Heróis e Vilões - Um mundo de poderes escrita por Felipe Philliams


Capítulo 24
Dores de cabeça


Notas iniciais do capítulo

oiiii n.n/
Eu sei, eu sei, demorei. Nao era bloqueio criativo porque eu sabia o roteiro do capitulo. Eu só tava sem vontade de escrever kkkkkkkk.
Bem, eu tomei decisões para a historia que... alguns de vcs nao vao gostar. Mas nao vou revelar até o final. Espero compreensão da parte de vocês - ou nao, vai que joguem bombas na minha cara e me matem kkkk. Enfim, ao capítulo "Dores de Cabeça", com algumas revelaçoes bem chocantes.



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Nenhum dia jamais poderia ser considerado fácil naquele lugar. Não importava a hora da manhã, tarde ou noite, sempre havia trabalho para fazer, dificuldades a ser enfrentadas. Frequentemente ela era acordada debaixo de pontapés ao passo que alguns gritos rudes em português lhes davam as instruções da tarefa. Depois eram empurradas através de um corredor escuro para uma fábrica enorme. O dia começava assim, sempre. O simples pensamento de que logo aconteceria tudo de novo fez seu coração pulsar mais rápido. A respiração entrecortada revelava a mistura de raiva e tristeza que sentia, com uma pitada de submissão. Era como um litro de merda líquida que ela tinha de beber gole por gole durante o dia todo, apenas esperando o momento em que o conteúdo se esvaziasse. No entanto, a jarra sempre estava cheia de novo, e dia após dia ela tinha de engolir litros e litros desta amarga danação.

Mas ela não estava sozinha ali. Outras dez garotas encontravam-se deitadas naquele chão enegrecido e podre, coberto por uma fina camada de água suja. Amontoadas naquele quartinho, ela e suas companheiras de tortura tinham de lutar entre si todos os dias quando alguém jogava através da abertura da porta uns pedaços comidos de galinha. Eram sempre poucos e mirrados, ruídos, mordidos, quase não davam para saciar a fome selvagem resultante de horas, talvez dias, de privação alimentícia. Ela já tinha pegado um pedaço um dia, quando era tarde o suficiente para estarem todos, menos ela, dormindo. Eram as primeiras semanas dela naquele lugar, e ainda não havia compreendido a gravidade de sua situação. Ainda não entendera que estava ali para definhar até a morte junto a garotas de outros países, de diferentes idades, com as quais comunicação era impossível. Sentara-se de encontro com a parede, abraça as pernas e abaixado a cabeça, tentando fazer o menor barulho possível enquanto sua garganta deixava escapar ruídos de choro e desespero. Ela não entendia como não havia se acostumado àquelas situações extremas. Naquele ponto de sua vida já passara por coisas às quais nenhum ser humano sobreviveria, mas subitamente, agora que sabia onde estava e o que estava acontecendo, tudo mudou e ela sentia que logo se mataria para acabar com o sofrimento. Nesse momento ouviu passos se afastando enquanto uma coxa de galinha, assada, fresca e grande, coberta de molho, era jogada através da abertura. O chão estava sujo e, quando a comida caiu, ela tentou pegar imediatamente, para evitar que rolasse. Não conseguiu; comeu do mesmo jeito, a superfície coberta de lama, um gosto amargo e podre que a deixou brevemente nauseada. Aconteceu há cinco dias e, desde então, foi a última vez que dormiu sem fome.

Estava com fome agora. Podia sentir seu próprio estômago retorcendo-se dentro da barriga, implorando por um pedaço de comida. Quando ficava assim, recordava-se de quando estivera na escola, durante o nono ano, antes do Ensino Médio, mais especificamente nas aulas de História. Seu professor ia direto ao assunto – ao contrário de alguns que preferiam revisar a aula passada ou dar uma descontraída – e dava a aula fazendo esquemas no quadro que se interconectavam e, à medida que mais quadros apareciam, ele ia descrevendo o porquê de estarem lá. Ela se lembra do quanto a sala ficou enojada quando Rogério descreveu os campos de concentração nazistas e todos os experimentos desumanos a que foram submetidas pessoas que não fizessem parte da raça ariana idealizada por Adolf Hitler. Rogério fazia questão de descrever tantos detalhes quanto podia acerca do que aconteceu e ela cada vez mais ficava enojada. Quando ele mencionou a privação de comida por quase um mês, ela ficou pensativa sobre isso pelo resto do dia. E agora estava prestes a fazer o mesmo que as pessoas fizeram. Sua fome era tão violenta que qualquer indício de fonte enérgica era o suficiente para fazê-la ficar em alerta.

Ela conseguia ver vultos ao longo da escuridão. Negras sombras com órbitas oculares vazias e mãos ossudas, de onde brotavam pequenas fibras de carne decomposta. Seriam demônios? Estaria ela sendo atormentada por seres sobrenaturais por estar pensando demais? Ela lembrava-se das ordens do seu mestre – ou pelo menos ele dizia ser – quando a viu reflexiva demais pela primeira vez. “Não pense muito”. Ele tinha dito aquilo em um tom de autoridade, o mesmo tom que sempre usou quando se dirigia a ela. Ela fez o possível para obedecer ele, mas nada parecia funcionar; o que ela deveria fazer quando sua única companhia de cela eram os pensamentos sobre fantasmas do passado, brevemente visíveis e persistindo comunicação? No final, sempre pensava e acabava esquecendo que estava pensando. Nestas horas, quando recordava-se de que não deveria estar pensando, batia sua cabeça contra a parede e começava a gritar tão alto quanto podia, segurando o choro, pois também havia sido proibido. Geralmente fazia isso diversas vezes, até que alguém abria a porta e lhe aplicava pontapés na cabeça e entre as pernas. Ficava tremendo de dor, mas seus pensamentos morriam.

Ela tentou olhar para seus dedos. Estava frio e escuro demais para ver qualquer coisa, por isso teve que se basear em seus sentidos quando aproximou-os à boca. Não se atreveu a cheirá-los, deviam estar impregnados com o fedor de fezes e urina. Esfregou ele na camisa, tão forte quanto pode, até ter certeza de que conseguiria ao menos disfarçar o cheiro. Sua boca não salivava, o estômago não se manifestou e o dedo tremia. Talvez não estivesse tão extremo assim, afinal de contas ainda era uma mutante. Algum tipo de resistência extra devia restar em si; por isso afastou-os e deitou-se no chão, fechando os olhos em uma tentativa de dormir. Seu mestre talvez estivesse certo: pensar demais estava lhe deixando doida. Ela não queria enlouquecer de vez, afinal, por mais que sabia do seu terrível destino, ainda tinha uma esperança de que algo viria lhe salvar. Só não sabia o quê.

O chão exalava fezes e urina, havia uma lama podre e marrom em todas as partes e toda a sala estava ausente de quaisquer apoios ou camas. Era um quarto simples com somente uma porta em uma parede, sobre a qual uma janela com grades fornecia a única fonte de luz quando era hora para tal. No momento, a luz do corredor estava desligada deixando um breu que a fazia se sentir cega. Havia algumas protuberâncias no chão: pelo menos dez garotas, incluindo ela, estavam amontoadas, seminuas, tentando dormir. Era provavelmente a coisa mais importante a se fazer, e ela sabia disso. O dia seria cansativo, longo e trabalhoso: ela precisava de sono. Mas por algum motivo, ele não vinha. Nem indícios de cansaço ou quaisquer coisas. Ela estava, na verdade, sentindo-se fraca e enojada, mas não cansada. Não entedia porquê e, quanto mais queria pensar nisso, mais se recusava. Ela estava apoiada no canto da sala, perto das outras garotas. Estava escuro demais, por isso seus sentidos se basearam em memorias para imaginar como elas estavam todas deitadas sobre si, as pernas e braços jogados sobre os corpos das outras. Ela não recebia banhos tão frequentemente quanto devia, por isso devia estar fedendo de tal maneira que o enjoo ao sentir seu cheiro devia ser palpável, mas ela não sabia qual era a situação das outras garotas. Aproximou-se em uma tentativa de respirar profundamente, mas assim que começou, percebeu que havia algo de errado com seu olfato. Por mais que tentasse, nada vinha em seus sentidos, nenhum cheiro aparecia, nenhum retorno olfativo sobre o lugar, nem nada. Aproximou ao seu nariz o dedo que havia esfregado na camisa agora pouco e tentou cheirá-lo, mas nada aconteceu.

“Estou... gripada?” Foram as primeiras coisas que atravessaram a mente dela. “Mas mutantes não ficam doentes!” Ela recordou-se de um dia incrivelmente distante no passado, há muito tempo, quando ainda estava aprendendo suas responsabilidades como mutante. Foi algo que um treinador lhe disse, palavras que ficariam com ela para sempre:

— Gente, mutantes não podem pegar doenças idiotas, tipo gripe, tuberculose, dengue, coqueluche, caxumba ou malária. Essas coisas são fracas demais para o poderoso e efetivo sistema imunológico de um ser dotado de habilidades sobre-humanas.

E a realidade tinha obedecido a essa frase desde que começou a ter indícios de sua capacidade de controle da água, passando pelos tempos onde o treinamento ficou mais pesado, até quando entrou na RM; mas agora, subitamente, ela não sentia cheiro nenhum, o que devia ser impossível visto que ela estava em uma sala coberta de urina e lama, que, agora que ela parava para pensar, talvez fosse excrementos líquidos. Era estranho, afinal pelo menos alguns dias atrás mordera aquele pedaço de galinha e sentira o horrível gosto daquela lama repugnante. E agora não sentia cheiro de nada.

Mas, mesmo assim, ainda era estranho como seu nariz não tinha ameaçado escorrer até então, o que é a mais comum e rápida maneira de saber se alguém tem ou não gripe. Só este fato fez a cabeça dela doer, afinal, ela sentia fraqueza e se encontrava incapaz de sentir cheiros, mas não espirrava, não tossia e nem tinha dores de cabeça. Talvez estivesse somente paranoica e não sentia cheiro por que seu nariz fora socado algumas vezes; ou porque estava adormecido pelo cheiro de merda. E fraqueza poderia estar vindo da ausência de comida. É isso. Ela não havia comido nada que pudesse sustentar toda a energia que a permitia ser uma mutante, por isso não conseguia nem falar direito. E, quanto à sua capacidade controlar água, nem tentara usá-la. Sabia que estava sendo privada de todos os alimentos, exceto galinha, por esse motivo.

Ela sentiu movimentos quando uma forte luz foi subitamente acesa no lado de fora. Olhando para frente, na direção da porta, ela tentou concentrar seus pensamentos nos arredores, em uma desesperada tentativa de se proteger de algo, mesmo que não soubesse o quê. Sua respiração subitamente acelerou, e as mãos se posicionaram em frente ao corpo, para ter mais chances de se defender. Suas orelhas pareciam tremer enquanto o som de pele deslizando sobre pele os invadia. Talvez uma das garotas tivesse acordado ou estivesse se movendo enquanto seu sonho prosseguia. Ela sabia que isso era capaz, já ouvira falar de gente que se mexe enquanto dorme, embora nunca tenha presenciado. Ela não sabia o que era, não parecia ser algo normal. Sempre acordavam com os chutes urgentes exigindo trabalho enquanto as garotas se preparavam para a humilhação, mas nunca eram acordadas sozinhas assim. Eles se certificavam-se de que todas estivessem sempre exaustas demais para qualquer coisa.

Murmúrios foram ouvidos e mais movimento surgiu. Havia então uma figura em pé, cuja forma era delineada em curvas irregulares, começando pela cabeça oval e terminando em pernas nuas. Pelo esboço, era possível distinguir uma postura extremamente reta, ao ponto de parecer doloroso. Ela não sabia o que fazer, recuou, com medo; a sombra não se moveu, apenas ficou parada, em pé, olhando para frente, para trás, para uma direção que no momento não interessou a garota. Os murmúrios a seus pés lentamente cessaram e o silêncio pesado caiu sob o lugar, dessa vez amplificado pela presença de uma garota acordada antes da hora. Não estava certo, não devia ser assim. “Ela não está respirando”, percebeu, atônita, enquanto segurava as lágrimas da impotência.

Afastou-se tanto quanto conseguiu, mas a garota ainda estava lá, parada como uma estátua. Nenhum cabelo podia se distinguir, apenas a face, pescoço e corpo. Ela cobriu a face com as mãos, tentando afastar aquela visão aterrorizante, fazer parar, desaparecer; tudo o que ela queria naquele instante era estar em casa, perto de sua mãe e de sua amiga, cujo nome mal se lembrava. “Eles estão tentando me quebrar...”, pensou, recordando-se das ordens daquele que se dizia seu mestre, das consequências mediante desobediência e das visitas semanais àquela sala, com o médico. Lembrou-se de tudo enquanto estava encolhida, fugindo, se escondendo, como lhe ensinaram a fazer; das letras que flutuavam nas paredes de seu antigo quarto, vermelhas, brilhantes, bonitas. “Eram... nomes...”; sua cabeça agora doía intensamente, mas ela queria lembrar. Queria tanto saber seu nome, estava prestes a falar ele em voz alta a qualquer hora. “Meu nome...”, pensou, tentando manter-se focada em seu o objetivo à medida que passos começaram a ecoar e mais murmúrios, dessa vez assustados, foram ouvidos; “Qual... era mesmo...?”, pensou, antes dos sons continuarem pelo que pareceu uma eternidade.

Uma súbita pontada de dor fez ela despertar confusa. Conseguia distinguir gritos ao longo do lugar e sons de couro em carne. Alguma coisa estava errada:

— Levanta! Anda, preguiçosa! – a voz era rude, grossa, carregada com uma dificuldade de pronúncia do cedilha.

Seus olhos trouxeram-na de volta à realidade. A figura havia sumido e uma luz entrava pela a abertura da porta para iluminar vagamente o quarto. Ela distinguiu dois homens, altos e cercados por músculos, olhando impacientes para o chão cheio de garotas se levantando. Havia movimento próximo aos pés deles, e ela tomou cuidado para não saber o que era. Forçou-se a ficar de pé, suas roupas surradas mostrando largos pedaços de suas partes íntimas. Os homens que olhavam para as garotas ouviram berros em um idioma que ela não conhecia e logo viraram os olhos pela sala, procurando algo.

Não algo. Alguém.

A luz que vinha da porta iluminava a pessoa que estava lá, de pé; aquela que dera as ordens. Parecia jovem, os cabelos pretos e curtos levemente iluminados pela luz. A garota conseguiu distinguir uma característica que preencheu a dúvida e confusão com uma sensação de pavor à qual não conseguiu se desvencilhar. Saindo do meio da sobrancelha esquerda daquele homem – longe de ser jovem, ela percebeu – serpenteava uma ondulada cicatriz, percorrendo o lado esquerdo de sua face e deitando-se sobre o início do lábio. Ela já tinha visto aquela cicatriz antes, já havia experimentado a horrível sensação de medo ao ver o rosto dele transformar-se de uma carranca a um poço de felicidade. “Qual o nome dele...?”, ela perguntou-se, tentando arrancar seus olhos dele. O homem havia lhe chamado de “6165” e lhe deitado sobre uma maca. Mas nenhuma memória recorrendo seu nome lhe veio à mente.

Alguém esmagou o pulso da garota enquanto a puxava para cima, forçando-a a meio caminhar e meio tropeçar no caminho. Ela não sabia que suas pernas estavam tão fracas assim, mas, fora isso, nada pareceu doer muito. O instante em que atravessaram o quarto com ela tropeçando passou-se em um flash. Saindo da sala, a garota de nome – ou apelido – 6165 pôde ver a brilhante luz que guiava o caminho através daquele longo corredor, as paredes incrustadas com portas precisamente espaçadas. As luzes estavam distanciadas de tal maneira que nenhuma porta recebia suficiente luz para iluminação dentro dos quartos que guardavam. 6165 observou atentamente o design das portas: retângulos de metal decorados com parafusos redondos enormes junto a um quadrado no meio da abertura, de onde três barras brotavam-se paralelas aos lados dos quadrados. Havia espaço suficiente para jogar-se restos de galinha assada e frita que não quisesse-se, mas, nem de longe, para permitir a passagem de um ser humano. As paredes do corredor eram cinzas, bem como o teto. O chão, por sua vez, tinha cor de mármore, provavelmente para esconder toda sujeira incrustada que acumulava- através dos anos. Não obstante, ela sentia a aspereza do chão, quase assemelhando-se a concreto.

Um homem mantinha 6165 presa enquanto a forçava afrente. Ele estava detrás dela enquanto o estranho cara com a cicatriz estava na frente. Andavam apressadamente, o que deixava as pernas de 6165 doloridas. Ela tentava andar rápido, forçando-se a não fraquejar para não cair e ser arrastada através daquela superfície. Atrás de si, pode ouvir gritos de pavor que duravam alguns segundos antes de desvanecer à não existência. Cada grito deixava 6165 ainda mais assustada; ela quase sentia sua própria garganta se rasgando enquanto o clamor por ajuda em diferentes idiomas ecoava através do caminho. Apesar de saber o que estava acontecendo, ainda nutria alguma esperança de que todas ainda estavam vivas.

Após o que pareceu uma eternidade, finalmente encararam uma porta dupla verde, que foi ruidosamente aberta pelo homem com a cicatriz. Estavam em outro corredor, só que este era mais largo e bem mais iluminado e felizmente menos longo. O chão agora era branco, liso o suficiente para não doerem os pés, rugoso o suficiente para não escorregar. Extintores de incêndio alternavam a vigia do local, com botões para alarmes de fogo. Canos multicoloridos brotavam das paredes e decoraram os cantos do corretor. Prateleiras móveis de metal seguravam potes que certamente eram remédios, bem como agulhas ainda não usadas, álcool e tesouras.

Não estava em uma fábrica para trabalharem com alguma coisa. Aquilo era completamente diferente do lugar repulsivo onde eram forçadas a trabalhar até a exaustão. Na fábrica, nunca havia ninguém exceto pelas garotas e os homens que a vigiavam; ali, haviam outras pessoas andando. Homens e mulheres indo para frente e para trás através do corredor, segurando pranchetas, levando mais equipamentos ou simplesmente andando. Todos tinham jalecos brancos – inclusive, reparou 6165, o homem com a cicatriz – e máscaras cobrindo a boca e nariz. “Parece um hospital...”, pensou a garota; “Mas um hospital com prisões?”. Enquanto seguiam apressados, uma mulher interrompeu o homem com a cicatriz e murmurou em português:

— Dr. Louferev, o Sr. Natanael mandou informar que os nove ratos chegaram de Lancing Lord. Estão saudáveis pois foram bem cuidados na viagem e estão prontos para os testes.

— Excelente! – os olhos de Louferev pareciam brilhar – Coloque-os nos quartos 34, mas não antes de darem uma esfregada lá. Tenha uma boa noite.

“Noite...?”

— Sim, você também, doutor. Estamos contando contigo.

“Como assim, ‘noite’? Não somos só acordadas durante o dia?”.

Entraram em uma sala bem larga. Havia um balcão no meio, sobre o qual tinha uma bagunça de papeis, microscópios, caixinhas de vidro com algo verde, canetas e aparelhos eletrônicos. Nos lados da sala, mais bancadas, dessa vez com pias largas, sabão, gavetas e espelhos. No outro lado, perto da parede que estava de frente para a parede da porta, tinha uma grande cadeira reclinável. 6165 conseguiu observar negras e grossas cordas que saiam do fundo do imóvel e davam a volta nele, indo parar na parte de cima. A almofada da cadeira tinha uma cor verde-claro, complementada pela predominância do branco na sala. Havia mais espelhos lá, presumivelmente para ajudar o doutor a investigar o paciente.

O homem que a forçara a andar amarrou ela à cadeira, inclinando ela de modo que a garota ficou meio sentada, meio deitada e depois saiu, sem nunca dizer uma palavra. Sozinha com Louferev, ela conseguiu observar um balde vermelho sobre a bancada da parede esquerda. Havia também mais canetas, só que dessa vez diversos livros estavam abertos ao lado dos materiais de escritório, provavelmente sendo todos usados para escrever em cadernos. “ Escrever o quê?”. Mais adiante, dessa vez perto do canto, no outro lado da sala, 6165 esticou-se um pouco e distinguiu uma forma retangular, enorme, cheia de estratificações a cortava em retângulos menores. “Não, droga, são vários retângulos, não um só”. Seu campo de visão tornava-se embaçado depois de um certo ponto, por isso não conseguiu ver nada a não ser borrões vermelhos e verdes. Tentou se esticar para ver o que era, mas desistiu, imponente. A cadeira sobre a qual havia sido amarrada estava virada na direção contrária.

— O que está tentando fazer, querida? – disse o Dr. Louferev, atrás de si – Não tem nada lá em cima. Nada que você consiga entender.

A garota não se virou. Continuou olhando para trás, assustada. Ela estava tão confusa em relação ao seu estado, por isso tudo o que conseguiu falar foi:

— Qual é o meu nome? – sua voz estava fraca, vacilante, amedrontada.

— Você esqueceu seu nome?

Ela não respondeu.

— Aqui diz que é 6165.

Depois de mais um breve período de silêncio, ela resolveu sentar-se corretamente sobre a cadeira; seu braço direito começou a doer muito levemente onde a corda havia forçado o braço dela a ficar parado. Olhando para ele, 6165 notou que Louferev tinha uma altura média, não tão amedrontadora quanto ela inicialmente achava. Seu cabelo era preto, cortado. Ele era relativamente magro, a pele branca, nos estágios iniciais do envelhecimento. Sua face estava virada, então a garota não pôde distinguir mais detalhes de sua face. Ele usava um jaleco branco, limpo; isso, e a mulher chamando-o de doutor, levou 6165 a concluir que tratava-se de um médico. “Ele está aqui para matar minha gripe...”, pensou ela, antes do homem se virar e mostrar-lhe uma enorme seringa. Dentro, um líquido amarelo translúcido estava pronto para ser inserido nela. A agulha, por sua vez, aparentava ser pequena e não prometia dores sob contato com a veia.

— Pra que isso? – perguntou a garota, tentando recuar.

— Você está doente, não está? – disse-lhe Louferev – Esta é a cura, minha querida.

— Por que você quereria me curar?

— Você é especial para nós, Mar... – ele se interrompeu subitamente.

“Ele quase disse meu nome”.

— Como assim? O que vão fazer comigo? Por favor, eu quero saber, me diz.

— Vamos dar essa cura para você e mandá-la para o quarto 34, pra sabermos se funciona.

— Você está... me... testando?

— Testando a cura, minha cara – ele tinha um sorriso no canto da boca, visivelmente sarcástico.

Ele trouxe um suporte para perto da cadeira, sobre o qual havia algodão, um litro fechado de álcool e um longo tubo de plástico, muito fino. Sentou-se em um banquinho e começou a preparar a dose. A garota olhava para a seringa, tentando entender do que se tratava. O líquido era bem ralo, pela maneira como comportava-se quando movido. O êmbolo estava parado na escala graduada, marcando seis mililitros. Louferev parecia distante ao preparar a dose, provavelmente pensava no futuro do seu medicamento. A garota já havia concluído que o homem era um médico em busca da cura de uma doença nova. Seus fins talvez eram bons, afinal de contas.

Mas ela não confiava nem um pouco no sorriso doentio dele. Alguma coisa estava completamente errada. Levantando seus olhos, do homem para o teto, percebeu que havia três espelhos presos à cadeira por um braço de metal. Dois deles inclinavam-se para a esquerda, refletindo o piso de vinílico branco, polido, típico de um hospital. O outro permitia a 6165 uma boa visão dos seus pé. O terceiro estava inclinado de modo que ela conseguia olhar a reflexão de sua face.

“Marcela... o que aconteceu contigo...?” Seus olhos estavam vermelhos, profundamente vermelhos. De todos os lados de sua esclerótica, largas e pulsantes veias serpenteavam para fora, cobrindo toda a área. Sua pele, uma vez branca e bem cuidada, estava agora pálida, seca, suja, com arranhões em algumas partes e seus lábios estavam secos, rachando. Marcela lembrava-se de olhar ao espelho há muito tempo e pensar que era um pouco bonita, mas agora ela não se assemelhava a um ser humano. Olhando-se daquele jeito, ela sentiu lágrimas brotando, mas quando as gotículas vieram a cor era de um tom amarelo misturado com vermelho, um pouco espessa, correndo pelas bochechas, manchando sua pele, sua dignidade, sua humanidade.

— Ah, quê isso, minha amiga... – disse o doutor em uma falsa compaixão ao notar Marcela chorando. Sua cicatriz era desconcertante – Não chore, você está aqui para melhorar. Não se preocupe.

— Você não pode chamar alguém com poder de cura...? – sua voz saiu frágil, tanto que ela odiou Louferev por estar fazendo ela agir daquele jeito.

— E desperdiçar a chance de testar a cura? – ele disse, debochadamente ofendido – Querida, sabia que você está fazendo parte de algo maior? Se eu não testar isso em alguém, pode acontecer erros, minha fofa – Marcela conhecia um semblante de nojo e ódio quando via um – Não queremos que as pessoas que você tanto defende acabem morrendo assim, queremos? – ele balançou um indicador torto na direção dela.

A garota tornou a encarar seus olhos no espelho. As lágrimas pareciam uma combinação de qualquer fluido extra-humano. De onde as gotículas saíam havia um minúsculo buraco que deixava exposta a carne uma vez escondida pela pele, bem no canto do olho. Dentro, era possível ter relances de seu tecido muscular: estava vermelho, pulsante, ferido, à beira da putrefação. O contraste que aquela cor causava contra a excessivamente branca pele enchia Marcela com uma irremediável repugnância de si mesma. E foi só quando comparou o tom da pele de Louferev com o tom da sua que percebeu em quão horrível estado sua pele se encontrava. A camisa que vestia mal conseguia esconder seus seios, bem como a calça, que deixava exposta parte de sua pélvis. Onde estava exposto, era possível ver o estrago. Observando de longe tinha-se uma sensação de que sua pele estava demasiadamente áspera, dura ao toque, ao ponto de parecer à beira da ruptura. E, apesar disso, não sentia dores em lugar nenhum. A única coisa que ainda podia distinguir-se era sua marca, verde, uma bolinha. Não era possível saber ao certo se grudava em sua pálida pele como uma tatuagem ou se estava flutuando acima, como um holograma.

O Dr. Louferev aproximou-se com um algodão molhado com álcool. Inclinou-se para fitar o antebraço de Marcela, talvez procurando uma veia. O espelho que a garota usara para ver a si mesma estava bem acima da cabeça dele. Na mão de Louferev, o algodão encharcado pela substância altamente volátil exalava um cheiro que deixava a garota tão relaxada quanto assustada. Ela não entendia como estava aspirando aquilo uma vez que estava gripada.

— Merda, está branco demais – ele murmurou, irritado – eu vou ter que realizar uma pequena incisão, 6165. Relaxe, provavelmente não vai doer.

Marcela ainda estava chorando, controlando seus soluços. O homem ergueu sua cabeça de modo que bateu no espelho. Ele não pareceu notar e caminhou até uma das gavetas. A nova inclinação do espelho permitia a Marcela ter uma ampla visão das caixas que antes não podia ver por conta do campo de visão. Os borrões vermelhos tratavam-se de pedaços enormes de carne, sobre as quais se espalhava uma gosma verde. Ela ficou perturbada por aquela visão, mas só sentiu verdadeiro terror quando percebeu que olhava para a carne exposta de várias coxas humanas. A gosma verde havia agido como um ácido, corroendo os músculos ferozmente, deixando visível pequenos pedaços de osso. Ver aquilo deixou um embrulho do estômago de Marcela, que logo lutava contra o impulso de não botar pra fora o altamente concentrado ácido gástrico em seu estômago vazio.

Louferev havia voltado com uma pequena faca de cirurgia e, percebendo que Marcela vira os pedaços humanos nas caixas de vidro, começou a falar, distraído:

— É uma bactéria, minha cara 6165. A mais fascinante que eu já vi em toda a minha vida. Muito sutil, muito mortal. Ela domina seu corpo aos poucos e só mostra sua verdadeira face quando já é tarde demais – ele molhou o bisturi com álcool. – Ela começou a matar uns moradores em Lancing Lord e eu só queria ajudar.

Marcela não sentiu nada quando a afiadíssima lâmina cortou um fino pedaço de sua pele, bem onde o antebraço começa. Seu sangue começou a fluir, mas ele parecia ralo demais, inclusive translúcido. O homem ria com o canto da boca, claramente debochando da ideia de “só querer ajudar”. A garota começou a sentir, além de raiva, aversão por ele.

— Por isso estou aqui, 6165 – prosseguiu Louferev – À beira de achar uma cura que vai erradicar esses parasitas idiotas e menos evoluídos.

Assim que o conteúdo da seringa entrou em contato com a corrente sanguínea, Marcela sentiu seu corpo enrijecer. Foi como se uma venda tivesse sido removida de seus olhos. Subitamente ela sabia que o álcool estava um pouco diluído demais; ela sabia que Louferev estava com sede porque sua boca começou a salivar ao mesmo tempo que ele lambeu os finos lábios. Marcela ficou consciente do cano da pia impedindo o fluxo de água e das gotículas de suor que corriam pelas têmporas do doutor. Ela sentia seu poder voltando.

— O que tá... – gemeu.

— Fique quieta, 6165. Não quero ouvir gemidos.

Ela resistiu ao impulso de atacá-lo. Estava fraca demais para aguentar ainda mais drenagem de energia, podia desmaiar. Se apenas ela tivesse um estimulante agora. Não importava o poder dele, Marcela sabia que seria capaz de matá-lo se tivesse energia suficiente.

Uma dor horrível irrompeu do seu braço. Ela sentiu o corte com uma intensidade tão alta que sua visão começou a embaçar. Não era capaz de gritar, só tremer de dor enquanto o remédio entrava mais e mais em sua corrente sanguínea. Sua mente encheu-se de imagens estranhas, deformadas vagamente humanas. Os olhos reviravam freneticamente ao passo seu corpo entrava em uma ruidosa convulsão. Todo o corpo doía, dentro e fora; seus órgãos internos eram rasgados em cada lado, lançando vibrações para cada ponta dos dedos. Seus ouvidos viraram uma cacofonia de sons indistinguíveis, lançando ondas de latejante pulsos de desespero, penetrando através de sua fina carne, como uma furadeira, ameaçando romper seus tímpanos. Seu mundo resumiu-se a um espiral de tortura, furiosamente trovejando em sua cabeça. Quis levar as unhas à face e arranhar-se, passar seu joelho em asfalto seco, socar uma parede de espinhos, jogar-se em brasas incandescentes, levar uma pistola às têmporas e puxar o gatilho.

Então ela desmaiou.

Quando acordou, a dor havia atenuado, mas não parado; reduzia a um incômodo circulando a barriga. Ela estava sobre uma maca que movia-se velozmente através de um corredor. Ouvia a voz grossa de Louferev acima de si junto a uma outra voz, mais fina, mas também de um homem. Ela permaneceu imóvel, tentando entender sobre o que conversavam.

— ... a composição química da décima cadeia! Como eu deixei passar!? – disse Louferev.

— Não sei, Nazyr, mas temos que trazer ela de volta imediatamente! Você sabe muito bem que precisamos dela viva! – respondeu a outra voz, agitada. Tinha um sotaque bem peculiar que a garota não soube distinguir.

— Eu sei disso, Peleo, mas como você não pode estar feliz? Finalmente achamos algo efetivo! Só precisamos direcionar o ataque ao sistema nervoso e finalmente teremos acabado!

— Nazyr, não é por isso que estou preocupado; o problema é a cobaia! Como vamos trazer ela de volta?

— Cadê aquele idiota do Rodrigo?

— Deve estar ajudando a nossos amigos em Lancing Lord.

— Der’mo, logo quando mais precisamos dele! – houve silêncio ao passo que a maca seguia pelo corredor. Marcela notou que aos poucos a velocidade estava diminuindo.

— Nazyr, já começamos a distribuir os vírus que os idiotas acham que é cura. Você tem que acelerar o desenvolvimento dessa bactéria, antes que alguém descubra.

— Você não pode acelerar a biologia, Peleo. Não é culpa minha que Kevin estava ansioso para distribuir tudo. Se ao menos ele tivesse esperado mais não estaríamos nessa corrida.

— Não, Nazyr, não. A culpa não é dele. Foi você que disse que teria a bactéria pronta até quatorze de maio. Já estamos no dia trinta e um e só agora você conseguiu fazer progresso – a outra pessoa pareceu suspirar – Se tu estiveres tendo dificuldades com a cobaia, avisa a nós, Nazyr. Você tem amigos aqui com quem poderá contar. Eu posso te ajudar, meu compadre, mas tu precisas parar de ser tão orgulhoso assim. Lembre-se que só estamos nessa batalha porque Kevin precisa de outros para dar continuidade ao plano. Somos uma comunidade.

O outro não respondeu.

— Então, o que vamos fazer? – perguntou o que se chamava de Peleo

— Vamos fazer a primeira cirurgia dela, para ver se algum órgão vital foi danificado.

Marcela decidiu mostrar-se. Não queria passar por isso.

— Onde é que eu tô...? – murmurou, tentando parecer grogue; estava, ao invés disso, mais acordada que estivera há muitos dias.

— Esquece, Nazyr, a cobaia está acordando.

— Experimento 6165, o que você está sentindo?

— Raiva.

Marcela abriu os olhos e encarou-os. Pareciam brevemente confusos, até que entenderam o que ela tinha dito. Infelizmente, para Nazyr, já era tarde demais.

A cabeça dele começou a suar um líquido aguado ao passo que os olhos lacrimejavam a partir de ductos lagrimais extremamente dilatados e a boca babava água. Peleo olhava de Marcela para seu amigo, tentando entender porquê o outro subitamente não conseguia falar e parecia estar engasgando ou porquê a cobaia parecia estar focada em alguma tarefa. Ele levou alguns segundos para reagir, tempo suficiente para que suficiente liquido tivesse sido drenado de Nazyr, o suficiente para ela forçar um cilindro de água pelo nariz do homem e forçar os pulmões a inundarem.

Enquanto Peleo lutava para cuspir a água de seus pulmões e sugava ar como se fosse acabar, Nazyr começou a ter espasmos no pescoço, que era aleatoriamente jogado para os lados. Marcela sabia que precisava de mais tempo do que tinha para drenar água ao ponto de ser mortal, mas continuou tentando, enquanto sentia suas forças mais uma vez acabando. “Não, por favor, só mais um pouco, eu tô quase lá”, pensou ela, em uma fração de segundo antes que fosse contida por mãos de ferro que a prenderam tão poderosamente quanto puderam. “NÃO, NÃO, NÃO”, sua cabeça gritava enquanto Nazyr Louferev era socorrido e Peleo recebia uma respiração boca-a-boca.

De repente sua visão ficou embaçada. Depois disso, só sentia as vibrações no ar, pois seus ouvidos também pararam de funcionar. Ela via vultos, confusa, tentando entender o que estava acontecendo. Distinguiu, pairando sobre ela, dois homens, musculosos, as mãos descendo e entregando mais rajadas de dor, mão após mão, soco após soco, Marcela estava sendo espancada. Sentiu seu nariz falhar quando um punho caiu sobre ele, respingos de sangue voando pelo ar. Três, quatro, cinco, várias vezes golpes foram recebidos na face, barriga e entre suas pernas, destruindo suas feições, quebrando seus ossos, debilitando-a de tal modo que quis morrer ali mesmo. Os braços estavam fracos demais para se mexer, ela não tinha energia suficiente para contra-atacar e já estava à beira do desmaio.

“Tá tudo bem, Marcela, não é agora que você vai morrer, por mais que desfaleça”, ela pensava em meio as pancadas.

Então subitamente tudo parou e ela mais uma vez foi erguida e posta em uma maca. O movimento vacilante das rodas no chão, subindo e descendo eram como tiros de escopeta contra seu peito, disparando continuamente ao passo que a maca deslocava-se cada vez mais rápido. Como havia chegado àquilo? Poderia ter esperado mais, poderia ter aguardado até estar condições suficiente. Tum! Tum!, os tiros seguiam, amassando ainda mais uma coisa que já estava quebrada.

Era mais que ela conseguia aguentar, passava dos limites dela. “Eu... tô desfigurada...”, ela pensou, triste, querendo chorar, querendo fugir, matar, torturar, bater, apanhar, querendo sair dali e voltar para quando ainda estava na segurança da mãe e na companhia de sua amiga. “Fernanda...”, pensou, sentindo a visão escurecer ao passo que os tiros ficavam mais fortes e mais rápidos. Tum! Tum!, ela sentia, abaixo de si, os pilares de seu mundo tremendo, reverberando infinitamente, apagando quaisquer memorias felizes que tinha e condensando o resto de sua existência a um contorcido buraco-negro, dominando o resto de visão que lhe restara.

— Marcela... – ela teve tempo de murmurar, antes dos olhos se fecharem.

Ela tentou ser forte, resistente; ser a mutante que seu treinador lhe ensinara, a filha que sua mãe tentou criar e o exemplo de força que poderia ser usado como exemplo no futuro. Mas era demais para ela.

Tentando inspirar pela última vez, Marcela entregou-se à escuridão completa.

E dessa vez não acordou.


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Notas finais do capítulo

Tenso.
pra.
caralho.
juro que essa ultima parte foi difícil de escrever, mas eu queria deixar a duvida pairando no ar. Tipo, vc nao quer acreditar no que ta lendo e ha pistas para isso, mas ao mesmo tempo tu fica meio que "droga, é verdade!"
Entao, o que aconteceu?
confira no próximo capítulo - ou nao - de Um mundo de puderes :p
Até a próxima, amores *♡*



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