Slasher Story escrita por PW, Felipe Chemim, VinnieCamargo


Capítulo 12
1x12: Terror Natalino (PART I) - Papai Noel Está Morto


Notas iniciais do capítulo

Escrito com sangue e víscera por PW.



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Os veículos de Peter e Vincent arrancaram na estrada de terra do bosque, fazendo uma nuvem de poeira subir, enquanto a brisa dissipava-a de maneira solene. Em meio à escuridão, era possível enxergar uma bicicleta azul escondida na vegetação. Lá também, abaixado, estava um jovem de óculos e capuz preto. Ele ergueu-se, pegou a bicicleta e saiu do bosque, ao ver a fumaça do corpo incendiado de Leon, perdendo tamanho.

x-x-x

Mark acabava de começar mais um capítulo de sua fanfic, mas parou por conta de um bloqueio mental. Bateu o punho na mesa e encarou a aba aberta do Google. Refletiu por alguns segundos e digitou o seguinte endereço:

“slasherstory.com”

O site abriu com uma tela negra e o nome em vermelho dava o título do site. Ali era onde o assassino de Reaperswood estava depositando todas suas anotações das mortes, fazendo de toda aquela matança, sua própria história, uma fanfic slasher em forma de livro com a alcunha Slasher Story. Ele já publicara onze capítulos, o que será que ele colocaria no décimo segundo?

Mark já tinha alguma ideia do que aconteceria ali em diante. Reaperface não descansaria até ter todas as vítimas mortas até o último ato. Mark só não tinha ciência de quem era o próximo ou os próximos. Estava com medo, sua fobia estava deixando-o numa crise infindável de desconfiança. Ele sabia que a maioria destes casos fazia parte das suas crises de pânico. Parecia sentir medo da própria sombra. A todo instante sentia uma presença, como se estivesse sendo seguido.

Também sabia que algo precisava ser feito a respeito para reverter aquela situação. Mark possuía provas de que seus colegas de escola não eram as pessoas que imaginava ser.

E a morte de Letrisha só reforçou a ideia de que ele poderia realizar um feito em prol de todos. Faria o verdadeiro assassino ir parar atrás das grades.

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Sob o sol da manhã de Reaperswood, Peter sentou sozinho na fonte pela primeira vez, e pela primeira vez não sabia onde Phillip estava. O que era bastante irônico, vide que ambos nunca se desgrudaram dessa forma. Suspirou e colocou seus óculos escuros, pondo a mochila ao lado. Lembrava de como costumava ver aquele lugar cheio, sentia falta dos outros: Kat, Marley, Miles... Mas tudo que tinha agora era a ele mesmo.

Phillip estava metido com coisas das quais ele constantemente evitava falar, Tory vivia ocupada tentando aumentar sua já explosiva fama dentro do high school, e Lucas se tornara um rapaz estranho depois da morte da namorada. Todos eles estavam afastados e Peter tentava seguir adiante sem a presença deles, que outrora era grande. Precisava lidar com aquela ausência, afinal, com a morte de Letrisha – dada como a assassina conhecida por Reaperface –, o assassino estava solto novamente e pronto pra terminar o que começou.

Ficou ali sentindo a brisa quente por mais algum tempo, até que pegou o celular e discou o número de Blaire. Esperou que a garota atendesse prontamente, o que não aconteceu. O celular chamou tanto, que a caixa postal foi imprescindível. Peter resolveu deixar um recado:

— Blaire, eu sei que está acontecendo alguma coisa. Então, assim que puder, me liga ou atende o telefone. Estou preocupado.

Desligou e continuou fitando o pátio da escola.

Suspirou e pegou a mochila, decidido a ir fazer algo mais produtivo. Quando esbarrou em alguém passando por ele como um vulto. Peter agarrou o braço do indivíduo e indagou:

— Não olha por onde anda, babaca?

Ele tirou o capuz preto e encarou Peter no fundo dos olhos. Mark deu um riso baixo e ficou de frente para Van Der Hills.

— Ah, é você...

— Oi Peter.

— Nem vem tentando puxar papo, Mark. — Peter saiu andando, sem olhar para trás. — Não tenho tempo a perder com um doente feito você.

Mark soltou uma risada e em seguida disparou:

— Se eu fosse você, daria bastante atenção a mim, afinal, eu sou um personagem crucial nessa história. Posso acabar contigo apenas vazando um vídeo.

Desta vez, quem riu foi Peter, de maneira irônica. Ele olhou por cima do ombro e fitou Mark recolocando o capuz e se aproximando com seu celular em mãos.

— De vídeos eu já estou cheio. Chega de reality shows! Está falando com a pessoa errada, otário. Lucky é quem gosta disso. — Van Der Hills disse, caminhando na direção contrária de Mark.

— Nem se esse vídeo, em que você mata o professor Leon Moreira, caísse nas mãos do Xerife Browning?

O corpo de Peter gelou. Pela primeira vez, ele se sentia ameaçado por Mark Reynolds, o esquizofrênico do clube de teatro.

— Seria uma pena não é mesmo? Você e seus amiguinhos jogados atrás das grades por causa da burrada que fizeram. Eu estava lá, Peter, eu vi tudo! — Mark falando num tom sombrio que o gêmeo nunca tinha ouvido.

De onde estava, Mark mostrou o vídeo. Era o momento em que Peter golpeava Leon várias vezes na cabeça com a estatueta. Fora filmado de fora da casa de Tory, do outro lado da rua, mas com zoom acionado. Embora o outro já soubesse que mais pessoas estavam envolvidas no crime, era possível ver apenas Peter na filmagem. Ao final do vídeo, a voz de Vincent aparecia e sua mão batia na câmera, obrigando Mark a desligar.

Peter ergueu o olhar de fúria sobre o outro garoto e seu instinto o fez acertar a mão no celular, que caiu para o lado, mas não sofreu nenhum dano. Quanto mais barato, mais resistente, Mark pensou. Em seguida, o gêmeo investiu contra Mark e levou suas mãos ao pescoço dele. Começou a comprimi-lo de maneira violenta, enquanto o jovem de capuz lutava para tirá-lo de cima de si.

— Vai vazar esse vídeo no inferno, seu desgraçado!

— Você está com medo de mim agora, Peter? — A voz saia com dificuldade, enquanto sentia a garganta se comprimir.

O olhar de Mark estava diferente, mais sádico e sua voz assumiu um tom mais maligno. Aquele não parecia ser o Mark perdedor que o gêmeo conhecera no clube de teatro.

Mark tossiu e viu quando duas pessoas apareceram atrás de Peter. Tory e Lucky o seguraram e puxaram, tirando-o de cima do encapuzado. Mark tossiu mais vezes e pegou o celular rapidamente, correndo para longe dali.

— Seu fim está próximo, Peter! — Gritou.

— Você está bem, cara? — Lucky perguntou.

Peter arrumou sua jaqueta e sorriu de lado, acenando positivamente. Tory encarava Mark fugindo com olhar de indiferença.

— O que aconteceu? — Perguntou.

— Aquele imbecil sabe que matei Leon e que vocês ajudaram a nos livrarmos do corpo.

— Merda! — Lucas exclamou. — Então, o que vamos fazer?

— Não parece óbvio? — Tory riu e cruzou os braços.

Peter respondeu de maneira séria:

— Isso significa que temos que nos livrar de outro corpo.

 

OPENING THEME

SLASHER STORY

1X12: Terror Natalino (Part I) - Papai Noel Está Morto

O sol entrava pelo grande salão espelhado do estúdio de dança de Reaperswood. Hannah estava acompanhada da mãe, ambas fazendo movimentos leves e graciosos numa sessão de Yoga, o qual as duas praticavam desde que Hannah era apenas um bebê, para ajudar sua mãe em uma possível depressão pós-parto.

De cabeça para baixo, com as pernas esticadas e eretas, Hannah encarava o piso de maneira desinteressada. A instrutora explanava algumas dicas e elas tentavam se concentrar ao fundo.

Sem deixar que a instrutora notasse sua falta de concentração, Hannah virou para a mãe e disse:

— Não estou conseguindo focar na atividade hoje, mamãe... Não sei o que está havendo. Talvez seja a ansiedade para passarmos o natal juntas este ano. — Ela se desvencilhou do movimento e sentou.

— Querida, eu sinto muito... Até iria te contar, mas já que tocou no assunto... — Ainda de olhos fechados, a mãe da loira disse em tom de pesar. — Não vamos passar este natal, reunidos, infelizmente.

— O quê? — Hannah berrou e ficou de pé no salão. — Co-como assim? Por quê?

Sua mãe fingiu não estar completamente constrangida. Continuou sentada em posição de meditação, de olhos fechados e com a cabeça relaxada. A filha chamou a atenção de todas as alunas da aula.

— Seu pai teve complicações no trabalho e vamos precisar viajar até o Caribe para resolver estas e outras questões jurídicas. — A mulher de cabelos platinados abriu um dos olhos.

— Caribe?! — Hannah estava exasperada.

— Isso. Esqueceu que sua tia Miley tem um escritório de advocacia no Caribe?

— E você fala isso com a maior tranquilidade? Vão deixar a filha única passar o natal, sozinha, mais uma vez? — Hannah bufou. — Enquanto vão curtir o quê? Deixe-me adivinhar... Luais, dançarinos seminus e coquetéis afrodisíacos?

O rosto da garota estava vermelho de frustração e irritação.

— Querida, use a casa do lago, chame seus amigos, faça uma festa. Você é boa nisso. — Sua mãe fechou os olhos novamente. — Ou se preferir... Ligo para seus avós, eles vão adorar te obrigar a jogar baralho e fazer biscoitos com cobertura de ervas medicinais.

A filha não aguentou o clima pesado e fez uma careta, estava com vontade de xingar sua mãe de egoísta, mas ela também não era nenhuma alma caridosa, então seria chover no molhado. Já que não era a primeira vez que sua mãe lhe abandonava perto das vésperas do natal. E dessa vez ela se negava a passar o natal com os avós maternos, que eram mais excêntricos que a própria mãe.

— Já estou indo. — Hannah disse por fim, pegando sua bolsa e saindo do salão com o semblante de reprovação da instrutora.

— Não me espere, querida.

Sua mãe buscou se concentrar novamente, juntando os dedos e as solas dos pés, fazendo um som com a boca, típico do Yoga.

x-x-x

Hannah saiu do estúdio de dança com os olhos marejados, se odiando por ter uma família tão próxima, mas ao mesmo tempo tão distante emocionalmente. Andava rápido e carregava sua bolsa transversal rosa. Vestia uma camiseta cropped branca e legin cinza, marcando seu corpo atlético, fruto do balé.

O cabelo loiro e longo amarrado em um simples de cavalo balançava à medida que ela avançava pela calçada, próxima das docas. O sol estava se preparando para se por e seu rosto assumiu tom alaranjado ao ser banhado por ele.

Baixou a cabeça e começou a pensar em como poderia fazer para seu natal não ser um completo desastre, como veio se repetindo durante os últimos cinco anos. A cada ano sua mãe só demonstrava estar mais longe, mais desinteressada em tê-la por perto e mais ocupada com assuntos dos quais, Hannah desconfiava ser apenas diversão. Talvez sua mãe tivesse se cansado de ter que lhe dar toda a atenção. Ou talvez ela só achasse que Hannah estava crescida demais pra ser mimada como antes.

— Mas é natal, poxa! Não quero presentes, só quero a companhia deles... — Murmurou para si, mas acabou saindo deveras alto. — Pelo menos uma vez.

— Solitária também?

A voz pegou Hannah de surpresa, que recuou e parou.

Viu Lucky encostado na amurada das docas, observando o início do pôr-do-sol. Ficou com receio de se aproximar, mas sua vida já estava tão ruim, que achou que não tinha como piorar.

— Meus pais não querem saber de mim nesse natal e você?

— Queria ter alguém pra se importar nesse natal, mas perdi a única pessoa que poderia ser a melhor companhia verdadeira este ano. — Ele falou. Olhava para o mar distraído.

Hannah sentiu o pesar de tocar naquele assunto. Lucas amava Miles de verdade, mas ela não queria prolongar a saudade, ela se machucaria também.

— Vai ver, este é o preço que tenho a pagar por ter pensado só em mim. — Suspirou pesadamente.

Hannah encostou-se na amurada ao lado de Lucky. O rapaz continuou calado, mastigando as palavras que sairiam. A loira olhou para o mar se chocando contra as pedras.

— Sinto muito por tudo que houve, de coração. Se é que tenho algum... — Os olhos voltaram a ficar marejados. — Eu nunca deveria ter soltado a mão da Miles desse jeito. Me aproximei da Tory por causa de uma vingança medíocre. E estava apavorada com a ideia de morrer naquele momento martelando na minha cabeça, acho que meu egoísmo estava maquiado na cumplicidade. Enquanto achei que estava salvando nós dois, no fim, estava salvando só a minha pele. — Uma lágrima desceu, mas rapidamente Hannah limpou-a.

Lucky fingiu não ver o choro e também olhou para o mar.

— Bom, estava pensando e vou dar uma festa amanhã. Não posso passar o natal à míngua de novo. Está convidado, se quiser aparecer.

O atleta pareceu não se importar com o convite. Disse:

— No fim, acabou salvando a nós dois mesmo. Mas do que adianta? Sem a Miles eu me sinto morto. Até cogitei pedir pra sair do time de Lacrosse depois de tudo. — Lucky disse, arqueando os ombros na amurada. — Só de imaginar que ela não estará na arquibancada para me ver jogar uma das partidas mais importantes da temporada...

— Ei, os Ceifadores não podem perder o astro do time! Quem vai ser a âncora deles, se sair?

Lucky deu um riso consternado.

— Não sei de quem foi a ideia de te dar esse choque de realidade, mas creio que esteja surtindo efeito.

— Você ainda tem a foto? — A loira perguntou num rompante.

— Foto?

— A foto que tirei de nós três aqui nas docas.

— Só tenho a que tirou da Miles e de mim. A nossa selfie eu rasguei. — Ele disse de modo sério, como se a punisse.

Hannah arqueou os ombros e assentiu em silêncio, até disparar:

— A verdade é que não deveríamos ter apunhalado a Melissa pelas costas, e se arrependimento matasse, eu já estava morta. — Hannah disse séria.

Até que seu celular tocou. A loira olhou no visor e o número de Miles fez sua espinha gelar. Já sabia de quem se tratava. Trêmula, ela atendeu:

— A-alô?

— Olá Hannah! Que tal eu ser seu arrependimento hoje? Posso picar você em vários pedaços e depois dar para as gaivotas comerem! Acredito que elas curtam carne de piranha.

A voz modificada de Reaperface.

— Vai se ferrar, seu otário! — A loira cuspiu. — Piranha é a sua mãe!

— Quem é? — Lucky perguntou.

Hannah desligou.

— Precisamos ir embora, o assassino está aqui!

Então, ela começou a correr de volta para a calçada, as docas estavam desertas àquela hora tarde, os dois seriam alvos fáceis. O piso de madeira embaixo da loira começou a ranger, enquanto seus passos apressados lhe levavam para uma passarela entre dois contenderes vermelhos. Ela olhou para trás e não viu mais Lucky.

Hannah entrou no corredor formado por dois contenderes e não viu mais ninguém, ela estava sozinha. Até que olhou para trás e avistou Reaperface vindo ao seu encalço.

A garota arregalou os olhos quando viu o que ele segurava em mãos. Uma besta carregada.

— Socorro! — Gritou, batendo nos contenderes, na tentativa de chamar atenção.

Mas Reaperface corria mais rápido. A loira então enxergou uma escada de ferro que ficava mais à frente. O assassino não esperou que ela alcançasse a escada e disparou a primeira flecha, que passou de raspão em seu braço. Hannah gritou assustada, sentindo o filete de sangue quente descer. Olhou por cima dos ombros, Reaperface estava mais perto.

Em um movimento rápido, ela retirou uma das sapatilhas e arremessou contra o cara de ceifador, que recuou com a sapatada na cara. Hannah havia ganhado certa vantagem de distância, mas ele estava com uma besta, ela sabia que distância não era um problema.

Continuou correndo para alcançar a escada e virou-se para se certificar de que ele não estava tão perto. Até que não viu nada. Reaperface havia sumido. Ela se escondeu entre dois contenderes e parou para respirar fundo.

De repente, uma mão agarrou seus braços e tapou sua boca. Hannah viu o vulto da flecha na mão do algoz e soltou um berro abafado. O rabo de cavalo já estava desfeito e seu coração acelerou. Lucky pediu que ela fizesse silêncio.

Reaperface passou ao fundo, sem ver os dois escondidos.

— O que está fazendo com essa flecha? — Hannah sussurrou.

— Encontrei fincada em um contender. — Lucky estava suando frio.

A garota apontou para a escada de ferro e os dois correram até lá, subindo em um dos contenderes.

— Vai ser mais fácil enxergar ele daqui de cima. — O rapaz disse.

— E o que vai fazer caso ele aponte aquela merda na sua cara?

— Eu sou o astro do time, esqueceu? Minha pontaria é certeira. Posso rasgar o pescoço dele daqui, se quiser. — Lucky abaixou-se.

A garota sentiu uma onda fria passar pelo corpo. Começou a vasculhar o local, mas nem um sinal do Reaperface.

— Acho que ele foi embora. — Murmurou ela.

Uma gaivota sobrevoou o contender e assustou Hannah que deu um grito e se desequilibrou. Seu corpo ameaçou despencar lá de cima, mas Lucky foi mais rápido e segurou sua mão no último segundo.

No final do pequeno corredor escuro entre os dois contenderes, Reaperface surgiu segurando a besta. Ele observava Hannah pendurada e Lucas tentando puxá-la de volta. Ambos viram o assassino se aproximando.

Testava-os.

— PUTA QUE PARIU! LUCKY ME AJUDA! — Hannah berrou mais uma vez, balançando as pernas para alcançar a lateral do contender vermelho.

— Sua mão está escorregando, porra!

Os olhos da garota arregalaram-se ao ver o assassino erguendo a besta na direção dela. Os cabelos longos esvoaçantes e sua mão escorregando pelo suor frio.

— LUCAS!!!  

Flashes da morte de Miles passavam em sua cabeça, enquanto ele ouvia Hannah pedindo ajuda. O rosto apavorado de Miles na tela do notebook, o corpo da garota jogado no meio da estufa, completamente desfigurado. Ele não queria ter que passar por isso de novo, ele poderia reverter a situação dessa vez. Assim como ele poderia se vingar de Hannah e sentir-se culpado pela morte de ambas pelo resto da sua vida.

Então, reuniu sua força e puxou Hannah para cima de uma só vez. O assassino disparou duas flechas, uma seguida da outra.

A primeira atingiu o ombro da garota e a segunda, a mão do jogador. Ambos caíram em cima do contender, sangrando.

— Liga para a emergência... — Hannah gemeu de dor com o ombro banhado em sangue.

Lucky viu a garota tombar a cabeça e apagar em seguida, os cabelos caíram sobre o rosto, com algumas mechas da poça de sangue espalhada pelo teto do contender.

O atleta olhou para a mão ensopada do líquido vermelho e alcançou o celular, discando para a emergência.

— Venham rápido... Por fav-

Primeiro o sol se pondo e depois, tudo escureceu.

x-x-x

As nuvens engoliam a lua aos poucos, acima das cabeças de Roderick e Cindy. Ambos caminhavam pela calçada de uma rua parcialmente deserta. Alguns jogadores de basquete de rua voltavam para casa depois de um treino, e duas garotas conversavam em frente a uma lanchonete.

Cindy andava pelo meio-fio da calçada, com um pé na frente do outro – enfiados em tênis converse – e os braços estendidos como se estivesse se equilibrando. Olhava para o chão e ria infantilmente com seus dentes desalinhados, desafiando a si mesma. Os cabelos lisos e escuros sob o chapéu preto pequeno mexiam-se vertiginosamente, cobrindo por vezes a parte superior da blusa branca customizada. Também usava um shorts jeans customizado por ela mesma, com alguns improvisos de detalhes que lembravam a estamparia indiana. Já Roderick tinha as duas mãos dentro dos bolsos do sobretudo preto de couro. Ele andava solenemente ao lado de Cindy e os dois eram completos opostos naquele momento.

— Vai demorar muito pra chegarmos? — Ela perguntou, impaciente, ainda tentando se concentrar em não cair do meio-fio.

— Só mais um quarteirão. — Roderick respondeu pragmático, olhando sempre para frente.

— Quem é seu novo amigo? Ele é bonito? E é legal? Ele tem que ser legal! Não pode ser um chato feito você, Rod.

— Você saberá quando chegarmos lá, Cin.

— Vai demorar demais...

— Pode voltar se quiser, eu não pedi para vir comigo. — Ele respondeu por fim.

A garota fez muxoxo e desistiu de equilibrar-se. Passou a andar com as mãos atrás do corpo e com passos despreocupados, sem dar a mínima para a arrogância do amigo.

Roderick era uma pessoa amável, paciente e leal, mas quando se tratava de Cindy, ele perdia a cabeça facilmente, chegando a ser grosso mesmo que fosse acidental. Ele tinha certeza de que ela relevava tudo com seu jeito simpático e bem humorado, mas não era de ferro. Ela era o que ele não tinha em si, e vice-versa. Os dois amigos se completavam de qualquer forma e a relação funcionava num tipo de bromance.

Roderick admirava muito a amiga por ser tão forte e transparecer resistência, quando já passara por coisas terríveis na vida. A família Aläuk não possuía uma boa história para contar. Os pais de Cindy – um indiano e uma mexicana, de bisavós indianos – vieram refugiados da Ásia Meridional quando ela ainda era um bebê e a garota cresceu com a incerteza de que na manhã seguinte, acordaria e veria os dois sorrindo e dizendo que tudo ficaria bem.

Vagaram por meses nas vielas úmidas e inseguras, até encontrarem e se instalarem em um cortiço, sempre perseguidos pelos preconceitos e pelos cobradores de dívidas, já que precisaram criar algumas para alimentar a pequena criança. Sua vida era uma verdadeira bomba-relógio, que a qualquer momento poderia explodir e deixá-la em cacos.

Até que explodiu.

Roderick conhecia bem a história, pois Cindy havia lhe confiado seu passado, porém, lembrar era difícil e ele podia sentir-se como a amiga. De fato, era uma garota frágil, mas com coração puro e de sinceridade genuína. O que não poderia ser dito dele e tinha ciência disso.

— E agora? Já chegamos?

— Sim. — Roderick suspirou.

Cindy olhou para a fachada do lugar e arrepiou-se. A lua surgiu por trás do arco fúnebre do portão do cemitério de Reaperswood.

— Eu poderia ter escolhido não ter um amigo gótico? — Virou-se para ele, enrolava uma mecha do cabelo no dedo indicador.

— Não.

Enquanto ambos entravam no local, após o rangido desconfortável do portão de ferro, Cindy disparou:

— Sem velas negras, círculos com crânios, pentagramas invertidos, sangues de bodes e sacrifícios de virgens, ok? — O tênis dela rangia sobre alguns túmulos.

— Você seria a primeira. — Roderick mostrou um olhar assustador.

A garota latina recuou e deu um leve tapa em seu ombro.

— Nem de brincadeira, Rod. Você tem olhos verdes lindos e uma voz doce, mas isso não seria o suficiente para que eu virasse uma cobaia da adoração a Satanás. — Retrucou.

Eles ouviram um barulho. O rapaz de pele pálida e sobretudo olhou para trás e sorriu.

— Conheça meu novo amigo.

Cindy virou-se. Johnny acenou e sorriu.

— Olá.

x-x-x

A movimentação no hospital não era tão constante quanto antes. Já era noite, então a maioria dos pacientes estavam em seus leitos descansando, enquanto poucos funcionários transitavam entre os corredores. Uma enfermeira surge no final de um dos corredores extensos e brancos, carregando uma prancheta em mãos. Sua sapatilha desliza pelo piso, ao mesmo tempo em que ela entra em uma das alas e revela Lucky sentado em uma cadeira azul, quase cochilando. O rapaz tem um soro aplicado na veia e uma das mãos enfaixadas com gazes e esparadrapos.

— Você tem visita, rapaz. — A voz solene da enfermeira disse.

A música soava bem baixinho pelo alto falante num dos cantos da parede. Lucky ergueu a cabeça e avistou Peter parado na porta da ala. Os pais do Van Der Hills também estavam ali parados, mas se despediram do jovem e saíram na companhia da enfermeira. Logo eles encontraram os pais do atleta no corredor e passaram a conversar.

Peter usava o casaco do time de Lacrosse, com uma calça caqui. Lucas sorriu, era seu casaco.

— Peguei escondido do seu armário. — O gêmeo entrou dando de ombros. — Vim assim que pude, a notícia se espalhou rápido pelo facebook.

— Eu não poderia sofrer, antes de postar pra Reaperswood inteira, né?

— Você e seu complexo de subcelebridade. — Peter não evitou o riso. — Uma garota pediu pra deixarem alguns “améns”. Aposto que o facebook curaria você com algum número de curtidas também.

Lucas riu, lembrando que os pais, ao saírem do quarto, falaram algo parecido.

— Onde está a Hannah? — Peter perguntou, olhando para a cama vazia ao lado de Lucky.

— No quarto ao lado. Não sei como ela está desde que cheguei.

— Vocês escaparam por pouco, hein?

— Sim. — A voz dele já estava sonolenta.

— Ok. Vou deixar você tomar seu soro em paz e falar com a Fangirl do Pop.

Quando Peter percebeu, Lucky cochilava.

x-x-x

O assunto sobre pais brotou repentinamente na conversa. Johnny, Roderick e Cindy estavam dentro de uma cripta, conversando. Havia uma lamparina no centro dos três e algumas lanternas. Uma vela acesa para um túmulo iluminava o fundo da cripta. Cindy estava sentindo-se incrivelmente incomodada com o lugar, arrepiando-se a cada minuto.

— O que diabos uma cripta desse tamanho faz num cemitério com o de Reaperswood? — Seus pelos se eriçaram, enquanto a garota buscava aquecer-se com os braços em volta de si.

— Há tantas coisas sobre Reaperswood que precisam saber... Aqui é uma cidade sombria e cheia de segredos, de fato. — Johnny dizia com uma voz plácida, mas ao mesmo tempo assombrosa.

Roderick, ao contrário de Cindy, achava a voz do rapaz gótico, muito bonita. Ele poderia ser cantor, talvez... Quem sabe dublador. Roderick não sabia dizer, mas se sentia cada vez mais atraído pelo jeito enigmático de Johnny.

— Então, Jon, continua. O que houve com seus pais? — Cindy perguntou, curiosa pela história do garoto.

Roderick já havia contado que seus pais não eram tão presentes na sua vida, mas que ele costumava visitá-los várias vezes durante o ano, já que morava com alguns amigos num tipo de república, em um hotel abandonado e tombado pela prefeitura de sua cidade. Cindy tentara não dar muitos detalhes do que houve com seus pais, já que era difícil tratar daquele assunto com outra pessoa além de Roderick. Agora, era a vez de Johnny.

O rapaz mantinha um semblante sério e de difícil interpretação. A boca grande movia-se de maneira concentrada. Significava que ele preparava-se para explanar.

— Eles... Foram assassinados quando eu ainda era um bebê. — Respondeu com pesar. — Fui criado pelo meu tio, um pouco mais velho do que eu. Ele me contou tudo quando atingi uma idade suficiente para entender a dor.

— Oh! — Cindy levou a mão à boca, surpresa. — Sinto muito pela sua perda... Jamais imaginaria isso.

Roderick permanecia em silêncio. Tentou aproximar sua mão pálida da mão ossuda do garoto gótico, mas desistiu e apenas o fitou. Johnny continuou:

— Eles foram mortos por Tommy Warland.

— O cineasta assassino de Belmont? O que matou uma equipe de filmagem inteira e tentou matar os amigos no bairro de Belmont, em Los Angeles? — Roderick parecia interessado no assunto. — Soube que ele fugiu da prisão e foi assassinado há uns dois meses, se não me engano.

Cindy achou sua admiração mórbida e cutucou o amigo, que retribuiu com um olhar ameaçador. A garota encolheu os ombros, sentindo frio.

— Isso. — Johnny meneou a cabeça positivamente. — Minha mãe e meu pai faziam parte da equipe de filmagem. E infelizmente, morreram antes de acompanhar o crescimento do filho. — Ele engolia em seco.

— Meus pais também foram assassinados. — Cindy sentiu-se forte o bastante para despejar aquela informação. — Quando eu tinha acabado de entrar na puberdade. Eles foram muito perseguidos por serem estrangeiros refugiados, e isso resultou em um tipo de caça às bruxas por conta de dívidas.

Os rapazes ouviam atentamente a garota latino-indiana falar.

— Eu também sinto muito pela sua perda. — Johnny disse por fim.

— Você não aparenta ter a idade que tem. — Roderick comentou encarando Johnny.

Os olhos dele ardiam como uma chama negra à luz da lamparina. O fogo apagou-se e Cindy deu um berro de medo, pulando no colo de Roderick, que resmungou.

Do lado de fora da cripta, Brenda observava o trio.

x-x-x

Peter entrou no quarto e encontrou Hannah deitada na cama com um headphone rosa felpudo que mais parecia um protetor de ouvido para o frio. Nele, tocava um cover da música Cheerleader, feito pelo grupo Pentatonix. Ela não tinha notado sua presença, e Peter aproveitou para ir até ela de maneira sorrateira. A garota virou-se e seu semblante sério não mudou.

— Está linda, parece a Barbiezinha. — Disse ele em tom de ironia. — Desde quando é fã de Scream Queens?

— Desde que encomendei quadros gigantes das Chanels pra por no meu quarto. — Ela falou com dificuldade, retirando o headphone.

Hannah tinha o ombro medicado e enfaixado. Ela movia a cabeça de maneira lenta, procurando olhar para o rapaz. Peter sentou de maneira solene na cama, ao lado da garota.

— Foi por pouco, hein?

— Tem razão. — A loira baixou o olhar. — Veja pelo lado bom, consegui atrasar a viagem dos meus pais em algumas horas.

— Eles vão viajar mesmo assim?

— Sim. — Assentiu. A tristeza era evidente em seu rosto. — Não me restaram muitas coisas atualmente. Estou pensando em dar uma festa nas vésperas de natal, convidar algumas pessoas, a última coisa que pretendo é passar o natal, completamente sozinha. Já me bastam as terríveis coisas que aconteceram nos últimos meses... A morte da Gabs, da Terry e do Wendy, meu erro com a morte da Miles, minha relação com a Tory e agora Lucky machucado por causa de mim.

— Hannah você precisa parar de se culpar pelas coisas que acontecem ao seu redor. — Peter disse, segurando sua mão. — Reaperface desencadeou isso, ninguém mais além dele merece a culpa das merdas que se acometeram.

— Obrigada. — Ela respondeu. — Sabia que um dia nós iríamos se aproximar dessa forma. Eu costumava ter um tombo pelo irmão Van Der Hills mais velho, sabia? Mas daí o Lucas apareceu e virou minha cabeça do avesso. — Sentiu o rosto corar violentamente.

Peter sorriu e retrucou:

— Vou ajudar você com a festa amanhã, chamarei reforço criativo e braçal. Afinal, tem esse ombro enfaixado aí e pode te trazer complicações.

— Não sei como agradecer a ajuda, Peter. Lucky está bem?

— Está sim, acabou cochilando por conta da medicação. Soube da sua alta por uma das enfermeiras, parece que vai passar o natal em casa e acompanhada. — O rapaz pigarreou.

Os olhos de Hannah brilharam e garota abriu um sorriso de orelha à orelha, agradecida.

x-x-x

Os feixes da luz da lua invadiam o quarto pelas persianas semiabertas e faziam desenhos abstratos na parede do cômodo. O cheiro de rosas e de seda invadia os lençóis que deslizavam pelos pés dos jovens deitados sobre a cama. A garota gemia de maneira intensa, fazendo movimentos de vai-vem sobre o membro endurecido e ereto do rapaz, que escorregava a palma da mão pela cintura dela. Os longos cabelos ruivos tombados sobre as costas e a pele branca sendo beijada pela luz da lua.

Phillip mordiscou o lábio de Jacqueline, ou melhor, Leda, que retribuiu com um beijo demorado e molhado. A garota deixava que ele puxasse-a para si, abraçando-a, enquanto ela ainda quicava sobre o membro.

Quando aconteceu o ápice do ato, Leda tombou a cabeça para trás, em sinal de prazer. Massageou o peito de Phillip, enquanto ele arfou, suando. Tinha as mãos no quadril da garota. Leda sorriu e despencou ao seu lado na cama, girando o teto, ofegante.

Phillip virou o rosto e passou a fitá-la de forma fixa. A mulher sorriu corada e deitou sua cabeça no peito do rapaz.

— Por que não falou comigo antes? — Phillip disparou.

— Sobre o que?            

— Sobre incriminar Letrisha. Poderia ter me avisado. — Ele retrucou sério.

— E desde quando eu preciso do seu aval pra realizar alguma coisa, Phillip?

— Desde que passamos a ter uma parceria. Achei que agiu de maneira precipitada e desnecessária, já que Reaperface matou a garota de qualquer forma. — Ele respondeu friamente.

— Não estou te entendendo. — Leda ergueu da cama com pressa, colocando um lençol contra o corpo, tapando-o. — Há muito tempo vem cometendo coisas impensadas e desastrosas, sem um pingo de disposição para ajudar sua família ou seus amigos, e quando eu dou iniciativa, você me julga?

Phillip sentou na cama, pensativo.

— Que tipo de pessoa é você?! — Leda bufou, com o rosto pálido já vermelho do acesso de raiva.

— Parece que nossa parceria acaba realmente aqui. — Van Der Hills pegou suas coisas e foi saindo do quarto sem sequer olhar para trás.

— Espero que não bata mais em minha porta procurando por sexo. — A falsa francesa respondeu. — A única coisa que vai receber é um kit masturbação!

A ruiva bateu a porta com força, quando o rapaz dobrou no primeiro corredor. Encostou a cabeça na porta e encarou sua miniatura da árvore de natal sobre um criado-mudo. Seu soldadinho de chumbo havia caído no chão com o impacto da porta.

A mulher andou rapidamente até ele e verificou se não tinha sofrido nenhum dano grave. Respirou aliviada quando viu que ele estava em perfeito estado. Era um item precioso de natal para Leda Parker. O soldadinho de chumbo trazia lembranças de seu pai e de sua irmã, Carolyn Parker. Esta segunda, falecida às vésperas do natal de alguns anos trás.

Leda sempre ficava sensível e com os nervos à flor-da-pele quando o natal vinha chegando. Isso porque relembrar e vivenciar novamente a morte de sua irmã era desgastante e doía imensamente. Igualmente pensar sobre a ida do pai para uma missão militar na Síria e simplesmente não voltar. Isso já iria completar uma década de saudade e mártir.

Leda queria ambos perto de si, mas o máximo que conseguiria ter era o soldadinho de chumbo, o quebra-nozes preferido de seu pai e a rena de pelúcia de Carolyn.

Vocês serão para sempre meus espíritos de natal. Onde quer que estejam.

x-x-x

Dentro da delegacia de Reaperswood, o calor transcendia qualquer brisa que ventiladores velhos soltavam nos cômodos pequenos e claustrofóbicos. O Xerife Browning balançava uma caneta entre os dedos. Já estava de saco cheio de não chegar a lugar algum com as investigações. Quanto mais ele chegava perto, mais se distanciava da solução. Bufou. Em anos de carreira, ele nunca se deparou com um caso tão complexo como um simples maníaco usando máscara de caveira.

Uma dúzia de adolescentes e outros civis haviam tido suas vidas ceifadas pela insanidade de um serial killer mascarado e a competência do homem só ia pelo ralo por não ter chegado a nenhuma pista concreta. Primeiramente, acreditava que Tommy Warland havia sido o autor dos ataques, após fugir do presídio, mas ele foi morto e Reaperface continuou com sua sanguinária carnificina.

Em seguida, tudo apontava para Letrisha Morrinson, e então, ela morreu pelas mãos do assassino dentro da própria delegacia. Um fato lamentável, de fato, pois aquele lugar deveria ser uma fortaleza blindada, e não, o mortuário de alguém.

E as provas que ele tinha contra Peter Van Der Hills não eram suficientes para autuá-lo como o responsável pelo massacre. Ele só obterá o bastante para recolher depoimentos e mais depoimentos. O xerife não só tinha os assassinatos para resolver, como um professor da Reaperswood High, Leon Moreira, para encontrar, já que o homem desaparecera em circunstâncias misteriosas. Porém, Browning tinha quase plena certeza de que o sumiço do professor estaria conectado aos ataques do Cara de Ceifador.

Browning condenava a si mesmo por várias noites, por não conseguir proteger uma cidade pequena como Reaperswood. Para completar seus problemas, via sua filha no meio do bombardeio de facas e pescoços degolados. Ele não se perdoaria se algo de ruim acontecesse à Blaire, por isso faria de tudo para mantê-la afastada da família Van Der Hills, o pivô de tudo isso.

— Senhor? — Um policial abriu a porta e chamou a atenção do xerife, que olhou para ele com face indiferente.

— Diga, Stokes.

— Tem um garoto aqui, que diz que precisa falar urgentemente com o senhor.

— Mande-o entrar. — Disse o Xerife em tom pragmático. Browning levantou um pouco a aba de seu chapéu e pôs a caneta de volta na mesa.

O homem de barba rala olhou para a porta novamente e viu o rapaz parado na soleira. Mark estava com algumas olheiras e o olhar cansado, como se não dormisse há dias. Usava um moletom de capuz e calças surradas. Suava frio e colocava as mãos nos bolsos do casaco insistentemente. O Xerife ergueu a sobrancelha, analisando o garoto.

— Algum problema, rapaz? — Perguntou Browning.

— Eu tenho algo que interessa muito ao senhor, Xerife. — Mark disse, abrindo um meio sorriso e vasculhando o bolso da calça jeans.

De lá, retirou o aparelho celular e aproximou-se da mesa do xerife de maneira metódica, pondo o objeto bem na sua frente. Browning não sabia o que ele poderia ter que lhe despertasse tanto interesse, mas deixou que o jovem falasse e lhe explicasse o que estava acontecendo, porque sinceramente, não estava entendo nada. O homem olhou para o celular e conseguintemente para Mark.

— E então, o que esse celular tem a ver comigo?

— Não é exatamente com o senhor, Xerife, e sim, com Peter Van Der Hills. Este celular é a prova de um crime. — A mão de Mark tateou o objeto, que ligou o visor. Olhou sério para o defensor da lei. — Nele contém a prova de que Peter Van Der Hills é o responsável pelo desaparecimento e pela morte do professor de literatura da Reaperswood High, Leon Moreira.

— Morte? Como assim, morte? — Browning arregalou o olhar. — Até onde sabemos, ele está desaparecido.

— Isso mesmo que acabou de ouvir. Peter matou Leon e o enterrou em uma clareira no bosque. Eu sou testemunho, vou lhe contar tudo. Eu estava lá na noite do crime, mas só tive coragem de vir dar meu depoimento agora.

— Tudo bem, garoto. Espere um minuto aqui, vou chamar o escrivão e logo recolho seu depoimento. — Browning ergueu-se da cadeira e arrumou o uniforme amassado pelo tempo que ficara sentado. Andou até a porta, disfarçando sua euforia e olhou uma última vez para o jovem que acabara de sentar na cadeira. Saiu logo depois, fechando a porta e acenando para Stokes, o policial que estava parado ao lado da porta.

Dentro da saleta, Mark deu um riso vitorioso ao sentir que a queda de Peter estava mais próxima do que ele poderia imaginar. Te peguei, Van Der Olsen.

x-x-x

Era final de tarde. O sol era engolido pelas montanhas, o céu tornava-se uma aquarela de cores frias.

Situado afastado da cidade, o casarão à beira do lago da família Athos era enorme. Possuía dois extensos andares com uma dúzia de quartos cada um. Nunca souberam explicar o motivo do tamanho do casarão, se a família não era tão grande e eles mal usavam a propriedade. Os outros moradores de Reaperswood sempre pensaram que os Athos gostavam de mostrar a fortuna para amigos em jantares e festas, mas estavam errados. Eles poderiam ter qualquer coisa, menos muitos amigos. Os mesmos pais que deixaram a filha sozinha no natal, eram os mesmos que fugiam da solidão ao viajarem para longe da cidade.

O lago ficava no meio de árvores altas e uma densa vegetação, até encontrar uma cerca de madeira nos limites do terreno. Um pequeno galpão marrom ficava instalado bem próximo ao píer e ao lado do casarão vermelho, um celeiro mostrava-se bastante enfeitado. As inúmeras lâmpadas coloridas estavam colocadas nas paredes de madeira e se estendiam pelo casarão da família, como um imenso embrulho de presente natalino.

Hannah subiu na escada e pôs a estrela de natal no grande pinheiro enfeitado. Fazia questão de ser a anfitriã a colocar a estrela, e observou seu trabalho concluído com maestria. Os olhos brilhavam. Finalmente havia terminado de decorar o ambiente para o jantar de natal. Mesmo com o ombro enfaixado e se recuperando da flechada que levou de Reaperface, a garota conseguia realizar aquele simples trabalho com a árvore.

— Você não deveria se arriscar a machucar seu ferimento desse jeito, Hannah. — Peter disse atrás dela, enquanto a garota descia da escada de metal.

— Já terminei. — Ela respondeu, limpando um pouco de sujeira da blusa, com cuidado para não fazer nenhum movimento brusco com o ombro.

Peter segurava uma caixa com algumas bebidas.

O Van Der Hills se dispôs a ajudar a garota a decorar o casarão para a festa. Hannah estava sozinha naquele natal e fora atacada pelo assassino, então ele achou que pudesse estar fazendo uma boa ação e ajudando-a a realizar aquele “sonho” de princesinha frustrada. Chamou Penny para ajuda-los na decoração, já que a sua irmã gêmea também se disponibilizou e aproveitou para cantar durante a festa. Agora, Hannah esperava que os convidados viessem de fato. Ela convidara muitas pessoas de sua lista de amigos do facebook, mas duvidava que pelo menos um terço deles viessem.

— Você chamou seus pais, né? — Perguntou a loira, passando por ele e avistando Penny arrumando as caixas de som, ao fundo.

— Claro. Eles devem vir com o Phill. — Respondeu, andando em direção ao corredor da esquerda, que dava acesso ao depósito onde ficavam os freezers para as bebidas. Depositou a caixa dentro do local e voltou até o hall principal, onde viu Hannah levar uma rena até próxima do pinheiro.

Rapidamente Peter foi até ela e ofereceu-se para carregar o objeto.

— Onde arrumou essas coisas? — Penny perguntou para a garota, que fechou os olhos e fez um semblante de merecimento. — Eu tenho meus contatos, além disso, meus pais fizeram pelo menos uma coisa boa por mim.

— O quê? — Peter perguntou.

— Deixaram um cartão de crédito. — Ela sorriu. — Aproveitei para contratar um animador de festa. Será nosso Noel nessa noite.

— Você se empenhou mesmo, hein? — O gêmeo mais velho conferiu se estava tudo certo com a mesa de doces e salgados. — Olha esses doces em forma de bengalas natalinas. Ainda não acredito que arrumou até um presépio feito de biscoito. Bizarro.

— Obrigada! — A loira pôs a mão na cintura e olhou para o relógio do celular. — Está na hora da anfitriã ir se arrumar para receber os convidados. Alguém tem que experimentar os sais de banho novos que comprei com essência de pinheiro, uma delícia.

— Você entrou mesmo no clima.

— Sempre que posso.

x-x-x

A noite rugia lá fora.

Uma música lenta natalina tocava ao fundo. Na mesa de jantar, um peru e os pratos dispostos nos quatro lugares. Nos assentos, a família feliz Hardy acabara de se reunir para jantarem. Edward tirava sua fatia do peru e alternava entre encarar Evellyn tirando seu pedaço e analisar as feições de indiferença estampadas nos rostos de seus dois filhos. Vince e Brenda eram as pessoas mais indiferentes àquele jantar. Evellyn se esforçara para tentar manter uma paz entre os quatro, coisa que há alguns dias vinha sendo difícil, mas ela tinha feito sua parte. Agora, eles precisavam fazer a deles.

— Podem fingir pelo menos um pouco que gostaram do que preparei? — A mulher lançou um olhar sério para ambos os filhos. Deu uma garfada na comida.

Brenda nem sequer olhou para ela. Encarava o prato na sua frente sem qualquer vontade de comer. Evellyn não sabia o que estava acontecendo com a filha, mas não a julgou. Ela era jovem, estava perdendo os colegas de turma e consequentemente, ganhando frieza. Invadir seu espaço não ajudaria em nada.

— Eu não consigo comer com essa trilha sonora do menino Jesus tocando. Parece que o presépio vai entrar a qualquer momento por aquela porta. — A garota disparou um pouco ríspida. Porém, quando percebeu que se tratava de sua mãe, arqueou os ombros.

— Só queria tentar agrada-los nesse momento família. Há tempos não temos um assim. Não é, Ed? Seria pedir muito? — Evellyn virou-se para o homem, que respondeu apenas com um aceno de cabeça. De certo, ele também não estava gostando nada de “Noite feliz”.

— Não fica assim, mãe. A gente está tentando, ok? — Vince proferiu. Aquilo deixou sua mãe um pouco mais satisfeita. No fundo, ela também não estava tão a vontade com todo aquele clima pesado, mas queria passar conforto. Ficar insegura não era de seu feitio.

— Pelo menos alguém. — Ela deu de ombros e continuou comendo em silêncio.

Brenda apagou a vela a sua frente com um sopro rápido. A garota assustou a mãe e não aguentou, erguendo-se da cadeira abruptamente. Evellyn lançou um olhar para Edward, e ele entendeu o recado prontamente.

— Brenda, isso é jeito de tratar sua mãe? — O homem bradou, mas pareceu ser em vão, Brenda continuava seguindo para longe da mesa de jantar.

Edward então se levantou e se preparou para segui-la, quando Vince interveio e parou na sua frente. Disse:

— Não esquenta, deixa que eu falo com ela.

Vincent saiu dali, deixando os pais conversando sobre as atitudes de Brenda. A última coisa que o rapaz queria era ter que ouvir seus pais discutirem mais uma vez. Ele sabia como Evellyn impunha regras e como seu pai adorava quebra-las. Edward nunca deu tanta importância ao jeito mandão velado da esposa, porque sabia como contornar, mas uma das barreiras para os dois era entrar em algum tipo de acordo.

Vince suspirou e seguiu Brenda pela porta da frente. Ela parecia muito brava. A garota abriu a porta rapidamente e se encaminhou para fora.

— Ei, calma Bren!

Ela olhou por cima dos ombros, mas não deu atenção e continuou andando rápido. Jogou o capuz do casaco roxo sobre a cabeça e respirou fundo. Vince teve de alcança-la e segurar seu braço.

— Me solta. — Brenda murmurou.

— O que você tem? Por que está tão brava? — Ele perguntou. Sentira o jeito diferente da irmã.

Brenda encarava o irmão mais velho com a franja caindo sobre os olhos profundos. Ela queria esquecer esse assunto que perambulava na sua mente, mas iria desenterra-lo de qualquer forma.

— Eu não deveria estar enfiada na mesa de jantar pra fazer a garota que acredita que sua família pode ser unida outra vez. — Ela tirou o capuz. — Esse é o problema. Vince, você não vê? Tá tudo ruindo ao nosso redor, eu tô só a bosta seca. — Desabafou.

— Eu concordo contigo, porque eu também tô. Mas a gente tem que fazer isso não pela gente, mas talvez por eles. Achei que queria que eles ficassem juntos de novo.

— E eu quero, mas é que... Argh! Eu não quero falar sobre isso, agora eu pretendo encher a cara pra esquecer os problemas. — Brenda brincou e soltou um breve riso.

Finalmente! Vincent pensou. Ele refletiu alguns segundos e como se sua mente estalasse, abriu um sorriso psicopata no rosto.

— Que tal irmos estragar uma festa? Eu soube que a Hannah vai fazer uma de natal na casa do lago dos pais. — Ele disse convicto.

Os olhos da irmã brilharam. Brenda queria muito fazer isso para desestressar. Acompanharia Vince até a festa. Queria que Johnny fosse com eles, afinal, eles sempre foram um trio. Entretanto, pela primeira vez na vida deles, ela sentia Johnny longe o bastante para que não quisesse sua presença por perto.

— Faça bom proveito desse Roderick usado. — Brenda cuspiu.

— O que disse? — Vince começou a caminhar ao seu lado.

— Não, nada. — A gótica retrucou. — Vamos abrilhantar uma festinha básica com nossa presença.

x-x-x

Hannah estava pronta para receber os convidados. A loira usava um vestido verde repleto de detalhes com diamantes falsos encrustados e formando o subtítulo “Xmas Bitch!” em vermelho. Também calçava botas de cano médio e uma tiara com chifres de rena sobre os cabelos dourados. Sentia-se inteiramente bem, embora seu ombro ainda doesse. Peter e Penny também estavam prontos. O rapaz vestia uma jaqueta vermelho e uma blusa preta, com calças de jeans escuro e sapatos marrons. Já Penny estava perfeitamente encaixada dentro do corpete preto e da calça de couro cor-de-vinho. Os cabelos tinham um coque perfeito e a franja bem penteado sobre o rosto.

Neste momento, a cantora passava o som no microfone. Atrás dela, Alex, que havia sido convidada pela mesma, ofereça-se para tocar. E ela achou a ideia maravilhosa, já que as duas estariam juntas, aproveitando a celebração. Alex trajava um longo sobretudo escuro com os cabelos soltos e despenteados meio punk. A maquiagem escura e o batom chamativo terminavam o look. As duas pareciam se divertir na sala, onde os equipamentos estavam montados.

Hannah parecia ansiosa. A garota não parava de mexer no cabelo e olhar as unhas. Batia a bota no chão insistentemente. Olhava a cada cinco segundos para a porta de entrada, enquanto Peter se segurava para não rir da situação. Ele também estava curioso para saber quem iria para a festa, mas não demonstrava tanto quanto a loira.

— Vocês acham que eles vão demorar muito? — Hannah perguntou, arrumando o penteado.

— Já devem estar chegando. Se parecer menos esquizofrênica, talvez o tempo não passasse tão rápido. — Disse ele.

— O que você está insinuando? — Hannah olhou por cima dos ombros,  numa jogada de cabelo digna de uma propaganda de cosméticos.

— Nada que o mundo inteiro já não saiba. Agora, relaxa, que eu vou verificar se o cara que você contratou de Papai Noel não está acabando com o estoque de bebidas. — Peter falou, enquanto andava até o corredor com acesso ao depósito, deixando Hannah sozinha no hall e ainda mais ansiosa pela chegada dos outros.

x-x-x

Peter entrou na porta entreaberta do depósito e teve visão ampla do cômodo. Não era um depósito tão grande, talvez grande o suficiente para os seis freezers colocados um ao lado do outro, três dispostos de cada lado. O gêmeo ultrapassou a cortina verde e entrou, abrindo cada um dos freezers para checar se estava tudo certo com as bebidas. Os convidados já deveriam estar chegando. Foi aí que ouviu o barulho vindo dos fundos do cômodo refrescado por ar-condicionado. Ele andou calmamente até lá, apenas para encontrar o animador de festas trocando-se detrás de algumas caixas.

Peter tomou um susto e recuou constrangido.

— Ei, garoto! — O homem disse, vestindo a calça rapidamente.

— Desculpe, desculpe. — Peter repetiu. — Só tinha vindo checar as bebidas. Já estou saindo. — Disse ele em meio ao riso nervoso. Saiu do depósito logo em seguida.

O animador recompôs-se e pôs a enorme barba grisalha falsa, terminando de se aprontar. Qualquer dia desses estaria abandonando esse emprego. Só aceitou a oferta de Hannah, porque precisava da grana para seus cigarros importados.

Quando Peter retornou ao salão principal, encontrou os pais juntos de Phillip. Os irmãos se cumprimentaram e o mais velho recebeu os pais com um abraço. Sua mãe como sempre muito bem vestida e elegante em um vestido vermelho. No pescoço, um lindo colar de joias brilhantes, enquanto o pai estava enfiado em um terno. Como sempre parecendo pronto para uma propaganda política. Quando ele vai aprender a se vestir como um verdadeiro cirurgião plástico despojado? Peter riu do pensamento.

— Ei, garotinha. — O patriarca da família Van Der Hills aproximou-se de Hannah com um sorriso no rosto.

A garota virou-se, mexendo no cabelo.

— Onde posso encontrar o banheiro? — Perguntou ele.

— Segundo andar à esquerda, terceira porta à direita. — Respondeu prontamente e o homem agradeceu.

O cirurgião encaminhou até a escadaria, e subindo os degraus, ao mesmo tempo em que observava a tapeçaria elegante do casarão, desapareceu no corredor do segundo andar.

x-x-x

Além dos Van Der Hills e dos presentes que já estavam no casarão quando chegaram, outros convidados começaram a chegar. Pelo convite de Peter, Blaire e seus amigos haviam acabado de entrar. Todos eles ainda um pouco perdidos por não terem contato com a anfitriã, mas mesmo assim, felizes pelo convite. Peter recepcionou o grupo e pediu que eles ficassem a vontade para pegar bebidas e que curtissem o show que Penny faria.

As garotas se cumprimentaram e foram para a frente do espaço feito para o pequeno concerto. Blaire e Riley estavam muito empolgadas. Peter sentiu que Blaire o tratou diferente quando chegou, evitando poucos olhares e lhe referindo com poucas palavras. Ele não entendia o que estava acontecendo, e talvez isso tivesse um motivo: Xerife Browning, o pai de Blaire.

Roderick e Rowen logo pegaram bebidas e ficaram conversando com Peter e Phillip. Já Pamela Van Der Hills elogiava o traje de Hannah, que sorria feito uma verdadeira Rainha do Baile, pronta para receber a coroa. Ela estava adorando a companhia da mãe de seu primeiro crush. Se Hannah não tivesse se envolvido com Lucky, poderia ser que hoje em dia ela fosse uma ótima candidata à nora da senhorita Van Der Hills.

A campainha soou logo depois, chamando a atenção de Hannah. Ela acenou para o animador vestido de Papai Noel, para que ele atendesse à porta, e o homem assim o fez. Hannah espantou-se com quem encontrou parados na entrada. Eram Johnny, Tory, Jacqueline e os irmãos Hardy. Os dois últimos entraram primeiro, ultrapassando os outros e logo chegaram cumprimentando todos. Jacqueline entrou em seguida, fazendo a linha quieta e tímida. Vincent sempre fazendo o social, enquanto Brenda retraiu-se e ficou um pouco afastada, encarando Roderick de longe. Uma raiva dele começou a crescer dentro da gótica. E Johnny era o motivo disso. Ela não admitia perde-lo para Roderick, uma pessoa que seu melhor amigo mal conhecia.

Ela evitou fazer qualquer contato com Johnny, e quando ele entrou, ela o viu acenar para Roderick de onde estava, Logo, o gótico enxergou Brenda no canto e resolveu tirar satisfações.

— O que está acontecendo com você?

— Por que se interessa? — Ela respondeu seca. Estava de saco cheio do que ele estava tratando-a. — Olha, o Roderick está te esperando. Me deixa em paz, ok?

Então, a garota saiu pisoteando o chão com certa raiva e entrou na direção do depósito. Pegaria uma bebida e esqueceria dos seus problemas com uns goles.

— Olá, vadia! Surpresa em me ver? — Tory disparou, fazendo uma pose de menina super poderosa na frente da anfitriã da festa.

Hannah olhou-lhe dos pés à cabeça. Tory provavelmente se inspirara no filme Mean Girls para vir trajada com a roupa vermelha de barras felpudas, o gorro característico vermelho e as botas pretas de cano longo. Os cabelos negros estavam com mechas coloridas espalhas e a maquiagem dava o toque final à garota fatal.

— Nossa, que linda a Mamãe-Noel-De-Casa-Noturna. — Hannah proferiu. — Não deveria ter vindo. Não sabia que era tão cara-de-pau a tal ponto.

— Então, vira presidente da república pra falar isso, querida. — Rebateu Victorya.

Hannah ignorou e continuou:

— Mas já que eu sou uma pessoa educada e elegante, eu não farei cerimônia. Tem bebida nos freezers no depósito, tem show ao vivo com minha popstar preferida e rapazes gostosos. Então, aproveita bem, pra não sair reclamando depois, vaca. — A loira cruzou os braços e deu um riso ilegítimo.

— Olha, essa festazinha não é nenhuma Noite das Vadias, mas eu sei que vou adorar. Hoje a noite promete, não é mesmo? Com licença, querida, deixe a rainha passar e melhorar esse ambiente morto. — Tory entrou, fazendo com que Hannah desse alguns passos para trás e bufasse por não poder voar na cara cínica dela sem machucar o ombro.

Então Hannah sorriu falsamente, e antes que fechasse a porta, deu de cara com um alguém que fez seu coração pulsar mais forte. A música atrás de si começou a tocar, o barulho do baixo de Alex, a voz aveludada e melódica de Penny davam à ocasião um tempero à mais. De frente para Hannah, parado sobre o tapete de “seja bem-vindo”, Lucky olhava com um sorriso bobo no rosto. Ele vestia uma camiseta branca com uma blusa de botões xadrez aberta. Usava uma bermuda jeans e converses nos pés.

Hannah jurava que poderia ouvir as batidas de seu coração embaixo da pele.

— Você veio... — A voz dela saiu tão delicada quanto um sussurro.

— Eu não poderia deixar de vir. Eu não queria ficar sozinho remoendo lembranças. Preferi ficar com vocês por essa noite. Se não se importar. — Ela mostrou um rosto inseguro, mas ao mesmo tempo, otimista.

— Claro que não me importo, Lucky. Eu estou feliz que veio, de verdade.

— Sabe, estou tentando recolher os cacos ainda, mas essa noite me fará bem, tenho certeza.

Hannah acenou com a cabeça, abrindo um largo sorriso. Suas bochechas coraram.

x-x-x

A música natalina que Penny cantava era animada, algumas batidas de um instrumental adicional bem Techno, que foram colocadas, deixando todos mais empolgados.

— Quero ver todo mundo girando! — Brincou, Penny.

Todos do hall estavam dançando ou virando vários shots de bebida. Entre eles, podíamos ver Vincent – por várias vezes, piscando na direção de Penny e Alex, que devolviam o gesto e riam em meio à música –, Lucky e os gêmeos Van Der Hills, que estavam aproveitando bastante a festa. Em um canto, podíamos ver Brenda com um copo de bebida em mãos, observando os demais, bem indiferente. Já Johnny estava um pouco afastado dela, na companhia de Roderick e Cindy. A garota não parava de falar um só minuto e os góticos evitavam rolar os olhos para não magoá-la.

Se fosse concurso de dança, Riley e Tory provavelmente ganhariam. As duas estavam arrasando na coreografia no meio da sala de estar decorada. Victorya descia até o chão, sem se importar se sua minissaia vermelha e felpuda mostraria sua calcinha de mesma cor. Enquanto Riley, já aparentemente com várias doses de álcool correndo nas veias, dançava jogando os cabelos e mexia os braços de maneira sensual. Hannah tentava dançar, mas o seu ombro estava sendo seu pior inimigo, então ela apenas desistiu e afastou-se da pista de dança.

A loira passou pela mãe de Peter e Phillip, que acenou para ela com a cabeça. Hannah ergueu sua taça de champanhe em resposta e encaminhou-se até as escadas, ouvindo o estalar do salto da própria bota no piso, à procura do Papai Noel. Ela acabou por virar no corredor em direção ao depósito de bebidas.

x-x-x

Hannah arrumou a tiara de rena e pôs a mão na cortina vermelha da porta do depósito, afastando-a para ter visão do espaço. As paredes neutras e o ar gélido do ar-condicionado nunca foram um incômodo para a garota, mas naquele momento pareciam muito mais ameaçadoras do que antes. Ela fez o gesto de esquentar-se e se aproximou de um dos freezers. Abriu-o e de lá tirou uma latinha de cerveja, abrindo-a ali mesmo e despejando a taça de champanhe em um dos cantos do depósito.

Deu de ombros, pronta pra sair dali, sem nenhum sinal do animador de festa. Foi então que ouviu um ruído vindo de um dor freezers. Ele parecia estar sendo desligado, pois o barulho era parecido. A loira caminhou calmamente até o último freezer e o abriu.

A cena que viu fez seu coração parar por instantes. Hannah deu um berro e afastou-se, caindo no chão. A garota levantou e olhou uma última vez para certificar-se de que era mesmo o que estava bem na sua frente. Seus olhos começaram a lagrimar. O corpo do animador de festa estava dentro do freezer, congelando. Ele tinha cascas de gelo na face e por todo o corpo, com os olhos congelados numa expressão de puro horror.

A garota correu para fora do depósito aos prantos e ao chegar ao hall principal, viu alguém fantasiado de Papai Noel subir as escadas.

Se ele está no freezer, quem está dentro daquela fantasia de Papai Noel?

x-x-x

Antes que Hannah pudesse dizer qualquer coisa para os presentes na festa, as luzes se apagaram. Alguns ficaram sem saber o que acontecia, enquanto a loira gritou:

— ESCUTEM TODOS! O ASSASSINO ESTÁ AQUI!

Sem conseguir enxergar quem estava presente ou não, em plena penumbra do breu que estava o hall, Hannah correu entre eles, a procura de Lucky. Ela estava com medo, buscava alguém para abraçar forte, mas não o encontrou. Na verdade, assim que as luzes ligaram, minutos depois, poucas pessoas haviam permanecido no hall.

Peter, Phillip, Pamela e Penny Van Der Hills ainda estavam lá. Junto com eles, permaneceram Cindy, Roderick, Rowen, Blaire e Riley. Porém, mais ninguém estava ali. Nem Brenda, Johnny, Tory, Jacqueline, Lucky ou Vincent. Talvez tivessem saído antes dela voltar do depósito. Mas a anfitriã não estava com cabeça para pensar em que estava ali ou não quando as luzes se apagaram. De repente, um saco vermelho decolou do segundo andar e caiu no meio do salão com um baque surdo. Lá em cima, surgiu a figura vestida de Papai Noel. Segurava um enorme machado de duas lâminas.

— Primeiro, o meu presente de natal aos Van Der Hills! — A figura falou com a voz modificada.

— Que merda é essa, Reaperface? Mudou de roupinha pro especial de natal? — Peter provocou.

— Como vocês foram muito maus esse ano, eu tive que traze-lo a vocês. Abram o presente. — O Papai Noel falou.

Mesmo receoso, Peter aproximou-se do saco vermelho e tocou sua boca para abri-lo. Logo, ele soltou um grito estridente e largou o saco. A cabeça de Victor Van Der Hills, seu pai, rolou pelo hall e um dos braços escorregou para fora do saco. O sangue começou a manchar o piso e Pamela Van Der Hills deu um berro quando a cabeça parou aos seus pés. Seu marido estava morto.

— PAI!!! — Phillip gritou desesperado com os olhos cheios de lágrimas.

Blaire e Hannah gritaram logo atrás. Peter pediu para que todos saíssem dali o mais rápido possível, enquanto o assassino descia as escadas e girava o machado, brincando com seus medos. Não dava para identificar quem estava por trás da fantasia. Além da barba grisalha e do gorro, o assassino utilizava de uma máscara que assemelhava-se a um rosto deformado, por cima do rosto verdadeiro. Em seguida, todos começaram a correr para lados diferentes.

— Ho, Ho, Ho! — O assassino riu de forma insana, pelo aparelho de modificação de voz.

E as luzes se apagaram pela segunda vez.

x-x-x

Cindy e Roderick corriam de mãos dadas. Atrás deles, Johnny também corria esbaforido e vermelho. Os cabelos volumosos com mechas úmidas caindo sobre a testa. Os dois amigos encontraram Johnny no meio do terreno, que afirmou estar vindo dos fundos, após seguir Brenda, mas quando chegou até lá, a garota não estava. Os três corriam sem rumo, visando apenas fugir do assassino vestido de Papai Noel que Cindy e Roderick contaram para o gótico.

— Venham! Por aqui! — Johnny disse, tentando guia-los na direção da entrada da propriedade.

Cindy e Roderick seguiam-no, quando sentiram o chão desaparecer das solas de seus pés. A grama e a terra puxaram-lhes para baixo, Johnny virou-se no último momento, e atrás de si, um grande buraco de formou. Era um buraco fundo, talvez de dois a três metros de profundidade, presumiu. Cindy estava caída, com o rosto sujo de terra e Roderick de joelhos, com grama nos cabelos negros.

— Merda! — Ele esbravejou. — Você está bem? — Disse para Cindy que confirmou com a cabeça, gemendo um pouco. Os músculos da sua coxa doíam.

— Esperem aqui, vou buscar ajuda. Eu volto logo!

— Obrigada! — Cindy respondeu, checando sua perna. Sua voz ecoou pelo buraco.

— Nunca diga “volto logo”... — Roderick balbuciou.

— O que disse?

— Uma das regras dos filmes de terror é nunca dizer “volto logo”. E Johnny disse.

Johnny saiu dali apressado, a procura de alguma corda.

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Com o casarão às escuras, Penny corria pela grama batida noite afora. Os saltos incomodavam. Ao longe, ela conseguia ver alguns piscas-piscas de natal, iluminando o celeiro.

Ela sentia muito frio, vide que seu corpete não cobria seus braços. A garota dos cabelos castanhos esvoaçando ao vento, tentou aquecer-se, mas não adiantava. Os olhos marejados ainda da cena que acabara de presenciar anteriormente. Sua cabeça estava à mil, e correndo sozinha, ela não sabia onde haviam ido parar os demais. Retirou os saltos, passando a segurá-los, e aproveita-los como futuras armas. Estava com muito medo e suava frio.

Poucos metros depois e já estava dentro do celeiro, respirando fundo. Encontrou montes de feno e trigo, aparentando estarem ali há muito tempo. E uma colheitadeira desativada repleta de poeira. Ela caminhou lentamente, com seus pés descalços sobre as palhas secas, até ouvir um barulho de galhos quebrando e virar-se. Só para dar de cara com o Papai Noel do machado parado no meio da porta, balançando o objeto afiado.

Penny olhou para os lados, procurando algo que pudesse usar de arma, porque percebeu que seus saltos não fariam muita diferença. Então, avistou um ancinho de agricultura encostado em uma cerca de madeira e correu até lá para pegá-lo. Apoderando-se do objeto pontiagudo, ela ficou preparada para a investida do assassino. O Papai Noel passou a correr na sua direção e em questão de segundos ele estava deferindo um golpe do machado na direção de Penny.

A jovem desviou por pouco, abaixando-se. As lâminas passaram sobre sua cabeça a centímetros de distância do couro cabeludo, e a cantora tombou de quatro sobre as palhas espalhados no chão do celeiro. Ela procurou levantar rápido, mas ao contrário do que imaginava, recebeu uma forte pancada na cabeça e grunhiu.

E sua vista escureceu.

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Riley corria rápido dentro do casarão. Ela estava no segundo andar, em direção a um dos quartos. Blaire vinha logo atrás. Junto delas estava Rowen, que por sorte conseguiu encontra-las. Ele se culparia pelo resto da vida, caso algo acontecesse à Riley. Os três entraram no quarto e Rowen rapidamente trancou a porta. Era um dos inúmeros quartos de hóspedes.

— Acho que estamos salvos aqui. — Blaire cochichou, arfando de alívio.

— Não estamos seguros em lugar nenhum, pra falar a verdade. — Rowen retrucou, indo até a janela e afastando a cortina. Lá embaixo, pode ver alguma silhueta passar ligeiramente, mas não soube dizer quem poderia ser.

Gabe Riley jogou-se na cama, fazendo-a pular.

— Vamos ficar aqui trancafiados até a polícia chegar? — Perguntou exausta.

— Alguém pelo menos ligou para a polícia? — O rapaz baixinho comentou, olhando para as duas.

— Eu já, mas eu nunca consigo. Eu tenho sinal, mas a ligação não chega até o fim. — Resmungou a ruiva, sentando ao lado da amiga, na cama.

— Isso só pode significar que o assassino usa bloqueador de sinal. — Rowen concluiu.

— Então estamos fodidos de uma ponta à outra. Que morte horrível! — Riley tombou a cabeça para trás, fitando o teto.

De súbito, batidas frenéticas começaram a assustar Blaire. A garota afastou-se com ligeireza de onde estava. Riley e Rowen também ficaram preparados. O rapaz pediu que elas fizessem silêncio com o dedo indicador nos lábios.

— POR FAVOR! ABRAM! — Gritou a voz do lado de fora. Eles não a reconheciam, nunca tinham ouvido ou não se recordavam. — ELE ESTÁ VINDO! ELE VAI ME MATAR!

Blaire daria um passo na direção da porta, mas Riley segurou seu braço com força.

— SOCORRO! — O grito soou desesperador.

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Penny abriu os olhos devagar. Estava tonta, a cabeça latejava da pancada de outrora. Não sabia dizer quantos minutos haviam passado desde que pagou, mas tudo que sabia agora, olhando ao redor, era que continuava dentro do celeiro, e desta vez, as portas de madeira estavam fechadas e o lugar parcialmente escuro. Ela não enxergava muita coisa além dos riscos da luz da lua desenharem as brechas nas madeiras. Gemeu um pouco com a dor e tocou no pescoço.

Havia algo em seu pescoço, alguns fios enroscavam sua garganta, mas ela não sabia do que se tratava. Foi aí que ouviu o barulho ensurdecedor de um motor ligar. Olhou ao redor, nada além do breu. Penny gritou por socorro, mas ninguém escutaria sua voz. Ela tateou os fios ao redor do pescoço e tentou puxá-los, mas teve uma surpresa. Uma luz fraca foi acesa dentro do celeiro, iluminando parcialmente o ambiente. Penny se deu conta de que o barulho de motor era da colheitadeira que vira há algum tempo. A máquina estava funcionando.

Para deixar sua aflição maior, os fios em seu pescoço começaram a brilhar forte, apavorando-a. Eram piscas-piscas de natal. A cantora seguiu os fios com o olhar, a medida que as pequenas lâmpadas coloridas iam se acendendo e colorindo os fenos com suas diversas cores. Elas serpenteavam pelo chão.

Até chegarem às lâminas da colheitadeira, onde acabavam. Penny arregalou os olhos quando juntou as peças. Ela ouviu passos, avistando o Noel Maníaco aparado ao lado da máquina, observando-a detrás da máscara deformada. A cantora começou a chorar desolada, enquanto as lágrimas molhavam seu corpete. O maníaco inclinou a cabeça e depositou a mão sobre uma alavanca lateral da máquina ligada.

— Por favor, não faça isso... — Ela começou a soluçar, a voz embargou. — Por favor...

Sem esperar, o assassino ligou a máquina. O barulho arranhava os outros de Penny, que se permutava ao choro da cantora. Ela viu os fios enrolarem em um dos mecanismos da máquina e diminuírem de tamanho à medida que as lâminas da colheitadeira começavam a girar. De repente, ela começou a ouvir uma música natalina ao fundo e seu desespero só ficou mais latente.

— ALGUÉM ME AJUDE! — Berrava, mas seu pescoço foi puxado no segundo seguinte.

Os piscas-piscas de natal começaram a arrastar Penny pelo celeiro. Seus braços eram arranhados pelas palhas, enquanto as lâminas da colheitadeira giravam ferozmente. Penny gritava de forma rouca, enquanto a garganta era comprimida pelos fios sendo puxados. Seu corpo estava indo de encontro à colheitadeira. Apenas alguns metros. O cabelo da cantora caiu sobre o rosto, enquanto ela segurava os piscas-piscas e se debatia.

— Por favor, não faça is-

Penny engoliu palha no percurso. Ela tossia e esperneava.

Pouquíssimos metros. Seu rosto já estava chegando próximo das lâminas. A trilha sonora macabra ao fundo dava o toque doentio que o Noel Maníaco precisava para sua cena. Os piscas-piscas brilhavam, iluminando o rosto da cantora constantemente. Ela abriu a boca para gritar mais uma vez, e as navalhas cortantes já estavam em cima. Seu cabelo foi engolido primeiro, enroscando no mecanismo e girando junto com ele, dando voltas, até chegar ao couro cabeludo, que começou a ser arrancado com força. Foi em questão de segundos, o sangue banhou o rosto de Penny.

A face foi a última a ser atingida pelas lâminas, sendo completamente destruída. Cartilagem, pele e carne voou para todos os lados, fazendo a cabeça entrar no mecanismo e tingir toda a colheitadeira. Papai Noel afastou-se do corpo sendo moído pela máquina e ao som da melodia natalina macabra, ele saiu do celeiro, carregando seu machado. Olhou uma última vez para o corpo de Penny enfiado dentro da colheitadeira, com pedaços voando pelos ares e fechou a porta.

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Jacqueline e Tory corriam na direção da estrada. Elas haviam acabado de passar pelo portão da entrada da propriedade dos Athos. Os cabelos da ruiva estavam úmidos e ela acabara de amarrá-los em um coque rápido. Tory olhava para a estrada, tentando visualizar algum veículo, mas nenhum sinal de faróis. Tudo que elas viam era a escuridão e uma luz, possivelmente de um poste de energia há muitos metros dali. Já que ela não se mexia entre a vegetação.

— Acho que podemos pedir ajuda na residência mais próxima, já que pelo jeito não é tão longe. — Jacqueline comentou. A falsa francesa encarou Tory, que nada respondeu. — E então?

— Se você for, é sozinha. Eu não vou com você. — Ela falou, cruzando os braços. — Já vivi o suficiente para negar este tipo de coisa. Eu não posso arriscar meu rostinho bonito mais uma vez.

— Você não confia em mim? — Perguntou Leda.

— Não. — Tory convenceu-se de não confiar em mais ninguém dali em diante. Principalmente em uma garota que nem disfarçava o sotaque francês direito.

No momento em que Tory olhava mais uma vez para os dois lados da estrada, Leda chamou sua atenção, apontando para a propriedade de novo. Perto do casarão, ela avistou alguém.

— É o Mark. — Ela disse.

— O quê?

— É o Mark. Como ele veio parar aqui? Até então eu não tinha visto ele.

De onde estava, Victorya viu Leda apontar para o garoto, que tinha acabado de retirar o capuz do moletom preto. Mark entrou no casarão. Pela maneira com a qual entrara, ele não queria que ninguém o visse. E bastou uma olhadela entre as duas jovens, para que os pensamentos voltassem o foco para o louco do clube de teatro. Seria Mark o assassino? Pensou Leda, mas riu de si mesma por estar pensando aquilo sobre ele, logo ele.

— Eu sei o que está pensando. Lembre-se, Jacqueline, — proferiu a líder de torcida — duvide de todos, menos do Mark. — E também gargalhou da afirmação.

Depois do breve momento cômico, Leda deu alguns passos seguindo o caminho de terra. Ela iria em direção ao poste. Já sabia que o assassino estava na propriedade, então não voltaria sem ajuda.

— Você vai mesmo até lá, Jac? — Tory perguntou.

— Sim. — Leda olhou por cima dos ombros e acenou positivamente. Arrumou o vestido sobre a calça jeans e não olhou mais para trás.

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Hannah tropeçou nos próprios pés e caiu na grama, de frente para o galpão à beira do lago. Ela já corria há um bom tempo. Não fazia ideia de onde seus amigos estavam, assim como também não sabia onde o assassino estava. A lua cima dela brilhava como nunca, como um gigantesco holofote, iluminando seu cabelo loiro desgrenhado e sua roupa natalina completamente ensopada de suor. A garota aproximou-se do galpão de madeira, que também possuía enfeitas natalinos e chegou rente à janela de vidro, olhando para dentro através do vidro um pouco embaçado.

Hannah olhou por cima dos ombros e atrás dela, estava o casarão e o celeiro, porém, a uma distância considerável. Estava segura, sem ninguém por perto, por enquanto. Até que acabou ouvindo passos, e eles estavam cada vez mais próximos. Assustada, a loira rodeou o galpão e abriu a porta, entrando de forma ligeira e nervosa. O coração da bailarina saltava pela boca e o momento arrancava arrepios constantes.

Ao entrar no galpão, Hannah avistou os equipamentos de pesca do pai, ele gostava desse hobbie e o praticava quando eles passavam finais de semanas no casarão. Também tinham algumas caixas, objetos cobertos por lençóis e a cabeça de um animal pendurada na parede. A loira andou devagar dentro do galpão, e do lado de fora, viu a silhueta detrás da janela. A sombra passou pelo vidro e Hannah abaixou-se, tapando a própria boca em seguida. A garota viu quando a silhueta se moveu do lado de fora, rodeando o galpão.

O desconhecido estava na janela bem acima de Hannah, olhando para dentro através do vidro. A garota tremia logo abaixo, com as pernas encolhidas em um canto e o suor descendo pelo rosto. Hannah percebeu que por uma fresta no galpão, passou a entrar uma espessa neblina.

De repente, as batidas na porta assustaram a garota, que encolheu-se mais ainda.

— Hannah, você está aí? — A voz do outro lado trouxe conforto para o coração da loira, que parou de bater acelerado.

— Lucky? Lucky! — A bailarina levantou e foi até a porta, abrindo-a e puxando o atleta para dentro.

Lucas encarou-a apavorada. Os cabelos espalhados pelo rosto, a tiara de rena na cabeça, a roupa natalina. Os membros trêmulos de Hannah envolveram Lucky num abraço de alívio. Ela encostou a cabeça no peito dele e ele fechou a porta atrás de si. O atleta olhou em volta, a casebre de madeira não era grande, muito pelo contrário, dava uma imensa sensação de claustrofobia, como as paredes fossem esmaga-los. Lucky sentiu a poeira beirar suas narinas e evitou um espirro. Ele estava suado, a camiseta branca grudando o corpo embaixo da blusa de botões aberta.

— Eu estou com muito medo, Lucky... — Hannah murmurou.

— Eu estou aqui agora, Hannah. Vou proteger você, fica tranquila. — O rapaz envolveu a loira nos braços e olhou adiante com um olhar fixo e sem brilho.

Então, o atleta recuou e tocou o rosto da loira, alisando-o e levando a mão até seu pescoço, dando-lhe um beijo. A bailarina não recuou, e simplesmente devolveu o gesto com mais demora. Ele debruçou-a contra uma mesinha bem próxima. Com seus corpos rentes, os hormônios explodindo, Hannah começou a descer sua mão pelo corpo do jogador, enquanto Lucky fazia carícias no pescoço seu pescoço.

O beijo ficou mais quente, Lucky segurava o pescoço da jovem com furor. Hannah tombou a cabeça para trás, deixando a tiara cair sobre a mesa e seus cabelos se espalharem. Ela sorriu. De repente, a loira percebeu que algo estava errado.

— Lu-Lucky... — Ela balbuciou, fazendo uma careta. — Tá apertando...

— O que foi?

— Você está apertando... — A garota sinalizou e segurou o pescoço, olhando dentro dos olhos de Lucky. Eles estavam opacos, vazios. Hannah arregalou os olhos e sentiu a garganta se comprimir.

As mãos de Lucky ao redor do pescoço de Hannah fechavam como um círculo perfeito. O atleta começou a apertá-la com força, enquanto a garota pedia que ele parasse e batia em seus braços malhados. Lucas olhava a maneira com a qual ela se debatia e clamava para que ele parasse. Hannah abriu a boca, pronta para soltar um grito, mas Lucky bateu sua cabeça contra a mesa e ela pareceu desmaiar, fechou os olhos repentinamente por cinco segundos.

Até retornar e afastar os lábios.

— O que está fa-fazendo? — Hannah sentia a garganta ficando menor, o ar faltando nos pulmões, seus olhos arderem. — Para, Lucky! — Ela batia-se na madeira, tentando afastá-lo. A adrenalina era tamanha que nem sentia o ombro ferido doer. Seu sangue estava quente.

— Me desculpa, Hannah. — Lucas continuou apertando com força, enquanto via a assistente da rádio perder os sentidos.

Em seguida, ela olhou para frente e viu o vulto atrás do atleta. Escutou o baque alto e viu o corpo dele tombar sobre o seu. A loira soltou um grito quando a máscara surgiu da escuridão e foi iluminada pela luz da lua que entrava pela janela. A máscara de caveira.

Reaperface.

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Tema: [ https://www.youtube.com/watch?v=-_OWSeI1be4 ]

Hannah correu para fora galpão de maneira célere, gritando desesperada, quase tropeçando nas próprias pernas pálidas. As luzes coloridas penduradas ao redor do galpão iluminaram seu rosto, enquanto a garota pisava na grama fria. A bailarina olhou para trás, a tempo de ver Reaperface em toda sua “horrorificência” segurando uma marreta em uma das mãos, enquanto na outra a faca brilhava à luz do luar.

— Tory que pariu! — Exclamou a loira, enquanto via o assassino apressar o passo.

Ela estava cansando rápido, já ele parecia ainda ter muito fôlego para persegui-la. Hannah descia a inclinação de terra na direção do lago, sem saber a quem recorrer. Ninguém parecia vê-la ou ouvi-la, ela nem mesmo enxergava ninguém. Aquele filho da puta do Lucky quase me matou. Desgraçado! Cuspiu ela em pensamento, condenando a atitude do atleta. Por culpa dele, sua respiração ficou ofegante e sua garganta dolorida.

— Hannah, Hannah, você será meu principal enfeite de natal. — Dizia Reaperface com sua voz modificada.

— Vai se ferrar! — Hannah gritou, descendo a inclinação com rapidez, sem se importar se o mascarado estava perto ou longe.

— Está ouvindo a música? É natal! O nascimento de Cristo e a morte de Hannah. — Ele falava, enquanto via a garota juntar todas suas forças para não fraquejar naquele momento. Ele ria sadicamente atrás da máscara de caveira. — Você foi uma garota má este ano. Então, será a estrela desta noite. Você não quer ser a estrela, Hannah? Você não quis sempre? Está é sua chance!

— Por que você não senta no colo do Noel e para de me aterrorizar, seu desgraçado!? — Ela berrou, chegando até a margem do lago. Estava encurralada.

Olhou para trás ligeiramente, virando-se nos próprios calcanhares. Porém, Reaperface não estava mais ali. Ele não estava mais perseguindo-a. Hannah parou para respirar fundo.

— Quase foi dessa vez, Hannah... Mais uma perseguição pro seu legado de Chase Scenes na Slasher Story. — Ela murmurou para si.

O silêncio pairou no ambiente, com apenas o barulho dos grilos e da água. Da água?

Hannah foi surpreendida quando Reaperface surgiu atrás dela assobiando e cantarolando:

— I wish you a Merry Christmas.

O assassino atingiu uma marretada certeira contra o rosto da loira, que caiu na água feito uma boneca de pano no segundo seguinte. Dois dentes saltaram de sua boca.

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Assim que abriu os olhos, pouco tempo depois, Hannah reconheceu o galpão. Ela estava pendurada nos fundos do casebre de madeira, com um alçapão aberto bem abaixo de si. Ela não conseguia ver o que havia dentro do alçapão, pela penumbra, mas via Reaperface parado e observando-a com provavelmente uma feição de desdém detrás da caveira no rosto. Hannah sentia um frio impetuoso, causado pelo seu corpo seminu dependurado por cordas. Seus seios médios estavam à mostra e sua calcinha rosa também. Ela rosnou de ódio, mas tentou se recompor.

— Por favor, seu assassino. Eu não mereço morrer desse jeito... — Ela balbuciou, sentindo os filetes de sangue escorregarem da sua testa de bochechas. — Eu preciso viver mais.

— Sua hora acabou, Barbiezinha. Não há mais espaço para você na minha história. — Ele diz no tom aterrorizantemente gutural. — Mas ainda vou dar sua chance de misericórdia de não ter um fim tão triste. Terá que responder três perguntinhas minhas sobre filmes de terror natalinos, antes de ter seu destino final consagrado.

— Por favor... Não... — Hannah começou a chorar compulsivamente, permutando o sangue nas lágrimas. Sentia seu rosto amassado. — Eu poderia muito bem ser sua final girl, Reaperface... Eu poderia me reconstruir, mas você prefere cortar o meu papel. Então enfia essa sua insanidade no meio do cu!

— Pare de latir e aja como uma garota que está arrependida de seu orgulho e vaidade. Responda às perguntas e não morrerá ao cair nesse alçapão.

O assassino caminhou lentamente pelo galpão e ligou um fio na tomada. As luzes vermelhas e verdes iluminaram os pés de Hannah e conseguintemente, todo o buraco do alçapão. Agora a loira lembrava o que existia naquele compartimento. Os anzóis de pesca de seu pai, que logo foram iluminados pelos piscas-piscas. Então, a garota começou a berrar e debater-se nas cordas, chorando mais do que nunca. Os cabelos desgrenhados caía sobre o ombro desnudo, sem o curativo de outrora. A abertura pela flechada do assassino um dia antes, ainda não estava recuperada, de modo que latejava insuportavelmente.

— Lá vai a primeira pergunta. — Reaperface disparou.

Hannah não dava a mínima para ele, estava ocupada demais afogando-se no seu próprio choro.

— Qual o nome do assassino de Natal Negro?

A garota olhou-o confusa. A paranoia em seus olhos percorrendo o casebre, o sangue pingando em seus seios e o frio latente das frestas congelando sua pele.

— Que porra de pergunta é essa? — Ela gritou e debateu-se com furor, os ombros estavam em carne viva, o ferimento da flecha inflamava-se.

— Eu disse que eram de filmes natalinos. Tinha que ser mesmo a loira burra, o esteriótipo mais comum... Parece que chegou a vez da vadia. Hum... — Reaperface debochou, aproximando-se e passando a ponta da faca pela barriga de Hannah.

A garota enrijeceu-se e tentou chutá-lo, mas só acertou o ar.

— BILLY! — Respondeu por fim, cedendo às provocações do assassino e com a voz embargada pelas lágrimas. — Billy Lenz!

— Olha. Quem diria que ela acertaria...

O assassino afastou-se alguns centímetros.

— Agora, a segunda pergunta. — Reaperface tilintou sua arma branca em alguns equipamentos de pesca. — Me diga o instrumento de fazendas utilizado em uma das mortes do filme Natal Sangrento?

O coração de Hannah disparou. Pela primeira vez ela sentiu a morte bater à sua porta e a luz no fim do túnel se transformar no seu inferno pessoal. Ela via a luz ficar negra e desaparecer, deixando-a no escuro. A loira desatou o choro.

— Pare de chorar! — Reaperface ergueu o rosto da garota com a ponta da faca.

Hannah engoliu o choro em seco, o sangue tingindo seus lábios. Ela tombou a cabeça para frente.

— Eu não sei... Eu não sei essa resposta.

— Está fácil, vamos.

— EU JÁ DISSE QUE NÃO SEI, SEU MALDITO!

— Resposta errada, Hannah. — Reaperface recuou e virou-se, indo de encontro a um tipo de engrenagem de madeira do outro lado do galpão. E sem pestanejar, começou a movê-la. O movimento da engrenagem fez as cordas nos pulsos da loira cederem à medida que ele movia.

Hannah começou a gritar insistentemente.

— SOCORRO! TEM ALGUÉM AÍ?! SOCORRO! — Ela debatia-se, enquanto as cordas desciam gradativamente.

Seus pés começaram a ralar nas pontas dos anzóis, cortando-os imediatamente. Parte do corpo de Hannah já estava dentro do alçapão, quando ela avistou Lucky empurrar a porta e atingir a cabeça do assassino com um pedaço de madeira. O mascarado foi ao chão num baque sobre seu manto preto e a loira cessou as lágrimas ao ver o atleta correndo na sua direção.

— Sai daqui! — Hannah berrou.

— Tem certeza? Ele vai acordar já, já. — O rapaz retrucou e girou sobre os calcanhares.

— Não, volta aqui. Era brincadeira. — A loira implorou. — Me desamarra que meus seios não podem aparecer por mais tempo. — Seu rosto corou.

Lucky desamarrou-a com cuidado por causa de seu ombro. Ao contrário de Hannah, ele estava se recuperando mais rápido de seu ferimento. Então, conseguia fazer aquilo com facilidade. Ele tirou Hannah de dentro do alçapão e ambos passaram pelo assassino. Ela mancava, enquanto sentia a sola de seus pés arderem. Lucky deu sua blusa para ela vestir, então a garota a pôs rapidamente.

E Reaperface acordou no exato momento, puxando Lucas para baixo. O rapaz caiu ao lado do maníaco, com as costas no chão. O mascarado pegou a faca e tentou deferir um golpe contra ele. Com dificuldade, Lucky desviou e Hannah apoiou-se na porta, saindo do galpão enquanto os dois estavam em luta. Isso é por ter tentado me esganar, seu idiota. Fechou a porta do galpão logo depois, deixando Lucas e Reaperface lá dentro.

A loira mancou para fora, sentindo o vento esfriar seu corpo. Ela tentava correr pela grama, cruzando os braços ao redor de si mesma. Os cabelos desgrenhados ficavam ainda mais assanhados pelo vento. O líquido vermelho quente banhava seu peito e ela chorava mais uma vez, sentindo a dor do ombro e dos cortes abaixo dos pés.

— A-Alguém me ajude! — Gritou, mas seu pedido de socorro saiu fraco demais. Ela estava ficando fraca, perdendo completamente as forças.

Até que ouviu o baque da porta do casebre velho batendo. Reaperface saiu de lá correndo como louco, arrastando a marreta pela grama. Ele parecia ter se machucado na luta com Lucky, mas ainda sim, tinha velocidade suficiente para alcança-la.

— Você o matou, seu monstro!!!

Hannah berrou desesperada e agoniada, com os seios chacoalhando embaixo da blusa xadrez aberta e olhando para trás a cada dois segundos. Só para Reaperface conseguir chegar até ela, dando uma marretada contra suas costas, fazendo-a desequilibrar e rolar inclinação abaixo. Os ossos estalaram.

Seu corpo girou várias vezes e ela urrava com a dor de sua coluna. Parou lá embaixo com o corpo extremamente dolorido, ela não conseguia nem falar tamanha era a dor de suas costas, ombros e pés. Seus cabelos estavam sujos de grama e seu rosto, de terra.

Olhou inclinação acima e viu Reaperface se aproximar. Ele balançava a marreta no ar, fingindo estar acertando alguém. Inclinou o rosto, mascarado com a caveira, para o lado, como uma criança confusa. Até chegar perto o suficiente de Hannah para analisar seus últimos momentos como a anfitriã da festa.

Ao longo, as luzes de natal piscavam. Um rock pesado fazia versão de natal, e a garota não soube dizer de onde vinha.

Hannah não diria mais nada, sua voz embargada não sairia. Seus esforços seriam em vão, e condenou a si mesma por tudo que fez para que seu destino chegasse de tal maneira. A morte de Miles, a festa natalina, Lucky no galpão... Ela nunca se arrependeria a tempo da redenção, e pela primeira vez na vida, foi a estrela da vez.

Reaperface pisou em seu peito, prendendo-a no chão, para garantir que ela não se arrastaria para qualquer lugar. E Hannah não o faria. A loira gemeu algumas vezes e entregou-se às lágrimas. O rosto sangrava muito. Até que o assassino colocou a marreta paralela à cabeça de Hannah, como num jogo de golf, entre o taco e a bola. E então, Reaperface retirou sua máscara, para que a loira tivesse sua última cena de mártir.

A bailarina arregalou os olhos.

— Então era você? — Ela começou a murmurar. — Mas agora tudo faz sentido...

O assassino não esperou ela continuar a fala e desceu a marreta com força na horizontal, de encontro à cabeça da assistente de rádio. O crânio de Hannah afundo num estalo grotesco e molhado, enquanto o sangue espirrava na vestimenta do maníaco. Reaperface fez o movimento mais uma, duas, três vezes, até metade do crânio e rosto da loira fosse completamente deformado. O olho direito esbugalhou, enquanto a bochecha e maçã do rosto deformaram-se.

O cara de ceifador não se deu por satisfeito. Abriu as pernas sobre o corpo morto da loira e começou a acertar seu tórax com diversas marretadas. As costelas quebraram imediatamente, estalando embaixo da pele. O peito afundou e os seios não aguentaram a pressão, explodindo como massas grotescas e avermelhadas escorrendo pelo dorso.

Reaperface continuou marretando, até ver que o seu tórax estava completamente afundado. Após isso, segurou os braços de Hannah e arrastou o corpo até o píer.

Para concluir, jogou o corpo no lago.

— Feliz natal, Hannah, aposto que você vai adorar o inferno. — A voz gutural sentenciou, vendo o corpo boiar e o sangue espalhar-se junto ao manto escuro.

x-x-x

Gabe Riley arfou.

— Não tem condições de continuar nesse quarto. Vamos sair, parece que tudo acalmou.

Ela falava a verdade. Do lado de fora, o trio preso no quarto não ouvia nenhum barulho sequer. Tudo havia silenciado perturbadoramente. Blaire ainda estava receosa, temendo que algo tivesse acontecido a Peter e aos outros. Ele tremia, mas não deixava que os outros vissem seu nervosismo.

— Eu concordo da gente sair, mas precisamos ter muito cuidado. Não assisti filmes slashers a minha vida inteira pra morrer na porra de um remake de Santa’s Slay. — Rowen comentou, erguendo-se do tapete onde estava e seguindo até a porta.

Blaire e Riley seguiram o rapaz, que girou a maçaneta, para revelar um corredor parcialmente iluminado, com cores diferentes reluzindo no final. Ele pediu que elas ficassem atrás dele, mas Riley era teimosa, ela passou na frente de Rowen que bufou. A produtora do documentário andou até o fim do corredor. Estava diante da escadaria, o hall estava vazio e os piscas-piscas rodeavam a árvore de natal, iluminando.

O trio passou pelo salão com cuidado. Blaire deu de cara com o corpo de Victor Van Der Hills novamente, dentro do saco de presentes e assim que gritaria, Riley tapou sua boca, lançando-lhe um olhar de reprovação. Todavia, os três seguiram até a cozinha, onde encontraram Vince lavando uma faca na pia e Brenda vasculhando os armários.

Os irmãos Hardy assustaram-se com a chegada deles e disfarçaram com olhares receptivos.

— Procurem armas para vocês, nós vamos precisar. — Proferiu Vincent. — Eu acharia mais interessante a porra de um Krampus atrás de nós, mas cada natal tem a polêmica que merece.

— Isso mesmo, nós encontramos algumas coisas bem simples, mas acho que podem servir. Vocês tem que se preparem para caso o assassino retorne. — Brenda completou a fala do irmão.

— Fechado! — Riley ultrapassou os amigos e seguiu para onde a gótica estava. Brenda deu alguma coisa para a garota, que agradeceu.

Já Vince arrumou algo para Rowen, que se aproximou dele. Os dois já pareciam amigos há muito tempo, visto que a interação era instantânea. Blaire permaneceu com cara de songa-monga encostada na parede de braços cruzados. O pensamento da ruiva estava completamente em Peter.

E por falar nele.

Os gêmeos Van Der Hills entraram pela porta da cozinha aos tropeços, inteiramente vermelhos e esbaforidos. Suas roupas finas estavam encharcadas de suor os olhos de ambos estavam irritados, como se chorassem por horas seguidas. Eles tomaram um susto quando viram Vince segurando uma faca bem na cara deles. O Hardy barbudo riu e recuou o objeto.

— E então, onde as Olsens estavam? — Disparou, sem se importar se Peter reclamaria do apelidinho.

— Estávamos procurando nossa irmã, quando vimos o Papai Noel de Natal Negro vindo na nossa direção. — Peter ignorou. — Ele saía do celeiro, então nós corremos feito dois elefantes com sede. — O gêmeo mais velho ainda recuperava o fôlego, encostado no balcão da cozinha.

— Nós chegamos a ver a Penny, mas perdemos ela de vista pouco antes do Noel maníaco aparecer. — Phill confirmou, indo até a geladeira da cozinha para pegar um copo d’água.

Vincent engoliu em seco. Ele lembrava-se de ouvir Penny chamar seu nome, enquanto ele procurava Brenda, mas não soube dizer de onde vinha o grito da amante.

— Por um acaso vocês viram o Johnny ou a Jac? — Brenda perguntou, ela não conseguia tirar a desconfiança do olhar.

Peter negou com a cabeça e ouviu um estampido, virando a cabeça na direção da porta da cozinha. Sentiu uma ardência em seu peito, e seu corpo caiu segundos depois, sujando o balcão de sangue.

Blaire gritou.

O responsável pelo ato estava parado na porta da cozinha, a arma apontada para o restante do grupo. Peter havia sido baleado, o buraco próximo de seu ombro jorrava muito sangue e fazia uma poça crescer pelo piso. Reaperface finalmente concluíra seu trabalho.

Peter olhou para cima e puxou o ar com força.

— PETER!!! — O grito de Phill soou como um trovão pela cozinha dos fundos.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Não esqueçam de comentar! Quem acham que é o assassino?



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