Probabilidade escrita por prongs


Capítulo 4
É legal ter um amigo


Notas iniciais do capítulo

Falei que não ia abandonar ela! Escutei muito It's Nice To Have A Friend da Taylor Swift escrevendo o finalzinho desse capítulo. Ah, e uma observação: tecnicamente eles aprendem o Rictusempra no segundo ano e não no terceiro, mas usei de uma leve licença artística aqui e mudei para o terceiro. Boa leitura e vejo vocês nas notas finais! ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/639105/chapter/4

CAPÍTULO TRÊS

Scorpius respirou fundo do lado de fora do escritório do pai. Ele sabia que precisava entrar e fazer aquela pergunta, e sabia que a probabilidade de Draco dizer não ao seu pedido era de aproximadamente 63%, mas com Astoria por perto o número cairia para, talvez, 47%, o que era uma grande diferença, então aquele era o momento perfeito para pedir para passar uma semana na casa dos Weasley durante suas férias de verão do segundo para o terceiro ano de escola.

O garoto fechou os olhos, reuniu toda a coragem que tinha e bateu na grande porta de mogno três vezes antes de receber o sinal de permissão para entrar. Draco utilizava várias salas da Mansão Malfoy para guardar sua grande coleção de artefatos de magia negra, hoje inutilizados por ele — Scorpius cresceu ouvindo que nunca deveria mexer em qualquer coisa que estivesse por trás de vidros e, para garantir isso, Draco e Astoria haviam colocado vários feitiços protetivos ao redor deles, impedindo qualquer um de chegar perto dos objetos. Seu escritório, porém, guardava apenas seus vários pergaminhos, livros e objetos de pesquisa de alquimia, seu hobby favorito há alguns anos. Scorpius sabia que naquele momento ele estava com sua mãe, tomando chá e conversando sobre o dia de trabalho dela no Ministério da Magia, e resolveu que era o momento perfeito para fazer seu pedido.

— Oi, meu bem — Astoria sorriu e abriu os braços quando viu o filho entrar na sala. Ele poderia ter quase catorze anos, mas ainda era seu bebê. Scorpius abraçou a mãe, meio desajeitado; tinha crescido muito no último ano e ainda se sentia esquisito no seu corpo esguio de mais de 1,70. — Precisa de alguma coisa?

O garoto engoliu em seco e forçou um sorriso, olhando do pai para a mãe.

— Na verdade, eu queria… pedir uma coisa pra vocês. — Os dois continuaram em silêncio e sinalizaram para que ele continuasse a falar. Astoria apertou sua mão. — Bem… o Albus e a Rose me chamaram pra passar uma semana na casa da avó deles, e… eu queria muito ir. Muito. — Ele olhou os pais, com cuidado e ansiedade no olhar.

Astoria e Draco se olharam; Scorpius observava os pais o tempo inteiro, conhecia-os bem. Sabia que naquele olhar havia muitas coisas escondidas: preocupação, desejo de melhorar, dúvidas, orgulho. Eles nunca haviam desaprovado de sua amizade com Albus e Rose, pelo contrário, ficavam muito felizes e o incentivavam, perguntando quando iriam finalmente conhecer seus amigos, mas também sabiam que Lucius Malfoy não ficava nada contente quando aquele assunto era discutido. Imagine, então, se ele soubesse que Scorpius estava na casa de Molly e Arthur Weasley?

— Eu acho que seria ótimo se você fosse. — Astoria o olhou gentilmente. — Você iria se divertir muito.

— Concordo com a sua mãe — Draco sorriu. Ele quase sempre concordava com a esposa. Costumava dizer que ela o fazia um homem melhor. — Quando vocês combinaram isso?

— Bem, hm — Scorpius engoliu em seco, um pouco surpreso com a resposta rápida dos pais. — Pra ser sincero, o Albus me chama desde o ano passado, mas… é que, ele queria muito que eu fosse esse fim de semana e voltasse na próxima segunda.

Draco assentiu e se levantou, com um semblante pensativo, colocando sua xícara de chá de lado. Andou até onde Astoria estava sentada, sentou-se no braço da poltrona e olhou para Scorpius.

 — Você podia ter pedido antes. Sabe disso, não é? — Ele afagou os cabelos loiros do filho rapidamente.

O garoto mordeu o interior de seu lábio, como fazia sempre que pensava no que ia dizer.

— Eu sei. Não queria criar problemas. — Seus pais sabiam exatamente o que ele queria dizer. Astoria suspirou e apertou a mão dele de novo.

— Você não vai. Você vai aproveitar uma semana de verão com seus amigos, se divertir, e nós lidamos com o seu avô. — Sua voz era clara e Scorpius sabia que ela ia se certificar que ele não ouvisse nada que seu avô falasse. Ela era uma boa mãe.

Então, o garoto arrumou sua mochila com roupas de verão três dias antes da viagem, e evitou qualquer sala onde pudesse esbarrar com Lucius, e escreveu uma carta para Albus avisando que ele chegaria n’A Toca no sábado, com sua mãe (Draco não se sentia confortável o suficiente para aparecer na casa dos Weasley), e que mal podia esperar para vê-lo. Na resposta que chegou no dia seguinte, Albus escreveu que ele e Rose estavam ansiosos para recebê-lo.

Rose acordou cedo demais para uma manhã de sábado, mas era impossível acordar depois das oito horas n’A Toca. No momento, dividia um quarto com Lucy, Roxanne e Lily — todas as primas que tinham mais ou menos a mesma idade dela. No quarto do outro lado do corredor, estavam Fred, James, Albus e, em breve, Scorpius. Hugo e Louis dividiam um quarto com seus vizinhos Lorcan e Lysander no fim do corredor pela semana, e Dominique, Molly e Victoire tinham um quarto para elas no andar de cima, apesar de todos saberem que no meio da noite Victoire subia para o quarto de Teddy no sótão.

A casa de seus avós nunca esteve tão cheia. Era verdade, a maioria de seus tios não estavam ali, preferiam largar os filhos aos cuidados dos outros e ir aproveitar duas ou três semanas de paz, mas a quantidade de crianças e adolescentes na casa a transformava num verdadeiro pandemônio. Então Rose não conseguia acordar depois das oito. Ela suspirou e se levantou de seu colchão, vendo que todas as suas primas já haviam saído do quarto. Levantou-se e se examinou no grande espelho que ficava encostado numa das paredes.

Tinha feito treze anos alguns meses atrás. Seu corpo definitivamente estava mudando, ela sentia isso; tinha crescido alguns poucos centímetros, seu cabelo estava cada dia mais rebelde e seu rosto estava cheio de espinhas. Ela suspirou e revirou os olhos para o próprio reflexo no espelho. Não queria se preocupar com aquilo, então resolveu tomar seu banho matinal e descer para tomar café o mais rápido possível.

Ela só tinha esquecido um pequeno detalhe: aquele era o sábado em que Scorpius chegaria para passar uma semana com eles, então quando Rose desceu as escadas em seu roupão cor de rosa e seu cabelo molhado pronta para gritar com Lily por ter roubado seus shorts favoritos, ela se deparou com Scorpius sentado na mesa da cozinha com Albus, tomando café da manhã, e encarando-a boquiaberto. As orelhas e bochechas de Rose esquentaram imediatamente enquanto ela o encarava de volta.

— Você já chegou — Ela disse simplesmente.

— Bom dia? — Ele respondeu, com uma expressão um tanto confusa.

— Hm, bom dia — Ela franziu as sobrancelhas e subiu as escadas apressadamente.

Não tinha porque ficar com vergonha, ela sabia. Scorpius era seu amigo, mas ainda era um garoto, por isso tinha sido tão estranho.

O resto da semana foi esplêndido; todos os primos e amigos trataram Scorpius muito bem em todos os momentos, e Molly o perguntou sobre seus pais com muito carinho enquanto servia panquecas de mirtilo de café da manhã um certo dia. Eles jogaram quadribol, nadaram no lago o dia inteiro, passaram a madrugada tomando chocolate quente e rindo de besteiras na frente da lareira; Rose percebia o quão feliz Scorpius estava durante aquela semana e, francamente, não queria muito que ele fosse embora. Isso é, até o último dia de estadia do garoto na casa de sua avó, quando ela quis mais que tudo que ele estivesse bem longe dali.

Na segunda-feira da semana seguinte, Scorpius já estava de malas prontas (infelizmente) e carregava uma expressão chateada no rosto. Não imaginava que fosse gostar tanto assim d’A Toca nem da prole Weasley-Potter, mas estava absolutamente apaixonado pelo local; pela paisagem, pela sensação de lar, pelos abraços e risadas constantes, pelas atividades que nunca paravam, sempre acompanhadas pela diversão. Amava seus pais, claro, mas ser filho único era um tanto solitário, e ele não podia deixar de imaginar como era crescer numa família como aquela, onde nunca era possível ficar sozinho.

Albus o cutucou nas costelas enquanto ele olhava os prados e montanhas que se estendiam infinitamente pela janela do quarto que eles dividiam com o resto dos garotos, um tanto distraído. Não queria ir embora.

— Ei — Seu amigo chamou sua atenção novamente. — Que foi?

A voz de Albus estava engrossando, ele havia notado, mas com algumas falhas no meio de frases.

— Nada — Scorpius sorriu. — Eu só não queria ter que ir embora agora.

— A gente vai se ver logo logo — Albus sorriu, solidário. Sabia que Scorpius não gostava muito da solidão da Mansão Malfoy. — Antes das aulas começarem até, no Beco Diagonal. Vai passar rápido. E aí, ano que vem, talvez… — Ele levantou as sobrancelhas e deu de ombros. — Só talvez, sabe, você pode passar, quem sabe… Um mês? — O moreno terminou a frase com um sorriso enorme que fez Scorpius rir alto.

— Talvez — Scorpius assentiu. — Mas só de imaginar ter que dividir um quarto com você por mais um mês fora o ano inteiro já fico com vontade de desistir, você realmente precisa lavar suas meias e cuecas, sabe, Albus — Ele riu e se afastou, já sabendo que o amigo iria protestar e lhe dar vários socos nos braços.

Os dois desceram as escadas ainda aos risos para esperar Astoria, que deveria estar chegando a qualquer instante, mas assim que dobraram o corredor para entrar na enorme sala de estar, avistaram Ron Weasley conversando e rindo com Rose. Scorpius congelou no lugar; o homem havia parado de rir e o encarava com os olhos apertados. De repente ele sentiu sua boca e garganta ficarem secas.

— Hm, senhor Weasley. Prazer — Ele gaguejou em voz baixa, estendendo uma mão que tremia sem parar. — Eu sou o Scorpius—

— Malfoy. — Ele foi interrompido pelo pai de Rose. — Eu sei quem você é. — Ron pigarreou.

Ele não apertou a mão de Scorpius, então ele se apressou a abaixá-la. Rose observava os dois cautelosamente, como se estivesse pronta para apartar uma briga. Antes que Scorpius pudesse falar alguma coisa (não que ele fosse conseguir; sua voz havia sumido completamente), Ron voltou a falar.

— Seu pai que vai vir te buscar?

Havia uma certa aspereza sutil nas palavras seu pai que Scorpius quase sempre notava quando as pessoas falavam de Draco.

— Não, senhor — Ele gaguejou novamente. — Minha mãe.

Ron assentiu, como se estivesse aprovando aquilo. Um silêncio mortificador pairava no ar. Scorpius agradeceu a Merlin, Morgana e todo e qualquer bruxo existente quando ouviu uma batida na porta e Albus o puxou pelo braço, dizendo que provavelmente era sua mãe. O loiro quis chorar de alívio quando seu amigo abriu a porta e deu de cara com Astoria, que carregava um grande sorriso no rosto.

— Mam— mãe! — Scorpius se corrigiu no meio da palavra e deu um abraço rápido em sua mãe, que riu.

— Oi, meu bem. Albus! Certo? — Ela sorriu para o garoto que segurava a porta, que sorriu de volta. — É um prazer finalmente te conhecer. E você deve ser Rose? — Ela sorriu gentilmente para a garota, que ainda estava do lado do pai do outro lado da sala, e assentiu e acenou para a mulher. — Ron. — Ela acenou com a cabeça.

O homem a observou e sorriu um pouco, desajeitado.

— Astoria, não é? — Ele devolveu o aceno, sem se aproximar.

Eles não trocaram muitas palavras depois disso. As despedidas foram um pouco mais breves do que Scorpius gostaria, mas ao mesmo tempo ele queria mais do que tudo sumir dali; tinha medo do pai de Rose soltar um mini puffe dentro de suas roupas ou simplesmente amaldiçoá-lo com o olhar. Ele abraçou Albus e Rose rapidamente, acenou para o senhor Weasley e praticamente correu porta afora com sua mãe, que não insistiu em fazer perguntas além de “como foi sua semana?”. Sabia que ele contaria o necessário no tempo dele.

Rose queria sumir. Queria que seu pai sumisse. Estava tão aliviada que Scorpius tivesse ido embora. Não sabia o que acontecia com seu pai quando Scorpius era mencionado ou estava presente, mas o Ron Weasley doce, engraçado e carinhoso que ela conhecia logo era substituído por um homem ciumento e rude que ela quase nunca via. Depois daquele vexame, ela simplesmente revirou os olhos e foi se trancar em seu quarto, como qualquer adolescente de treze anos faria.

Scorpius riu quando percebeu as duas cabeças ruivas a mais no Salão Principal no primeiro dia de aulas do terceiro ano. Hugo Weasley e Lily Potter finalmente tinham idade para estudar em Hogwarts, e claro que os dois haviam sido sorteados para a Grifinória. Ele prestou atenção em Albus, que observava o primo e a irmã rindo na mesa à frente, e sabia que no fundo ele ainda ficava chateado por ser o único da família na Sonserina.

Naquela noite, ao perceber que o amigo estava um pouco pra baixo, ele o distraiu com conversas sobre as novas aulas que eles teriam; além de todas as aulas obrigatórias, agora eles podiam escolher duas matérias eletivas.

— O que você escolheu mesmo? — Scorpius perguntou sutilmente enquanto desarrumava a cama pela primeira vez no ano para dormir. Não tinha sentido nenhuma falta daquele colchão duro.

— Trato das Criaturas Mágicas e Runas Antigas. E você? — Albus se jogou na cama folgadamente. Scorpius definitivamente também não tinha sentido falta da preguiça do amigo.

— Também peguei Trato das Criaturas Mágicas, mas minha outra aula é Estudo dos Trouxas. — Ele se deitou também, cobrindo os pés. O chão e as paredes de pedra do castelo eram gelados.

— Acho que a Rose tem essa aula! Vocês podem fazer dupla nela e tudo — Albus bocejou e Scorpius sabia que ele estava prestes a adormecer.

— É, eu vou falar com ela depois — Ele murmurou mais para si mesmo do que para o amigo.

Com o passar do ano, descobriu que, sim, gostava muito de suas novas aulas, principalmente de Estudo dos Trouxas. Gostava de entender mais coisas sobre aquele mundo tão fascinante e diferente, e a companhia de Rose também não era nada mal. Ele sempre chegava depois dela, então se sentava do seu lado e a escutava falar sobre seu dia durante vários minutos até serem interrompidos pelo professor.

Ele aprendeu que Rose genuinamente adorava aquela aula, mas não pelos mesmos motivos que ele; ela tinha avós trouxas e sabia mais sobre o assunto do que provavelmente qualquer um naquela sala, mas gostava de compartilhar tudo o que sabia com os colegas, e principalmente com Scorpius. Não era raro que ela se inclinasse para sussurrar no ouvido dele sobre como o professor estava falando algo errado, mas ela não tinha coragem de corrigi-lo, então a única opção que lhe restava era rir sobre o assunto com Scorpius, que não se importava nem um pouco. Rose tinha um senso de humor fácil e leve e ele gostava de rir com ela, principalmente durante uma aula que podia ser tão tediosa às vezes.

Sua definição de aulas tediosas, porém, podia ser um tanto quanto desajustada; Rose e Albus estavam cansados de ouvir sobre como Scorpius simplesmente amava as aulas de História da Magia. Ele não se cansava de ouvir os mitos e as histórias do mundo bruxo, decorar datas e nomes de acontecimentos importantes, e quase sempre ia até a biblioteca caçar algum livro que lhe contasse mais sobre o assunto do que a memória falha (e morta) do professor Binns o permitia. Ele gostava de como as histórias reais às vezes pareciam histórias de livros, e como por vezes elas se misturavam e era difícil dizer o que era real e o que era mito.

Foi naquele ano que Scorpius começou a pensar sobre escrever histórias; não contou isso para ninguém, claro, mas em sua cabeça ele criava mil e um roteiros e lendas sobre bruxos heróis, assassinos, trapaceiros e bondosos, desenrolava todos os acontecimentos em seu cérebro e parecia que seus pensamentos nunca paravam quietos quando ele tinha uma ideia de alguma história. Por isso não era incomum que, durante as aulas de Herbologia, por mais interessantes que fossem, ele se encontrasse divagando e escrevendo pequenos diálogos nos cantos dos pergaminhos de anotações de Rose, que não se importava nem um pouco; ele não sabia, mas mais tarde, antes de dormir, ela tentava decifrar a escrita de Scorpius e adorava ler os trechos de histórias que ele deixava escapar para o papel.

Rose achou que sua mãe teria um ataque cardíaco ou, no mínimo, um desmaio, quando ela contou em uma carta que Adivinhação havia se tornado um de suas matérias favoritas durante o ano. Ela sabia que Hermione abominava tudo o que envolvia bolas de cristal, folhas de chá e leitura de palmas, mas ela não conseguia não se encantar por aquela estranha e imprecisa forma de magia que era tão absurda, por vezes, que parecia surreal.

Para amenizar a situação, ela fez questão de enfatizar que Estudo dos Trouxas também estava sendo incrível. Chegava a ser engraçado para ela ver seus colegas aprendendo sobre o que era a eletricidade, quando ela via tudo isso em primeira mão toda vez que visitava seus avós em Londres. Não sabia o que seria da vida de sua avó se ela não tivesse uma televisão ou o carregador de seu celular por perto, e ria sempre que algum de seus colegas bruxos se mostrava embasbacado pelos conceitos de tomadas e lâmpadas.

Ela fez questão que Scorpius entendesse quem era Benjamin Franklin, como ele havia inventado a energia elétrica por meio de suas experiências mirabolantes, e ficava feliz ao perceber que o garoto realmente escutava e prestava atenção no que ela falava. Sorria todas as vezes que ele casualmente mencionava termos trouxas nas conversas que eles tinham com outros amigos e se sentia até um pouco orgulhosa por ter ensinado aquilo à ele.

— Sua matéria favorita é História da Magia? — Ela perguntou casualmente um dia, enquanto arrumavam suas mochilas depois da aula para irem almoçar.

— Hm, acho que não — Ela observou as sobrancelhas dele franzirem e ele morder o lado de dentro de seu lábio inferior. Ele sempre fazia isso quando pensava no que ia dizer. — Assim, eu gosto muito dela, mas tenho que admitir que gosto mais de Astronomia.

Ela olhou surpresa para o garoto.

— Astronomia? Sério?

Talvez ela devesse prestar mais atenção em Scorpius. Eles tinham Astronomia juntos aquele ano, mas não sabia que ele era particularmente afeiçoado pela matéria. Ele sempre parecia tão disperso durante ela… ou talvez Rose não o observasse como deveria.

— Sim — Scorpius riu. — Meu nome vem de uma estrela, sabe. O nome do meu pai também. E de vários outros parentes meus. Não sei se você sabe, mas é meio que uma coisa de família…

Rose corou com o sarcasmo do loiro e empurrou seu ombro levemente.

— Cala a boca — Scorpius riu mais e afagou onde ela havia batido enquanto os dois se dirigiam até a porta da sala. — Eu sei disso! Só não sabia que era sua matéria favorita.

— É. Minha mãe também sempre gostou de estrelas, constelações, essa coisa toda, e sempre falou comigo sobre isso. Ela até escolheu meu nome porque eu nasci em novembro.

— Ah, é! — Rose exclamou, dobrando o corredor apinhado de alunos famintos. — Você é de escorpião, né? — Ela riu. — Tô vendo que a criatividade não é um dos fortes dos Malfoy.

Scorpius gargalhou ao seu lado, surpreendendo-a. Ela sabia que eles se divertiam juntos, mas era difícil arrancar risadas genuínas assim do garoto.

— Acho que na sua família também não, metade dos seus primos têm os nomes de outras pessoas! 

— É diferente, okay, são homenagens! — Ela sentiu as orelhas e bochechas esquentarem imediatamente. Odiava quando isso acontecia.

Scorpius não podia negar que era hilário ver Rose corando. Simplesmente hilário. Adorava fazer brincadeiras que faziam seu rosto sardento ficar vermelho.

Eis o problema: Rose conseguia ser rancorosa quando ela queria. E como ninguém conseguia fazer ela corar como Scorpius Malfoy, ela tinha que tomar alguma providência em relação à isso. Então, alguns dias depois, durante a aula de Feitiços que eles faziam juntos, ela viu a oportunidade perfeita aparecer: eles estavam praticando uma azaração que causava cócegas em seu oponente. Ele estava em dupla com Albus, claro, e Rose estava com Alice, e ela simplesmente não resistiu à tentação de apontar sua varinha para Scorpius discretamente no meio da aula.

Ela observou enquanto Albus fazia Scorpius rir com sucesso graças ao feitiço, e esperou que ele abaixasse a varinha e se distraísse.

Rictusempra — Ela murmurou sem que ninguém percebesse; estavam todos muito ocupados tentando fazer seus colegas rirem.

De repente, o corpo de Scorpius se dobrava em risadas altas e lágrimas escorriam de seus olhos, seu rosto estava vermelho e ele teve que se encostar em uma das mesas para não cair no chão rindo. O professor Flitwick se apressou a socorrê-lo, e o rosto de Albus era puro desespero. Rose não conseguiu resistir ao impulso de rir da cena, cobrindo a boca enquanto escondia a varinha nas vestes.

— Rosie! — Alice puxou suas vestes com um sorriso divertido no rosto. — Foi você que fez isso? — Ela sussurrou, observando Scorpius enxugar as lágrimas que caíam pelo seu rosto.

— Talvez — Rose riu mais e sentiu-se um tanto orgulhosa de si mesma.

O professor Flitwick logo lançou o contra-feitiço sobre Scorpius e se virou para Albus, lhe dando um sermão inteiro sobre como ele não deveria abusar do poder de feitiços com tanta irresponsabilidade. O primo de Rose encarava o professor com os olhos arregalados e parecia prestes a chorar, e Rose se divertia mais a cada instante. Ela olhou para Scorpius e viu que ele a encarava, ainda parando de rir e balançando a cabeça.

— Weasley — Ela percebeu que ele murmurou e caiu na risada, logo em seguida estirando a língua para o garoto.

Ao fim da aula, os quatro saíram juntos, e Alice não conseguiu se segurar e revelou que Rose tinha sido a responsável pela crise de risos de Scorpius.

— O Flitwick quase fez purê de mim e a culpa foi sua?! — Albus indagou, ainda nervoso, enquanto os outros três riam. — Inacreditável. Não se pode confiar nem na própria família.

— Ah, pelo menos eu fui criativa, né? — Rose provocou Scorpius com um sorriso, que a olhou com as sobrancelhas arqueadas, claramente surpreso ao perceber do que se tratava tudo aquilo.

Sua expressão durou por aproximadamente dois segundos; logo ela foi substituída pelo habitual sorriso presunçoso e misterioso dele.

— Usar um feitiço que já estava sendo usado por todos na sala? Sim, muito criativo, hein — Ele a provocou sem olhar diretamente para seu rosto, e Rose não conseguiu segurar a risada enquanto empurrava o amigo.

Gostava do senso de humor de Scorpius. Alice às vezes se doía muito com as coisas ou não entendia seu sarcasmo, e Albus a irritava muitas vezes por não saber a hora de parar, mas Scorpius era o equilíbrio perfeito entre eles. Ele a fazia rir e entendia suas piadas e provocações, e sabia exatamente a hora de parar; chegava a ser irônico, ela pensava. Lembrava-se de como tinha certeza que ele era uma pessoa estranha e sem graça quando o conheceu no trem há mais de dois anos, mas agora ele era uma das pessoas favoritas de Rose e ela não conseguia mais imaginar como seria assistir àquelas aulas dolorosamente entediantes sem a presença de Scorpius para lhe distrair. Era legal ser amiga dele.

Rose o fazia rir de uma maneira um tanto peculiar, e ele não queria dizer apenas com o feitiço de cócegas (que havia sido muito esperto dela). Não, Rose era divertida, falava alto e não pensava nas coisas antes de falá-las, e Scorpius adorava ver ela se arrependendo de ter dito algo absurdamente hilário na frente de alguém e tentando consertar a situação. As aulas que ele assistia ao lado dela eram sempre mais divertidas e confortáveis, e ele tinha vontade de rir sempre que lembrava como tinha ficado intimidado pela voz alta e imparável de Rose, que hoje era sinal de boas risadas e conversas interessantes para ele. Era legal ser amigo dela.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

As coisas estão andando um pouquinho rápido porque, como eu já tinha dito antes, quero focar mais no quinto, sexto e sétimo anos deles, mas espero que vocês estejam conseguindo ver que eles estão cada vez mais próximos e virando melhores amiguinhos.
Hoje vimos um pouquinhos mais da relação do Scorpius com o Draco e a Astoria, que eu particularmente acho a coisa mais lindinha do mundo, e um glimpse de como o Ron se sente com essa amizade meio improvável deles. O que acharam? Também tentei mostrar um pouco mais da influência e da amizade com o Albus, bem discretamente, e no próximo capítulo vou focar um pouco mais nessa relação que os três têm, eu acho. Espero que tenham gostado, comentem sem dó nem piedade e me avisem de qualquer erro que acharem (revisei bem por cima antes de postar) e até o próximo capítulo! Beijãoooooooo ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Probabilidade" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.