Divergent escrita por GG


Capítulo 7
VI


Notas iniciais do capítulo

Olá, leitores!
Obrigada por todos os reviews, aos poucos juro que vou respondendo um por um, é que me falta tempo. Obrigada mais uma vez por tudo. Boa leitura e até o próximo capítulo, opinem e deixem críticas, elogios, sugestões....



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Luke vem me consolar e dizer que a dor já vai passar mas ela não importa. Ele deveria estar dizendo isso para River, que está com o rosto terrível e morto de dores e ainda assim terá que pagar pela 'covardia' segundo Eric. Eu logo limpo o meu ferimento na bochecha e sigo todos os outros mesmo que isso só me faça sentir pior, eu preciso ver.

Deveria ter perdido a luta para poupar River mas eu fiz algo que não era necessário. Provei que eu sou uma covarde, cega pelo desejo de ter a admiração de meu irmão. Isso não está certo, não está.

— Deixe que ele ao menos trate dos ferimentos antes da punição, Eric. — pede Cameron Hill, um amigo de River também transferido da Amizade. Seu olhar, quando passa por meu rosto, torna-se furioso e cheio de ódio.

Maravilha, ganhei dois novos inimigos, e em menos de uma semana por aqui.

— É claro que não, garoto. — diz Eric convictamente. — River foi covarde e terá que pagar, dei-lhe a chance de vencer uma garota e nem isso ele conseguiu, agora ele necessita ser punido.

Meu sangue ferve. Detestei o modo cujo qual Eric mencionou-me, não importa se sou uma garota ou não, isso não diz nada sobre o meu modo de luta. Faço um barulhinho baixo de indignação e Luke entende que estou com dor, ele aperta minha mão suavemente querendo dizer que está por perto, que não preciso temer, que a dor vai passar.

— Vamos todos até o Abismo. — chama Eric com aquele mesmo olhar sádico de antes.

— Oh, não, Eric, não faça isso! — pede Tris cuidadosamente, como se algo parecido já houvesse acontecido anteriormente.

— Não se meta em meus assuntos, Tris. — ele diz e afasta-se pisando forte da loira. Ela diz algo para Tobias e enterra o rosto em seu peito, eu percebo que eles não são apenas amigos e sim namorados. Quanta coisa eu perdi da vida de meu próprio irmão!

Afasto tais pensamentos e encaro River que está com as roupas manchadas de sangue, meu sangue misturado ao dele, o sangue que escorrera de meu rosto se juntara ao de suas roupas. E lágrimas quentes vindas de seus olhos brilhantes. Me sinto péssima mas parece que ir até ele e pedir desculpas é errado demais então contenho-me, por agora.

Chegamos ao Abismo. Ele é como um fosso com fundo inalcançável pelos olhos, é um desfiladeiro que horroriza a todos. Eu fico perto de River que caminha na pequena superfície de metal ao lado de Eric, Luke acaba indo para trás junto com o resto dos outros transferidos.

— Você irá se pendurar por dois minutos aqui, e assim irá provar que não é um verdadeiro covarde. — diz Eric.

— Mas....mas é perigoso. — diz uma voz feminina na multidão que nem pode ser realmente identificada por Eric ou qualquer outro.

— Não importa. — ele diz e River pendura-se ali morto de medo, vejo o horror estampado em sua expressão boquiaberta. As mãos firmes na superfície nada segura. — Comecem a contagem agora.

Um minuto inteiro passa-se e River parece prestes a desistir, a soltar a mão da superfície metálica e sucumbir ao medo e ao desespero. Eu me aproximo e me agacho para que ele possa ver perfeitamente bem meu rosto, ele fecha os olhos tentando não me encarar por bons dez segundos mas depois desiste de tal ato infantil.

— Não solte, River, por favor. — eu peço suavemente e seus olhos se arregalam.

— Sua hipócrita! — ele rosna, mas de tal modo que só eu e ele podemos escutar. — Agora mesmo estava me socando e quer que eu sobreviva?

— Desculpe-me, River. — eu digo tentando soar convincente o suficiente para fazê-lo acreditar no óbvio, eu não o odeio ou coisa parecida. — Eu pensei que não fosse capaz de machucar alguém. Estava com medo de você continuar me machucando e agi por impulso, juro.

— Isso não importa. — ele diz parecendo menos irritado, como se as coisas começassem a fazer sentido aos seus olhos. — Eu estou sendo o hipócrita, faria o mesmo se fosse você. É o que devemos fazer aqui, lutar com os outros, machucar antes que o rival tenha a chance de fazê-lo primeiro.

— Então me perdoa?

— É claro. — ele diz com um sorriso no rosto machucado e sujo de lágrimas e sangue, uma mistura nada boa. Eu sorrio largamente, talvez possamos ser amigos....

— Dez, nove, oito, sete, seis, cinco, quatro.... — a contagem regressiva de Cameron começa e quando ele está prestes a chegar ao zero, Eric chuta as mãos de River e ele caí.

River desaba na morte certa e inevitável, e então um grito cresce dentro de meu peito.

Assassino.

+++

Uma pessoa morre e eles dão uma festa.

Estou recostada num canto qualquer e o resto dos integrantes da Audácia e iniciados estão enchendo a cara de bebidas alcoólicas e se divertindo enquanto deveriam estar lamentando a morte de River. E Eric está logo ali, bebendo algo e comendo bolo de chocolate, ele é um monstro, um assassino, ele tem que pagar por seus atos e.....

— Não tá bebendo? — pergunta uma voz feminina e desconhecida, encaro a dona da voz e encontro uma mulher adulta mas que não chega a ser velha. Seus cabelos negros caem até metade da cintura e ela segura um copo com cheiro estranho.

— Eu não...não bebo. — digo baixinho, ela abre um sorriso fraco.

— Todos os iniciados dizem isso. mas logo muda, não se preocupe. — ela diz e então me encara curiosamente. — Sou Tori, trabalho no estúdio de tatuagens.

— Sou Lena, iniciada. — me apresento timidamente e uma ideia enche minha mente quase que automaticamente, um sorriso brinca em meu rosto. — Hm, o estúdio de tatuagem está aberto agora?

— Ele sempre está aberto. — sorri Tori entendendo a minha deixa.

+++

Na verdade o estúdio não estava aberto coisíssima nenhuma mas Tori se dispôs a abri-lo para me atender naquela noite. Eu mesma não aguentava mais aquela música bate-estaca agredindo meus tímpanos, o cheiro forte de bebida e a animação das pessoas em um momento em que deveriam estar chorando pela morte de um colega. Até mesmo Cameron, que eu pensei ser amigo de River, estava bêbado, trôpego e todo animadinho naquela noite.

Nem mesmo havia tido a chance de falar com Tobias — Quatro, chame-o de Quatro, sua estúpida! — após todo aquele reboliço mas no dia seguinte trataria de confrontá-lo, ele me devia respostas e eu as cobraria com um fervor quase religioso.

— E aí, já sabe o que vai querer? — pergunta-me Tori discretamente, ela está encostada em um dos balcões com um olhar distante, os cabelos foram puxados em um rabo de cavalo escuro e desajeitado. Ela deu-me um catálogo com diversas opções de tatuagens assim que chegamos ao estúdio enquanto ela arrumava tudo mas a que eu quero não está ali, está bailando em minha mente perdida.

— Você tem papel e lápis? — eu pergunto e ela assente, espero até que ela me entregue e rabisco no papel cuidadosamente, fazendo a imagem de uma cruz negra e discreta ali. — É exatamente isso que eu quero, na mão direita, por favor, nesse exato tamanho.

— Posso saber o que significa? — pergunta Tori enquanto me sento na cadeira de tatuagens, mordo o lábio inferior.

— Significa respeito e luto. — eu digo, não é apenas luto pelo River e sim por tudo que eu já perdi. Minha mãe, minha vida, minha adolescência que foi manchada pela dor e desolação, meu irmão, minha família, tudo. Tori assente e não faz mais perguntas, apenas faz seu trabalho e eu fico de olhos fechados o tempo inteiro, ignorando a dor incômoda, lembro que é apenas passageira, valerá a pena.

Quando Tori termina, abro um sorriso ao encarar a minha primeira tatuagem. Toda a minha vida marcada em um pedaço de minha pele.


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