7 Atos do Impossível escrita por Ly Anne Black


Capítulo 6
A Dança Que Ela Nunca Teve




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Ir à Masquerade com toda pompa e circunstancia era uma das grandes tradições das famílias mágicas nobres, e eles tinham feito aquilo inúmeras vezes em sua vida. Daquela, porém, foi completamente diferente.

Para começar, eles foram como indigentes; não usaram suas máscaras de família, que os teria permitido serem reconhecidos pela alta comunidade bruxa. Ao contrário disso, Ted e Andromeda lhes emprestaram de bom grado as suas máscaras antigas, que foram reformadas com alguns feitiços de transfiguração para se assemelhar mais à personalidade deles.

Sirius pegou as suas vestes de gala usadas na formatura e ficou impossivelmente elegante em seus cortes retos e carreiras de botões; além do mais, a cor preta lhe caía excepcionalmente bem. Bella aceitou um vestido de Andrômeda que também era preto, mas tinha reflexos prateados que pareciam com água quando ela se movia, e disfarçavam bem a sua barriga. Ela penteou o cabelo em cachos largos e enfatizou os olhos com maquiagem preta, destacando os cílios compridos e o olhar profundo.

Ela deixou bem claro que não aceitaria se misturar com a corja de amigos dele, mas (não sem fazer uma careta de insatisfação e corrigí-la), informou que a ruiva e Potter estavam em lua de mel, o Lupin adoentado, e Pettigrew andava estranhamente sumido desde o fim da batalha, enquanto cuidava de assuntos familiares.

Seriam só eles, como não acontecia há muito tempo.

– Dança comigo?

– Você não pode estar falando serio. – duvidou, estreitando os olhos para ele por trás da máscara, tentando ler exatamente que tipo de zombaria ele estava fazendo consigo – Você está ouvindo essa musica?

– Eu adoro essa musica!

Sirius parecia bêbado, apesar de ter decidido que não ia tomar nada alcoólico para acompanhá-la. Ele estava apenas muito alegre, inexplicavelmente feliz, tanto que Bella estava achando que talvez o primo tivesse tomado uns goles de uísque de fogo quando ela não estava olhando.

– Black, olha o tamanho da minha barriga!


– Olha, uma barriga! Eu não tinha notado, ela estava aí o tempo todo?

– Idiota – praguejou, ao mesmo tempo que ele a puxava para o meio da multidão que dançava a música mais constrangedora de Celestina Warbeck, Under Your Spell.

Os corpos deles se encaixaram melhor do que ela imaginou possível, mesmo com a barriga entre eles. Já tinham dançado mil vezes no passado, em todas aquelas festas de família, de modo que os movimentos eram decorados, quase previsíveis.


I lived my life in the shadow
Never the sun on my face
It didn’t seem so sad though
I figured that was my place

(Eu vivi a minha vida nas sombras
Nunca o sol em minha face
Não parecia tão triste, no entanto
Eu achava que esse era o meu lugar)


Sirius estava cantarolando baixinho para si mesmo, e ela rolou os olhos. Era sorte que ninguém sabia quem eles eram ali.

– Você está me embaraçando. – murmurou, só pra dizer alguma coisa. Implicar era um hábito.

– Você me deve, por todos esses anos que precisei te aguentar em torno de mim, me embaraçando.

– Ficou maluco? Eu nunca te embaracei. Você sempre foi muito bom em fazer isso sozinho.

– Cala a boca, Bella, tá atrapalhando o clima.


Now I’m bathed in light
Something just isn’t right
I’m under your spell
How else could it be
Anyone would notice me?

(Agora estou banhado em luz
Alguma coisa não está certa
Eu estou sob o seu feitiço
O que mais poderia ser
Alguém me notaria?)


Ele a rodopiou, tendo que sustentá-la quando ela quase tropeçou, visto que o centro de equilíbrio do seu corpo já não era mais o mesmo devido à gravidez.

– Viu? Me embaraçando.

– Vai pentear um grindlow. Ah, não… pára de me girar, vou ficar enjoada.

– Você reclama demais.


It’s magic, I can tell
How you set me free
Brought me out so easily
I saw a world enchanted
Spirits and charms in the air

(É magia, eu garanto
Como você me libertou
Me revelou tão facilmente
Eu vi um mundo encantado
Espíritos e encantamentos pelo ar)


– Essa música é tão terrivelmente piegas.

Ele riu, seu peito vibrando contra o rosto dela.

– Preciso concordar, é ridícula.

Mas continuava guiando seu corpo pela pista graciosamente, e Bella achou que como ela, ele também estava aproveitando a desculpa para o contato físico. Ou então estava sendo muito esperançosa… Sirius tinha deixado claro naquele último mês, em face de todo o seu desinteresse nas vezes que tinham se tocado, que não tinha mais esse tipo de pretenção ao seu respeito.

Era um pouco humilhante, na verdade. Agora que estava enorme e grávida, e o homem que fervia seu sangue toda vez que a tocava já não queria mas nada com ela.


I always took for granted
I was only one there
But your power’s shown
Brighter than any of I’ve known

(Eu sempre acreditei ser certo
Que eu era a única lá
Mas o seu poder se mostrou
O mais brilhante de todos que já vi)


– No que está pensando? – ele perguntou de repente. Percebeu a sutil mudança de humor dela, que se refletiu numa perda de fluidez dos seus movimentos.

– Quero ir embora daqui.

– Sério? Pensei que a gente estava se divertindo…

– Quero ir embora, Sirius.

– Tudo bem. – suspirou. – Pra onde?

Ela pensou em casa, mas lá se separariam cada um para seu quarto, e apesar da sua dignidade espezinhada ela ainda não estava pronta para se despedir dele aquela noite.

– Para o monte.

– Tem certeza? Deve estar frio lá, essa hora…

Mas ela lhe deu o olhar, e Sirius prontamente assentiu, lhe oferecendo o braço. Eles saíram do meio da multidão e procuraram um lugar discreto para desaparatar.

~


“O monte” era o topo da colina onde se localizava Godric’s Hollow. No passado, eles costumavam fugir ali pra cima para dar uns amassos quando a Masquerade estava no fim, mas isso parecia ter sido há muito tempo.

E ele tinha razão, estava frio, mas ela podia aguentar um pouco, e recusou a capa dele orgulhosamente. Rolando os olhos, Sirius estendeu a peça de roupa sobre a grama, onde puderam se sentar.

– Bella, se vamos mesmo fazer isso…

– “Isso”. – o cortou, pronunciando a palavra com desprezo. – O que é “isso”?

– Vamos ter essa conversa de novo? – ele suspirou, cansado.

– Sim. Vamos ter essa conversa até eu entender porque você continua aqui.

– Eu já te disse que não vou…

– A lugar nenhum, eu entendi essa parte. E até onde eu sei, isso é teimosia.

Ele jogou as mãos para o céu e deixou as costas caírem na grama em uma metonímia dramática de rendição.

– Eu não sei o que você quer ouvir de mim, Bella! Tudo que eu sei, eu já te disse!

Ela suspirou; também não sabia. Sentindo o corpo cansado, deitou ao lado dele na capa, os cachos do seu cabelo negro se espalhando sobre o braço e ombro de Sirius, o tronco se encaixando na lateral do dele, o seu vestido fluido subindo em suas pernas e fazendo uma poça de cetim entre as coxas.

Eles ficaram em silencio olhando as estrelas. Outro velho hábito, praticamente automático. Bella nem precisava ser boa em legimens para saber que ele estava procurando a si mesmo, e depois a ela; eram as duas estrelas pelas quais ele se guiava no céu noturno.

– Eu não quero que ela tenha um nome de estrela. – ele disse de repente.

– Hum? – num primeiro momento, pega distraída, a frase não fez qualquer sentido.

– Nossa filha, eu não quero que ela tenha nome de estrela.

Nossa filha queimou em seus ouvidos como caramelo quente. Sensível demais, pensou. Malditos hormônios dos infernos. Sabia que ele dizia aquelas coisas sem pensar, mas ela sempre se enganchava nelas como se fossem fragmentos de promessas.

– Não precisamos escolher o nome até que ela ou ele nasça. É a tradição.

– É menina – retrucou com certeza teimosa, vinha defendendo isso desde aquele dia na estufa quando ela disse que achava que era uma garotinha. – E eu acho que podemos escolher, sim. Eu já consigo imaginá-la perfeitamente em minha cabeça.

– Ora, não seja ridículo.

– É sério – ele insistiu, rindo. – Ela tem um cabelo bem preto e fino, e os seus olhos enormes cheios de cílios e pálpebras. Suas maçãs do rosto, o meu nariz, e definitivamente o meu sorriso.

– O que há de errado com o meu sorriso?

– Eu sei lá, sempre parece que você está à ponto de estripar alguém. É um sorriso meio macabro.

– Ah – ela exclamou com prazer – Levei anos para aperfeiçoá-lo.


Ele deu uma gargalhada de cachorro, meio latida.

– Eu acho que ela vai parecer com uma daquelas bonecas de porcelana que sua irmã fazia coleção, aquelas… como era o nome?

– Blythe².

– Isso. Havia uma com o cabelo preto e fitas, que usava um vestido de veludo vermelho e tinha uma franja… como era mesmo o nome dela?

Bella rolou os olhos. Sirius passara um ano infernizando Narcissa, roubando suas bonecas, cortando seus cabelos e as colocando todas de castigo viradas de cabeça para baixo (isso deixava as bonecas com o pior dos humores), mas havia aquela em especial que ele preferia atazanar, e que uma vez jogara em cima do telhado e desafiara Bella a buscar no meio de uma nevasca.

– Bervely. Era como se chamava.

– Isso! Às vezes eu me lembro, às vezes eu esqueço.

O bebê se mexeu em sua barriga, querendo participar da conversa. Fazia isso frequentemente quando ela conversava com Sirius, Bella achava que a criaturinha o identificava, de alguma maneira.

– Eu senti isso. – ele falou surpreso. – Acho que ela gosta de “Bervely”.

– Bem típico de você deixar um feto de seis meses escolher o próprio nome.

– Bem, esse é afinal de contas um país livre…

Bella só agora percebeu o que ele estava fazendo; Sirius se tornara ao longo daquele mês viciado em sentir os movimentos do bebê, e ele criara o hábito irritante de meter a mão em sua barriga quando quer que isso estivesse acontecendo, sem esperar por sua permissão.

– Sirius!

Ele riu sem se deter. Já enfiara a mão por debaixo do seu vestido de forma completamente indecente, mas cortou caminho sem encostar em suas pernas, indo direito à barriga, procurando a fonte do movimento.

– Eu acho que é o cotovelo. – suspirou, sabendo que se aborrecer com a indiscrição do primo era um caso perdido – aqui, bem no pé na barriga. – guiou a mão dele, a sua por cima do vestido – sentiu?

– Sim! – o sorriso dele não era menos enorme ou empolgado que da primeira vez. Ele começou a esfregar os dedos em movimentos circulares sobre o ponto de pressão, o que normalmente levava o bebê a continuar se movendo, mas ela não conseguiu evitar um gemido dessa vez. O avanço da gravidez só a deixava mais excitável, mais à flor da pele, e honestamente, ela estava praticamente nua da cintura pra baixo e a mão dele estava à um palmo da sua calcinha, como poderia resistir à tamanha provocação?

– Te machuquei? – ele perguntou com preocupação, apesar de aquilo ser impossível, porque sua carícia fora das mais suaves.


– Não. – reclamou, olhando fixamente para o céu. – Não, Sirius, você não me machucou.

– Então o quê? Minha mão aqui te incomoda?

– Profundamente. – foi sincera. Ele se apoiou melhor em seu braço para olhá-la com atenção, seu rosto em genuína dúvida.

– Sério? Sempre achei que você ficava reclamando porque não pode evitar ser chata. Mas se realmente te incomoda, eu posso…

Ele ia afastando sua mão dela. Bella achou que ia morrer se ele o fizesse.

– Não é incomodo. É… outra coisa.

– Cócegas? – ele sugeriu, meio brincalhão – Agonia? Calafrios, igual seu sorriso dá em mim?


Mas ela não sorria. Estava olhando para ele intensamente, sugestivamente.

E então ele entendeu. Seus olhos se abriram em reveladora compreensão, finalmente.

Tesão?

Bella assentiu, mordendo a parte de dentro de suas bochechas com força, porque até a palavra saindo da boca dele mandava calor por seu corpo, direto para entre as suas pernas, para a confusão quente e úmida que já era sua calcinha naquele momento.

– Eu não pensei, realmente… – ele murmurou, surpreso – Eu não pensei que você se sentia assim sobre mim, depois de tudo.

– Depois de tudo? – repetiu ela, querendo compreender aquela linha de raciocínio deturpada.

– Bem, a última vez que nós fizemos, eu… bem, te deixei gravida, então eu pensei…

– Sirius Black – ela fechou os olhos, pedindo às estrelas do firmamento um auto-controle que não tinha em seu corpo – Toda vez que você coloca essa estúpida mão em minha barriga, eu preciso me segurar pra não arrancar sua roupa inteira e te obrigar a me fod…

Ele não lhe deixou terminar, em absoluto; arrancou de sua boca um beijo intenso e desesperado, que colocou em fogo em seu sistema nervoso inteiro. A mão que estava em sua barriga viajou até seu quadril e o envolveu num puxão familiar e delicioso, enquanto a trazia contra seu corpo.

– Você devia ter me falado isso antes! – ele ofegou, quando se separou para tomar um fôlego.

– Eu pensei que isso fosse óbvio, sempre foi óbvio!

– Eu não sei entender mulheres grávidas! – Sirius praguejou, indeciso entre voltar a beijá-la ou continuar brigando com ela.

– Funciona exatamente do mesmo jeito que uma não grávida, seu idiota.

– Isso é o que vamos descobrir. Bella, acho que está na hora de voltarmos pra casa.

(Continua…)


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Notas finais do capítulo

A música que eles dançam é Under Your Spell, do seriado Buffy. Eu a considero realmente piegas e sempre achei que seria algo que Celestina cantaria, mas a letra até que combinou, rs.

²Blyhte são uma marca de bonecas bem macabrinhas, dá uma procurada no google.



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