7 Atos do Impossível escrita por Ly Anne Black


Capítulo 5
O Convite Que Ele Nunca Fez




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As coisas estavam estranhas desde aquele dia na estufa. Uma nova rotina se estabelecera no chalé, para começar: eles tomavam café da manhã todos juntos, e agora não era só Andromeda que implicava para que ela comesse coisas saudáveis, frutas e comida de passarinho, que era como ela chamava aquele monte de grãos que a irmã insistia em jogar sobre seu iogurte.


Depois, Bella ia pra estufa. De manhã era o melhor período para trabalhar com as plantas, era quando estavam mais dispostas e colaborativas. Suas rosas floresciam impossivelmente frondosas, fantasticamente brancas, desde que Ted lhe trouxera de Grodric’s Hollow um adubo especial de excremento de fadas.

Em seguida ela voltava ao chalé e tomava um bom banho para tirar a terra de suas unhas e os pedacinhos de galhos e folhas de seu cabelo. Então ela dava uma caminhada, e era ai que começava a ficar estranho, porque Sirius insistia em ir com ela todas as vezes.

Iam conversando – ou discutindo, sobre assuntos variados com unhas e dentes, porque ele continuava lhe dando nos nervos com a teimosia e as opiniões todas erradas sobre as coisas – mas quando voltavam, Bella se sentia leve e disposta.

Ela até ajudava a fazer o jantar. Ou então ela lia um livro, ou – sempre que não podia evitar – era deixada um tempo olhando Nimphadora. Ted ria, lhe entregando o bebê, dizendo que ela podia considerar como um “estágio” pra ir se “acostumado”. Sirius zombava de sua cara. Sirius era muito bom com Nimphadora; quando ela ficava no colo dele, não chorava desesperada nem babava um rio inteiro em sua roupa.

Depois do jantar eles conversavam mais um pouco, ou jogavam xadrez bruxo. Ou era dia de jogo na caixa trouxa, e Bella sentava na poltrona da sala, lançava um abaffiato em torno de si (Andie finalmente se sentira confiante o bastante para lhe devolve sua varinha) e folheava uma revista.

Quando era hora de dormir, Sirius subia com ela até a porta do seu quarto no sótão, lhe dava um beijo na testa e um boa noite. Ela não entendia o beijo na testa, mas aprendera a não reclamar sobre ele.

Ela deveria estar feliz. Ele cumpria a sua promessa, e estava com ela. Continuava sendo um insuportável, o maior babaca que conhecia, ela queria socá-lo na maior parte do tempo, mas ele estava lá. Então porque ela se sentia tão incomodada?

– Boa noite, Bella. – Sirius pressionou os lábios no topo da sua cabeça, deu um sorriso brincalhão e cutucou sua barriga. – Boa noite, Kicker.

– Se esse nome idiota pegar… – resmungou à guisa de boa noite, e subiu para seu quarto.

E parou no meio dele, sentindo-se agoniada. Na parte da sua vida que houvera Sirius, quando eles eram crianças, ele fora um eterno parceiro para um nível de brincadeiras que Narcissa e Andrômeda não suportavam. Eles eram irmãos, para todos os efeitos. Gêmeos até, no que concernia ao quanto eram parecidos pelo lado de dentro.

Então os hormônios aconteceram, e provavelmente foi quando os desentendimentos também tiveram início. O jeito com eles passaram a querer um ao outro era errado em todos os níveis, era controverso e intenso o suficiente para unir e destruir, de novo e de novo. Ficou claro que jamais poderiam estar juntos. Ninguém nunca falara isso em voz alta, apenas… era óbvio.

Mas agora… agora Bella não sabia para onde aquilo estava indo. Eles não eram irmãos, e eles certamente não eram mais os inimigos fervorosos que não podiam se encontrar sozinhos ou pegavam fogo. Aquele novo Sirius que se preocupava e cuidava dela… não, não dela, Bella se corrigiu, da gravidez. Era com o bebê que ele se importava. Era a única razão porque ele estava ali.

E pensando bem… isso era ainda pior do que se ele não tivesse ficado.


~


Um estalo vindo da sua janela chamou a sua atenção. Bella saltou, estivera quase pegando no sono e nem imaginava quem estava lhe mandando uma coruja tão tarde… até perceber que não era uma coruja, mas Sirius Black em cima do telhado. Em uma motocicleta trouxa.

– Posso entrar ou você vai me deixar congelar aqui até a morte? – ele reclamou, sua voz abafada pelo vidro.

Bella levantou da cama, a barriga de seis meses lhe impossibilitando de ter a destreza de antigamente, mau humorada por ter sido acordada e também porque não sabia que ele tinha estado fora de casa. Não era novidade nenhuma que Sirius se esgueirava para fora com a sua motocicleta noite afora eventualmente, e como ele nunca falava onde ia – e ela nunca perguntava – aquelas saídas sempre a irritavam um bocado.

Ele entrou com sua jaqueta de couro preta brilhante, o cabelo solto e cheiro de floresta e vento impregnado em suas roupas. Lhe olhava preocupado.

– Aconteceu alguma coisa? Eu recebi sua coruja… como sabia que eu tinha saído, aliás?

– Eu não sabia. – disse com mau humor – só mandei a coruja porque estava com preguiça de sair do quarto.

Ele deu risada, tirando a jaqueta e jogando de qualquer jeito sobre a cama. Por baixo disso, usava um moletom vermelho escuro com um capuz e zíper, completamente trouxa mas que também lhe abraçava perfeitamente a envergadura larga.

– Bella, e então? Eu voltei o mais rápido que pude, mas você parece bem… é o bebê?

– Não foi nada. – disse secamente – Desculpe atrapalhar o que quer que fosse de importante que estava fazendo no lugar secreto que você vai toda noite depois que todo mundo está dormindo.

Ele franziu as sobrancelhas, confuso… depois abriu um sorrisão Maroto™.

– Tá com ciúmes, Bella?

– É, vai sonhando.

Então ele fez a coisa mais improvável de todas – tirou os sapatos, pulou em sua cama e cruzou os braços atrás da cabeça, numa posição bem relaxada. Desnecessário dizer que com todo o seu tamanho, ocupava uma enorme parcela do colchão.

– Não vou embora até você dizer porque me mandou uma coruja dizendo pra eu vir até o seu quarto.


Ela exalou irritadamente para a impossibilidade de Sirius Black. Tudo bem, então ele queria mesmo fazer isso. Ótimo. Bella trocou o peso de uma perna para a outra, cruzando os braços.

– Sirius – ela disse com muita deliberação – O que você está fazendo aqui?

Ele rolou os olhos com impaciência.

– Já disse que só saio…

– Não, não aqui no meu quarto agora. Aqui – ela fez um gesto amplo ao redor deles – no chalé. Alimentando esse teatro que nós dois sabemos que é pura encenação. Sua vida não é aqui, não faz o menor sentido, e você não quer… você não quer ser pai mais do que eu quero ser mãe. Então, o que diabos, Sirius? Onde isso vai dar?


Ele piscou. E balançou a cabeça.

– Eu não sei.

– Oh, isso é ótimo! Realmente ótimo! – exclamou com sarcasmo. – Você vê o quão hipócrita você é?

– Oh, meu deus, você está daquele jeito, né?

– Que jeito? – rosnou, sentindo que lá vinha coisa.

– Daquele jeito, querendo briga.

– Eu não… argh! Eu quero a verdade! Pra mim não dá, Sirius, essa merda de encenação, você nem sabe o que tá fazendo, por enquanto é tudo mil maravilhas, sentindo o bebê chutar e me dizendo que comer e pra não andar no sol, mas e quando nascer? E quando chorar a noite inteira? E quando ficar doente… e quando tiver de ir pra escola? Com que dinheiro… em que casa… de que jeito…!

– Wow! Calma ai. Não precisamos decidir tudo isso agora.

– SÓ QUE PRECISAMOS! OU PELO MENOS EU PRECISO! DAQUI A TRÊS MÊSES VOU TER UM BEBÊ E EU NEM SEI O QUE EU VOU FAZER DA MINHA VIDA DEPOIS DISSO! SÓ SEI QUE QUANDO CHEGA A NOITE, VOCÊ SOME DA SUA MOTOCICLETA VOANDO E QUEM VAI TER QUE RESOLVER TUDO SOU EU!

Ele deixou os olhos fecharem, de forma condescendente. Aquilo a irritou profundamente, e ainda mais quando voltou a olhá-la com toda a paciência do mundo.

– Bella… o que eu posso fazer por você… agora?

– Como é?

– Isso tudo que você está querendo resolver ainda não tem resposta… e eu estou tentando fazer tudo ao meu alcance agora. Então me diga, o que eu posso fazer por você, nesse exato momento, que vai te deixar mais feliz?

Ela deliberou por um momento.

– Vá embora.

Ele pareceu ter sido estapeado.

– Como é?

– Pegue suas coisas, vá embora dessa casa e nunca mais apareça em minha frente. Eu odeio você. Odeio tudo sobre você, eu não te suporto, eu quero te estrangular o tempo inteiro que estamos juntos, eu te odeio, vá embora!

Sirius ficou de pé. Havia um brilho perigoso em seus olhos de ônix, uma ameaça acesa, queimando, enquanto andava na direção dela. Parou em sua frente, olhando no fundo dos seus olhos.

– Nunca.

– Sirius, é sério!

Nunca. Eu fui uma vez. E agora eu sei que foi a coisa mais idiota que eu fiz na vida, e eu não vou fazer novamente. Nem que você implore, nem que você me mate, eu vou sair da sua vida de novo.

Ela estava desconcertada. Apenas isso, desconcertada, e estranhamente… comovida.

– Por causa da criança. – concluiu com azedume. – Por que você se sente obrigado a ficar, porque ficou com pena de mim ou com peso na consciência, ou sei lá o que, e agora sente que não pode ir embora.

– Que merda é essa que está falando?

– Você me odeia, Sirius, admita.

– Só se for do mesmo jeito que você me odeia. – rebateu, de forma muito significativa. Ela teve que engolir qualquer coisa que fosse falar depois daquilo, porque para variar, Sirius tinha arrancado a mentira de suas palavras e estava expondo as verdades nuas por baixo de uma coberta muito fina. – Bella?

– O quê?

– Quer ir à Masquerade comigo?

(Continua...)


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Notas finais do capítulo

Lembrei muito da Bevy escrevendo esse. Esse "vá embora" dela... tal mãe, tal filha.

(Se você está lendo isso e não sabe do que eu estou falando, vá ler Indigna Rosa Negra urgente, colega!)



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