Justiceira escrita por Clarisse Arantes


Capítulo 9
Parte oito




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            E nós realmente não havíamos parado. Nós tínhamos nos animado de mais, se é que você me entende, e fomos parar no carro de Pedro. Do carro de Pedro, entre passadas de mãos para todos os lados, fomos parar na casa de Pedro. Entre beijos para todos os lados, fomos parar no quarto de Pedro.

            E aí.

            Aí foi uma loucura.

            Depois disso, eu encontrava-me deplorável. Enrolada no lençol da cama, com os cabelos bagunçados e a maquiagem leve um pouco borrada. Foi somente então que tive tempo para observar sua casa.

            Ele realmente era rico. Bem rico.

            A casa de Pedro era grande, dava umas quatro vezes o meu pequeno apartamento e ainda havia uma área de piscina. Incrivelmente, Pedro morava sozinho. Não possuía um cachorro, ou sequer um gato.

            Ele estava um pouco mais afastado. Encarava suas grandes janelas, por trás de uma enorme televisão. Sentado, somente com um short e seu incrível abdômen amostra.

            Pedro segurava um copo de uísque, e ao perceber-me aproximar, sorriu.

            — Você está ainda mais incrível agora — confessou.

            Dei a volta pelo enorme sofá vinho e sentei-me ao seu lado.

            — Então... — comecei a dizer, segurando um riso. — Você ainda me acha digna de ser uma garota século XX?

            Nós acabamos rindo.

            Apoiei minha cabeça em seu ombro desnudo e olhei na direção em que ele encarava. Do lado de fora da janela, em cima de um prédio, meus olhos focalizaram Ash. Eu não sei se vi o que realmente vi, mas pelo pouco pano que possuía sua máscara, e por sua expressão, parecia que Ash estava decepcionado. Desapontado.

            Foi no tempo de desviar os olhos para Pedro e Ash já havia ido.

            — Hoje foi uma noite maravilhosa, Pedro — comentei e vi-o sorrir de lado. — Muito obrigada.

            Pedro aproximou minha cabeça ainda mais, fazendo-a deitar-se em si. Eu sorri, observando seu rosto de outro ângulo. Comecei a reparar ainda mais em seus traços.

            — Por que você mora sozinho, numa casa tão grande quanto essa? — questionei, um tempo depois. Pedro deu de ombros.

            — É uma casa hierárquica. Porém eu fiz algumas mudanças — ele sorriu nervoso. — E não consigo abandoná-la. Tem um valor sentimental muito grande e, às vezes, sozinho nessa imensidão me faz repensar todos meus valores. De uma forma ajuda.

            — E de outra?

            — De outra me faz sentir pequeno. Gosto de trazer pessoas aqui.

            Sentei-me, contendo uma risada.

            — Então, quantas outras, você já trouxe aqui?

            Ele riu.

            — Conta com a empregada?

            Neguei e ri.

            — Estou brincando.

            — Bom — Pedro disse —, meu irmão vem aqui bastante. — Ele fechou a cara. — Só para dizer-me o quanto sua empresa vai bem... É esnobado.

            — Isso o faz sentir ainda menor?

            Pedro encarou-me nos olhos.

            — Bastante.

[...]

            Depois de um tempo, pedi para que Pedro levasse-me para minha casa, já que estava sem carro. Ele não hesitou, colocou uma blusa simples, e pegou a chave do carro. Logo, estávamos dentro do conversível preto.

            — Você não me disse que era rico — comentei, um tempo depois, rindo, quando já estávamos na direção de minha casa.

            — Você não perguntou — ele riu. — Isso te incomoda?

            Dei de ombros.

            — Nada com que eu devesse me preocupar.

            Ele sorriu. O restante do caminho, nós cantamos as músicas que passavam na rádio, musicas do baú de tão antigas. Divertimos-nos, porque nós dois as conhecíamos.

            Quando Pedro parou na porta de meu apartamento, retirei o cinto e sorri em sua direção. Ele não me deixou abrir a porta e puxou-me para um beijo. Longo e demorado. Intenso. Tudo estava começando a esquentar novamente.

            — Bom — afastei-o, e notei seu rosto começando a avermelhar-se. — Acho melhor eu ir.

            Ele assentiu, rindo.

            — Sim. É melhor.

            Deixei o carro e comecei a andar na direção do meu porteiro. Ele novamente estava com uma expressão de safado no rosto. Isso me irritava.

            Ele deve ter ficado assustado, porque o que aconteceu nos segundos seguintes, também me deixou surtando. Alguém me puxou pela cintura e levou-me para um lugar silencioso e afastado. Soltei-me das mãos e me virei, pronta para dar o primeiro golpe.

            Porém, eu parei. Era Ash, ali.

            Eu estava de costas com uma parede de concreto. O céu atrás de Ash possuía uma coloração profunda. Um escuro amedrontador que, ao mesmo tempo, possuía estrelas. A luz no fim do túnel.

            Meu coração batia forte pela surpresa.

            Afastei-me alguns centímetros.

            — Você ficou louco? — rugi assustada. Ash aproximou-se balançando a cabeça negativamente.

            — Você não está entendendo — ele riu, nervoso. — Você precisa se mantiver afastada dele.

            — Dele?

            Meu queixo caiu. Eu realmente tinha visto Ash essa noite.

            — Sim, esse cara que você saiu hoje à noite.

            Afastei-me mais ainda.

            — Você andou me seguindo? — quase gritei. — Você ficou louco?

            Ash pareceu realmente ofendido. Mas ele estava me seguindo, eu quem devia estar furiosa ali.

            — Eu andei o seguindo. Não você.

            — Por quê?

            — Porque ele é suspeito. E além de tudo, um galinha, se quer saber.

            — Eu não acredito — quase ri.

            — Você tem que acreditar.

            Eu não conseguia mais tentar enxergar suas expressões. O que ele pensava. Ainda mais com um pedaço de pano que cobria seu rosto.

            — Como posso confiar em você? Eu sequer te conheço!

            Ouvi-o bufar, e raramente, ouvia-o transparecer qualquer coisa.

            — Tudo bem — ele deu de ombros. — Não diga que não te avisei.

            Sorri sínica.

            — Pode deixar.

            E depois Ash saiu correndo para outro lado e foi embora. Rápido. Quase nunca tomávamos uma velocidade tão grande quanto a que ele havia tomado. Respirei fundo.

            Foi minha vez de voar embora. Não passei por meu porteiro, porque ele deveria estar desmaiado e entrei pela janela de casa, que, como sempre, esquecera-me de trancar. Um dia eu aprenderia que era bom começar a fechá-la. Se eu podia entrar, outros super-heróis também podiam. Meu arquiinimigo podia.

            O nome dele, eu não sabia. A única coisa que sabia de meu arquiinimigo era que todos os chamavam de “Garoto Solitário”. Eu não entendia o porquê. Ele nunca, na verdade, contara-me o porquê de vir atrás de mim. O porquê de nossa luta ter iniciado e o porquê de me odiar tanto.

            Na próxima vez que encontrá-lo, antes de matá-lo, eu obterei minhas respostas.

            Depois de chegar a minha casa, vesti meu uniforme, o esplêndido uniforme que ganhara de Nick Fury e sai voando novamente, dessa vez, para impedir crimes da madrugada.

            Conseguia sentir que o dia seria longo e que finalmente, o Garoto Solitário, seria ainda mais, solitário.


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