Justiceira escrita por Clarisse Arantes


Capítulo 11
Parte dez




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            O trabalho foi bem exaustivo, minha diretora queria ver meu sangue. Provavelmente. Ela deu-me milhares de coisas para fazer, e até pegar um café para ela. Quase o joguei em seu rosto, ao fazê-lo. Pedro andou ocupado também, e ao redor da empresa fiquei com medo de alguém estar sabendo. Comentar ou qualquer coisa. Poderíamos ambos ser despedidos.

            Mesmo correndo o risco de ser despedida, eu queria vê-lo. Via-o passar pelos corredores, apressado, estressado. Nunca tão relaxado quanto o vira na noite passada. Sorri internamente. Seria muito bom se repetíssemos a dose de relaxamento.

            É finalmente na saída que estou voltando para casa que o encontro. Ele agarra meu braço e meu corpo bate com o dele, fazendo-me dar de encontro com o seu peito. Ele sorri em desculpa.

            — Oi.

            — Oi — eu respondo, envergonhada. — Como foi o dia?

            — Nem tão bom — ele deu de ombros, soltando meu braço. — Não pude parar um instante pra te ver — ele revelou-se feliz. — Será que posso ter a honra de sua companhia hoje?

            Semicerrei os olhos, em duvida.

            — Depende.

            Ele balançou o corpo de frente para trás, com as mãos no bolso da calça.

            — Preciso de ajuda com uns relatórios.

            Aproximei-me dele e sussurrei em seu ouvido:

            — Você sabe que não fazemos relatórios, não é?

            Ele sorriu maliciosamente, então.

[...]

            Ao nascer da noite, resolvi que iria dar uma passada na casa de Pedro, antes mesmo de ir salvar algumas pessoas na cidade. Juntei uma troca de roupa na bolsa, peguei meus pertences; celular, maquiagem e todos os tipos de acessório de emergência que uma mulher costuma ter na bolsa.

            Então, lá me fui eu.

            Resolvi não ir de carro, e peguei um táxi. Ao parar na frente da casa de Pedro, dei um toque em seu celular e logo a porta da casa estava aberta.

            O grande ambiente estava silencioso, como de costume, e as luzes estavam apagadas. Passei entre os corredores da casa, até ouvir sua voz ao fundo:

            — Querida, estou indo tomar banho. Se puder me esperar, agradeceria — ele disse.

            — Tudo bem — gritei de volta. Sentei-me no sofá a encarar o televisor desligado. Ouvi o chuveiro ser ligado no banheiro.

            Fiquei alguns segundos, sentada no sofá, ainda, antes de partir para o quarto de Pedro. Joguei a bolsa em sua cama.

            O quarto de Pedro era extenso, assim como o restante da casa. Uma cama estava no meio do ambiente, a porta para um closet e uma para o banheiro. Havia uma cômoda marrom um pouco ao lado da cama, segurando um abajur.

            Minha curiosidade aguçou-se. Sentei-me na cama e abri a primeira gaveta. Nada de interessante, apenas alguns utensílios de escritório. Na segunda gaveta a mesma coisa. Porém, a terceira e última gaveta estava chaveada. E se não fosse pela minha curiosidade, eu não teria tido força o suficiente para quebrar o cadeado.

            Documentos. Vários documentos falsos estavam na gaveta. Peguei alguns para observar. Com datas de nascimento diferentes, nomes diferentes, nacionalidade diferente. Pedro estava com a fotografia em todas elas. Na mesma gaveta possuía alguns cartões de créditos no nome falso.

            Seria mesmo seu nome Pedro?

            Entre os documentos, achei um com o nome Pedro, e foi então que não sabia mesmo se ele era quem eu achava que era.

            Respirei fundo. Ouvi o chuveiro desligar-se e coloquei todos os documentos de volta no lugar. Endireitei o cadeado na gaveta, mesmo estando quebrado e sentei-me na cama, fingindo estar entretida em algo no celular.

            Pedro saiu com o cabelo molhado e já vestido.

            Sorriu a me ver. Aproximou-se e deu-me um selinho.

            — Está tudo bem? — questionou, preocupado. — Você está um pouco pálida.

            Sorri nervosa.

            — Não — puxei-o mais para mim — está tudo uma maravilha.

[...]

            Pedro queria uma segunda dose do que experimentamos na noite passada, porém, ainda estressada com tantos documentos falsos que vi em minha frente, não consegui sequer pensar em outra coisa.

            Ele me beijou algumas vezes, depois disso. Ficou um pouco frustrado, também, mesmo que não tivesse dito.

            Então ele pediu para que eu dormisse em sua casa, e aceitei, porque teria bastante tempo com suas coisas.

            Após me beijar mais uma vez, Pedro começou a contar-me a história sua e de seu irmão, e o quanto eles eram competitivos um com o outro. Disse-me que a situação acalmou-se quando seus pais morreram.

            Em outra circunstância, meus olhos teriam se marejado, porém, os documentos e suas várias fotos, continuavam em minha mente. Tudo o que conseguia pensar era: eu havia dormido com um mentiroso. Não dormiria uma segunda vez.


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