Probabilidade escrita por prongs


Capítulo 3
Garotos são estranhos


Notas iniciais do capítulo

Não me matem, não me matem, não me matem! Vejo vocês nas notas finais ♥



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CAPÍTULO DOIS

Rose tinha muitas escolhas a serem feitas quanto a seus amigos em Hogwarts. Ela poderia aprofundar sua amizade com Alice Longbottom, que conhecia desde criança (o pai dela era padrinho de Albus, afinal) e agora era sua companheira de quarto, mas não sabia exatamente como fazer isso. Poderia começar uma conversa com Melody Jordan sobre como o cabelo dela era bonito ou perguntar para Gwen Sykes sobre as aulas, mas não gostava de começar conversas com pessoas novas. Poderia até procurar Thomas e Howard, garotos que também estavam na Grifinória, e tentar ser amiga deles, mas a ideia simplesmente a entediava.

Ao decidir, então, que procuraria Albus durante o café da manhã no primeiro dia de aulas, ela ainda não sabia, mas estaria aumentando em aproximadamente 83% a probabilidade de ela também ser amiga de Scorpius Malfoy. Veja bem, ela poderia simplesmente ignorá-lo ou propositalmente não ser amigável com ele, mas essa não era Rose. Ela não estava exatamente empolgada com a ideia de andar por aí do lado de um Malfoy, mas se ele estava grudado a Albus, ela também estaria. Afinal, Albus havia sido seu melhor amigo antes, e ela não iria deixar de ser a melhor amiga dele por causa de um garoto com cabelos cor de limão e braços estranhamente longos. 

As regras sobre as mesas das casas no Salão Principal não eram tão rígidas durante a manhã; muitos alunos mais velhos pulavam a refeição para dormirem mais, então os lugares vagos por entre os bancos sobravam. Rose, então, com seu livro pesado de Transfiguração debaixo dos braços, sentou-se do lado do primo na mesa da Sonserina, sentindo as bochechas esquentarem com alguns olhares que recebeu, mas tentando não se importar muito.

— Nós temos aula de Poções juntos — Ela começou a falar, dispensando gentilezas. — e também de Defesa Contra as Artes das Trevas e História da Magia. Eu já chequei tudo.

— Bom dia — Albus bocejou. Não tinha se dado o trabalho de arrumar os cabelos naquela manhã. — Isso é hoje?

— Não — Rose revirou os olhos levemente. — Hoje é Herbologia com a Corvinal e Feitiços com a Lufa-Lufa pra vocês, e Herbologia com a Lufa-Lufa e Feitiços com a Corvinal pra mim.

Observou o menino que sentava do outro lado de Albus. As vestes da Sonserina pareciam gigantes em seu corpo esguio e ele não olhava para Rose, mas ela tinha certeza que ele a escutava.

A cabeça de Scorpius pareceu girar ao ouvir as palavras da garota ao seu lado. Como ela já sabia até do horário deles? Ele respirou fundo e continuou comendo seus ovos e seus tomates, sentindo seu estômago se revirar um pouco a cada mordida. Estava nervoso para o primeiro dia de aula, aquilo era certo. Mesmo depois do dia anterior, teve medo de estar sozinho e não conseguir fazer amigos, mas quando Albus Potter o acordara naquela manhã com um sorriso dizendo que não queria que Scorpius se atrasasse, ele sentiu um pouco de alívio. E quando o garoto correu pelos corredores das masmorras para alcançar Scorpius e o acompanhou pelo castelo em um silêncio quase que confortável, ele quis chorar de alegria. Estava fazendo um amigo — e um amigo bom, parecia.

— E quando que a gente tem aula juntos, então? — Albus perguntou, mordendo seu muffin inglês.

— Terças, quintas e sextas. A gente vai se ver muito. — Rose soou quase aliviada ao dizer isso, definitivamente feliz, e começou a montar a montanha de comida em seu prato. Scorpius ainda não sabia, mas aquilo era bem normal para a Weasley.

Os três sentaram em silêncio por um tempo, e Scorpius aproveitou o momento para observar seu primo, Lewis Higgs, conversando com Luke Zabini, não muito longe dali, apenas a alguns lugares de distância no banco. Não que ele odiasse seu primo, mas eles não eram lá muito próximos. Astoria adorava visitar Daphne, mas sempre que Scorpius tinha que passar muito tempo com o garoto, as coisas logo ficavam chatas. Eles apenas não tinham muito em comum.

Scorpius gostava de observar as pessoas. Não expressava suas opiniões e análises muito frequentemente, preferia guardá-las para si, mas adorava examinar o que estava acontecendo ao seu redor. Sabia que, provavelmente, Lewis e Luke seriam bons amigos, mas não se aproximariam tanto dele e de Albus. E não tinha nenhum problema. Então ele observou Rose Weasley com o canto do olho. Ela era como um livro aberto. Estranha, ele pensou novamente. Definitivamente teimosa e não parecia ligar para as opiniões das outras pessoas, e absurdamente… amigável, mesmo que de seu jeito peculiar.

— Como você dormiu? — Scorpius perguntou, sua voz suave e seus olhos ainda encarando seu prato de comida, o qual ele comia aos poucos, enquanto Rose devorava o seu.

Rose não o respondeu, até que, depois de uns dez segundos, ela cobriu a boca com a mão enquanto mastigava um pedaço de pão e olhou para Scorpius com um olhar curioso.

— Você tá falando comigo?

Scorpius a olhou e assentiu.

Ele estava falando com ela?

— Eu dormi bem. E você?

— Bem também — Scorpius respondeu, sorriu e calou-se.

Esquisito.

Aquela era a palavra que Rose usaria para descrever Scorpius Malfoy durante todo o primeiro ano. Legal, gentil, engraçado, mas definitivamente esquisito. Scorpius era muito silencioso e seus olhos nunca paravam num lugar só. Seus sorrisos eram quase sempre contidos e suas piadas sempre vinham como surpresa, apenas tornando-as mais engraçadas. Ele não demonstrava estar com raiva ou triste quase nunca, por mais que Rose tentasse observá-lo; ele era quase um mistério para ela, apesar de sempre se verem.

Quando tinha aulas com a Sonserina, ela fazia par com Alice ou Albus, mas nunca com Scorpius. Ele era amigo de seu amigo, mas ela não sabia se o descreveria como seu amigo. Eles se tratavam com educação, mas suas conversas só aconteciam se Albus estivesse por perto, e se ele saísse, os dois ficavam calados e quietos, evitando olhar o outro. Às vezes Scorpius perguntava como ela estava ou se suas notas estavam boas (mesmo sabendo que Rose era uma das melhores alunas do ano), mas a conversa dificilmente passava disso. E ela estava perfeitamente confortável com aquilo.

Quando as aulas eram com a Corvinal ou com a Lufa-Lufa, seu par sempre era Alice. A garota a procurara na segunda semana durante a aula de Feitiços com seu sorriso tímido e gentil e, desde então, não tinha desgrudado dela. Rose amava Albus, isso era óbvio, mas às vezes meninos eram simplesmente exaustivos, então ter Alice do seu lado era um alívio na maior parte dos dias. Gostava de ter alguém com quem pudesse falar sobre cabelos, roupas e revistas — mais especificamente a Witch Weekly, não que alguém soubesse que Rose gostava de ler aquilo. Apenas Alice. E aquilo era reconfortante na medida certa.

Seu pai não gostava muito de escutar suas histórias que envolviam Scorpius e ela notou aquilo rapidamente durante as primeiras férias de Natal, quando seu pai fez uma careta ao ouvir a história hilária onde Albus e Scorpius tinham derretido um caldeirão durante uma das aulas de poções. 

— Então o Albus está bem amigo desse Scorpius, é? — O homem perguntou, perfurando seu pedaço de torta com o garfo com um pouco mais de força do que o necessário.

— Sim, eles são melhores amigos — Rose falou sem hesitação alguma na voz, fazendo o pai suspirar pesadamente.

Ronald — Hermione o repreendeu com um olhar feio. — Você pode parar? Ele é só uma criança. E ele não é o pai dele.

Eles mudaram o assunto rapidamente, mas Rose ficou com aquilo na cabeça por muito tempo.

Scorpius achava Rose um tanto esquisita.

Ela sempre seguia Albus por Hogwarts (assim como Scorpius também o fazia) e acabou se tornando amiga dele por conveniência. Bem, amiga talvez fosse uma palavra muito forte; Rose estava sempre por perto. A voz dela, estridente e incansável, parecia estar em todo canto, assim como sua risada, cheia de soluços e pausas para respirar. Seus cabelos ruivos eram indomáveis e ele sempre achava fios dele em suas coisas e nas coisas de Albus. Ela certamente sabia deixar sua marca, quase que literalmente.

Além do garoto Potter, Scorpius descobriu que seu primo não era tão chato quanto ele pensava. Eles definitivamente tinham se aproximado mais durante o desenrolar do ano e Lewis tinha sido uma presença constante e quase necessária para que Scorpius se sentisse bem na Sonserina. Além dos dois, ele não tinha muitos amigos, e também não se importava em ter. Gostava das companhias que tinha e estava perfeitamente satisfeito com suas amizades como elas eram. Seus pais não poderiam estar mais orgulhosos dele, ele percebeu; Draco ria em momentos estranhos quando Scorpius contava de suas histórias com Albus Potter e ele meio que entendia o porquê, mas não muito bem. Sua mãe sempre sorria, o encorajava e deixava claro que estava absurdamente orgulhosa dele. Mas ele nunca se esqueceria da reação de seu avô em suas primeiras férias de Natal ao ouvir os nomes Potter e Weasley sendo dito com tanta naturalidade em sua casa.

— Não acredito que você realmente deixa ele ser melhor amigo do filho de Harry Potter —  Lucius Malfoy quase rosnou na mesa de jantar. Tinha se tornado uma pessoa um tanto amarga depois do falecimento de Narcissa. — Como se o pai dele não tivesse arruinado a sua vida, Draco. Aposto que esse menino cresceu escutando todo tipo de mentiras sobre nós, essa Weasley, então…

— Harry Potter não arruinou a vida de ninguém, Lucius. — Astoria afirmou, encarando o sogro. Ele não a intimidava. — Nós estamos vivendo muito bem, obrigada. E Harry Potter é uma pessoa decente o suficiente para não educar uma criança apenas com comentários amargos sobre outras famílias bruxas, e tenho certeza que os Weasley também — Ela olhou para o filho com o olhar que sempre o confortava, sorriu, e voltou a fitar Lucius. — Assunto encerrado.

O assunto realmente havia sido encerrado, pelo menos até o fim da noite, mas Scorpius não esqueceria essas palavras tão cedo.

No final do primeiro ano letivo, Rose era uma das melhores alunas de seu ano, e ela escreveu sobre sua conquista para a mãe sabendo que Hermione ligava muito mais para aquilo do que ela. Sim, Rose era genial, mas ela não necessariamente se esforçava para ser perfeita em tudo; de fato, tinha puxado um pouco da preguiça de seu pai e quando ela se manifestava, ela realmente se manifestava. E aquele era definitivamente um dia de preguiça. A primavera trazia os raios de sol para Hogwarts, finalmente, e com a maior parte dos exames finais terminados, Rose aproveitava um dos finais de semana livres para deitar na grama à beira do lago com Scorpius e Albus, que conversavam perto dela.

— Você devia vir pr’A Toca esse verão, Scorpius. — Albus trouxe o assunto à tona outra vez. Ele vinha tentando convencer o amigo a pedir para os pais para passar uma semana das férias na casa dos Weasley há dias, mas Scorpius nunca reagia bem. De fato, naquele momento ele fazia uma careta e não olhava diretamente para o moreno. — Só uma semaninha, sabe, ia ser legal. Você ia gostar…

— Eu sei — Scorpius disse, incisivamente, quase cortando a fala de Albus. Rose o observou com uma sobrancelha arqueada. Não tinha visto ele assim antes, Scorpius costumava esconder seus sentimentos muito bem. E, de fato, sua voz voltou a soar suave nas próximas palavras. — Eu tenho certeza que eu ia gostar, Albus, acredite, mas… é meio complicado, você sabe — O loiro suspirou.

— Você acha que seus pais não vão deixar? — Rose se intrometeu na conversa. Ela sempre fazia isso, é verdade, mas ela estava apenas curiosa, não queria ofendê-lo nem nada do tipo, e esperava que Scorpius soubesse disso.

— Não, não meus pais — Scorpius respondeu calmamente, apesar do olhar assustado de Albus para Rose, que dizia você não devia ter perguntado isso em letras garrafais e gritantes. — Meus pais não iam ligar, eu acho, mas meu avô ia ficar… chateado. — Scorpius sempre escolhia suas palavras com cuidado, diferente de Rose; ela apenas as cuspia pra fora sem pensar duas vezes. — Mas eu acho que daqui a um ano, mais ou menos… eu consigo ir visitar vocês sem causar a terceira guerra bruxa. — Ele e Albus riram, esperançosos com a promessa do futuro de Scorpius, e Rose sorriu, acompanhando-os.

Ele havia dito “visitar vocês”? No plural?

Talvez Scorpius Malfoy fosse seu amigo, afinal.

Aquele verão havia sido absolutamente normal. Era assim que Scorpius se lembrava dele, pelo menos. Havia trocado cartas e cartas com Albus e algumas com Rose durante aqueles longos três meses, tinha visto Lewis com mais frequência na casa de sua tia Daphne, tinha viajado com seus pais para a Suécia durante o solstício de verão, tinha evitado seu avô mais que tudo; mal podia esperar para que setembro chegasse. Não gostava nadinha do verão. O sol constante e forte sempre queimava sua pele pálida nos lugares mais estranhos, — Seus cotovelos! Seu couro cabeludo! — os dias longos o deixavam irritadiço e ele se sentia mais solitário do que o normal, principalmente agora que tinha amigos de verdade em Hogwarts. E, por mais irônico que fosse, seus amigos eram Albus Potter e Rose Weasley.

Aquele tinha sido um dos vários verões perfeitos de Rose. Ela não iria se lembrar dele como nada muito especial, mas definitivamente tinha aproveitado o máximo que pôde. Após uma breve viagem com seus avós trouxas para a Disney na França (eles gostavam de mimá-la, ela tinha que admitir), ela foi o mais rápido que pôde para A Toca, onde encontraria todos os seus primos e amigos deles para férias extremamente divertidas, como sempre. Fred e James eram os encarregados da diversão agora que Teddy estava namorando Victoire e só queria saber de ficar beijando ela o tempo inteiro (eca!), e os dois tinham tido ideias brilhantes como sempre.

Jogos de Quadribol no quintal da vovó Weasley com bolas a mais e novas posições e regras que eles haviam inventado, corridas a nado no lago que ficava do outro lado do morro, campeonatos de quem conseguia comer mais cachorros-quentes no jantar, jogos de Snap Explosivo no meio da noite; eles fizeram de tudo. Mas, no final, Rose tinha que admitir que estava com saudades de seus amigos de Hogwarts. Surpreendentemente, até mesmo de Scorpius Malfoy.

Ao ver Albus e Rose na plataforma 9¾ no dia da volta às aulas, Scorpius sentiu seu corpo inteiro se tensionar. Queria falar com eles, mas ao avistar os pais de seus amigos, não pôde deixar de ficar nervoso. Lembrava-se das palavras de seu avô no Natal passado; e se ele estivesse certo? E se os heróis da guerra bruxa o odiassem sem nem conhecê-lo? E se eles tivessem proibido Albus e Rose de continuarem sendo amigos dele? Por Merlin, ele podia sentir suas mãos suando de puro nervosismo.

Todas as suas dúvidas foram sanadas quando ele viu a juba ruiva de Rose girar em sua direção e ela apontar para ele do outro lado do lugar apinhado de estudantes tentando entrar no grande trem vermelho. Albus sorriu ao ver que a prima apontava para Scorpius e os dois acenaram de longe para ele, que sentiu o corpo ficar mais leve quando finalmente conseguiu respirar, aliviado. Eles ainda eram seus amigos.

Aquela viagem de trem havia sido mais tranquila que a primeira, exatamente um ano atrás. Scorpius não estava mais ansioso, assustado ou aterrorizado com nada; estava com seus amigos, falava com outros alunos que conhecia nos corredores do vagão do trem, sentia que pertencia àquele lugar. Quando Rose se juntou a ele, Albus e Lewis numa das cabines apertadas, trazia Alice Longbottom consigo, que era um pouco tímida, mas logo se enturmou, sentando-se do lado de Albus. Contaram histórias do verão, ou pelo menos as que não haviam sido incluídas nas várias cartas trocadas durante os meses passados, fizeram mil perguntas sobre o novo ano letivo (perguntas que nenhum deles soube responder) e riram como crianças de doze anos riem ao reencontrar os amigos depois das férias.

— Então — Rose falou num momento de breve silêncio entre o grupo, desviando o olhar de Albus para Scorpius e de volta para Albus. — Temos Feitiços, D.C.A.T. e História da Magia juntos. Segundas, quintas e sextas.

— Você vai fazer isso todo ano? — Scorpius brincou, arrancando os fiapos de sua calça jeans e sorrindo para a ruiva que estava sentada em frente a ele.

Rose corou. Era engraçado observá-la ficar vermelha de vergonha; suas sardas sempre ficavam mais aparentes e suas orelhas eram a primeira coisa a enrubescer.

— Talvez eu faça! — Ela o provocou de volta e estirou a língua como uma criança. 

Scorpius respondeu da única maneira apropriada: estirando a língua de volta.

Todos caíram na risada com o momento bobo dos dois e Scorpius observou Rose enquanto ela ria, nunca tímida ou sutil. Ele nunca ria daquele jeito; sempre era quieto e não gostava de chamar atenção, cobria o sorriso enquanto olhava para todos ao redor, e ela era o exato oposto. Quando Rose ria, ele tinha notado, seu corpo inteiro se abria como uma flor; seus braços, lábios, ombros. A única coisa que sumia eram seus olhos. Talvez Scorpius gostasse de ser amigo dela.

O segundo ano letivo dele havia sido quase tão normal quanto o primeiro; estava tendo um pouco mais de dificuldade em Transfiguração, mas com um pouco de ajuda de Albus, suas notas não tinham sofrido nenhum trauma permanente. Mas aquele havia sido um ano que Scorpius sempre lembraria por uma razão específica: Sua primeira detenção.

Sempre se lembraria do rosto do garoto grifinório do quarto ano, magricela e com um ar superior, que andava atrás dele no corredor do segundo andar numa tarde de inverno. Ele estava com Albus e Rose, andando em direção à aula de História da Magia (sua favorita), mas infelizmente seus ouvido insistiam em prestar atenção na conversa dos dois garotos que seguiam seus passos em vez de seus amigos.

— Não sei como esse aí tem coragem de andar com o filho de Harry Potter — O garoto não se esforçava para manter um tom baixo, mas também não falava alto. Provavelmente só achava que Scorpius não estava prestando atenção. — Se meu pai fosse um comensal da morte, eu teria vergonha. Não sei nem se eu conseguia pisar em Hogwarts. — Scorpius sentia o sangue ferver em seus braços e peito, e a conversa entre Rose e Albus agora era apenas um ruído distante. — E pelo o que eu sei, a família dele é toda podre…

O loiro virou-se e, sem pestanejar, socou o garoto na boca. Só depois de ver o garoto caído no chão foi que ele olhou ao redor; o amigo do garoto o encarava com os olhos arregalados e escandalizados, assim como Rose e Albus, que não tinham prestado atenção no que tinha acontecido até escutarem o soco. As crianças ao redor todas cochichavam entre si com um ar assustado, e Scorpius respirava fundo. Ele não era uma pessoa violenta, todos sabiam disso. Ele podia ter usado sua varinha, sim, mas não tinha nem pensado nisso no momento; seu corpo inteiro tremia e ele começava a sentir a dor do murro em seus dedos enquanto observava o sangue que escorria da boca do menino que ainda estava no chão.

— Nunca mais fale do meu pai ou da minha família. — Ele sibilou para o garoto e virou as costas, seguindo na direção oposta do corredor.

Albus e Rose o seguiram com rapidez, chamando-o.

— Scorpius! — Rose o repreendeu. — Por que você fez isso?

Ele não teve tempo de responder; antes que ele pudesse abrir a boca, ouviu a voz do diretor da Sonserina vindo do fim do corredor.

— Senhor Malfoy!

Scorpius respirou fundo, parou de andar e girou nos tornozelos para encarar o professor Slughorn, que o encarava com olhos quase tristes. Scorpius sentiu o peito afundar um pouco, mas aquele olhar não seria o suficiente para fazer ele se arrepender do que tinha feito. Ele não disse nada e esperou o professor o alcançar.

— Senhor Malfoy. É verdade que você socou aquele aluno da Grifinória que estava sangrando? — A voz de Slughorn trazia um pouco de esperança; talvez não tivesse sido Scorpius, afinal.

— Sim, senhor. Fui eu. — Ele respondeu prontamente. Slughorn suspirou.

— Bem… você sabe que terei que lhe dar uma detenção, não sabe? — Scorpius assentiu e, no mesmo instante, sentiu alguém puxando a manga de suas vestes. Olhou para o lado e Rose o encarava com os olhos arregalados.

— Sim, eu sei — Ele ignorou Rose, que o cutucou de novo enquanto balançava a cabeça.

— Professor Slughorn, eu também — Albus disse apressadamente, e Rose o olhava como se ele tivesse varíola de dragão.

— Você também socou o garoto, Potter? — Slughorn perguntou, extremamente confuso.

— Eu… — Albus engoliu em seco e gaguejou, enquanto Scorpius o encarava, perplexo. — Eu que disse pra Scorpius que ele devia socar ele, ele não teria feito se não fosse por mim. 

O professor balançou a cabeça, olhando para os dois alunos que tinham potencial para serem seus favoritos daqui a uns anos. 

— Bem, então… detenção para os dois. Vocês vão ajudar a lavar os lençóis da Ala Hospitalar com Madame Pomfrey este final de semana, certo? Sem magia. E, por favor… — Ele fechou os olhos, exasperado. — Não soquem mais pessoas por aí.

Scorpius assentiu e se virou quando o professor se afastou, voltando a andar sem dizer nenhuma palavra.

Rose poderia matar os dois naquele exato momento. Primeiro Scorpius socava um garoto do nada, e agora estava arrastando Albus para a detenção junto com ele?! Os dois pareciam dividir o mesmo neurônio — um neurônio estúpido, inconsequente e, provavelmente, o último dos dois.

Scorpius! — Ela chamou o amigo de novo. — Você é idiota? Não precisava ter metido um soco nele! E você — Ela bateu no braço de Albus, que reclamou na mesma hora enquanto passava a mão no lugar da pancada. — também não tem cérebro ou o quê? Você podia ter dito o que ele falou que fez você ficar com raiva, Scorpius, e evitava uma detenção burra e inútil que ainda por cima é durante o fim de semana!

O loiro suspirou, de olhos fechados. Rose não sabia dizer se ele estava sem paciência ou cansado; ainda estava aprendendo a decifrar Scorpius. Ele parou de andar novamente e encarou a menina.

— Rose — Ele começou, com calma. Sua voz definitivamente soava exausta. — Ele falou da minha família. E isso acontece o tempo todo, eu sei — ele apertou os olhos e a ponte do nariz com uma das mãos, como se estivesse tentando achar as palavras certas para se explicar. — Mas é tão cansativo ter que ficar escutando isso o tempo todo. Meu pai não é um comensal da morte. — Ele falou mais baixo, olhando de Albus para Rose, como se estivesse afirmando para eles. Havia um certo medo e hesitação na sua voz. — E minha família não é podre. É sério.

— A gente sabe, Scorpius — Rose respondeu sem hesitação, com leveza na voz. Ela não precisava que Scorpius ficasse dizendo aquilo o tempo todo, ela ouvia as histórias que ele contava sobre os pais e eles pareciam até ser legais.

O menino a olhou e ela não entendeu seu semblante surpreso. Ele olhou de Albus para Rose e sorriu fracamente.

— Obrigado. E obrigado por ter dito aquilo, não precisava — Ele se dirigiu a Albus, que colocou a mão no ombro do amigo e sorriu.

— Eu não ia deixar você ir pra sua primeira detenção sozinho, né.

Rose revirou os olhos e balançou a cabeça.

— Ainda acho que essa foi a decisão mais estúpida que você já tomou. Sorte a sua que tio Harry e tia Ginny vão achar graça quando você contar essa história. 

Albus e Scorpius começaram a rir e ela não entendeu o porquê, apenas ignorou os dois e voltou a andar com eles, afinal, estavam atrasados para a aula. Enquanto eles conversavam sobre outras coisas, Rose pensava no que Scorpius tinha dito; sim, estava acostumada com pessoas falando sobre sua família o tempo todo, mas eram sempre coisas boas. Nunca tinha refletido sobre o quão difícil deveria ser para ele ficar escutando coisas ruins sobre as pessoas que ele amava o tempo todo, e sentiu uma pontada no estômago por isso — culpa? Egoísmo?

Ela resolveu que iria fazer algo legal para Scorpius depois; talvez lhe dar o último pedaço de bolo no café da manhã em vez de sempre roubá-lo para si, ou então deixaria ele pegar suas anotações de Feitiços durante uma semana. Não pediria desculpas por não ter entendido ou por ter questionado seus motivos, era teimosa e orgulhosa demais para admitir aquilo. E, para ser sincera, ainda não via razão para o soco; uma simples azaração teria resolvido o problema. Garotos conseguiam ser muito estranhos, e Scorpius Malfoy principalmente.


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Notas finais do capítulo

Então... oi? rs.
Não sei quem ainda acompanha essa fic, se ainda acompanham, mas... olá! Faz um tempo, eu sei, mais especificamente... cinco anos? Acreditem, tô morrendo de vergonha aparecendo aqui, mas né. Desculpas, mil vezes desculpas, pelo abandono dessa fic. Uma breve história do que aconteceu: Eu perdi todos os arquivos dela porque meu computador quebrou, fiquei chateada e não consegui escrever por um tempão, depois entrei em crise depressiva e não consegui escrever mais nada, aí saiu Cursed Child e eu não queria mais escrever sobre Scorpius e Rose de tanto trauma que fiquei daquele troço, daí eu fui fazer intercâmbio em outro país e não tive tempo nem de respirar, daí teve o ENEM e depois a faculdade e o tempo... simplesmente passou sem que eu percebesse! Eu nunca quis neglicenciar essa fic assim e peço mil perdões por ter feito isso.
Massssssssss, o tempo passou. Águas passadas. Prometo. O Projeto Junho Scorose (pra quem não sabe o que é, procurem na categoria de Harry Potter ou nesses links https://twitter.com/JScorose https://junhoscorose.tumblr.com/ e vocês vão ver o que é) reacendeu minha vontade de ler e escrever fics de Harry Potter, e eu decidi voltar de vez com Probabilidade, além de escrever capítulos novos pra Weasley, I Won't Go Home Without You e um projeto de one-shot que sai amanhã. Eu juro que dessa vez não vou mais abandonar ela! Tenho tudo planejado e tempo de sobra nessa quarentena infernal. Peço perdão de novo aqui de joelhos na frente de vocês.
MAS SOBRE O CAPÍTULO: O que acharam? Tá atendendo as expectativas de vocês? Tivemos um gostinho das famílias deles e planejo mostrar mais deles no futuro! Scorpius e Rose tão saindo de fase de estranhos pra amigos, mas ainda não se conhecem nem se entendem muito bem. Eu só queria mesmo mostrar eles crescendo aos poucos, amadurecendo, mostrar com naturalidade como as coisas vão acontecendo com eles. E o que vocês acharam? E o que acham que vai ser da amizade/relacionamento deles? Quero ouvir tudo :) um beijão e vejo vocês logo logo - antes de 2025.



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