Em família escrita por Hikari Mondo


Capítulo 15
Mundo Pequeno (AU)


Notas iniciais do capítulo

A idéia desta história surgiu em um desafio-sugestão do Tumblr, e é um universo alternativo onde os personagens estão na universidade, portanto tenho uma série de avisos sobre este capítulo, leia abaixo. Este é o primeiro AU que eu escrevo, então toda e qualquer sugestão e comentário serão muito agradecidos.

Avisos:
— História baseada em tema sugerido no tumblr, conforme notas de fim de capitulo
— Como era um tema muito difícil de encaixar na realidade das aulas brasileiras, este AU toma como universo o modelo da universidade americana
— Tenten parece OOC, mas eu precisava de uma amiga e gosto da Tenten, então sinto muito.
— As menções e detalhes incluídos nesta história sobre a universidade e os cursos foram pesquisados e baseados também em minha própria experiência.



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“Você achou o livro então?” Gaara perguntou. Temari se virou e sorriu para seu irmão.

“Sim, está aqui. Faça um bom uso.” Um dos cantos da boca de Gaara subiu levemente. Temari, treinada a tempos com a pouca expressão do irmão, sabia que isso era um sorriso. Em agradecimento, é claro. Ela acabara de lhe emprestar uma leitura obrigatória. Com um simples aceno, ele se despediu e foi andando, até encontrar com outro rapaz que o aguardava, e sem nenhuma conversa aparente, os dois seguiram seu caminho sob o olhar de Temari.

“Quem era aquele ali?” Sua atenção rapidamente voltou-se a sua amiga sentada ao seu lado. Temari suspirou, levando a mão ao rosto para massagear suas temporas.

“Gaara trocou de quarto de novo...” Respondeu indiretamente entre resignada e exasperada.

“Nossa, seu irmão não se dá com muita gente, hein? Pelo menos é a primeira vez que eu vejo ele andando com alguém. Isso já devia ser considerado um avanço, não é?”

Tenten era sua melhor amiga na faculdade, e como tal acompanhara muito da sua vida e da jornada de Gaara, que trocara de quartos diversas vezes desde que ele iniciou sua graduação, a não muito tempo atrás. Elas faziam o mesmo curso e participaram de algumas sessões de discussão das primeiras fases juntas, mas ficaram amigas mesmo ao participarem da aulas de aikido. Isso porque as aulas na faculdade eram intensas e nenhum aluno ousava falar durante elas, sob risco de perder uma boa porção do conteúdo. Exceto talvez nas grandes aulas de auditório, em que os slides eram colocados no forum da universidade – mas mesmo assim, somente calouros eram ignorantes o suficiente para acharem que poderiam estudar apenas pelos slides ali.

“É, suponho que sim...” Temari falou sem vontade. Ela não gostava muito de discutir sobre os problemas do irmão mais novo. É verdade, eles passaram por muitas dificuldades quando mais novos, e não é como se o temperamento dele na época ajudasse muito, mas eles superaram isso, e ele estava muito melhor. Ele era um doce de pessoa, na verdade, muito compreensivo e tranquilo. Reservado, no entanto. E isso lhe causava alguns contra-tempos nos dormitórios compartilhados da universidade.

“Mas até que ele é bonitinho.” Tenten comentou despreocupada, o que fez Temari franzir o cenho.

“Gaara?” Ela perguntou, um tanto espantada, fazendo a amiga rir de sua reação.

“Não, sua boba! O colega de quarto.” Uma risadinha contida escapou dos lábios de Tenten. “Não que seu irmão não seja bonito, ele só não faz meu estilo.” Terminou sorrindo, fazendo menção de jogar a trança que pendia sobre seu ombro para trás, como fazendo charme.

“Pelo amor de Deus, Tenten! É só um garoto! Você nunca viu um?” Temari zombou da amiga, rindo também.

“O que eu posso fazer, eu gosto de caras de pele clara e cabelos escuros. Ainda mais quando eles são estilosos.” Ela disse sem vergonha alguma, sorrindo.

“E o que aconteceu com o Hyuuga?” Provocou Temari.

“Bem, digamos que ele é reservado demais, nunca sei o que se passa na cabeça dele. Já que ele não me dá nenhum sinal, que mal tem eu olhar para outros?”

“Vocês ainda fazem Hapkido juntos?”

“Sim. E Kung Fu também. Somos parceiros de luta. Ele é bom nisso. Mas eu ainda destruo ele quando se trata de armas.” Ela piscou para Temari, e as duas riram juntas.

“Mas sério, você viu o penteado dele? Você não encontra muitas pessoas com um penteado daqueles.” Tenten voltou a falar depois de algum tempo.

“É claro que não. Porque qualquer garoto usaria um rabo de cavalo alto e espetado?” Questionou.

“Falou a garota que usa quatro deles.” Rebateu Tenten divertida, ao que Temari só revirou os olhos.

“Tenten, se ele pintasse aquele cabelo de verde, ele ficaria igual a um abacaxi...” A resposta fez sua amiga cair na gargalhada, e Temari se juntou a ela apenas alguns instantes depois.

–---

Temari estava sentada na última fileira da sala, que por ser um pouco inclinada lhe permitia enxergar bem os 6 quadros deslizantes na frente da sala. Tenten estava sentada na primeira fileira, apenas 3 cadeiras a direita da mesa do professor no nível mais baixo da sala. Como boas amigas, elas chegaram juntas a algum tempo atrás, mas como Tenten preferia ficar mais a frente na sala (algo sobre ‘entender melhor o que o professor fala’) e Temari preferia ficar atrás, onde ela podia enxergar a sala toda, e dificilmente alguém se colocaria atrás dela – ela ficava nervosa ao sentir alguém atrás dela – então ambas acordaram a um bom tempo que sentariam separadas, mas ainda tentariam conciliar seus horários quando pudessem. Com duas portas laterais na frente, e as carteiras da ultima fila praticamente encostadas na parede ao fundo, Temari gostava desta sala, onde ela podia se sentir tranquila – segura, diria.

Neste momento, a porta a direita se abriu e por esta entrou um jovem que lhe era familiar. O colega de quarto de Gaara. Ele viera sozinho, olhando para baixo, com um semblante desanimado e aborrecido. Talvez tão solitário quanto Gaara. Não, ela duvidava um pouco disso. Ele ergueu o olhar para encarar o professor, que estava sentado na mesa esperando o horário de iniciar a aula, e o cumprimentou com um breve aceno de cabeça, e então ela viu os olhos dele percorrerem a sala rapidamente o fundo da sala, e então abaixou a cabeça e se subiu para ir se sentar quase ao seu lado, apenas uma cadeira de distância entre eles. Não que aquilo fosse estranho: Temari estava na terceira cadeira, contando da sua direita, quase no canto da sala, e ele sentara na primeira. Com menos de três minutos para o início da aula, a maioria das cadeiras já estava ocupada, e se ele fosse tão desinteressado quanto parecia, ele com certeza ia preferir a última fileira.

Temari olhou mais uma vez para o professor, que estava em silêncio e olhando ocasionalmente seu relógio. Ela conferiu o dela, que estava de acordo com a universidade, e então se virou para o rapaz.

“Ei. Ei, você!” Ele olhou para ela vagarosamente. No entanto, de perto o olhar dele não era tão apagado quanto sua postura aparentava. “Você é colega de quarto do Gaara,não é?”

Ele respondeu apenas concordando com a cabeça. “E você é a irmã dele.” Uns intantes de pausa. “Temari, não?”

“Sim... Você não está no mesmo ano que ele? O que esta fazendo aqui?”

Desta vez, um suspiro acompanhou o movimento afirmativo de sua cabeça, desviando seu olhar novamente para a frente da classe antes de responder arrastado “Eu estou matriculado nessa disciplina, então...”

Temari estranhou a resposta. Como ele podia estar nos anos iniciais e já estar matriculado em uma disciplina de alta divisão? Sua curiosidade ganhou dela, e o tom de dúvida em sua voz a surpreendeu quando falou.

“Que curso você faz?”

As sombrancelhas dele subiram rapidamente ao ouvir a pergunta, e logo ficaram franzidas enquanto ele se virava para encará-la profundamente dentro dos olhos. Aquele olhar a deixou inquieta.

“Relações Internacionais... ‘Políticas de Interdependência’ é uma disciplina exclusiva do curso. Logo, você também deve fazer RI...”

Droga, agora ela parecia uma idiota. Ela sentiu o calor subir em suas bochechas e encarou os quadros a sua frente. O professor continuava sentado na mesa, sem dizer uma palavra a qualquer um. Aqui e ali havia pequenos murmúrios de pessoas conversando, mas longe de ser barulhento. Ela havia esquecido que a disciplina era exclusiva do curso, e agora esse garoto a lembrara, fazendo-a parecer ignorante.

Antes que pudesse se autopunir mais, Temari reconheceu o barulho de Tenten batendo com o lápis em sua mesa. Ela rapidamente olhou para a amiga, sentada mais a frente, enquanto reconhecia os sons.

Conversando com o Nara?’

Os sons não eram nada menos que aplicação do Código Morse Internacional. As duas começaram a praticar Código Morse na segunda fase do curso, durante a disciplina de Estudo Científico de Política. Não que a matéria não fosse importante, é bastante, mas tratava-se basicamente de pesquisas bibliográficas, metodologias e apresentações, e a professora Anko não era das mais simpáticas ou melhores professoras. Temari achava que encaixá-la no grupo ‘razoável’ seria um exagero. Por isso, ambas passaram a conversar frequentemente usando o antigo código, do qual ouviram a história no primeiro semestre e ficaram empolgadas para usá-lo.

Nara?’

‘O colega. Ele é bonito. Mas não faz meu tipo’

‘Pq não?’

‘Inteligente e pouco ativo. Mas parece o seu’

Ele tem a idade do meu irmão’

‘E daí? Você não achou ele bonito?’

‘O olhar é intenso’

‘Oh, vc está interessada’

‘Poupe-me’ Temari revirou os olhos e viu Tenten rir em silêncio.

Neste instante, o professor levantou da mesa.

“Bem, está na hora. Vamos começar então. Eu sou o professor Kurosawa e esta é a disciplina de Políticas de Interdepêndencia. O plano de ensino desta disciplina está no fórum, com todas as informações referentes a datas de provas, conteúdos e leituras obrigatórias e recomendadas. Qualquer dúvida, me mandem e-mail ou apareçam no meu escritório durante o horário de atendimento, ou ainda no atendimento dos monitores desta disciplina. Está tudo escrito no plano de ensino. Então, vamos ao conteúdo.” Ele deu as costas para a turma e buscou o giz, se dirigindo ao quadro.

Nesse meio tempo, uma voz masculina surgiu baixa ao seu lado direito.

“Ênfase em Políticas Internacionais.”

Ela sorriu de lado e lançou um breve olhar para ele de canto de olho, vendo-o de braços cruzados sobre o apoio lateral e a cabeça deitada sobre o antebraço olhando para frente, antes de olhar novamente para o quadro e responder.

“Ênfase em Diplomacia Internacional.”

Talvez nem tudo estivesse perdido.

–----

Já era noite quando Temari estava andando até o prédio do seu irmão. Ela estava bem vestida, num estilo mais social que o comum para a maioria dos estudantes, uma saia de corte reto e cintura alta que acabava pouco acima dos seus joelhos, uma camisa de seda e um casaco leve por cima, combinando com seus sapatos scarpe fechados. Não era nada muito formal, mas por ser incomum, lhe dava um ar de poder e superioridade. Não que ela precisasse de qualquer roupa para ser eficiente, mas ela sabia que a aparência e impressão tinham um importante impacto psicológico quando se tratava de discussões. Quanto mais séria sua aparência fosse, mais a sério ela seria levada.

E apesar de ser um pouco ridiculo, aquela era sua realidade, e Temari sabia que teria que encará-la, cedo ou tarde. E é por isso que ela já começara agora. Ela acabara de sair de mais um debate-treinamento do Clube de Modelo das Nações Unidas, que como o próprio nome indica simula o dia-a-dia das Nações Unidas. Ela era quase uma veterana no clube, o que lhe dava uma posição de importância e respeito. Só esperava que também conseguisse fazer um bom trabalho quando se formasse.

Ela correu os últimos metros até a entrada do prédio. Logo seriam dez horas da noite, e então o sistema bloquearia automaticamente a entrada de qualquer um que não fosse residente. Ela precisaria ser rápida se não quisesse ser pega pela patrulha em um prédio alheio. Rapidamente ela se dirigiu ao elevador, subindo até o andar do irmão e batendo a sua porta.

Quando a porta se abriu, o quarto estava apenas com um abajur ligado, uma figura com rosto sonolento apareceu em sua visão, cabelos negros caidos sobre os ombros relaxados e usando apenas um boxer. Surpresa, Temari piscou duas vezes involuntariamente por não processar o que via. Neste meio tempo, o garoto parece que a identificou e endireitou a postura e fechou um pouco mais a porta, embora não completamente, o que deixou apenas seu tórax aparente. Do semblante sonolento sobrou apenas o cabelo amassado, e seus olhos negros azeviche pareciam brilhar com a luz no corredor, profundos e intensos. Temari não teve nem tempo para ficar envergonhada, tão depressa tudo aconteceu.

“Gaara?” Ele perguntou simplesmente, também sem nenhum traço de desconforto visível.

Isso foi o suficiente para tirar Temari de seu transe, que assentiu com a cabeça ao tempo que pronunciava um “Sim”.

Ele apenas inclinou a cabeça, indicando onde Gaara estava, e abrindo a porta para que ela entrasse ao mesmo tempo que lhe dava as costas se dirigindo para o banheiro do outro lado. Temari o seguiu com o olhar enquanto ele andava lhe dando as costas, sem muita pressa mas com passos firmes. Até que ele não estava em má forma.

“Nee-chan?” A voz de Gaara surgiu surpresa mas sem malícia, provavelmente surpreso por vê-la ali tão tarde.

Ela se virou e lhe sorriu calidamente. “Oi! Eu só vim lhe trazer isso...” Ela mexeu em sua bolsa a procura do papel. “Aqui. Eu transferi um pouco dos seus passes para dinheiro no cartão de estudante, assim você consegue comer na cafeteria. Este é o seu recibo.”

Ele ergueu as sombrancelhas em surpresa. “Obrigado. Não precisava se dar o trabalho.”

Enquanto Gaara falava, Temari viu o Nara sair do banheiro vestindo um calção e regata de pijama pela sua visão periférica, mas não deu mais atenção além disso para o outro rapaz, somente sorrindo calorosamente ao falar com o irmão mais novo.

“Não foi nada. Eu já estava lá mesmo para transferir para mim, não me custava nada.”

Gaara apenas baixou a cabeça lentamente em agradecimento a irmã, e então lhe perguntou. “Você quer alguma coisa para beber? Ou comer?”

“Oh não obrigada, eu já jantei. Só passei para lhe entregar o recibo e avisar que você já tem saldo no cartão. Vou indo para o meu quarto. Até!”

“Até mais.” Seu irmão a levou até a porta, e fechou-a quando ela saiu.

–---

“Senhorita, você não pode estar aqui. Os prédios são fechados somente para residentes depois das 22 horas.”

“Ah, sim, me desculpe. Eu passei para falar com meu irmão e perdi a noção do tempo. Mas já estou de saída.”

“Eu lhe acompanho.”

Uma vez fora do prédio, Temari suspirou irritada. Essas rondas nos dormitórios eram um saco. Não pode fazer barulho, não pode levar colegas, não pode ter bebidas alcóolicas, não pode nem estar bêbado! Ela e Tenten passaram por alguns mals bocados nos primeiros anos. Não que elas ainda não quebrassem as regras hoje em dia, elas só eram mais experientes agora.

Falando em Tenten, ela precisava contar a amiga o que acabara de acontecer. Mas como o prédio de Tenten ficava longe e já passara das dez, não fazia sentido ir até lá a menos que Tenten pudesse abrir para ela. Por isso Temari discou o número e fez uma chamada para Tenten.

Ou tentou. ‘Este telefone está fora de área ou ocupado’. Com certeza Tenten ficara sem bateria. De novo. Ela sempre esquecia de carregar o telefone. Temari suspirou resignada. Amanhã elas teriam a primeira aula da manhã juntas. Às 7 horas. Elas e o Nara. Céus, ela realmente precisava dormir logo. Isso podia esperar até amanhã.

–--

Como todas as manhãs que tinham a primeira aula juntas, Temari estava esperando ao lado da ciclovia da saída sudeste da área dos dormitórios. Ela gostava de tomar um café da manhã simples, enquanto Tenten não comia nada, geralmente preferindo ir até a cafeteria perto das dez da manhã. Mas hoje, Tenten estava atrasada.

Vamos logo Tenten, onde você está?

Temari repetiu mentalmente, chamando o número da amiga novamente. Chama chama e ela não atende. Temari estava inquieta. O que Tenten estaria fazendo que ainda não tinha aparecido? Ela sabia que o Young Hall era do lado da Cafeteria e que o bicicletário estava sempre lotado por lá. Elas precisavam chegar cedo para terem tempo de achar um local para prenderem as bicicletas antes da aula começar. Exasperada, Temari olhou o horário novamente. Cinco minutos. Este era o tempo que elas tinham para chegar até a sala de aula. Temari suspirou irritadamente. Dois minutos. Dois minutos é tudo que ela daria para Tenten aparecer. Se ela não viesse em dois minutos, Temari iria sozinha para a aula.

–--

Ofegante, Temari entrou na sala de aula depois de empurrar a porta com pressa e um pouco mais de força que o necessário e parou um instante para recuperar o fôlego. O professor ainda não chegara. Estranho, ela poderia jurar que faltava menos de um minuto para o início da aula. Ela rapidamente procurou seu típico lugar. Algumas semanas haviam se passado desde o início das aulas, e embora os lugares não fossem marcados, as pessoas tendiam a sentar-se sempre nos mesmos lugares. Então ela não se surpreendeu ao encontrar o Nara sentado no canto ao fundo, e as duas cadeiras a sua esquerda vazias.

Em meio a sua pressa de chegar logo a aula, Temari sequer lembrou-se do acontecimento da noite passada, enquanto subia os degraus até o fundo da sala. O Nara estava de olhos fechados, a cabeça escorada na parede atrás de si. Provavelmente com sono. Na verdade, ela o via mais vezes sonolento do que acordado. A mochila estava jogada na cadeira ao seu lado, e o casaco sobre o apoio de braço da segunda cadeira. Temari hesitou por um segundo. Ele estava guardando aquele lugar para alguém??

Mas então, sem sequer abrir os olhos ou mexer a cabeça, ele esticou o braço e tirou o casaco, jogando sobre a sua mochila. Ele estava guardando o lugar para ela? Ela voltou a subir e quando estava na frente da fileira dele o viu encolher as pernas para que ela pudesse passar, mas ainda sem abrir os olhos. Ela murmurou um baixo ‘Obrigada’, mas não obteve indício algum de que ele tinha ouvido.

“Bom dia pessoal.” Uma voz desconhecida soou alto na sala, e acabou todo o ruído da classe. Temari terminou de se sentar e se olhou para a frente, onde um rapaz baixo, magro e de óculos estava em pé segurando uma pasta, parecendo pouco confiante.

“O professor Kurosawa teve um imprevisto e não pode vir dar aula para vocês hoje, então me pediu para fazer uma aula de exercícios resolvidos e revisão.” Ele falou desajeitadamente enquanto arrumava seus óculos. Ótimo! Toda a correria por uma aula de exercício! No fim Tenten deu sorte de não ser uma aula de exposição. Temari suspirou resignada. Ao seu lado, o Nara continuava dormindo.

–--

Quando a porta se abriu, o monitor parou a definição que estava escrevendo. Inicialmente, apenas uma cabeça apareceu através da porta entreaberta, mas ao ver que a explicação fora interrompida, Tenten se apressou para entrar e ocupou o lugar vago mais próximo da porta que encontrara.

Vê-la chegar melhorou os ânimos de Temari, que se apressou para produzir o código que usavam para comunicar-se.

QTH?’ Embora no antigo Código Q esta sigla fosse utilizada para ‘Qual é a sua posição?’, era óbvio que Temari não estava interessada em saber onde Tenten estava no momento, mas sim o que acontecera para ela ter se atrasado.

‘Telefone sem bateria. Alarme não tocou.’ Observando-a de costas, Temari podia ver seus ombros subirem e descerem. Ela provevelmente também estava sem fôlego.

‘Imaginei. Seu celular estava fora de área ontem e hoje não me atendeu.’

‘Estava no banho. Perdi muita coisa?’

‘Alguns exercicios e definições, nada importante na verdade.’

‘E então, porque me ligou ontem?’

Temari corou ao lembrar da cena. Mesmo assim, contou à amiga.

‘Ontem fui no quarto de Gaara falar com ele e vi o Nara só de boxer.’

‘OMG! Ele é bonito sem roupa?’

‘O que? Foi tudo muito rápido, não deu pra ver.’

‘Ele é definido?’

‘Bem, ele é esguio, mas bem definido até para alguém preguiçoso.’ Temari parou alguns instantes mas logo continuou. ‘Mas ele tem um belo traseiro.’

‘OMG vc está interessada nele’

Temari só revirou os olhos com a empolgação da amiga. ‘De onde vc tira essas conclusões?’

–--

“Hey, Temari!”

Uma voz familiar chamou pelo seu nome, fazendo Temari se deter e virar para trás. Um pouco distante estava o Nara, com o mesmo rosto de desinteressado de sempre, o canto da boca curvado em um sorriso pequeno que ela não conseguia dizer o que significava, mas que não tinha um bom pressentimento, e no mais próximo que ela já o vira de correr ou andar rápido.

Ele começou a diminuir o ritmo quando estava mais próximo, então ela apenas o observou até ele parar ao seu lado, olhando-o inquisitivamente.

“Em que posso ajudá-lo, Nara?”

Ele fez uma cara de desgosto. “Shikamaru.”

“Certo. Shikamaru.” Ela enfatizou o nome, como lhe ordenando pensar bem em suas palavras.

Ele suspirou um pouco acanhado.

“Eu pensei, considerando que nós dois fazemos Relações Internacionais, que seria uma boa... cortesia lhe sugerir algo.” Ele se calou por um momento, um recurso comum para dar ênfase na frase seguinte, mas Temari não tinha certeza se essa fora a intenção dele ou se ele estava apenas botando os pensamentos no lugar. “Não use outros idiomas perto de outras pessoas. Ou códigos, neste sentido. Você nunca sabe quem está ouvindo.” Ele terminou entre sério e preocupado.

“Eu vou me cuidar.” Ela concordou com um sorriso convencido, ao que ele somente concordou com a cabeça, se virando para frente para seguir seu caminho. Um novo suspiro.

“Eu não sei se devo me sentir lisonjeado ou constrangido que você ache que eu tenho um ‘belo traseiro’” Foi tudo que ele disse antes de começar a andar, sem olhar para ela.

Temari sentiu as bochechas corarem, e agradeceu que ele não estivesse olhando e já seguindo seu caminho.

Mas aparentemente Temari comemorara cedo demais, pois logo ele parou, virando apenas a cabeça de lado para olhar para ela.

“Mas se serve de consolação, o seu também é.” E sem mais ele se virou e ergueu a mão esquerda em despedida, já andando para longe.

“Seu pervertido!!!”


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Notas finais do capítulo

Eu agradeceria muito, muito muito mesmo se você que leu até aqui pudesse DEIXAR UM COMENTÁRIO! Comentários são como o sol quando você quer e pode ir a praia, a chuva quando você quer e pode ficar em casa dormindo. É como receber chocolates! E esta é a primeira vez que me arrisco em um AU, então quero saber como está. Por favor, vai?! É só uns minutinhos mas faz muita diferença! Pode só responder 'o que gostou' e 'o que pode ser melhorado'!

(Desculpem o desabafo.)

Agora, sobre a história deste fic: a idéia era simples “i use morse code to talk to my friend during class but it turns out you know morse code too and now you know that i think you have a cute butt" , e eu li e simplesmente pensei 'isso é shikatema!' Mas aí eu não sabia o que escrever. Nada parecia encaixar ou dar motivos suficientes para usar codigo morse. E depois de algumas semnas tinha desistido.
Até que de repente veio aquela idéia pedrada, bate com tudo. As salas americanas são mais silenciosas que as brasileiras, e ainda tem mais desculpas para eles terem mais interação além de só as aulas. E então, conforme eu escrevia, mais e mais idéias surgiram, e no fim eu tive que cortar VÁRIAS idéias para não deixar esse capítulo tão longo.
Dependendo da crítica e recepção deste capítulo, eu talvez poste essas outras idéias. Caso eu venha a trabalhar em outros capítulos com esta ambientação, eu talvez retire este capítulo daqui e faça uma nova história separada, já que este capítulo está bastante destoado dos demais aqui. Por favor, me dêem suas opiniões a respeito, eu ficarei muito grata.
No mais, nos vemos nos demais capítulos! o/



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