Aquele a quem chamam Severus Snape escrita por magalud


Capítulo 4
Capítulo 4




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O homem em trajes nobres de bordados dourados deitou suas armas ao chão e pôs-se a andar em círculos diante de sua plateia, observando-os como se buscasse as palavras certas para começar sua fala. Harry não percebera que estava de respiração suspensa. Bruxas e bruxos também mal conseguiam conter a curiosidade.

— Devo agora me esforçar para reforçar dentro de vocês a importância e a abrangência de meu pedido. Muitos de vocês podem ter ouvido falar do motivo que me trouxe aqui. Vocês podem estar com a impressão que vim aqui reclamar da morte de filho, aquele a quem chamam de Severus Snape. Essa impressão é FALSA.

A ênfase da palavra surtiu efeito, pensou Harry, absorvendo cada sílaba que saía da boca do homem.

— Não vim aqui reclamar de sua morte, porque, como seu poeta costuma dizer, nós também nos livramos de nossa mortalha de carne, assim como vocês. Mas eu devo explicar meu pedido com mais profundidade. Isso implica falar sobre o meu povo e o seu.

Ele respirou fundo, e inconscientemente Harry fez o mesmo. Aquilo parecia ser bom.

— Seu povo nos chama de Elohim. É um nome ancestral, um que vocês nos deram há muito tempo. Escolhi esse nome para vir até vocês porque não seriam capazes de pronunciar meu nome verdadeiro. Somos um povo antigo, muito mais antigo do que vocês, magos. Seu povo acredita que o meu povo é sobrenatural. Isso não é verdade. É meramente o fato que nossa relação com a natureza é muito mais profunda que a sua. Por causa dessas diferenças, na infância de sua raça, vocês nos chamaram de Elohim, mensageiros de Deus, ou anjos. Não somos nem um nem outro. Devo admitir, porém, que dissuadir vocês foi difícil, ainda mais carregando isso nas costas.

Foi nessa hora que Harry arregalou os olhos verdes, diante da visão magnífica diante dele. Elohim deixou cair o manto e abriu suas asas, brancas como o manto, com alcance que englobava o salão inteiro do Wizengamot.

Se antes a audiência estava impressionada, agora todos estavam emudecidos e maravilhados. Harry teve a impressão que o salão do plenário ficou ainda mais iluminado, se é que isso era possível. Havia sussurros e espanto entre os bruxos, mas Elohim não deu atenção. Assim que o burburinho diminuiu, ele continuou:

— Houve também um incidente, há relativamente muito tempo, quando dois de meus irmãos, num acesso de arrogância, destruíram duas de suas cidades. Acredito que se chamavam Sodoma e Gomorra. Trago as mais sinceras desculpas de ambos pela forma apressada com que julgaram sua raça. Eles amadureceram muito desde então, especialmente aquele a quem chamavam de Gabriel, se isso lhes traz algum conforto.

Houve pigarros constrangidos por toda a audiência e muitas pessoas se mexeram nas cadeiras. Embora ainda não tivesse parado de admirar o homem, Harry fez uma anotação mental de procurar mais informações sobre esse episódio. Hermione deveria saber, pensou ele.

— Entendo que, sendo apenas humanos, vocês tendam a descrever minha raça como criaturas mágicas. Isso não é correto, mas suponho que não seja errado de seu ponto de vista, pois estou a ponto de explicar algumas das diferenças entre nossos povos.

Elohim recolheu as asas antes de continuar. Para Harry, o salão pareceu ficar mais escuro e lúgubre.

— Uma grande diferença é que está em nossa natureza ajudar os outros. Não só isso, mas também proteger. Ao longo da história humana, temos estado entre vocês, algumas vezes disfarçados, outras vezes não tão sutis, tentando animar seu espírito ou elevar seus valores para propósitos mais nobres. Ficamos especialmente preocupados em períodos conturbados e destrutivos, como em suas guerras ou as assim chamadas idades das trevas em geral.

Ele continuou:

— Por isso já sabíamos que a situação com o assim chamado Lord Voldemort vinha se deteriorando, e então um de vocês veio nos procurar. Albus Dumbledore foi recebido como um amigo querido, pois conhecemos os corações dos homens, e o dele era puro. Soubemos de seu passamento com grande tristeza e sofremos com vocês por sua perda. — Harry quase esperou que ele mencionasse o papel de Snape na morte de Dumbledore, mas Elohim continuou: — Ele veio até nós pedir ajuda. Mal e trevas pareciam se espalhar por tudo e os tempos eram de desesperança nunca vista. Seu pedido era justo, portanto nós lhe demos a ajuda pedida.

Nesse ponto, Elohim pareceu embargar a voz, o que deixou Harry arrepiado.

— Consultei meus pares e minha companheira. Concordamos que meu próprio filho seria aquele que ajudaria Dumbledore. Não é incomum que Elohim nasçam como humanos em tempos de grande necessidade. A presença deles ajuda a restaurar o equilíbrio aos dois mundos que adotam. Nosso filho, como o conheceram, é aquele a quem chamam de Severus Snape. E então há outra diferença entre nossos povos.

Elohim retomou a voz firme, explicando:

— Somos um povo que vive bastante, ainda mais comparado com humanos. Ainda assim, nós morremos, como qualquer criatura na natureza. É uma realidade da qual não podemos escapar, bem como vocês. Mesmo aí há diferenças.

Harry olhou em volta. Apesar da narrativa de Elohim ser longa, ela era clara e cativante, mas o melhor ainda estava por vir.

— Como é de nossa natureza sermos muito mais conectados com o ambiente, também somos muito mais conectados entre nós mesmos. Não que isso implique uma mentalidade de colmeia, só uma consciência mais presente de nossas famílias e comunidade. É importante que vocês entendam que somos indivíduos. Nascemos, crescemos, casamos, envelhecemos e morremos. A morte, porém, não quer dizer necessariamente o fim.

Ele inspirou e insistiu:

— É aí que uma diferença crucial se estabelece. Cada Elohim carrega seu midrash, que pode ser traduzido como essência, sua força vital — sua alma, se preferir. Na verdade, com o tempo, vocês vão descobrir que todo ser vivo natural tem seu próprio midrash. É difícil descrevê-lo apropriadamente. Não é físico, embora tenha certas propriedades físicas peculiares, por assim dizer. Basta dizer que um conjunto de midrashes pode ser armazenado em lugares especiais, quase sagrados, e unidos ao midrash de outros indivíduos. Se não receber cuidados apropriados, o midrash pode se perder com a morte do indivíduo que o carrega. No momento de sua morte, um Elohim geralmente passa seu midrash a seu parceiro, irmão, parente, até um amigo chegado. Acreditamos que, embora não seja senciente, o midrash se recusaria a se alojar numa pessoa em quem seu hospedeiro original não confiasse. Uma vez que receba esse presente, o recipiente então leva sua preciosa carga ao local especial onde ela vai se fundir aos midrash de todos os outros Elohim já falecidos. Desta forma, preservamos o conhecimento, energia e presença de cada indivíduo de nossa raça, ainda que ele já tenha morrido. Portanto, mesmo que nosso camarada tenha morrido, ele vive em todos nós, pelo midrash.

Nesse ponto, Harry estava tão emocionado que estava a ponto de chorar. Muitos dos presentes ao Wizengamot não estavam muito diferentes. O próprio Elohim tinha uma aparência mais velha e triste.

— Nós sentimos quando aquele a quem chamam de Severus Snape se aproximava da morte. Viemos invisíveis a seus olhos, e observamos o desenrolar dos eventos. Não interferimos, pois a missão dele estava completa. E ele estava com uma pessoa em quem confiava: um garoto a quem tinha jurado defender, um menino por quem ele dera sua própria vida para proteger. Não parecia haver dúvida que ele passaria seu midrash ao menino. Infelizmente, porém, isso não ocorreu. Eu chequei pessoalmente o garoto e não senti a presença de Severus Snape nele. O midrash não estava nele.

Harry sentiu os olhares das pessoas na plateia se voltando para ele. Todos sabiam que ele era o menino a quem Elohim se referia. Ele sentiu o rosto se ruborizando e o coração se acelerando. Havia até uma leve sensação de tontura e cabeça muito leve.

As palavras seguintes de Elohim o distraíram:

— E agora tudo chegou a isto. Todo o povo Elohim perdeu a essência e energia daquele a quem chamam de Severus Snape. A presença dele nos é negada. Seus pensamentos, sua mente viva, seu legado. Tudo isso se foi. Perdido para sempre. Não tenho certeza de que vocês, humanos, possam sequer começar a avaliar a perda que nosso povo sente. Ou a minha perda individual, como pai. Minha companheira, Apsara, não teve condições de vir a esta nobre assembleia, tamanha era sua dor.

Harry se lembrou da mulher doce e sofrida, e sentiu-se quase fisicamente mal ao pensar na dor da mãe de Snape.

Elohim continuou:

— Portanto, meus amigos, eu peço sua resposta ao meu pedido. Eu lhes faço uma pergunta, não como um pai, mas como representante de todo o povo Elohim: como vocês podem nos oferecer compensação? Como vocês poderão repor aquilo que perdemos para sempre?

O silêncio era de imensa eloquência naquele momento. Nem a queda de um alfinete teria deixado de retumbar no auditório vexado, notou Harry, que se sentia estranho. Talvez fosse a tontura piorando, ou o coração se acelerando ainda mais.

Elohim escolheu aquele momento para apontar diretamente para ele.

— Eu podia exigir a vida do garoto, por exemplo. Sim, eu falo de Harry Potter em pessoa. Falo do seu Salvador, que recebeu ajuda de meu filho para derrotar o Lord das Trevas. Seria justo. Além disso, vocês tinham uma lei assim: olho por olho, dente por dente.

O caos se instalou. Vozes fizeram Harry se encolher, não só de medo mas também de dor, pois o mal-estar estava piorando. Parecia que a cabeça dele ia se abrir ao meio, e pensamentos alheios queriam invadir sua mente. Não havia dor de sua cicatriz, mas era uma que o fez se lembrar do tempo em que Voldemort estava vivo. Harry mal podia ouvir os gritos e berros de tão alta que era a confusão dentro de sua própria cabeça.

Em poucos segundos, porém Harry Potter não podia ouvir ou pensar mais nada, exceto dor, dor e mais dor. Estava chegando a tal ponto que ele estava literalmente perdendo a cabeça. Havia alguém gritando, e se Harry estivesse em condições de prestar atenção, Harry teria se dado conta de que era ele mesmo. A comoção antes concentrada nas palavras de Elohim agora estava sobre o Salvador do Mundo Bruxo. Harry, porém, mal pôde se dar conta disso. Ele foi ao chão, inconsciente.

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Não era do feitio de Kingsley Shacklebolt perder o controle de uma plateia desta maneira. Naquele caso, porém, não se tratava de um caso comum de falta de autoridade.

Enquanto pedia silêncio, Shacklebolt considerou os fatos. O requerente nem tinha terminado sua petição e acabara de insinuar (quase ameaçar) que poderia levar o Menino Que Sobrevivera Para Derrotar Voldemort como compensação pela perda de seu filho Severus Snape quando o supracitado Menino que Sobrevivera aparentemente tivera algum tipo de colapso e desmaiara. O mencionado requerente literalmente voara (com asas) até o menino e começara a entoar algum tipo de cântico suave. E quando Kingsley achou que as coisas não podiam piorar ainda mais, as portas se abriram em par e adentrou o salão mais um herói contra Voldemort.

Neville Longbottom marchou impetuosamente pelo salão e anunciou, maravilhado:

— Snape está vivo! E ele tem asas!

Foi aí, pensou o ministro desanimadamente, que a vaca foi para o brejo.


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