Sirius afastou algumas mechas de cabelo rebelde do pescoço esguio de sua prima, e aproximou a boca da pele exposta, mas não beijou imediatamente. Ao invés disso, ele aspirou o cheiro dela, que sempre fora como uma droga em seu sistema, e deixou que aquele aroma preenchesse seus pulmões e acalmasse todas as inquietações.

Então eles tinham feito aquilo mais uma vez. Sirius prometera a si mesmo que jamais aconteceria novamente, e isso fora só em dezembro. Sabia que se não se ativesse a essa promessa, Bellatrix Black arruinaria a sua vida.

Inundado da essência dela, já não tinha tanta certeza de porque fizera uma promessa tão estúpida.

– Eu vou falar uma coisa que não vai fazer o menor sentido. – ele avisou perto do ouvido dela. Bella, que estava muito quieta desde que o sexo terminara, virou seu corpo de forma a conseguir olhar para o rosto dele. Sua expressão era ilegível, mas os grandes olhos de hematita sabiam tudo sobre ele.

– Não seria a primeira vez. – encorajou, rouca. O rapaz reconheceu que ela sempre ficava mais rouca após transarem, como se todos os gemidos que ela desse de alguma forma lhe causasse danos.

– Eu tenho essa sensação de que nunca vou me livrar de você.

No momento que as palavras tomaram vida, ele percebeu que talvez não fosse a coisa mais gentil a se dizer. Ela cerrou as pálpebras, como se fosse insuportável olhar para ele naquele momento, e tudo que Sirius pensou foi “parabéns, não levou nem um minuto e você já estragou tudo”. Mas então ela abriu os olhos, e havia um sorriso brincando em seus lábios.

– Penso o mesmo a seu respeito.

Era impossível saber se ela falava sério, zombava de sua cara ou apenas arranjara uma resposta à altura para esconder a possibilidade da frase tê-la magoado.

– Bella…

A garota virou seu rosto para longe, para o outro lado, e ele teve a certeza de que ela tinha entendido do jeito errado. Ambos continuavam deitados na cama de Bellatrix no sótão, sem suas roupas e entrelaçados, e ele não conseguia parar de pensar sobre o que tinham acabado de fazer, porque fora… diferente. Pela primeira vez, ele não sentia um peso esmagador da culpa e do erro em seu peito.

Pela primeira vez, não havia a vontade de ir embora e esquecer o que tinha acontecido, só para não ficar se torturando por que era errado, e jamais poderia tê-la, e ela ia ser, eventualmente, o seu fim.

E agora que sabia como as coisas tinham mudado dentro de si, ela não queria olhar em seus olhos.

– Bella… eu não quero…

Ela assentiu, ainda sem encará-lo.

– Eu não quero me livrar, é o que estou tentando dizer.

Sentiu a hesitação no corpo dela ao absorver a frase. E ele, que nunca fora exatamente bom com as palavras, quis deixar claro o que dizia com ações. Envolveu o corpo dela com seu braço firmemente, trazendo-a de volta para si e contra o seu peito.

– Posso fazer uma pergunta, Bella?

Ela deu um suspiro mínimo no aperto de seu abraço, muito inundada de sentimentos conflituosos para responder, mas ele tomou o seu silencio como um sim e foi em frente.

Por que de alguma forma, já não existia a chance de recuar. Nem a vontade.

– Bella… você e a Bervely… querem ser a minha família?

A mão de Sirius estava pousada bem sobre seu umbigo, como o resto dele, aguardando a resposta que mudaria tudo. Como se atento a conversa, o bebê se moveu suavemente bem debaixo da mão dele… deixando claro o seu posicionamento? Ela sorriu. Ambas sabiam que só havia uma resposta para aquela pergunta agora, a pergunta que ela nunca pensou que ouviria saindo dos lábios dele.

Bella moveu sua mão por sobre a do primo, entrelaçando seus dedos nos espaços entre os dedos dele, sentindo-se segura. Completa. Unidos…

– Sim.

(Fim)