Justiceira escrita por Clarisse Arantes


Capítulo 13
Parte doze




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            — Eu queria poder usar meu celular um último minuto.

            Pedro praticamente riu, depois percebeu que teria que soltar minhas mãos, para que fizesse isso. Ele deu de ombros.

            — Achei que fosse pedir algo como “uma última luta” e tudo. Mas celular? Você não se parece mesmo como as damas de antigamente.

            Sorri, fazendo-me sem graça.

            Pedro passou para trás de mim, tirando as argolas metálicas que me prendiam. Afrouxou um pouco as cordas dos braços, para que assim pudesse passá-los para frente e pegar o celular, com dificuldade, sob a calça.

            — Um minuto e até pode dizer para os outros que está aqui. Não vai adiantar muita coisa. Você já é uma garota morta.

            Engoli em seco e assenti.

            O tempo começou a valer e demorei cerca de três segundos para desbloquear pelo nervosismo. Meu instinto levou-me para as mensagens. Constava uma de Ash:

            “Ele é suspeito de uma coisa... Está tudo bem?”

            Respondi-o instantaneamente.

            “Não. Preciso de ajuda. Algo como um alçapão e sala de porta modernizada. Preciso que desligue a força.”

            Meus segundos estavam se esgotando e chequei minhas ligações. Nenhuma importante. O celular apitou e vi a mensagem de Ash. Meu coração batia forte.

            “Dois minutos.”

            Ao ir respondê-lo, Pedro aproximou-se e bloqueei o dispositivo.

            — Seu minuto acabou — ele realmente pareceu triste, mas sorriu após isso. Puxou o celular de minhas mãos e jogou-o longe.

            Sem cuidado algum, Pedro puxou meus braços para trás com força, fazendo-me gemer de dor e acorrentou-me com as argolas metálicas novamente.

            Quando voltou para minha frente, e sentou-se na cadeira, o mundo ficou escuro. O mundo ficou escuro, a visão ficou escura e ouvi Pedro gritar qualquer coisa.

            Foi essa escuridão que me deu luz. Senti meus poderes voltarem pouco a pouco. E com a força que eu possuía e o tamanho da ira, as cordas estouraram-se. Elas gritavam por misericórdia.

            — Meu último pedido, na verdade — Pedro virou-se para mim e deu dois passos atônitos para trás. — é — prossegui com cuidado e levantei-me da cadeira. — Morra!

            Eu não sei como foi exatamente que fiz, mas lembro-me de que depois ao dizer aquela minúscula palavra com tanto ódio e bravura, o rosto de Pedro virou-se uma confusão total, ainda mais.

            — Me desculpe, mas isso, não é algo que pode ser pedido.

            Pedro ainda observava-me atônito.

            — Eu vou lutar com você agora — falei e comecei a me aproximar. Os passos que dava em sua direção pareciam não abalá-lo, e ele estava confuso.

            — Você pode vir — ele disse, e por fim sorriu. — Você nunca ganhará de mim com seus instintos de boa garota.

            — Assista-me, então.

            Isso foi o estopim, corri na direção de Pedro e ele preparou-se da melhor forma possível. Então eu voei e deferi-lhe um golpe certeiro no centro do peito. Com a raiva e a força que eu possuía, atravessamos a parede e depois mais uma, para finalmente, estarmos do lado de fora da casa.

            Com Pedro grudado em minha mão, eu subi aos céus e joguei-o para longe.

            — Seu idiota!

            Ele logo voltou, e dessa vez, sua feição não era das melhores. Foi minha vez de sorrir. De todas as minhas batalhas que vivencie contra Garoto Solitário, já havia aprendido qual era os seus superpoderes. Assim como eu, Pedro possuía força e voava.

            Como fizera a pouco contra ele, voou em minha direção com velocidade, pronto para agarrar meu pescoço. Mas no alto, desviei-me com precisão. Ele ficou irado e veio com força e perigo. Acertou-me um soco na barriga e depois outro em meu rosto.

            Quando se afastou alguns segundo para ver-me gemer de dor, ele riu.

            — Se quer saber — comecei a dizer, já me recuperando. — Esse foi o mais alto que já me levou.

            Ele teve a coragem de corar.

            E como se estivéssemos dançando sob a luz da lua, Pedro e eu deferimos milhares de golpes, um contra o outro. Ele acertava-me sempre na barriga, quando possuía a oportunidade, e eu tentava acertá-lo em todos os lugares possíveis. Depois de cansarmos, puxei-o pelo cabelo e, como se a gravidade finalmente funcionasse para nós, cai com ele para o chão.

            Eu sentia o movimentar de sua garganta sob minha mão que a apertava. E apertava. Somente a soltei quando caímos de uma altura que dizia “morte na certa” em cima de um carro táxi.

            Pedro, ou melhor, Garoto Solitário não parecia nada feliz.

            Ele puxou algo de seu sapato e atacou em minha direção. Sem ter tempo para reagir, eu fui jogada para trás, batendo as costas com uma parede de concreto. O corpo estremeceu.

            Ele aproximou-se, impedindo-me de retirar a faca que jogara minha mão à parede, juntando-nos. Gritei de dor e ele impediu-me de chutá-lo, quando se aproximou.

            — Não se brinca comigo assim, minha querida — falou, e não consegui prestar atenção em suas palavras porque a dor era funda. — Você sabe — ele riu. — Luta final — ele olhou para o relógio em seu pulso. — Já passou da meia noite, então, hoje de manhã, às dez. Até lá, preocupe-se em melhorar. — Ele sorriu. — Ou preocupe-se com as pessoas com quem você se importa.

            E ele voou embora. Puxei a faca enterrada em minha mão e joguei-a no chão. Sai voando.

            Eu tinha que avisar Ash. Ele devia estar procurando-me na casa de Pedro. Foi para lá que voei, então.

            Ao pousar na casa do maluco, logo vi Ash no telhado, trajando seu uniforme cinza de sempre. Ele pareceu aliviado ao ver-me respirando.

            — O que aconteceu? Eu vi uma luta no céu... mas como pode ter percebido, eu não voo.

            Abracei-o.

            — Obrigada pela preocupação — peguei em sua mão, com a minha boa. — Mas precisamos ir.

            E sem avisá-lo, puxei e nós voamos. Juntos. Eu segurando-o com minha mão boa. Ash podia ser pesado, mas qual é, eu conseguia pegar num carro com uma mão somente. Um mero super-herói de tigela não seria problema.

            Deixei-o onde estávamos acostumados a nos encontrar. Ash parecia pálido sob o pano de sua máscara.

            — Obrigado?

            — De nada. — Sorri, aliviada por algo na noite. Então me lembrei que Pedro disse-me para preocupar-me com as pessoas que eu gosto. Ash era uma delas, e talvez, Garoto Solitário soubesse disso. E estivesse pronto para usar contra mim.

            Foi esse meu raciocínio que me fez virar para Ash e pedi-lo algo que nunca tinha pedido-o antes.

            — Será que poderia me ajudar?

 


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