Divergent escrita por GG


Capítulo 8
VII


Notas iniciais do capítulo

Olá, queridos leitores!
Desculpem a demora, tanto pra postar o capítulo quanto para responder seus lindos reviews, ainda estou trabalhando nisto. Bem, eu sei que parece meio louco tudo isso do Eric mas eu imaginei ele desta forma e provavelmente terá um capítulo bônus focado nele mesmo, o próximo capítulo será focado na Tris. Espero que gostem, obrigada, continuem deixando reviews que prometo me empenhar pra responder todos, boa leitura ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/637915/chapter/8

Na manhã seguinte eu sou a primeira a despertar dentre os outros iniciados. Decido levantar-me e aproveitar a solidão para tomar banho tranquilamente. Pego algumas roupas que recebi, foi-me explicado que tenho uma certa quantia em dinheiro disponível para comprar mais roupas porém quero poupar ao máximo. Tomo cuidado para não acordar ninguém, não quero ter ninguém acordado enquanto banho-me, é um tanto quanto constrangedor levando em conta que tudo aqui é tão....'aberto'.

Quando estou totalmente despida adentro o chuveiro box e ligo-o deixando a água morna limpar-me por completo, fico uns bons minutos encarando a minha nova tatuagem e penso em como Marcus me repreenderia por algo assim. Primeiro por fazer uma tatuagem, ele alegaria que estou endiabrada ou coisa do gênero e isso me renderia uma boa surra de cinto, e doeria como nunca. Segundo por estar admirando-a, isso é vaidade e não está certo. Mas agora tudo, tudo, é diferente para mim e eu tenho minhas próprias regras. Agora sou um pássaro liberto de sua gaiola, livre para voar.

Desligo o chuveiro e enrolo-me em uma toalha felpuda assim que estou perfeitamente limpa e higienizada, me visto apressadamente e encaro meu reflexo no espelho. Eu tenho grandes olhos verdes que minha mãe, quando eu era bem pequenina, alegara ser herança da minha avó materna. Meus cabelos são castanhos como amêndoas e minha pele alva como a neve que cai no inverno de Chicago chega a ser tão pálida que parece doentia.

Coloco uma calça jeans meio apertada que faz com que eu me sinta muito.... exposta, e uma blusa escura também, as cores da facção são as mais escuras possíveis e eu gosto de certa maneira, é bom estar distante daquele cinza enjoado de sempre. Mas a calça apertada me preocupa um pouco, não parece adequada. Suspiro e puxo meus cabelos, trançando-os cuidadosamente. Calço minhas sapatilhas e saio do banheiro ainda na ponta dos pés, ninguém acordou ainda, sorrio ao pensar na maravilhosa ressaca de hoje mas logo fico infeliz ao lembrar o motivo de tudo aquilo.

A morte de River.

Caminho pesadamente até o refeitório e encontro um bom lugar. As mesas estão completamente vazias mas a comida já está servida. Me levanto e sirvo-me da comida mais simples que há ali, um mingau de aveia. Volto a me sentar e começo a tomar o mingau que enche a minha mente de memórias doces e amargas, tudo ao mesmo tempo. Decido nomea-las de agridoces, que é a palavra perfeita para defini-las.

— Lena. — uma voz familiar e masculina chama-me assim que engulo a primeira colherada do mingau com gosto de 'lar'. Eu viro para encarar o dono da voz, mesmo que isso não seja exatamente necessário, eu reconheceria aquela voz em quaisquer circunstâncias, de qualquer jeito, em qualquer momento.

Era Tobias, meu irmão.

— Decidiu falar comigo hoje? — eu pergunto amargamente enquanto continuo a desfrutar do mingau, estou irritada com ele mas ainda quero abraçá-lo apertado e dizer que o amo, por isso devo resistir e ficar com essa máscara de mágoa que não chega a ser falsa, não estou feliz com o modo cujo qual ele vem agindo comigo.

— É complicado....

— Você não tem problemas para falar com ela. — eu digo apontando a colher acusadoramente na direção da loira que só pode ser namorada de Tobias, ele morde o lábio inferior e a menina baixa a cabeça, ela não deve ser tão mais velha do que eu, é baixinha e deve ter no máximo 18 anos, se não tiver menos que isso.

— Com Tris é diferente. — ele garante e eu olho-o de maneira impaciente e bufo, meio que com inveja e ciúmes da garota, com ela é diferente, argh. — Olha, eu não posso deixar que você corra os mesmos riscos que eu e ela, está bem? Estou fazendo isso pelo seu próprio bem.

— Não tente fugir do assunto, Tobias. — eu digo irritada, então aponto novamente a colher na direção de Tris. — E a sua namoradinha sabe mais sobre mim do que deixa transparecer. E o que pode ser tão perigoso assim?! Você me deve respostas e eu as quero.

— Não me chame por esse nome, já lhe pedi isso. — ele diz friamente e aperta as beiradas da mesa com força, a cabeça abaixada. Por um momento me sinto mal, talvez ele nem continue a falar por causa das minhas provocações idiotas. Se ele disse que está querendo me proteger, então eu devo acreditar, afinal de contas ele é meu irmão!

— Me desculpe, está bem? — eu peço num fio de voz, ele ergue novamente a cabeça e um sorriso ameaça crescer em seu rosto belo como antes, porém mais adulto, mais maduro.

— Eu que deveria me desculpar. — ele murmura. — Voltando ao assunto principal..... eu vou lhe responder tudo que for necessário, mas você precisa esperar um pouco. As coisas estão um pouco fora do planejado, estão piorando e.... bem, não é seguro. Vamos esperar até o dia da visita para decidirmos, mas depois que Marcus for embora eu....

— Ele não virá. — eu digo mordendo o lábio inferior, ele parece surpreso. Talvez, quando foi embora da Abnegação, tivesse achado que Marcus não me trataria como o tratava, talvez ele pensasse que Marcus seria diferente comigo, mas estava completamente enganado.

— Não? — ele pergunta, talvez pense que é apenas algo passageiro, que tenhamos brigado por causa da minha transferência, e é melhor que pense isso. Não quero preocupá-lo, não quero que ele sinta pena de mim nem que se culpe, isso é bem sua cara, por isso vou mentir.

— Está meio magoado com a minha escolha, mas logo vai voltar ao normal, imagino. — minto com um sorriso fraco no rosto. Pode parecer errado, mas sempre fui uma boa mentirosa.

— Hm.... — faz Tobias decidindo se isso é bom ou não.

— Então estamos combinados. — eu digo tomando o mingau. — Depois do dia da visita.

— Depois do dia da visita. — ele concorda afirmativamente.

+++

— Você acordou cedo. — comenta Luke enquanto ele senta ao meu lado, os olhos vermelhos por causa da sonolência, ele solta um bocejo e eu rio baixinho. — Também não a vi na....hm, ontem depois daquilo.

— Aqui eles fazem festas pra comemorar, quando uma pessoa morre. — eu digo soando indignada, Luke ri.

— May me disse que é uma maneira de celebrar a vida da pessoa, não a morte. — ele explica, arqueio uma sobrancelha, continua sendo esquisito para mim. Não parece correto fazer algo assim. Mas algo me ocorre...

— Quem é May?

— Ontem você perdeu a chance de fazer novas amizades, Lena. — ele diz sorrindo fracamente. — Conheci algumas pessoas legais e.... hm, você se importa se eu chamá-los para sentarem aqui conosco?

— Pode chamar. — eu digo forçando um sorriso, não estou acostumada a interagir com pessoas. Com Luke foi diferente, ele me ajudou no trem então as coisas foram mais fáceis, eu tinha um motivo inicial para gostar dele mas agora, parece que não.

Luke se levanta animadamente, mas antes ele beija meus cabelos. Provavelmente ele está indo chamar seus novos amigos, não vai ser algo muito fácil pra mim mas vou fazer isso por ele. Até agora ele tem sido uma ótima pessoa comigo.

Ele retorna e eu conheço May, Theodore, Eleonor e Julian. A conversa flui fácil e animadamente entre eles mas comigo isso não funciona, fico calada a maior parte do tempo ou então assentindo quietamente enquanto tomo um copo de água, preparando-me para o treino, assim me manterei hidratada e mais disposta.

Mas então todas as conversas cessam em um instante. Eric aparece no topo de uma superfície metálica que está 'pregada' no alto do refeitório, ele sorri da mesma maneira que sorriu quando empurrou River e isso faz com que o meu estômago comece a dar voltas, sinto que vou vomitar mas seguro essa vontade ao apertas as mãos nas beiradas da mesa, como Tobias fizera uns minutos atrás.

— Bom dia, integrantes e iniciados da Audácia. — ele cumprimenta sem tirar o sorriso nojento do rosto, eu o odeio em tão pouco tempo! — Quero que conheçam Max, ele é um dos nossos líderes e também tenho alguns anúncios a fazer.

Max entra e todos aplaudem-no como se ele fosse alguma espécie de herói, eu aplaudo para não me destacar dentre os outros, não posso chamar atenção. O aviso de Tris ainda martela em minha mente. Divergente.

— Primeiramente, quero apresentar nosso novo líder, um deles, é claro. — diz Eric e um garoto que deve ter uns vinte anos de idade aparece entre Max e Eric, um sorriso doentio nos lábios, ele deve ser exatamente como Eric.

Mas devo admitir que ele é bonito, não, bonito é pouco. Com a pele clara de uma maneira que não o deixa com aparência doentia como no meu caso, cabelos ondulados e loiros como raios de sol num verão quente de Chicago, lábios carnudos e olhar desafiador, uma barba por fazer que lhe confere mais charme ainda. Seguro um suspiro.

”Não seja idiota, Lena!", digo mentalmente e volto a prestar atenção nas palavras de Eric, mesmo que não queira realmente.

— Esse é Adrian Castellan. — ele informa ansiosamente. — O próximo, e último, anúncio é que hoje o treinamento dos iniciados está suspenso em respeito a morte de River, um companheiro nosso que acabara de se transferir. Meus pêsames.

Faço um barulho de indignação mesmo que não devesse. Companheiro! Como Eric é ridículo, sonso, só consigo odiá-lo mais e mais. Quero gritar que ele o matou, que ele o empurrou, mas sei que isso só me causará grandes problemas, ao mesmo tempo que sei que ele sabe que eu vi aquilo que ele fez, por isso seu olhar a todo momento recai em meu rosto e ele alarga o sorriso ainda mais, como se tentasse me assustar, ou me provocar.

De qualquer maneira, ele só consegue mais o meu ódio.

+++

O Abismo serve de abrigo para mim, ironicamente. Me sento na beirada e deixo minhas pernas suspensas no ar. Sei que não cairei ao menos que queira cair, mas não quero algo assim. Não aguentei o clima de comemoração, mais uma vez, no complexo e decidi me isolar, mesmo que Luke tenha implorada pela minha presença na 'festa de despedida', eu neguei e ele aceitou.

Será que eu deveria contar a Tobias sobre o que vi Eric fazer ontem? Será que eles são amigos? Não, duvido que sejam! Vi como Tobias fala com ele, como o olha, desprezo.... Mas a pergunta que não quer calar: será que Tobias acreditaria em mim? Uma coisa é você não gostar da pessoa, outra é achar que ela é uma pessoa tão terrível como Eric.

Fecho meus olhos e imagino como deve ter sido para River a queda. Será que ele sentiu medo? Se sentiu conformado? Imagino como deve ser, ter o corpo em queda livre, o ar chicoteando-o durante alguns segundos até a morte vir e acolher-nos.

Morte sempre lembra minha mãe, ela morreu faz muitos anos e eu tento evitar lembranças relacionadas a ela mas não é possível. Ninguém consegue superar a morte de sua própria mãe. Ninguém.

— Mags, querida, pode me passar a farinha? — pede a mulher encarando bondosamente a filha, com no máximo quatro anos de idade, a pequenina assente e faz o que a mãe pede, com um olhar curioso no rosto de boneca.

— O que a senhora está fazendo, mamãe?

— Biscoitos de chocolate. — informa Evelyn Eaton num tom de voz caloroso e gentil. — Quer me ajudar, querida?

A menina assente e segue as orientações da mãe, mas a curiosidade não a deixa ficar calada. Evelyn sempre sentira que a filha era diferente, Divergente. Mas aquilo era assunto restrito.

— Não comemos biscoitos de chocolate, então....

— É para dar aos sem-facção, meu bem. — informa a mulher delicadamente. — Vamos dar-lhes o que comer, se você me ajudar fará o bem, e isso é muito bom.

— A senhora é tão boa. — murmura a menina, desde pequena fora ensinada a formalidade e o respeito, a melhor educação possível lhe fora dada e era bastante inteligente e precoce para a idade.

— Você que é, querida. — diz a mulher sorrindo fracamente.

Magdalena não podia imaginar que aquela seria uma das últimas vezes que poderia ter momentos como aquele com a mãe...

+++

É tarde da noite mas estou acordada, revirando na cama beliche de cima. Todos parecem dormir e novamente o cheiro de álcool preenche o cômodo de forma incômoda, tampo meu nariz com o cobertor tentando afastá-lo mas todos parecem ter bebido novamente hoje, parece que amanhã novamente será um dia de ressaca.

Do meu lado direito está Mabel, uma transferida que veio da Franqueza e do lado esquerdo encontra-se Caius, transferido da Erudição. O quarto está silencioso, até que tudo muda de uma hora pra outra.

Um grito corta a noite e eu olho para a direita, onde Mabel está, vejo sangue mesmo estando escuro e olhos conhecidos, Eric, ele está com uma faca e finca-a no seu peito, provavelmente no coração, pula da cama e desaparece. Eu me arrasto para baixo e alguém acende a luz.

Mais um assassinato de Eric e apenas eu vi.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!