas. Voltou a olhar para frente.

– Nesse beco, ele forçou a barra. Ela gritou, disse que não queria, que gostaria de ir para casa. – Pâmela continuou, com dor em sua voz, como se cada palavra fosse uma navalha cortando sua garganta de dentro para fora – Mas não tinha ninguém para ajudar. Não teve ninguém para ajudar. No pior dos azares, Úrsula acabou engravidando. Resolveu não abortar, e nasceu a garotinha que vocês veem na foto.

Parou de falar. Os gêmeos se olharam e nenhum dos dois possuía alguma ideia do que dizer, mas Pâmela resolveu continuar.

– Talvez vocês nunca entendam por serem homens. Quando uma mulher engravida de uma noite de prazer, mesmo sendo com concentimento, já é julgada. Se trocar isso em um caso de estupro, ninguém fica do lado dessa mulher. – Pâmela falou seriamente – No massacre, elas foram assassinadas por aquele monstro. Seu pai e eu éramos amigos dele e do Edward. Todos éramos felizes e naquela foto que vocês viram, era um ensolarado domingo de churrasco. Foi uma semana antes da carnificina acontecer. O corpo de Úrsula foi encontrado no fundo de um rio, perto da nossa antiga casa, com mais de cinquenta golpes de facas. Sua filha, por ser muito pequena, provavelmente foi levada pela correnteza.

Agora, a narração parecia ter acabado. E os gêmeos possuíam tantas palavras quando há segundos atrás. Ambos já esperavam ouvir algo do tipo, mas não pensaram que seria tão chocante.

– Entendo o choque de vocês. – a mãe disse, levantando-se da cama, batendo levemente a ponta dos dedos de baixo dos olhos para secar lágrimas pretenciosas – Não precisam dizer nada. Eu contei porque vocês tinham o direito de saber, e bem, agora sabem. Vou procurar o pai de vocês.

A mulher se encaminhou para fora do quarto, mas antes de sair completamente, olhou para seus filhos.

– Eu amo vocês, garotos. Se cuidem.

A porta se fechou, assim como os olhos dos gêmeos, em completo choque de sanidade.

***

A luz surpresaem seu rosto lhe deu um susto. Blaire piscou rapidamente para tirar a claridade repentina de sua visão e encarou Rowen, que tinha um riso brincalhão em sua face.

– Foi mal. – ele disse, segurando sua máquina fotográfica – Esqueci do flash.

O rapaz desativou a iluminação e recomeçou a tirar fotos espontâneas de Blaire, que olhava pensativa para o céu claro, na janela do saguão de recepção do hotel.

– Já acabou, Rowen? – ela encarou um pouco brava para a lente da câmera.

– Você fica mais bonita em fotos espontâneas. – Rowen comentou.

Gabe Riley se aproximou dos dois, rindo da cena.

– Gabe, não há nada engraçado por aqui. – Blaire franziu o cenho – Mudando de assunto, onde estão Roderick e Cindy?

– Disseram que iam explorar a cidade. – Rowen respondeu, fazendo alguns ajustes na máquina fotográfica – Espero que não se percam.

– Do jeito que a Cindy é, receberemos uma ligação de um hospital rapidamente. – Blaire disse, tirando um mosquitinho de seu ombro – Espero que Rod consiga cuidar dela.

– Eles são responsáveis. – Rowen respondeu.

– Blaire. Ahn… Eu… - Gabe começou, procurando as palavras certas para dizer – Eu preciso conversar a sós contigo.

Sentindo a deixa, Rowen disse levantando-se:

– Vou lá dentro ver alguns últimos ajustes na câmera.

O jovem logo adentrou no elevador e subiu em direção ao quarto do hotel. Blaire deu as mãos para Gabe e as duas se acomodaram em um sofá de couro, meio isolado dos outros hóspedes.

– Pronto, Gabe, pode me falar.

– Você não está mesmo afim daquele garoto, né? O Peter? – Gabeperguntou, com tom de preocupação.

– Ah, ele parece ser um bom rapaz. – Blaire respondeu, desviando o olhar – E não posso negar que é bonito.

– Blaire, não seja louca! – Gabecuspiu – Você não ouviu as histórias sobre esse garoto, não?

– Que ele é um dos centros dos assassinatos e tudomais? – Blaire questionou – Eu não posso julgá-lo por isso.

– Não é só por esse detalhe. – Gabeolhou para baixo – Pode ser bem mais grave que isso.

– O quê?

– Peter pode ser o próprio assassino. – Gabeencarou Blaire.

***

Quando a porta foi fechada, causou um barulho na sala que assustou Brenda. Johnny e a garota estavam no clube de cinema, o local preferido de ambos, para passarem o tempo. Mesmo que não tivessem nada para fazer ou que o resto da escola estivesse fechado, gostavam do clima daquele ambiente. E da companhia um do outro.

– Que susto, demônio! – Brenda gritou com o amigo.

– Para de ser frouxa. – Johnny disse deitando no chão e fitando o teto – O clube está caído, né?

– Se considerarmos todo o clima em que nos encontramos, até que está agitado. – Brenda deitou-se também, fazendo companhia para o garoto – Acho que as pessoas estão de saco cheio de todas essas mortes.

– Claro, com um amador esfaqueando as pessoas. Até agora ele não colocou um dos elementos principais de uma história de terror. – Johnny comentou, batucando o ar com os dedos.

– Reviravoltas? – Brenda indagou.

– Não. – Johnny negou, virando o rosto e olhando nos olhos da garota – Sexo.

– O quê? – Brenda caiu na gargalhada.

– Não ri, é sério! – Johnny advertiu, embora também esboçasse um grande sorriso – Histórias de terror e sexo estão sempre interligadas. Vai dizer que não lembra de Jason, o maior “empata-foda”, em Sexta-Feira 13?

– Então, - Brenda tentava dizer entre risadas histéricas – o segredo para viver nisso tudo é não transar?

– Brenda…

– Você já é a final girl! – Brenda gargalhou ainda mais – Se bem que, se fosse desse jeito, a aberta da Tory seria a primeira.

– Eu desisto. – Johnny disse, batendo levemente seu rosto no chão.

O som de notificação do celular de Brenda tocou e a gótica rapidamente visualizou a tela do celular. Era mensagem de Tory convidando-a para uma after party na famosa boate Sex n’ Love.

– Olha! – Brenda disse esfregando a tela na cara de Johnny – Tory vai armar uma palhaçadinha novamente.

– A gente nem tem idade para esse negócio! – Johnny observou.

– Ela deve ter dado o jeito dela. – Brenda disse rolando no chão e levantando-se.

– Onde você vai?

– Ué, vamos nos arrumar para irmos. – Brenda respondeu – Você não disse que faltava sexo? Sex n’ Love parece bem apropriado para esse ato. E se temos chance de pegar esse maníaco, é agora.

– Se você diz… - Johnny falou, levantando-se do chão.

– Vou mandar uma mensagem para meu irmão e os gêmeos. Quantos mais pessoas melhor. Quer saber, vou chamar até o esquizofrênico do Mark. – Brenda disse, começando a digitar as mensagens.

Logo depois de enviar as SMS, Brenda passou o braço pelo pescoço do amigo e ambos saíram do clube.

***

Vince terminava de dar o fora em um ator pornô gay que pedia seu número de telefone, no estúdio. Bruce, ao longe, ria de tudo. Como ator era insistente, Vince resolveu apelar.

– Tá bem, Biug. – Vince disse, chamando o cara pelo apelido – Vou te dar meu número, mas não fique chamando toda hora.

Pegando um guardanapo qualquer jogado e uma caneta preta, Vince escreveu a primeira combinação de números que lhe veio na cabeça. Depois de entregar para o outro rapaz, que saiu quase chorando de alegria, Bruce se aproximou.

– Parece que alguém tem um novo encontro. – Bruce começou a rir novamente.

– E essealguém é você, meu chapa. – Vince respondeu dando leves tapinhas nas costas do amigo.

– Como assim?

– Ah, eu passei seu número. – Vince disse, saindo da sala e fechando a porta, antes de ver Bruce ter um ataque de fúria.

Andava pelos corredores do prédio, pensando nas mensagens que mandara para o Suicide Squad. Pediu para que todos ficassem quietos em relação a morte de Leon Moreira. Quase que como um pacto de sangue, prometeram para cada um do grupo que não voltariam a tocar no assunto, até mesmo entre eles.

Quanto menos lembranças, melhor.

– E aí, Vinceta. – Alex apareceu atrás dele, dando-lhe um tapinha na nuca.

– Fala, Alex do bordel. – Vince retribuiu.

– Vai na Sex n’ Love, hoje? – a moça perguntou.

– Você considerou mesmo a proposta da Penny? – Vince perguntou incrédulo.

– Sim, ué, ela… Espera, você ouviu nossa conversa? – Alex riu indignada.

– Foi mais forte do que minha barba e eu juntos.

– Não meta Dorival nisso. – Alex repreendeu, dizendo em voz alta o apelido da barba – Mas enfim, considerei sim. Faz tempo que não vou à uma festa, já estou em abstinência…

– Você foi há dois dias!

– …e foi um convite especial de Penny, então eu vou. – Alex concluciu – E seria bom para você também. Não sei o que houve, mas parece estar muito tenso nos últimos dias.

Vince parou e pensou na ideia por alguns segundos. Olho para Alex, que sorria simpaticamente e o encarava com o olhar.

– Tá, eu vou. – era impossível negar algo para Alex.

– Beleza, eu vou para casa, me pega daqui quarenta minutos, garotão. – Alex disse, apressando seus passos.

Vince não era a pessoa mais extrovertida dentro de uma balada, mas talvez Alex tivesse razão. Ele precisava distrair sua cabeça, tirar Reaperface da mente e todas as teorias e técnicas para sobreviver a um assassinato.

Se apressou para também ir para casa, pois sua noite prometia ser bem agitada.

***

Phillip estava concentrado na rua, em seu carro, enquanto Jac o encarava, no banco da carona. Como prometido, o gêmeo a levaria até a casa de Letrisha. Seguia em silêncio. A garota não sabia o que o rapaz mantinha em sua cabeça, mas parecia estar pensativo.

– Phil, está tudo bem? – Jac disse, colocando a mão sobre a coxa do rapaz.

– Sim. – ele respondeu secamente, retirando a mão da garota. Percebendo o clima frio que se instalara, retomou a fala – Então, o que você vai ver na casa dessa garota mesmo?

– Nada demais. – Jac disse, confortando sua bolsa no colo – Só vou dar uma revistada em seu quarto. Se minhas suspeitas estiverem certas, hoje a assassina de Reaperswood será presa.

Phillip não botava muita fé nas palavras dela, isso era óbvio, mas se ela estava dizendo, por quê não tentar? Jac mantinha-se com luvas de crochê feitas por ela mesma, que ajudava a sustentar o disfarce europeu.

– Pronto, chegamos. – Phillip falou ao estacionar.

– Obrigadinha. – Jac disse com sotaque francês, depositando um beijo na bochecha do garoto.

Jacqueline desceu do carro e deu a volta na casa. Provavelmente entraria pela janela ou porão aberto. Na sinceridade, Phillip não ligava. Resolveu que se algo desse errado, não queria estar por perto, então ligou o carro e partiu. Acelerava distraído, pois não havia ninguém na rua, quando Letrisha apareceu na frente do veículo. A freiada brusca fez o gêmeo mais novo bater levemente a cabeça no volante. A garota andou lentamente até a porta do carona, abriu e sentou-se.

– Olá, Phillip. – Letrisha falou sorrindo – Poderia me dar uma carona?

***

Ainda faltava algum tempo para o sol se pôr, quando Tory chegou na porta da boate Sex n’ Love, carregada por várioas rapazes. Com uma garrafa de champanhe na mão, ela comemorava. Muitas pessoas a seguiam, algumas ainda com roupas de banho, outras já haviam trocado. A imperatriz da festa trajava um vestido preto, justo e cheio de brilho. Apenas uma piscadela para os seguranças parados na porta e toda a turma já adentrava pelo estabelecimento de dois andares.

O interior da boate já estava escuro, recebendo feixes e raios de luzes por todos os lados, de todas as cores. Algumas pessoas já se divertiam e dançavam com uma música que possuía batidas frenéticas e animadas. Tory, que já se encontrava de pé, fora do tumulto de suas companhias, se aproximou de Wendel.

– Então, Wendy. – ela disse – Se divertindo?

– Ah… Estou achando tudo legal demais. – Wendel respondeu arrumando a gola de sua camisa abotoada e com desenhos de flores azuis – Nunca tinha vindo aqui.

– Confesso que não é minha primeira vez. – Tory comentou dando uma piscadinha e puxando o garoto pela mão – Vem, vamos para a pista.

A dupla se encaminhou para a pista de dança, enquanto mais pessoas chegavam no local. Brenda e Johnny sorriam, irônicos em relação a boate. Sabiam que ali era local para todas as tribos. Haviam separações para divididos a partir de sexualidade, aréas para quem curtia um momento mais apimentado e uma enorme pista de dança. Não importando onde alguém estivesse, sempre estava visível um palco circular, no centro do estabelecimento. Um telão atrás do palco anunciava que logo Penny Queen faria sua apresentação.

– Isso parece que vai ser mais divertido do que eu imaginava. – Brenda riu olhando ao redor.

– Um bando de perdedores mexendo o quadril e mais desgastados que corrimão de escada rolante. – Johnny observou – Que maravilha.

– Vamos aproveitar, aqui tem bebida. – a gótica disse começando a andar – Só não me deixe beber demais. A última vez que fiquei de porre, criei uma teoria que não sei o que é até hoje.

***

– O que você quer, garota? – Phillip perguntou.

– Pode dar a partida. – Letrisha pediu – Eu não mordo. Quero apenas conversar.

Como a garota parecia estar inofensiva e Phillip estava atrasado para se encontrar com o irmão e ir à boate, resolveu acatar o pedido.

– Desembucha.

– Bom, eu vi que você anda poraí com a Jacqueline. – Letrisha olhou o retrovisor, como se quisesse garantir que não estavam sendo seguidos – Só queria te dizer para tomar cuidado com ela.

– Por quê?

O carro parou no sinal de vermelho.

– Porque muitas pessoas não são quem realmente parecem ser. – Letrisha disse, encarando Phillip – E aquela garota é uma delas.

– O que você quer dizer com isso? – o gêmeo perguntou, curioso.

– Isso.

A menina retirou do bolso de sua calça uma folha dobrada. Depois de desdobrar, esticou em direção de Phillip. Mesmo relutante, ele pegou o papel e analisou. Se tratava de uma matéria de jornal, que Letrisha tirara de suas recomerdações, na qual mostrava o resultado de um concurso de Miss da cidade, de alguns anos atrás.

– Jac foi Miss aqui da cidade há alguns anos? – Phillip se via confuso.

– Você pode ler a matéria. – Letrisha sugeriu – Não é Jacqueline. É Leda.

O gêmeo mais novo começou a ler a matéria e se surpreendeu que era verdade. Ele sabia que Jacqueline não era realmente francesa, mas a garota não havia revelado que seu nome era falso e que ela já viveu em Reaperswood por um tempo. Se isso foi mentira, o que mais poderia ser?

Uma buzina repentina deu um susto em Phillip, que não havia visto o sinal ficar verde. Retomou a partida do carro e dirigiu em silêncio por algumas quadras. Letrisha não fazia questão de puxar assunto, mas parecia estar satisfeita.

Depois de alguns metros, Phillip estacionou o carro e olhou para a ex-namorada de Mark.

– Olha, obrigado pelo aviso. – começou – Mas agora realmente eu tenho um compromisso. Se não for incômodo, poderia sair aqui?

– Sem problema algum. – Letrisha disse abrindo a porta do carro – Também preciso ir à um lugar. Pode ficar com a notícia.

A porta do carro se fechou e alguns segundos depois, Letrisha já estava distante. Phillip a encarava, com um olhar enigmático, enquanto pensava em Jacqueline. Tomou seu celular em mãos e visou dezoito chamadas perdidas do irmão. Ligou o carro e voltou para a estrada.

***

Penny terminava sua maquiagem, no camarim da boate. A capacidade do local era para mais de mil pessoas, então seria um ótimo show privado. Ela esperava que Alex estivesse lá. Usava um vestido longo sem mangas, com decote em formato de taça. Era vermelho, cintilante, totalmente brilhante. Em certo momento da apresentação, iria tirar a parte de baixo, revelando uma apertada calça de couro, ótima para danças.

Terminou de retocar seu rímel pela décima vez, sempre achando algum defeito milimétrico, e olhou para si mesma no reflexo. Estava linda.

Passou mais um pouco de seu perfume, antes de ser chamada para se preparar. Caminhou lentamente pelo corredor, parecia nervosa e respirava fundo.

***

Peter e Phillip chegaram na boate prontos para encararem cenas bizarras. E foram isso que viram. Na área de stripper, homens e mulheres sensualizam ao tirarem suas roupas e rodando em pole dance. Alguns convidados da plateira tinham a “sorte” de passarem a mão pelos corpos dos dançarinos, que a cada minuto ficavam cada vez mais pelados.

Era fácil identificar Tory. No meio da pista, ela e Wendel dominavam o local com passos de dança, que pareciam até ensaiados. Várias pessoas em volta os encaravam, alguns despertando líbido sexual, outros apenas observando o número de dança.

– Tory e Wendel juntos, quem diria. – Peter disse.

– Cadê a Hannah? – Phillip observou.

– Aqui. – a loira disse, aparecendo atrás dos irmãos. Um vestido rosa a envolvia, com algumas pelugens da mesma cor em volta dos ombros. Colares e pulseiras ajudavam no impacto da vestimenta. Os cabelos loiros desciam como uma cascata.

– Não está com seus amigos? – Phillip perguntou apontando para a dupla na pista de dança.

– Melhor não perguntar. – Hannah cortou o assunto e desviou o olhar.

Tomou um susto ao atingir Lucky com seu olhar. O rapaz andava meio desajeitado, com passos moles. Vestia uma regata branca, marcando o corpo e mostrando os braços atléticos devido aos treinos e jogos. Os olhos, pesados, encaravam Hannah, enquanto andava em sua direção.

“O que ele está fazendo aqui?”, Hannah se perguntava, considerando que Tory disse que nem havia mandado convite para Lucky.

Resolveu andar pela boate. O local era enorme e seria fácil despistar o rapaz. Hannah pegou uma pequena garrafa de vodka e começou a beber, enquanto caminhava distraída. Observava os diversos garotos que se encontravam ali. Talvez esquecer de tudo fosse mais fácil do que ela pensava, pelo menos por uma noite.

A bebida foi ao chão espalhando diversos cacos em uma poça alcoólica quando Hannah tropeçou no pé de alguém. Ignorando o incidente, se virou furiosa, encarando o garoto que causou tudo.

– Para começo de conversa, o que você está fazendo aqui? – a loira gritou para Mark, que se encolhia.

– E-Eu fui convidado. – ele gaguejou como resposta.

– Convidado? – Hannah exagerou no sinismo – Entenda, garoto, este aqui não é um lugar para perdedores como você. Nem aqui, nem nenhum lugar do mundo…

– Eu convidei ele. – Tory disse, surgindo entre Hannah e Mark. Wendel a acompanhava, calado – Algum problema com meu voto?

– Mas… Você sempre disse… - Hannah tentava formular uma frase.

– Lucky estava procurando você. – Tory sinalizou com a cabeça, enrolando uma mecha de seu cabelo com o dedo indicador – Talvez queira conversar sobre Miles.

Hannah ficou mais pálida que o normal. Resolveu se retirar, visivelmente incomodada com o assunto. Tory virou o rosto para Mark e disse:

– De nada por te salvar dessa biscate. Vai pagar meu almoço qualquer dia desses. Espero que se divirta, seja lá quem te convidou de verdade. Venha, Wendy.

– AI. MEU. DEUS! – Wendel gritou pausadamente – MINHA MÚSICA!

Wendel puxou Tory novamente para a pista de dança ao ouvir a batida de Worth It. Rebolados e requebrados recomeçaram a roubar olhares, enquanto Mark sentava-se em um canto, isolado.

***

Phillip procurava o ponto mais silencioso, o que era difícil, para atender seu telefone, que tocava insistivamente. Com o nome de Jacqueline do visor, tentou agir normalmente.

– Alô, Jac? – ele chamou com o dedo indicador na outra orelha, para tentar ouvir melhor – Está me ouvindo?

– Phillip,estou chocada! – Jac disse, ou pelo menos foi o que o gêmeo ouviu no meio do barulho – Eu estava certa o tempo todo! Letrisha é a assassina!

– O quê? – Phillip tentava ouvir – A Letrisha?

– Sim! Eu acabei de… - a ligação cortava - … nas coisas dela e… espera, ela chegou, preciso ir!

– Jac, espera! O que você vai fazer? - Phillip tentou uma última comunicação, mas era tarde demais – Merda!

Phillip começou a caminhar entre o corredor de pessoas, a procura de seu irmão. Acabou trombando em Tory, que perdeu seu salto alto mas não deixou uma taça de bebida cair.

– Phillip, e aí! – Tory cumprimentou, estando visivelmente um pouco alterada.

O gêmeo a encarou com uma expressão fechada.

– Que foi, Phill? – Tory perguntou fazendo biquinho e passando delicadamente sua mão pelo rosto do gêmeo, passando depois para o peito dele – Ainda está bravo pelo vídeo vazado? Eu te disse naquela noite, não tenho uma unha postiça nesse acontecido, quem dirá um dedo!

– Ainda vou pensar um pouco se acredito em você. – Phillip respondeu secamente – Cadê seu amiguinho Wendel?

– Eu não sei. Fui buscar este martini no bar e perdi ele de vista. Acho que ouvi ele dizer que ia ao banheiro. – a garota concluiu – E Peter?

– Também perdi de vista.

Nesse momento, a música parou e as luzes da pista de dança se apagaram.

***

A porta de vidro de uma das melhores suítes do Hotel & Hostel estava aberta, dando acesso à varanda. De lá, era possível ter uma visão esplêndida do céu quase noturno, sendo enfeitado por um crepúsculo que tingia a visão em tons rosas e arroxeados, misturando os últimos raios solares a poucas nuvens, como em uma pintura a óleo.

O lençol de tecido oriental, que fora recém trocado, estava perfeitamente esticado sobre a cama king size, e continuou em um bom estado mesmo após ser atingido por uma pequena mala de mão avermelhada.

A porta do quarto permanecia escancarrada e a nova hóspede analisava o quarto, com um braço cruzado em sua cintura enquanto apoiava o outro, que mantinha os dedos em seu queixo. O semblante em seu rosto era uma peculiar mistura de satisfação e análise. Uma fraca brisa que entrava pela porta de vidro aberta balançava o fino vestido branco de seda.

Seu celular, que também estava jogado em cima da cama, começou a tocar, convidando-a para uma chamada vinda de um número desconhecido. Caminhou até o aparelho e atendeu.

– Alô? – a mulher atendeu, tirando uma mecha loira e curta da frente de seus olhos castanhos-esverdeados.

– Tenho informações novas. – a voz grossa respondeu do outro lado – E não serão muito agradáveis para você.

– Diga.

– Tommy Warland foi morto há algumas semanas.

O rosto da mulher ficou inexpressivo e seu olhar se tornou confuso, enquanto encarava um ponto qualquer dentro da suíte. Depois de alguns segundos, respondeu:

– Entendo. Me contate se souber de algo mais.

A ligação foi encerrada e a loira se encaminhou para a varanda, pousando suas delicadas mãos no parapeito de granito. Visava o sol se pondo, enquanto um leve vento mexia em seus cabelos lisos e repicados, um pouco abaixo do queixo. Tocou na fina corrente de seu colar e deslizou seus dedos por ele, até descer em um pequeno diamante que enfeitava o decote do vestido sem mangas, deixando a mostra uma cicatriz em seu toráx, perto de onde estava seu coração. Neste exato momento, um dos empregados do hotel entrou pela porta que estava aberta, trazendo consigo várias malas de viagens, que aparentavam estar pesadas.

– Trouxe o resto das suas bagagens. – o serviçal informou – Gostaria de algo mais, senhora Van Der…

– Não necessita dizer este sobrenome. Não o uso mais. – ela o interrompeu, pedindo com suavidade em sua voz, embora demonstrasse certo poder – E não quero nada mais, obrigada.

– Sim, senhora… Ahn…

– Me chame de Skarlett. – a loira olhou para o rapaz, lhe dando uma leve piscadela.

– Certo, senhora Skarlett. – o empregado concordou – Qualquer coisa que quiser ou precisar, pode ligar na recepção. – e saiu, fechando a porta.

A noite havia chegado finalmente e as luzes urbanas lá em baixo davam vida à cidade. No caminho de Dubai até Reaperswood, Skarlett ouviu algumas coisas sobre os assassinatos que decorriam há um bom tempo. Havia recebido a notícia da morte de Tommy como um tiro em seu peito. Mas ainda mantinha a fé de que tudo daria certo.

– Estou de volta.

***

Wendel caminhava, perdido pelos corredores do local, em busca de um banheiro disponível. O mais perto da pista estava cheio e fila estava enorme, cheio de gente diversificada. Um rapaz apenas de cueca rosa e asinhas de anjo mandou um beijinho no ar para o garoto, que apenas riu e corou.

Perambulando em várias direções, acabou achando um banheiro vazio, meio isolado, que não estava meio fora de funcionamento. Geralmente era usado por funcionários e mantinha um aspecto de que não era limpo há meses.

Logo depois que abriu a porta e entrou, Wendel já sentiu o cheiro forte do local. Os azulejos nas paredes estavam pichados e rabiscados. Alguns tinham números telefônicos, outros desenhos obscenos.

Havia uma divisão de três cabines com vasos sanitários. Na parede oposta, cinco mictórios estavam distribuídos. Porém, dois estavam entupidos com um líquido suspeito, meio amarelado, meio esverdeado. O terceiro estava ocupado por uma cara que escondia seu rosto por meio de um moletom largo com capuz. O quarto e quinto estavam quebrados.

Sem muita escolha e apertado, Wendel tentou a primeira cabine e seu estômago virou de ponta cabeça. Entúpido, o vaso sanitário estava preenchido pela metade com um líquido totalmente escuro. Provavelmente, diversas “substâncias” haviam sido misturadas ali. Em uma rápida olhada, alguns detritos até pareciam estar boiando.

Wendel tentou a segunda cabine, mas a porta estava trancada e não abriria de jeito algum.

– Droga! – ele xingou em voz alta. Olhou ao redor, mas não tinha ninguém por perto. O rapaz parecia ter ido embora.

Foi à terceira cabine, mas nem vaso sanitário tinha ali, apenas um buraco de cano de esgoto. Sem pensar muito, tomou coragem e voltou à primeira cabine. Abriu o zíper de sua bermuda lilás e começou a urinar. Fechou os olhos, tentando não prestar atenção no barulho de mais líquido sendo preenchido e no estado em que se auto-encontrava.

Terminada a ação, recolheu seu membro e fechou o zíper. Por um breve momento, deu uma última olhada para o vaso, exibindo uma óbvia cara de nojo. Se virou para a saída, dando de cara com Reaperface.

Empalideceu-se, ficando assustado. Tentou correr para fora da cabine, mas o assassino foi mais rápido, golpeando-o com um soco. Wendel cambaleou para o lado, apoiando-se na parede suja.

– Socorro! – gritou, mas parecia que ninguém iria ouví-lo.

Reaperface depositou mais um soco na face de Wendel, que foi ao chão. Ficou de joelhos no azulejo frio e sujo. Com a luva negra, o maníaco agarrou nos cabelos de Wendel e depositou sua força, começando a inclinar o rosto dele em direção ao vaso sanitário.

– Não! – Wendel gritou desesperado.

Esticou seus braços. Um deles agarrou na parede e outro na porta do vaso, tentando causa um efeito de freio. Seu rosto estava apenas a alguns centímetros do líquido viscoso e o cheio nojento inundava seus pulmões. Wendel usava toda sua força para impedir que isso acontecesse. Por um breve momento, pensou que iria vencer a disputa, mas Reaperface era mais esperto e lhe deu uma pequena joelhada em um dos braços, fazendo o garoto perder a força.

O rosto de Wendel afundou de uma vez só no líquido escuro. Por erro crucial, antes de ter o rosto mergulhado, abriu a boca para um último grito. O gosto que se instalou no interior e em sua língua foi a pior sensação do mundo. O garoto sentia pedaços de fezes batendo em suas bochechas.

Depois de alguns segundos, quase se afogando, Wendel teve o rosto puxado por Reaperface. Algumas porções da água nojenta se espalharam pelo chão. O jovem abriu a boca, tentando recuperar seu fôlego. O rosto estava manchado.

O maníaco, ainda agarrado em seus cabelos, arrastou-o pelo chão, até o centro do banheiro.

– Soco… Socorro… - Wendel tentava gritar, mas saía quase como um sussurro devido a sua fraqueza.

Com a visão turva e embaçada, o jovem observou Reaperface com uma corrente em outra mão. Em um movimento rápido, um golpe atingiu o rosto de Wendel e tudo ficou escuro para ele.

***

No meio da escuridão repentina, Brenda se perdeu de Johnny. Tentava mandar mensagem ou ligar para o amigo, quano um link suspeito apareceu como notificação. No silêncio da boate, ouviu alertas de outros celulares, sinal que mais pessoas haviam recebido a mesma coisa. Apertou no endereço eletrônico, que levou-a até uma página da web onde eram publicados trechos da história escrita pelo assassino.

Nesta página, estava apenas um pequeno parágrafo, sobre uma teoria da psicanálise de Freud:

“Ernest Lanzer foi um paciente de Freud, que recebeu um pseudônimo de ‘homem dos ratos’. Isso devido ao fato de que Ernest imaginar sua família e sua namorada sendo torturados com uma técnica de tortura asiática, envolvendo ratos. O problema, constatado por Freud, era de que Ernest tinha sua não tão sã consciência entre uma linha tênue de cuidar e ferir seus entes queridos, em desejos inconscientes.”

Brenda ficou confusa com isso. O que Reaperface queria dizer com isso? Teria alguma coisa a ver com os assassinatos?

O telão do palco da boate se acendeu, anunciando a chegada de Penny Queen, enquanto uma mão agarrou-se ao ombro da gótica, que se assustou.

– Vince! Que susto! – Brenda disse.

– Eu não me lembro de você poder entrar aqui. – Vince repreendeu.

– Desde quando você é um irmão careta e responsável? – Brenda perguntou cruzando os braços.

– É, tem razão.

Uma leve melodia de piano ecoou pela boate e Penny Queen adentrou no palco.

***

Wendel recobrou sua consciência ao ter seu rosto lavado por algum líquido que ele preferia não saber o que era. Ao conseguir focar sua visão, seu coração começou a acelerar, encarando a máscara cadavérica de Reaperface, que inclinava a cabeça para o lado, em dúvida se o garoto havia mesmo acordado.

Ao olhar para seu próprio corpo, Wendel notara que suas roupas foram rasgadas, restando-lhe apenas alguns trapos. Sua bermuda tampava somente o necessário e praticamente toda sua camisa se tornou fiapos de pano.

Tentou se mexer mas logo percebeu que estava acorrentado e pendurado no centro do banheiro, com os braços esticados para cima. Em sua boca, uma meia enrolada impedia sua voz de sair, além de causar extremo desconforto.

Reaperface deu alguns passos para o lado. Sacou uma faca pequena e pontiaguda e sem piedade, perfurou lentamente o braço de Wendel que já fora ferido pelo próprio maníaco anteriormente. Sangue escorreu pelo braço do garoto, até começar a pingar no chão. Ele queria gritar, mas não podia, então mordia a meia enrolada em sua boca com toda a força, tentando distrair a dor.

Seus olhos lacrimejavam cada vez mais, de acordo com a profundidade que a faca era cravada, lentamente. Depois de atingir certo ponto, Reaperface tirou sua arma e deixou Wendel respirar por um pouco. Se encaminhou para a pia do banheiro, ao lado dos mictórios.

Perto de uma das torneiras, estava posta uma pequena mala. Reaperface colocou a faca ao seu lado e abriu o zíper. Começou a mexer dentro da bolsa, a procura de algo. Wendel puxava as correntes, jogando o peso de seu corpo para o chão, mas nada parecia dar certo.

Reaperface tirou da mochila um pequeno balde metálico e colocou no chão, perto de Wendel. Depois, um pequeno maçarico. Testou o aparelho, soltando pequenas chamas no ar. A máscara não mudava sua expressão facial, mas nesse momento parecia sorrir.

O maníaco rastejou seus passos até a cabine que não possuía vaso sanitário. Ficou observando o buraco do cano de esgoto por alguns segundos e Wendel já estava pensando em desistência. Reaperface se inclinou e colocou o braço no cano do esgoto.

A ratazana estava agitada quando foi erguida pelo assassino, pendurada pelo rabo. Depois, ele segurou-a pelo corpo, apertando-lhe com um pouco mais de força do que deveria e aproximou do rosto de Wendel, que tentou se distanciar, falhando. O roedor mexeu o nariz, farejando o garoto.

Reaperface jogou o rato dentro do balde e depois começou a rasgar ainda mais as roupas de Wendel, quase deixando-o desnudo. Segurou o balde metálico pela borda e pressionou a parte aberta contra a barriga do garoto, que tentou mais uma vez se mexer.

O assassino acendeu seu maçarico e colocou em baixo do balde, começando a esquentar a superfície metálica. Wendel olhava incrédulo, pensando no que Reaperface estava fazendo. Não demorou muito para obter respostas.

Com a temperatura do balde elevado, a ratazana tentou escapar pelo lado mais acessível: a barriga de Wendel. O animal começou a roer e arranhar frenéticamente o abdômen do garoto, que gritava de dor, mas devido a meia em sua boca, saía como um gemido agonizante.

A tortura seguiu por mais alguns segundos, até Reaperface tirar o balde e, para acalmar o bicho dentro dele, molhou com um pouco de água da torneira. A barriga de Wendel estava muito ferida, com diversas linhas avermelhadas, que escorriam sangue.

Lágrimas de dor desciam pela face de Wendel, que mantinha a cabeça cabisbaixa, sem forças. Reaperface ficou parado, analisando o sofrimento de sua vítima, criando um clima totalmente sádico. Andou lentamente até o garoto, rasgando totalmente suas vestimentas.

Pegou novamente o balde e encaixou em volta das nádegas de Wendel, que já aparentava estar quase desmaiando novamente. A chama do maçarico acendeu-se novamente e a ratazana se agitou, mais nervosa do que anteriormente.

Wendel arregalou os olhos e gastou todo o fôlego do seu pulmão, mas tendo o grito engolindo por sua própria garganta. A ratazana enfurecida arranhava, mordia e atacava com toda as suas energias, tentando escapar daquela armadilha agonizante.

A vítima cambaleava sua cabeça, ameaçando desmaiar. Então, Reaperface jogou o balde para qualquer canto do banheiro. A ratazana aproveitou a chance e fugiu. O maníaco caminhou até sua mochila e tirou uma faca dentada dos dois lados.

Aproximando-se de Wendel, começou a cortá-lo em várias partes do corpo, formando uma poça de sangue em seus pés, que já estava com uma grande marca devido ao líquido rubro que escorria pelas pernas do garoto, vindo de seu ânus ferido.

Reaperface reforçava os machucados feitos pela ratazana na barriga de Wendel, causando mais sangramento. Por último, aproximou a máscara do rosto do rapaz. Fez um pequeno ‘X’ com a faca no lado esquerdo de seu peito.

– Hora do show. – uma voz macabra sussurou atrás da máscara.

O último golpe cravou a faca no coração de Wendel.

***

Penny caminhava lentamente pelo palco da boate, com o microfone em suas mãos. Seus saltos altos faziam música no quase silêncio do local, com um piano em som baixo.

– Eu sei que vocês vieram aqui para dançar e curtir música animada. – ela disse no microfone – Mas queria um pouco da atenção de vocês para uma música que transfere os sentimentos do meu coração para o exterior.

Com a deixa da cantora, a melodia do piano foi se tornando mais viva. Penny Queen chegou ao centro do palco, olhando ao redor. Para o público, era apenas um charme, mas ela estava procurando uma pessoa.

A knifein my heart, thrown to the ground, all apart – sua voz saía doce pelo ambiente – But I found you, and could heal it. Take my emotions, take, you can take it.

Seu olhar, dez vezes mais agitado que sua voz lenta, procurava por Alex.

The heart of scars is unreal now, and we are turning down and down. – olhou para o centro da boate e recebeu um beijo no ar de uma garota ao lado de um cara barbuda. Alex.

A música estava se tornando mais forte perto do refrão e com a presença de convidados especiais. Penny exagerava na interpretação dramática da música. Mais alguns segundos e um globo de festa deslizaria por um mecanismo no teto. A cantora tiraria a parte de baixo de seu vestido e a parte animada do show começaria.

O globo apareceu no teto, vindo em direção do meio do palco. Penny finalizou o último agudo da música e se preparou para a transformação. As luzes se acenderam e as belas notas músicais se tornaram um grito de horror da cantora.

Todos os convidados seguiram o olhar de Penny até o globo, fitando a esfera luminosa. Nela, o corpo nú de Wendel estava pendurado e acorrentado. Sua boca estava aberta e parecia estar preenchida com alguma coisa. Feridas em suas partes genitálias e em todo o corpo foram iluminadas pela luz do lugar. As pessoas gritaram horrorizadas. Algumas começaram a correr, devastadas. Outras filmavam ou tiravam fotos.

Brenda e Johnny se juntaram a Phillip e Peter, perto de Vince e Alex. O grito de Tory foi ouvido em algum lugar na pista de dança, clamando pelo nome do falecido.

O globo começou a fazer círculos, girando o corpo de Wendel. As correntes em sua volta começaram a ficarem fracas, até soltarem o defunto, que caiu estatelado no chão. Um estalo proveio de seu maxilar e o que estava dentro de sua boca saiu rolando. Penny, mesmo com relutância, se viu na tentação da curiosidade. Deu alguns passos e visou que era um pedaço do coração do garoto morto.

Soltou mais um grito.

***

Já era noite quando o corpo de Wendel, ou o que restou dele, foi levado. Um pequeno grupo estava reunido do lado de fora da boate, afastado da multidão. Peter e Phillip se mantinham perto um do outro. Brenda estava sentada no chão, meio isolada, já que Johnny havia ido embora e seu irmão estava resolvendo alguma coisa. Lucky também não havia aparecido mais. Mark andava de um lado para o outro, agitado.

– Mais mortos, mais mortos…

Tory tinha rímel escorrendo pelos olhos, embora tivesse sua clássica expressão de arrogância. Hannah se aproximou do pequeno grupo e recebeu diversos olhares de negação, mas mesmo assim permaneceu onde estava.

– Espero que você esteja feliz agora. – Tory disparou olhando para Hannah.

– Eu estaria feliz se tivesse ganhado na loteria. – Hannah cuspiu.

– Foi você, não foi? – Tory indagou – Ficou com inveja por quê Wendel era melhor do que você, não é?

– Garota, quer parar? – Hannah disse – Eu já sabia que você era viciada em macho, mas agora em passar vergonha é nova.

– Nem uma vadia tão desprezível como eu gostaria de ter você ao meu lado. – Tory respondeu dando as costas para o grupo.

– Wendel nem era tão bom assim. – Hannah comentou baixo, mas o suficiente para todos escutarem – Eu gostava dele, ele fará falta mas…

– Você não percebe que está sendo rejeitada por todos? – Brenda levantou, assim como sua voz – Até mesmo Lucas, o qual você poderia ter algum tipo de sentimento, largou de você.

– Eu? Você deveria ficar no seu lugar, gótica! – Hannah respondeu grosseiramente, pressionando seu dedo indicador contra o corpo de Brenda.

– Fica longe de mim, vadia! – Brenda disparou um tapa contra o rosto da loira.

A rodinha se manteve sem reação na situação. Hannah olhou incrédula, com a mão em seu rosto. Se preparou para revidar, mas Peter e Phillip interviram. O gêmeo mais velho segurava a mão de Hannah, impedindo que ela desse mais energia para a briga.

– Hannah, vai para casa, descansar. – Peter disse docemente.

– Brenda, vamos embora. – Vince disse, chegando com Alex ali – Deixa reunião do Suicide Squad para depois.

– Sem brigas, pessoal, sem brigas. – Mark falou baixinho.

Brenda saiu do local com seu irmão e Alex

Hannah foi embora do loca, mantendo uma expressão sólida enquanto tocava em sua bochecha, que ainda estava incomodada com a ardência do tapa que levou.

***

Brenda estava deitada nos bancos traseiros do carro de Vince, fitando as rápidas luzes que passavam pela janela. Seu irmão e Alex ocupavam os bancos da frente e o silêncio predominava, começando a consumir tudo que podia.

Todos estavam abismados com a morte de Wendel e em como o assassino se superava no quesito crueldade.

Alex acabara de mandar uma mensagem para Penny, dizendo que esperava estar tudo bem com ela. Em alguns sites de fofoca, jornais e rádios de notícias lançavam matérias sobre a grande popstar Penny Queen estar envolvida em um assassinato em uma boate. "Sensacionalistas de merda", ela pensava.

O carro começou a desacelerar ao se aproximar de um certo tumulto na rua, que antes estava deserta.Rodinhas de vizinhos curiosos se intercalavam na frente de uma das casas. Dava-se para notar que duas viaturas policiais estavam paradas ali também, pois era visível as luzes vermelhas e azuis enfeitando o cenário.

– O que está acontecendo? - Brenda perguntou, sentando no banco ao perceber a desaceleração do veículo.

– Polícia. - Vince respondeu direto - Sentem direito e botem o cinto.

– Nossa, que B.O fortíssimo! - Brenda ironizou ajeitando sua postura. Alex fez o mesmo.

Vince resolveu estacionar o carro carro perto de onde o tumulto estava acontecendo para averiguar o ocorrido.

Parecia que alguns policiais ainda estavam dentro de casa.

Uma senhora que andava com sua filha acabou sendo abordada por Brenda:

– Ei, senhora? O que está havendo?

– O maníaco foi preso! - a garota respondeu pela mãe, visivelmente entusiasmada.

– Agora ou assassinatos vão parar, graças a Deus! - foi a vez da senhora dizer, saindo de perto.

Alex encarou os irmãos.

– Pegaram o assassino?

– É o que vamos descobrir. - Vince disse tirando seu cinto e saindo do carro.

– Se eu soubesse nem teria posto essa merda. - Brenda resmungou fazendo os mesmos movimentos do irmão. Alex a seguiu.

O trio caminhou por entre as pessoas, tentando obter alguma informação interessante.

Vince conseguiu chegar no exato lugar e tempo para ver os policiais saindo da residência. Um deles trazia consigo uma faca de caça manchada - de sangue, provavelmente - dentro de um saco plástico. Outros dois traziam consigo o dono dela. Ou melhor, dona.

– Essa faca não é minha! - Letrisha gritava enquanto era levada para fora de sua casa - Eu não sou assassina!

– Testes primários encontraram suas digitais na faca. Você se nega a ir até a delegacia para esclarecer tudo. - um dos policiais falou.

– Mas eu não matei ninguém, eu juro! - Letrisha escandalizava.

A garota acabou sendo colocada dentro da viatura policial.

Vince ainda encarou Letrisha batendo lentamente a testa na janela do veículo, com desespero em seu rosto.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Não esqueçam de comentar. Quem vocês acham que está por trás do Reaperface?



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