POV. Julie

–- Eu pedi pra Lívia comprar por mim... – diz Thomas, ainda meio rouco. Fiquei petrificada ao saber que em três dias ele conseguiu acordar da coma e já está falando normalmente, só com um pouco de dificuldade. – Eu queria dar um presente pro nosso bebê...

–- Não precisava, Tommy. – digo, pegando a pequena caixa verde das mãos dele. Desato o laço e puxo a tampa da caixa. Puxo uma roupinha de bebê linda. A primeira de todas que minha filha ainda irá ter. Um macacãozinho branco escrito: “Me desculpem meninos... Meu pai só deixa eu casar depois dos 30”. – Oh meu Deus... que coisa fofa, Thomas! – digo com olhos cheios d’água. Abraço-o com cuidado e agradeço mais uma vez.

Deixo que seus pais e os outros amigos venham visitar-lhe antes que acabe o tempo, então, vou andando embora do hospital com aquele macacão nas mãos.

Ainda não tenho ideia do que pensar sobre o Thomas. Ele fez parte das partes mais importantes da minha vida: primeiro namoro, primeiro beijo, primeira vez... primeira filha. Mas, ao mesmo tempo, não consigo deixar de pensar nas palavras que ele me disse no dia em que admiti a ele a gravidez. Ele me negou. Me xingou. Negou o próprio filho.

Sei que tudo foi no momento de raiva, mas não sei se o amo de verdade. Claro que o amo como amigo; e obviamente já o amei mais que um amigo ama outro. Agora, não tenho aquele sentimento que tinha antes: frio na barriga quando o vejo, vontade de beijá-lo, sonhar com nosso casamento de noite. Não sonho mais com ele. Atualmente, só sonho com amigos ou com a carinha da minha filha.

E é andando em direção da minha casa que reparo uma moto sendo empurrada pela rua bem próximo de mim, bem devagar para acompanhar minha caminhada. Sorte que a rua está cheia de gente, senão, sairia correndo. Olho de canto de olho e vejo um sorriso divertido me encarando. Reviro os olhos por causa de meu medo e vou até a moto, em direção à Zach.

–- Seu idiota! Eu fiquei com medo! – digo, rindo. Ele, rindo de mim, sobe na moto e me entrega um capacete.

–- Que tal, como uma maneira de me perdoar por isso, - reviro os olhos brincando. – você ir comigo a um restaurante ma-ra-vi-lho-so? – Z diz pausadamente, com um sorriso nos lábios. Ele me conhece tão bem que sabe até que eu não resisto a um pedido de ir atrás de comida. Quem não ama comida? – penso.

–- Não tem como dizer “não”... – digo, me segurando em sua cintura enquanto ele acelera.

***

Depois de comer meu maravilhoso prato de macarronada, fico observando Zach, enquanto ele fala. É estranho pensar que você viu tal pessoa desde pequena e agora ela está grande, mudada.

–- ... então eu volto pra cá e te encontro grávida?! – ele termina de dizer o que estava falando.

–- Parece que sim, né... – digo, fazendo dobraduras com o guardanapo. – Não pense que durante esse tempo afastada eu fiquei aprontando, viu mocinho! – aponto o dedo perto de seu nariz. – Você que deve ter vivido a vida loucamente até agora... chegou aqui com jaqueta de couro e moto, todo viajante e rebelde. – digo, com um sorriso divertido tomando conta de meus lábios.

–- Só observo você e suas opiniões loucas... – ele diz rindo e se apoiando na cadeira. – Você mudou muito, sabia? – o olho estranho. – Tipo, a última vez que te vi você tinha uns 13 ou 14 anos, com aquele cabelo castanho batendo quase na bunda, com pontas azuis. – ele diz, rindo e eu acabo rindo também. – Lembro que você estava namorando o Thomas... você ficava bem agitada quando ele estava por perto. Nunca fui com a cara dele. – ele faz uma pausa e me olha intensamente. – Você tem planos pra voltar com ele?

–- Não! – digo rápido. – Na verdade, pretendo não. – digo, mais devagar. – Já me magoei com ele e não quero que ocorra isso novamente.

–- Acho melhor sairmos desse assunto tenso. – ele ri. – Já sabe se é menina ou menino? – ele aponta pra minha barriga.

–- Menina! – respondo e sinto um sorriso enorme tomar conta do meu rosto. – Sempre quis ter uma menina, mas nunca imaginei que seria com 17 anos. – rimos.

–- Já tem algum nome em mente?

–- Gosto de Kate, mas uma das minhas mais novas amigas tem esse nome e não quero que seja igual. Também tem Victória, mas não sou tão apegada. Katherine é legal, mas parece nome de gente adulta; eu sei que um dia ela será adulta, mas quero um nome que se encaixe em bebê. Então, acho que o que está em primeiro lugar é Alice.

Ele dá um sorriso e eu sorrio em volta. Percebo que gosto de Alice e se encaixa no que eu quero.

***

Saindo do restaurante, quando estamos atravessando a rua, um homem passa por mim e grita: “Ô lá em casa! Gostosa!”. O susto que eu tomo é tão grande que me prendo ao braço de Zach, enquanto ele tenta ir atrás do cara. Percebo seu olhar mortal pra cima daquele pedófilo.

–- Até os estranhos tentam algo e eu não... – ele diz, com uma risada irônica.

–- O que disse, Z? Não ouvi direito.

–- Nada não.

–- Eu sei o que você disse. Só queria ouvir de novo. – paro e o encaro no meio da calçada. – Não é por nada, mas se você quisesse, você poderia ter tentado qualquer coisa. – digo, dando uma de “dona da moral”. – Te conheço desde que sou pequena e sei que é tímido, mas qualquer uma se entregaria a seus encantos!

Não sei por que, mas o fato do Zach reclamar de nunca ter tentado se aproximar de alguém me irrita. Não é pelo fato de eu querer que ele tivesse tentado, mas de ele comparar si mesmo com aquele homem na rua.

–- Você queria o que Julieta? Que eu tentasse algo com você namorando Thomas? – ele diz, jogando as mãos pro alto. Aaaah, sim... ele está falando sobre tentar algo mais comigo. – Já que você acha que eu deveria ter tentado, por que não tentar agora? – Então, ele abraça minha cintura e cola nossos lábios.