Heróis e Vilões - Um mundo de poderes escrita por Felipe Philliams


Capítulo 6
Fernanda me defende


Notas iniciais do capítulo

AEEEHOOOO CONSEGUI POSTAR O/
ESPERO Q GOSTEM, FOFOS =3



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É, pessoal, esse foi um dos acontecimentos que marcaram meus quatorze anos. Descobri poderes, treinei e perdi em uma corrida e Fernanda perdeu o mindinho esquerdo. As semanas passaram, e eu aprendia cada vez mais sobre como eu podia dominar meus poderes.

Completei quinze anos. Mamãe me deu um smartphone. Eu usava somente para ligações, até porque quase nunca tinha tempo de usar. Estava sempre ocupada treinando... Brincando... Estudando... Sim, tudo. Isso me impedia de aproveitar as "mais de trezentas funções". No geral eu não gostava muito dele, mas minha lista de chamadas até que era grande. Tinha o número de pessoas do colégio, de Fernanda, mamãe, John... E etc.

Meus dezesseis anos foram marcados pela minha primeira luta contra uma vilã. Ela não tinha poderes fortes, então foi fácil. Apliquei um golpe que havia aprendido. Consistia em concentrar-me nos líquidos do corpo dela e então fazê-los vir até mim. Ela morria de sede, literalmente. Era algo estranho, tipo, ela secava. A pele adquiria um tom amarelo-forte, ficando dura ao toque. E áspera. Bem áspera. Dá nojo só de lembrar.

Acabei meu treinamento aos dezessete anos, onde minha última aula foi sobre o monte e a tal da escalada. Aliás, Gary não nos ensinava mais desde que voltamos da férias. O novo treinador chamava-se Wilson. Treinador Wilson. Ele era baixo e calmo. Amava dizer "seus pestinhas" quando chegava e nos mandava arrancar tufos de terra do chão com poderes. Ele falava a tal frase quando, ao invés de jogar a terra de volta ao chão, jogávamos, sem querer (querendo), em seu cabeblo.

Então acordei naquela manhã de sexta-feira - às sete horas da manhã -, na qual eu completava meus dezoito anos. Não sentia-me diferente, fora o fato de que eu já havia completado o segundo grau e que eu faria um curso de engenharia. Começara a me interessar por isso quando fazia o segundo ano. Era interessante...

E depois eu me manteria viva, apenas trabalhando nisso. Morreria feliz e olhando para minha foto: Orgulho-me de você, Marcela Philliam!

Olhei para a parede na minha frente. Estava um pouco encardida pelo tempo, mas ainda tinha a pintura verde-azulada. Aquele com certeza seria O dia marcante da minha vida. Eu teria de escalar o monte, derramar um pouco de sangue e tals. Wilson ensinara-me mais detalhes sobre:

– Todos os montes do mundo têm uma grande casa branca em seu topo. O mutante tem que escalar o monte, mas se tiver uma trilha... Aí o cara é cagado! - rira brevemente, então continuara - Geralmente há um Vilão guardando a passagem para quem vai ser Herói, então digamos que é o desafio. Mas as vezes não tem e o mutante pode seguir em paz. Então, terminada a escalada, o mutante terá de gritar de olhos fechados "Venho no nome de Leatrice Smith, dona da Maldição!"; então, ao abrir os olhos, verá os caras que ela ordenou ficar lá.

Então eu ia subir um monte gritar uma frase nonsense e tirar sangue. Eu havia perguntado isso a Wilson na hora. Ele me respondeu:

– Sim, todos vocês vai ter que fazer isso se quiserem continuar com os poderes. Ah, e importante: Se forem Heróis, vão ter que fazer um corte no pulso, não para pegar na veia, mas só para um pequeno sangramento. Se forem Vilões o corte vai ter que ser na região um pouco abaixo ao olho, qualquer um.

– Mas como a gente sabe que a pessoa é Herói ou Vilão? - perguntou, na ocasião, Fernanda. Depois eu percebera o quanto incoerente e nonsense fora essa pergunta.

– Se for Herói, o corte no pulso vai sumir assim que deixarem a montanha, então vai modificar-se em uma pequena bolinha verde na área. E se for Vilão vai acontecer o mesmo, mas a marca deles é o par de olhos, que vão ficar com a íris vermelha.

– Mas assim não é fácil perceber quem é Herói? - um cara aleatório perguntara.

– Você só olha essas marcas depois de um olhar atento. Agora, quem quer briga de elementos opostos?

Então é isso. Eu vou ter de subir um monte, gritar uma frase e fazer um corte pequeno no pulso usando uma faca imaginária. Então eu teria de descer e voltar a minha vida.

Êêêêêêêêê!

Seria um dia "Legal! Bem loko! Empolgante".

Banhei-me. Na verdade, meu banho era resumido a controlar a água pelo meu corpo, limpando tudo. A sensação era boa, mas eu não ficava com cheiro de sabonete; ficava com cheiro neutro. Então tinha de passar perfume.

Vesti um camisa laranja fraco - fraquíssimo - com pequenas mangas e um short a altura dos joelhos. Escovei meu então levemente ondulado e longo cabelo a ponto dele ficar macio. Eu devia ter orgulho do meu cabelo. As meninas que gostavam de cabelos no colégio ficavam com inveja. Perguntavam o que eu fazia e eu lhes dizia que lavava-o bem. Coloquei minha pulseira da sorte - Fernanda me dera de presente no aniversário passado - e calcei um tênis Nike preto, detalhado de rosa.

Saí do quarto. Minha mãe estava na sala assistindo ao jornal matinal, que se resumia a morte, tiro, assassinato, furto, violência policial e coisas do tipo. Claro que era de outras cidades, porque Lancing Lord tinha mais era polícia fazendo bom trabalho, o Brasil indo para a frente e propagandas sobre como o país estava rico. Eu sempre achava aquilo estranho, mas simplesmente ignorava. Fui até a cozinha após gritar:

– Mãe, quero ovos e bacon! - anunciei, jovial.

– Os ovos estão na geladeira, mas o bacon é você! Acha que eu não vi suas roupas no chão, senhora Sujeira? Porca! Imunda! Sebosa!

– Não duvido nada de você, senhora Sabão! Limpa! Cheirosa! Higiênica! - falei aquilo de tal modo que pareceu uma ofensa grave.

Fui à cozinha com um sorriso no rosto. Mamãe sempre acordava de bom humor e me contagiava, então digamos que raramente eu chegava na escola triste.

Abri a geladeira. Tinha um quarto de uma melancia, jarras com água pura - filtradas por mim -, ovos, verduras, legumes, carne e etc. Tudo o que uma geladeira pertencente a alguém de classe média baixa pode ter.

Fritei os ovos e bacon com um belo cheiro exalando a cozinha. Dei uma metade a minha mãe, porque ela pedira muito.

– Ok, senhora Sabão, mas só se limpar meu quarto!

– LIMPO! Limpo seu quarto com a língua, se precisar! - implorou.

– Eca! Toma, pega a metade! Te dou se você NÃO limpar.

Ela comeu rindo da minha cara de nojo. Eu não pude deixar de rir também. Eu sempre gostava de estar com minha mãe. Conversávamos e interagíamos como amigas íntimas e não como mãe e filha. Claro que isso mudava quando eu fazia alguma besteira, mas no geral era tudo uma só delícia - aí aparece o Jailson, pai de família.

Cara, eu amava minha mãe demais.

– Ok, já estou indo - falei, indo.

– Ok, filha - ela aproximou-se e deu-me um abraço, aconchegante e firme. Cheirava a paz, alegria, regozijo, amor e felicidade; com um pequeno toque de queijo. O cabelo preto cacheado daquela mulher de trinta-e-oito anos não mostrava a velhice que chegava

– Awn, também te amo, mãe - falei, retribuindo o abraço - Ok, tenho que ir, se não perco meus poderes! - falei, afastando-me apressada.

– Está bem, só não vá morrer.

Saí de casa, dando destaque ao sol amarelo-alaranjado daquela manhã, chegando lentamente ao meio do céu. As várias nuvens no céu voavam inquietas de um lado ao outro, cobrindo e descobrindo o sol. Dois pássaros voavam de um lado ao outro, felizes. Os carros começavam a dominar às ruas e as pessoas, às calçadas.

Andei até a casa de Fernanda, parando em frente à porta. Eu bateria, mas ela abriu primeiro e tropeçou em mim, girando na queda e fazendo-me cair encima dela.

– Marcela, sua doida, o que ACHA que está fazendo encima de mim? Eu já te disse prefiro homens!

– Você é uma pervertida.

Levantei-me e olhei para ela. Suas feições haviam mudado um pouco, estava mais... Bonita. Lembrava uma modelo alemã, daquelas que por onde anda faz sucesso. O cabelo loiro dela havia crescido dois centímetros e então chegava até a altura da axila. Os olhos castanho-escuro ainda tinham um olhar de "dane-se"; mas ela não estava mais tão atrevida e o olhar enganava a personalidade.

– Ok, vamos mudar esse assunto "lesbian" - falou.

– Sim, claro. A gente vai ter de viajar para outra cidade rapidinho, né? Eu estava checando os mapas e não vi nenhum monte nas proximidades.

– É, minha mãe me falou isso. E me deu dinheiro para pegar um daqueles táxis que levam de uma cidade a outra.

– Não estou sabendo disso.

– Métodos recente do prefeito.

Assenti. Muitas vezes o prefeito comandava a cidade como se fosse um presidente. Embora o resto do país estar em Ditadura, o prefeito conseguiu fazer um acordo com os militares e eles abriram uma exceção para Lancing Lord, desde que não fossem muito notadas. Então mudaram o nome da cidade - esconhido pela população democrática - e ali estava LL, a cidade esquecida pelo resto do Brasil.

Ok, parei com a política.

– Onde pegamos o tal táxi? - perguntei.

– Vamos ter de ir para um posto, dãããã!

– Ah.

– "Ah".

Olhei ela de cara feia. Caminhamos até o posto. Ele ficava em uma das principais avenidas da Parte Dois, perto de uma esquina.

[...]

Já dentro do táxi e cruzando a parte "deserto" de LL, olhei para a pequena floresta que havia na direita e esquerda. Aquela floresta era lembrada por esconder ladrões que assaltavam as pessoas que viajavam. Era uma situação na qual eu devia ter medo, mas, sinceramente, não estava nem um pouco. Depois de lutar contra o primeiro Vilão, eu já não tinha mais medo dos humanos, até porque, o que de mal poderiam fazer-me.

Eu provavelmente começaria a pensar na Primeira Guerra Mundial, mas aí a motorista cortou meus pensamentos.

– Então... Vocês vão aonde? - perguntou. Sua voz era firme e calma, com um tom de interesse.

– Vamos para, an, a cidade mais próxima! - falei, hesitando e ao passo que escolhia e estudava as palavras que flutuavam no ar.

– Fica a quatro dias daqui.

Olhei para Fernanda, com o queixo caído. A mulher pareceu notar e falou, com uma risada.

– Estou brincando! Mas fica longe o suficiente para que só consigamos chegar à noite.

– Desde que chegamos HOJE... - comentou Fernanda.

– Então querem chegar ainda hoje?

– Sim. Temos que encontrar umas amigas nossa no alto do monte mais próximo.

Estava ÓBVIO que qualquer humano e seguiria calado, mas...

– Vocês são mutantes?

Senti um nó na garganta enquanto olhava para Fernanda de cara feia. Então ela disse:

– Do que você está falando?

– Que vocês são mutantes. Não adianta dizer que não, até porque humanos não sobem em montes para fazer uma reunião de amigos.

Minha barriga ficou fria. Meu coração começou a bater mais forte.

– An, somos - falei, fazendo um certo esforço para manter a voz firme.

– Que legal! Eu também sou! Aliás, há um monte aqui perto, foi lá onde eu fui.

Eu estava sentada no banco detrás do motorista. Fernanda estava no passageiro, ao lado do motorista (obviamente). O retrovisor frontal me dava um belo reflexo dos olhos da mulher. Tentei me concentrar, para ver se alteravam, mas não o fizeram. E pela inquietação de Fernanda, ela não tinha a marca no pulso.

– Eu não sou Heroína, se é o que está pensando - comentou ela, fixando o olhar em mim pelo retrovisor central do carro.

– An...

– Vocês vão ser Heroínas, né?

Ficamos caladas, o que foi um erro. Eu sabia o silêncio estava dando a ela a confirmação necessária, o que se enquadrava no velho ditado "quem cala consente". Logo ela diminuiu aos poucos a velocidade do carro e olhou para nós. Seu olhos emitiam um brilho vermelho vívido, o cabelo ruivo combinando.

– O.k, vocês se parecem com as meninas da profecia.

Meu cérebro tentou raciocinar várias coisas ao mesmo tempo. Lembrei-me do que minha mãe falara sobre uma mutante que acabaria com alguma coisa. Eu não me lembrava do resto, pois ela me disse aquilo havia quatro anos. Talvez minha memórias voltassem ao tempo e fariam-me lembrar de tudo, mas isso demoraria, ou eu precisaria de mais concentração; a questão é que não teve como eu me concentrar, pois a mulher parou o carro bruscamente. Se não fosse pelo cinto de segurança, teríamos virado pastel de galinha.

– Vocês NÃO vão matar minha mãe!

Ela fechou a mão em um punho e empurrou-o na minha direção, mas nesse momento Fernanda deu um chute na mão dela. O golpe foi desviado para a porta do carro, fazendo a mulher gemer de dor. Aproveitei a burrada dela e desferi um golpe, o que a fez cair para trás por alguns segundos.

Era nossa chance de fuga. Soltei o cinco de segurança e abri a porta do carro.

Havia um pequeno estabelecimento a algumas centenas de metros dali. O sol batia fortemente no chão, o que resultava em um asfalto quente; talvez pudéssemos fritar água; não, pois esta queimaria.

Como o ar-condicionado do carro estava ligado, senti um pequeno choque no meu corpo quando saí. Não tive tempo de aproveitar, pois nessa hora, a porta do carro voou contra mim. Fernanda se interpôs entre mim e a porta do carro, que bateu nela. Ela logo explodiu em uma chuva de areia.

Eu não estava muito acostumada com aquilo, então senti um calafrio. Se não fosse pelo que estava acontecendo, eu daria uma risada: quatro anos e eu ainda não me acostumara a ver Fernanda usar o poder dela.

A mulher saiu do carro. Seus braços estavam gigantes, tipo, com dois metros de tamanho. Ela tinha um olhar de morte e uma expressão assassina.

– Ah, pedaço de cocô, venha aqui! - berrou.

Sua mão direita esticou-se até chegar perto de mim. Caí para trás, empurrada pelo soco no meu rosto. Minha visão desfocou um pouco, mas voltou ao normal em tempo suficiente para eu ver e desviar de um outro golpe. A mão dela bateu no asfalto, fazendo-a gemer de dor mais uma vez.

Bem, eu não gostava da ideia, mas sabia que teria de fazer aquilo se quisesse viver: eu teria de matá-la.

Corri os olhos rapidamente pela paisagem, a procura de alguma tábua de madeira, ou galho. Algo parecido. Ela ainda gemia de dor quando vi uma tábua de madeira.

Quando tentei correr para pegá-la, uma mão segurou meu tornozelo, fazendo-me cair no chão. Ignorei a dor em meu tórax e tentei levantar-me, porém ela ainda segurava meu tornozelo. Virei-me e fiquei de barriga para cima, como se estivesse tomando banho de sol. Ela pulou encima de mim, tentando dar um soco em meu rosto. Segurei a mão dela.

Por sinal, ela tinha uma mão mole, chegando a ser maleável. Era MUITO estranha. Contudo era forte. A mão dela era BEM forte.

Isso ficou meio confuso, então vou voltar para a ação.

Ela usou a outra mão para tentar se livrar, largando meu tornozelo. Senti o soco forte, não evitando fraquejar por uns segundos. Ela se desvencilhou da minha outra mão e tentou bater-me, mas eu já havia recuperado a consciência e desviei do golpe.

A mão dela batia no ar quando eu dei um tapa no rosto dela. Usei minha máxima força, que não era muito considerando que eu tinha levado uma queda. Ela ficou atordoada por um segundo, mas logo tentou retribuir o ataque. Interceptei a mão dela e dei-lhe um soco, fazendo-a cair para trás e sair de cima de mim.

Levantei-me e corri até a tábua. Olhei de relance para trás e vi ela esticando a mão até mim. Minha mão estava a dois centímetros da tábua quando as mãos dela enrolaram-se em torno da minha cintura. Fui puxada bruscamente para trás.

Fui recebida com uma cabeçada. Então fiquei com a vista embaçada por alguns segundos, apenas sentindo vibrações e gritos de dor.

Mais tarde eu entendi o que houve: Fernanda recuperara-se e começara a atacar ela, que me largava aos poucos. Logo caí no chão mais uma vez, ao que lentamente minha visão voltava.

Levantei-me.

Fernanda lutava contra a moça. Os braços de Fernanda haviam crescido, ficando mais grossos e longos. Tinham uma coloração amarelada. Eu tinha a impressão de que iam voar ao vento em qualquer momento. Ela estava com braços de areia.

Debaixo de escorregões tontos, corri até a tábua. Peguei-a e virei-me para trás, afim de mostrar à mulher que eu tinha uma arma, mas algo duro bateu na tábua, que quebrou em seguida. Tentei achar o que ou quem havia causado aquilo, mas vi que, para meu azar, vilmente a tábua tinha quebrado por estar velha.

Desviei de relance para baixo e vi a mulher deitada no chão; havia voltado ao normal, olhando para os braços, obviamente. Fora as marcas roxas, os arranhões e o sangue saindo do nariz, ela ainda parecia viva. Talvez tivesse desmaiado, ou coisa parecida. Fernanda e sua cara de areia estavam levemente deformadas e seus braços haviam voltado ao normal.

Corri até Fernanda fiquei olhando por alguns segundos até ela voltar ao normal. Me incomodava o fato dela simplesmente curar as feridas virando areia, enquanto eu tinha de esperar semanas de dor.

– Matou ela? - perguntou Fernanda, já inteira.

– Não - falei, com um pesar na voz. - Você sabe que eu não teria coragem.

– Ai, você é muito fraca! - ela pareceu dizer "ah, coitada...", com um toque de pena.

– É, também te amo, cara de terra.

– Não enche. Vou matar ela, não olha se não vai vomitar.

Fernanda parecia ter uma sede de sangue mas eu sabia que ela não era necessariamente assim. Ela só queria parecer corajosa, o que quase sempre era fato. Eu sentia que ela seria capaz de enfrentar o próprio medo a todo custo. Meus pensamentos foram provados quando a vi andar corajosamente até o corpo inerte da mulher.

– Ei, Marcela, tenho uma ideia melhor! - berrou.

[...]

– Você não está sendo cruel demais? - perguntei.

– Ah, não - falou, de maneira indignada - Não queira ter pena da Vilã. Ela queria nos matar! Como eu iria ter sonhos eróticos com você estando morta?!

Olhei para Fernanda. A frase dela tinha um tom de ambiguidade, o que, percebendo eu, fazia sentido, sendo que a Vilã queria matar a nós duas.

– Você tem sonhos eróticos comigo?

– Não, eu só queria ser engraçada. Anda, me ajuda.

– Você pode controlar areia, estamos no meio de um mini-deserto e você quer ajuda para colocar um corpo dentro de um buraco?! Você é o bichão mesmo, hein, doida.

– Ok, Marcela, eu faço sozinha.

Então ela fechou os olhos e comandou um suporte de areia que levou o corpo da mulher e a colocou dentro do fundo buraco. Ela queria fazer a mulher SOFRER - carinha malvada sorrindo - ao acordar dentro de um buraco fundo, à noite e sem saída. E sem nenhum meio para suicídio.

– Você é do mal - falei, já na estrada, andando até o estabelecimento que eu vira.

– Não; louca, psicopata, alienada, mas do mal, não.

Quando chegamos no estabelecimento um velho homem nos cumprimentou com um sorriso sem dentes. Tinha uma barba branca e grande, as roupas cinzas surradas e um olhar de: "no meu tempo, as pessoas paravam em estabelecimentos no meio da estrada".

Vai entender.

– Com licença, querido ancião, podemos utilizar seu telefone? - perguntou Fernanda.

– Sim, claro. Está ali encima. - falou ele, sem mais, nem menos.

Entramos no local, ignorando as várias prateleiras de comida enlatada, óleo de cozinha, sal e salgadinhos. Também haviam potes de bombons e doces, juntos a sacos de farinha seca, ração para mascotes - gato, coelho, cavalo, ostras do mar (?), aves e peixes -, feijões, arroz... Tudo reunido em um cheiro de canela, que chegava a ser reconfortante. Calculei que ele se faria bem se mudasse de negócio; atrairia mais clientes na Parte Três.

O telefone estava atrelado à mesma parede dos bombons. Seu fio encaracolado estava levemente emaranhado, o que daria uma terrível dor de cabeça a quem tentasse arrumá-lo. Quando tentei ligar, fiquei duvidosa sobre o número, pois o telefone não tinha aquela telinha verde que mostrava os números. Fernanda tomou a frente e discou implacavelmente o número.

Cinco minutos depois ela apareceu ali. Estava dentro de um fusca cor de âmbar e com as rodas novas. Ela tinha no rosto uma expressão que dizia: "que tal irmos para minha casa? Quero torturar você com o pau-de-arara". Entramos no carro, à despeito da tortura. Fernanda contou a ela o que aconteceu, ao passo que nos aproximávamos do monte. Eu apenas notava a paisagem mudando aos poucos, de um deserto para um monte de rocha no chão e, logo, campos de grama.

Não demorou para que eu avistasse, ao longe, um grande monte.

Quando alguém fala "escalar monte" eu imagino algo parecido com o Everest. Um monte que tivesse como base rochas pintadas de verde pelo musgo e árvores perto; um corpo de rocha desgastada, mas firme, com um olhar desafiador; uma cobertura branca de neve escondida em nuvens no topo, junto a uma casa branca de mármore e vários mutantes saindo e entrando de lá.

Eu só errei na última parte.

O monte era igual ao que eu pensava que fosse. O mesmo mar de gramas altas balançando ao vento, fazendo seu caminho até a base. Não pareciam ter mutantes ali, mas pelo visto não iria ter. Embora lindo, parecia abandonado e que ninguém pisava ali havia milênios. Eu tinha a impressão de que a qualquer momento ia sair um Yeti com uma clava marrom de dois metros, urrando e gritando "FEIJOOOOOES".

– É aqui - disse Luzia, quando parou em frente a um cercado que se estendia até o infinito; - vão lá e, quando voltarem, estarão de volta.

Eu ri. Fernanda olhou-me com uma expressão de "você é doida", de maneira cômica.

Caminhamos até a base. No caminho Fernanda me falou sobre estar afim de um garoto no curso dela. Explicou sobre como tentava se aproximar mais do garoto, afim de puxar uma conversa e quem sabe pedir para sair. Não pude deixar de sentir uma inveja básica. Estávamos lado a lado desde que tínhamos quatro. Já havíamos embarcado em aventuras distintas e tudo mais, enfrentando monstros mitológicos; salvando vilas de ataques de goblins e etc. Tudo isso para ela anos para ela anunciar que estava apaixonada por alguém.

Logo senti culpa. Eu também estava afim de alguém, mas eu ainda não comentara. Eu não gostaria de ficar com a dúvida martelando na cabeça e muito menos o fato de que em breve eu não compartilharia o que pensava com minha amiga, mas sim com um cara.

Mas eu tinha que levar em conta o fato de que estávamos crescendo. Já tínhamos dezoito anos e, em breve, iríamos querer casar, construir uma família, fazer várias coisas. E que fizéssemos isso com a pessoa certa.

Meus pensamentos foram cortados quando chegamos a uma trilha de terra com bordas de pedras


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Notas finais do capítulo

Qualquer errinho, pls me digam =3
agradecido a lida :3



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