POV. Julie

Destrancando o portão na entrada do prédio lembro do que meu pai me disse: “Eu já mandei mobiliar todo o apartamento, então não se assuste com tudo já arrumado, meu anjo... Só falta encaixar suas coisas... E tem uma surpresa no quarto da Alice”. Meu pai e Anne são os únicos da minha família que estão realmente me apoiando. Jake nem demonstra nada, já que nem entende o que está acontecendo. Minha mãe está com raiva de mim e principalmente do meu pai por ele me dar o apartamento já mobiliado.

Fecho o portão e passo por uma cabine de porteiro.

–- Olá... – digo tímida, me apoiando num pequeno balcão.

–- Olá! Bom dia! Sou Roy Chermont. – ele diz e estende a mão para mim. Percebo um sotaque francês vindo dele e também pelo seu jeito. – Sim, sou francês. – ele diz rindo. Devo ter ficado igual um tomate por ele adivinhar o que estava pensando. – Bom, aqui está as chaves. É o número 302. – ele diz, me entregando uma chave pequena.

–- Muito obrigada, senhor Roy.

–- Sem “senhor”, senão me sinto velho.

–- Tudo bem... Roy. – digo, rindo.

Mando um tchauzinho pra ele e sigo pra dentro. TEM ELEVADOR! Meus deuses! Graças a Deus, porque como eu faria para subir com carrinho de bebê?! Aperto o botãozinho do elevador e fico esperando ele descer.

Quando a porta abre, sai uma mulher de pele branca com um leve bronzeado, olhos azuis profundos e longos cabelos castanhos. Ela não é muito mais alta que eu e está acompanhada de 4 meninos.

O primeiro menino que vejo parece ter pouco mais de 18 anos. Tem cabelos pretos bagunçados e olhos incrivelmente azuis. Ele é uns 10 centímetros mais alto do que eu e tem um corpo definido.

O segundo menino que vejo parece ter 12 ou 13 anos. Tem cabelos castanhos claros bagunçados como do primeiro menino e olhos azuis esverdeados.

O terceiro menino que percebo tem por volta de 15 anos e tem cabelos pretos como do primeiro e olhos azuis acinzentados escondidos num óculos preto. Ele está concentrado num vídeo game de mão, enquanto o loiro observa.

Por fim, o último menino é uma criança que está de mão dada com a mulher. Ele tem cabelo pretos e olhos azuis.

Se eles são uma família... gerem mais gente como vocês, porque... UAU! – Penso mentalmente.

A mulher e o menininho não me são estranhos... Já os vi na rua ou em algum outro lugar.

–- Bom dia! É nova no prédio? – diz o menino um pouco mais velho que eu.

–- Sim, cheguei hoje! – digo sorrindo pra ele. Bonito ele, né... – minha deusa interior pensa. Ele estica sua mão pra mim e eu a aperto.

–- Bom, por que veio pra cá? É daqui? – ele pergunta dando um sorriso lindo.

–- Bem... eu estou grávida e meus pais me deram um apartamento para me sustentar sozinha. – digo em um só fôlego. O menino me olha como se eu tivesse me drogado e a mulher só assente e olha pra baixo.

–- Hum... vamos nos apresentar certo?! – ele diz, tentando tirar o clima tenso do ar. – Eu moro nesse prédio e esses pirralhos aqui não. – ele aponta pros menores. – Esta é minha irmã Lilian e meu sobrinho Christopher. – ele aponta pra mulher e o menininho. – Estes jogando é Kaden e este pirralho loirinho é o Arthur. – ele diz, e recebe um tapa do mais novo. – E, por fim, eu: Louis Lancaster. Muito prazer em conhecê-la, senhorita... – ele deixa no ar a pergunta sobre nome.

–- Julieta. Julieta Collins. – digo sorrindo. Faço uma reverência de brincadeira fingindo segurar uma saia e ele devolve fingindo estar com chapéu.

–- Foi um prazer conhecê-la, Collins. Mas você poderia esperar rapidinho eu levar meus irmãos até a porta? – ele pergunta e eu assinto com a cabeça. Mando um tchau pra todos e recebo um em uníssono.

Fico esperando e vejo ele dando um abraço em cada um. É perceptível pra qualquer um que ele é muito apegado a todos ali. Seu olhar lhe entrega.

–- Bom, estou de volta. Meu apartamento é o 301 e o seu? – Louis diz quando está de volta.

–- O meu é o 302, Lancaster! – digo surpresa. – Será coincidência ou destino? – digo com voz misteriosa.

Começamos a rir e ele me estende o braço para eu apoiar, e assim eu faço. Gostei do jeito dele pelo simples fato de ter passado somente 15 minutos desde que o conheci e ele já me fez rir e me sentir bem. Entramos no elevador e seguimos para nosso andar.

–- Bem vinda ao prédio! Espero que goste! – ele diz e me deixa na porta da minha nova casa. Ele entra na porta da frente e manda um tchau.

Destranco a porta de madeira escura e a ouço ranger levemente. Fecho os olhos e vou me segurando na porta. Viro de costas pra casa e abro os olhos só para trancar a porta. Quando abro os olhos novamente, sinto um sorriso de orelha a orelha surgir no meu rosto.

Observo o sofá cinza de três assentos grandes, duas poltronas forradas de azul claro e uma estante com portas retratos sem fotos e uma enorme televisão já plugada no DVD. Um daqueles tapetes macios cinza ocupa grande parte da sala.

Dando uma visão geral já entendo como é a casa: a sala de TV e a copa se interligam, sem paredes para dividir. Logo da porta tenho a visão completa da mesa de vidro com 6 lugares e um espelho atrás, dando ideia de ser grande. Do lado do sofá na sala e já começando a mesa, há um lugar em formato de “L”, tendo uma enorme janela do chão ao teto; tenho uma vista enorme da altura que estou: o 5º andar.

Na parede direita da copa há uma porta de correr que já está aberta e dá pra cozinha. Quando entro vejo o chão de ladrilho branco e paredes amarelas claras. É bem pequenininha, mas sei que pra uma pessoa, dá super certo. A geladeira é bem ao lado da porta e logo vem um balcão com a pia e o escorredor. Virando um pouquinho tem o fogão e o forno. Tem um cantinho na cozinha onde tem o micro ondas e vários armários com um balcão e três cadeiras altas. Vejo que praticamente todos os armários pra colocar as coisas é no alto, acima do fogão e da pia.

Tem uma porta de vidro bem no canto da cozinha que quando abro vejo uma máquina de lavar roupa e um tanque. E, de novo, outra porta de correr de vidro, que dá pra um mini-terraço, bem pequenininho, mas dá pra ver muito coisa dali.

Volto pra copa e sigo pro corredor. Do lado esquerdo, quando abro um porta escura, dou de cara com um quarto de parede azul clara e cama de casal com forro vermelho. Há um criado mudo branco em cada lado da cama e um guarda roupa escuro. A janela é daquelas que são pretas e quando fecha escurece o quarto; gostei! – penso.

De volta ao corredor, a porta do meio é um banheiro comum.

A próxima porta que está com uma plaquinha escrita Alice, que já faz meus olhos se encherem de lágrimas. Abro-a e me deparo com um quarto estilo Montessori. Há um forro cheio de estilo de carrinhos no chão, com vários pufes e almofadas coloridas em cima. Logo a frente há um daqueles forros que o bebê deita e fica brincando com os brinquedos pendurados. Onde a porta se apoia quando abre, se encaixa perfeitamente no começo de uma cômoda branca com um troca-fraldas em cima e instrumentos pra fazer isso. Do lado tem um guarda roupa de duas porta brancas.

Na frente do guarda roupa, tem um espaço para abrir as portas e então apoiada num canto, há uma cadeirinha laranja de balanço para bebês . Logo a frente, um berço de madeira clara, como um colchão e cheio de almofadas de corujas. Ao lado está uma janela grande e abaixo um estante com seis divisórias. Lá se encontram muuuitos brinquedos Montessori de todos os tipos e cores.

Mas então vem o que mais chama minha atenção: um mesinha do lado do tapete de carrinhos. A mesa é bem pequenininha, com cadeiras menores ainda... deve servir para uma criança até seus 5 anos. As cadeirinhas são bege e a mesa marrom escuro. Logo na frente da mesa tem um desenho de árvore como se tivesse sido desenhado por uma criança.

Olhando os detalhes, podemos perceber cestas com vários livrinhos, dentro do guarda roupa cheio de roupinhas, a cômoda com roupas de cama, fraldas, sapatinhos...

Claro que meu pai não comprou tudo que preciso. Seria muitos gastos e pelo que vi, ele já gastou MUITO! Agora só falta comprar mais umas coisinhas. Meu pai realmente me conhece... sabe que queria ter uma casa toda colorida: paredes coloridas, vários porta retratos, cama de casal! Tudo do jeitinho que eu queria!

E é pensando assim que pego no sono deitada no meio das almofadas no quarto de Alice.