7 Atos do Impossível escrita por Ly Anne Black


Capítulo 4
A Decisão Que Ele Nunca Tomou





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Tinha sido a coisa mais inesperada a acontecer – eles não se viam há seis anos, desde que Bella entrara na escola – mas então era uma tarde de quinta feira e ele estava parado na porta da estufa, como uma aparição fantástica retirada de um livro de Edgar Allan Poe.

– Bellatrix.

Ela ficou olhando para o seu pai parado ali por dois ou três minutos, muda, esperando que ele desaparecesse. Tinha lido em algum lugar que durante a gravidez não era incomum a mulher ter delírios visuais causados pelo excesso de hormônios. No entanto, ele não sumiu, ele se moveu para entrar sem ser convidado e lançar sobre ela um olhar avaliativo, severo e escuro como a camada mais funda da noite.

– Pai. – arfou, rapidamente recuperando sua postura de indiferença, o que lhe custou o dobro da energia que gastaria numa situação normal – Como sabia que estava aqui? Como... – rapidamente fatos como o de seu pai estar no terreno da casa de Andrômeda atingiam sua mente, aturdida por causa da gravidez e do calor e da surpresa.

– Eu vejo que é verdade – ele tinha lançado um olhar afiado para a sua barriga, que estava grande demais para ser ocultada pelas roupas folgadas que Bella vestia. – Você está grávida.

Poderia haver muitas coisas na voz de um pai ao falar aquilo a uma filha, mas na de Cygnus Black, que claramente não era o rei da conversa fiada, havia apenas fria constatação de fatos.

– Aparentemente. Como o senhor soube?

Ele fez um gesto vago com a mão, cujo dedo indicador abrigava um anel com o brasão da família Black, avaliado em vinte mil galeões.

– Do que eu não sei, Bellatrix? – sem se sentar, continuando a olhá-la de cima, sua expressão ficou mais severa e seus olhos mais fendados – é um menino?

Poderia ser uma pergunta corriqueira para outra díade, mas não para eles. Bella entrelaçou os dedos das suas duas mãos frias e ergueu o rosto desafiadoramente.

– Eu não sei. Eu espero que seja uma menina.

Era a primeira vez que ela falava sobre aquilo – e acabara de decidir que era uma verdade. Ele viu aborrecimento e ultraje passarem pelo rosto de Cygnus com suas nuvens de tempestade e ele espantá-las para recuperar o gelo habitual do próprio tom.

– Você cometeu uma terrível estupidez. – ele começou, em uma voz dura como a pedra do seu anel – E você está próxima de arruinar sua vida. Como eu sabia que aconteceria. – acrescentou, petulante, num suspiro quase trágico – Essa criança trará vergonha e humilhação para essa família. Você conseguirá superar em desgraça os feitos da sua irmã e do seu primo – é claro que ele não precisava dar os nomes para Bella saber que estava falando de Andrômeda e Sirius – você será a última peça da ruína do nome dos Black no momento que essa criança vier ao mundo.

– Nossa, pai. – ela ocultou um estremecimento e trouxe um sorriso leve à boca – doces palavras. Você me emociona.

– O seu deboche não amaciará a sua queda, Bellatrix – ele continuou, a voz grave de um carrasco sobre ela – Nem a do resto desta família. Você imagina porque eu estou aqui?

– Parece que não é para me desejar uma boa hora. – ergueu uma sobrancelha e inclinou o rosto, como se estivesse curiosamente intrigada com a aparição dele. – Por favor me esclareça sua motivação, papai.

– Eu vim contra a vontade e sem a aprovação da sua mãe. Eu, a contrário dela, acho que ainda há uma esperança de reparação da sua situação.

– Hum. Eu não quero pisar nas margaridas da sua esperança, mas os últimos três abortos que tentei só fizeram essa coisa mais forte. – isso saiu fácil e quase orgulhosamente de seus lábios, mas Bella sequer notou.

Ele negou minimamente com a cabeça – É preciso que seja homem.

Ela inclinou ainda mais a cabeça – Desculpe?

Se você der a luz a um homem, um homem para carregar e propagar o sobrenome Black, haverá reparação. Eu me comprometo a corrigir a situação, eu assumo a criança como meu filho e herdeiro e não haverá consequências para você.

Cygnus parecia convencido de estar oferecendo a Bellatrix um pedaço do paraíso, mas ela pulou do banco onde estava sentada, sem acreditar no que estava ouvindo.

– Eu entendi direito, o senhor está dizendo que assumirá a criança como sua?

– Sim – ele assentiu petulante – sem consequências para você.

– Em seus sonhos, velho. – zombou alguém da porta, e ambos torceram o pescoço para ver a quem pertencia. Sirius tinha acabado de entrar na estufa, mas era óbvio que estivera ouvindo conversa antes. Bella sentiu-se ainda mais irritada do que antes; aquele era suposto a ser o seu lugar de privacidade e agora fora invadido pela segunda vez.

– Sirius? – Cygnus piscou, enfim algo o pegara desprevenido o bastante para provocar uma pequena rachadura em sua máscara – Ora, ora, se essa não é a reunião dos traidores decadentes desta família. E eu pensando que você ainda tinha salvação, Bella, mas se está se metendo com essa corja

– É, você pode ladrar o quanto quiser, velho, mas trate de ir embora daqui agora mesmo! Bella não vai te dar o bebê para que você o torne mais um arrogante preconceituso em série nesse lixo de família.

– Vejo que você, por sua vez, continua o mesmo vira-lata – ele deu um sorriso complacente. – Não me diga que pretendem criar o bastardo juntos na imundice e indignidade!

– Se pretendermos, não vejo como isso é da sua conta!

– Sirius! – Bella gritou – Cale a boca!

Ele se virou tão rápido e tão lívido que ela precisou resistir ao impulso de recuar.

– O quê? Você quer dar a criança a ele? Sério, Bella? Olha só pra ele, está comprando você com essa conversinha! Onde foi que ele estava quando você precisou fugir da escola e morar de favor com a Andie, hein?

Ela abriu e fechou a boca. Onde foi que VOCÊ estava?, seu cérebro gritou em retorno.

Cygnus se divertia.

– Quando decidir me procure, filha. – informou o bruxo, esticando seus lábios, mas em mundo nenhum aquilo poderia ser chamado de sorriso paterno – E certifique-se de pelo menos dessa vez tomar a decisão certa.

Ele foi rude o bastante para aparatar ali mesmo, em frente a eles, num estalo oco. Ela despertou para a dormência de seu corpo, o choque completo daquela aparição e da proposta tão inesperada.

– Você não pode realmente estar pensando…

– CALA A BOCA, Sirius! – gritou. Não ia aguentar mais nenhuma merda vinda dele, não mesmo, estava farta. – QUE FOI TODA ESSA MERDA? QUEM TE DEU O DIREITO DE INTERROMPER ESSA CONVERSA?

– O quê? – ele espantou-se – Eu estava salvando você! Esse nojento veio aqui te comprar só porque achou um benefício nessa situação toda, não foi porque ele se importa com você, só estava querendo tirar proveito!

– ELE VEIO ME OFERECER UMA SAÍDA! – sua voz tremeu, desesperada.

– Quê? Não, Bella!

– E eu não preciso ser salva, muito menos por você!

– Você não pode estar pensando seriamente… em dar esse bebê…

– O QUE MAIS VOCÊ SUGERE?? – descontrolou-se. Ela nunca chorava, mas seu rosto estava quente, e seus olhos queimavam. Nunca chorava, mas a garganta estava apertada num nó, e o peito ardendo… Sentindo-se fraca, e tão cheia de raiva, transbordando, lançou a mão contra os vários vasos empilhados sobre a bancada de trabalho, e eles se espatifaram no chão, virando uma confusão de cacos de barro.

– Ok – ele aplainou seu tom, preocupado, se movimentando lentamente na direção dela. – Se você apenas se acalmar…

– NÃO PEÇA PRA EU ME ACALMAR, VOCÊ NÃO SABE COMO É! EU ESTOU SOZINHA, E EU DESISTI DE TUDO, E AGORA ELE ESTÁ MORTO E EU TENHO UM BEBÊ QUE FICOU VIVO E QUE EU NÃO QUERO, EU NÃO SEI TER UM BEBÊ, EU NUNCA QUIS UM, E EU ODEIO… EU ODEIO… ODEIO NÃO SABER O QUE VAI ACONTECER, E SE HÁ UMA CHANCE, SE HÁ UMA SAÍDA…

Ele a abraçou. Apenas lançou seus braços em torno dela e apertou firmemente para que ela parasse de destruir as coisas. Bella tentou lutar, tentou mesmo, queria machucá-lo também… mas não queria de verdade, e a exaustão era tão enorme… tão enorme que parou de lutar, ofegando em arquejos profundos, tentando se desafogar de tantas sensações intensificadas pelos hormônios mas que eram suas, absolutamente suas e lhe matavam dia após dias como um veneno de ação lenta.

A não ser pelo fato de que ele murmurava em seu ouvido num tom baixo, e o veneno ardia um pouco menos a cada palavra sua.

– É horrível não saber o que vai acontecer… – Sirius dizia baixinho, apertando-a bem firme em seus braços, tornando impossível se mover mesmo se ela quisesse – Mas há sempre uma saída, uma saída melhor do que essa… e Bella… você não está sozinha.

O coração dela doeu, tanto como ela nem sabia que um coração podia doer.

– Você vai embora quando ficar curado. – reclamou contra ele, num tom que beirava o desespero.

– Faz tempo que eu tô curado.

Bella fechou os olhos. Seu corpo todo tremia, mas era de um jeito bom, um jeito… aliviado. Mesmo que não ousasse confiar, mesmo que não pudesse acreditar nele… seu corpo acreditava, e lhe traindo, ousava ficar calmo e se sentir seguro.

– Eu tô bem aqui, Bella. – ele lhe assegurou mais uma vez, apertando-a com tanta força que ela não podia respirar. Mas tudo bem, ela não queria oxigênio, queria que aquelas palavras fossem verdadeiras.

– Não…

Sim. – garantiu, tão suave, tão sincero, que não podia ser desacreditado – A gente vai descobrir uma saída.

– Eu não quero ter um bebê. – confessou, de um lugar tão profundo de sua alma que as palavras vibraram em sua saída. Sentiu que ele assentia, o rosto contra o seu, o hálito quente contra a sua bochecha.

– Tudo bem, eu sei.

– Como pode dizer isso?

Ele riu, sendo Sirius mesmo nos momentos mais dramáticos.

– Você só está falando o óbvio. Afinal, você tentou abortar uma vez.

– Duas vezes.

– Duas vezes, então.

Ela ficou em silencio. Por um momento, apenas um momento secreto e fora da realidade como aquele era, admitiu para si mesmo que gostava de ouvir o som do coração dele e gostava da intensidade com que seus braços a seguravam. E percebeu que era a primeira vez desde que descobriu que estava grávida que não havia uma garra de ferro espremendo seu peito.

Pela primeira vez em todos aqueles meses, ela não estava com medo.

– Você falou sério mais cedo, com seu pai? – Sirius perguntou, aliviando um pouco o abraço, mas não se afastando dela nenhum centímetro a mais do que o necessário para voltarem a poder encher os pulmões de ar.

– O quê?

– Que você acha que vai ser uma menina?

Ela rolou os olhos, mesmo sabendo que ele não podia ver.

– Eu não sei. Eu gostaria que fosse.

– Nesse caso… talvez ela não goste muito de ser chamada de Kicker.

(Continua…)


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Notas finais do capítulo

Quem leu Dossiê Bellatrix vai perceber que a cena inicial desse capítulo foi retirado da original, depois tomou um rumo diferente. Tentei mostrar como algumas cenas da Dossiê teriam sido se o Sirius estivesse presente ;)



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