Divergent escrita por GG


Capítulo 6
V


Notas iniciais do capítulo

Olá, leitores!
Ainda não tive de tempo de responder todos os reviews, mas venho aqui agradecer cada um que deixou um review, obrigada



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— Tá doendo muito, Tobias! — choraminga a menininha ao alto de seus cinco anos de idade, os cabelos recém cortados estão puxados no típico coque abnegado mas algumas mechas cor de ouro insistem em soltar-se do nó feito por ela mesma. Os olhos claros, azuis como os céus, deixam lágrimas teimosas e salgadas de tristeza e dor escaparem.

— Vai passar logo, Magdalena. — diz o menino, ele é uns anos mais velho do que a menina e como um bom irmão mais velho puxa-a para um abraço apertado mas o gesto afetivo e público é interrompido por um pigarrear alto.

— Solte-a agora mesmo, Tobias. — rosna Marcus Eaton encarando o primogênito com os olhos em chamas e um olhar furioso. A pequena Magdalena sempre soube que na Abnegação os gestos afetivos em público eram errados e estritamente proibidos, o pai dizia que era auto....auto alguma coisa, a menina não conseguia lembrar a palavra toda mas já discordava de tudo aquilo. O que havia de errado em receber um abraço reconfortante do irmão que amava tanto? Tão pequena e tão diferente.

— Desculpe-me. — pede o menino abaixando o olhar para o chão e soltando lentamente a menininha de olhos vidrados, ela encara o pai. Nunca havia visto-o de outra forma além do homem que a amava e lhe tratava da melhor forma mas com Tobias era diferente, havia fúria e repúdio entre aqueles dois mas ela era jovem demais para entender o que passava ali de verdade.

— Agora, Tobias, queira me acompanhar. — pede Marcus encarando o jovem menino que morde o lábio inferior. Ele, diferente da irmãzinha, sabe exatamente o que acontecerá a seguir. — Teremos uma conversinha.

Tobias o seguiu sem hesitar, preparado para a dor que estava por vir. Já Magdalena cessou o choro e limpou as lágrimas com as costas da mão, pouco importava seu machucado no joelho naquele momento. Ela era curiosa demais e precisava segui-los e ver o que seria a tal conversinha que seu pai teria com Tobias.

Ajeitou o manto cinzento e esperou poucos instantes até que ficasse longe do campo de visão dos dois, os seguiu até dentro de casa e ficou olhando pela porta entreaberta do quarto de seus pais.

— Já lhe disse para nunca fazer coisas como o que fez agora mesmo em público, garoto. — ralha Marcus segurando algo firmemente entre as mãos, Tobias está encostado na cômoda, as costas na direção das mãos de Marcus.

— Por favor.... por favor não faça isso. — pede o garoto inutilmente. E é aí que Magdalena se assusta com o que vê, seu pai - aquele que sempre amou e disse ser seu herói de verdade - puxa um cinto de couro e começa a desferir golpes nas costas do irmão que faz de tudo para reprimir os gritos mas ele chegam com o tempo.

Magdalena deixa as lágrimas escorrerem pelo rosto, é uma criança covarde demais para interferir aquilo e pelo resto da vida carregará essa lembrança, do momento em que foi fraca e que enxergou seu pai como ele realmente era, um monstro desalmado.

— Lena! Lena! — chama uma voz enquanto sacode o meu corpo inerte na cama. Abro os olhos e sinto as bochechas molhadas assim como todo o resto de meu rosto, estive chorando, estive chorando por causa do pesadelo que acabei de ter. Não! Não foi um pesadelo, foi uma verdadeira reprise de uma parte da minha infância.

Focalizo a imagem demoradamente, Luke está ajoelhado na minha cama, as pernas saltando para fora do perímetro da pequena cama de casal da parte de cima de um beliche. Ele me encara com uma expressão preocupada e nervosa, como se temesse que eu estivesse sofrendo.

— Me desculpe....me desculpe. — eu peço fracamente e xingo-me mentalmente, como a minha voz pode sair tão fraca assim? E de uma maneira tão ridícula!

— Você está bem? Se quiser posso levá-la até a enfermaria, não me importo, sério.... — as palavras parecem jorrar de seus lábios e se o momento não fosse tão constrangedor eu iria rir baixinho, mesmo que não devesse....

— Não é nada, Luke. — eu afirmo tentando soar convicta mas novamente a minha voz me trai. — Sério, eu só tive um pesadelo. Não se preocupe, pode voltar a dormir, juro que não vou mais perturbá-lo com minhas bobeiras

— Lena....

— Estou bem, só preciso dormir. — eu digo mentindo mais uma vez todavia desta vez a minha voz colabora, ainda bem.

— Tem certeza?

— Absoluta. — digo e ele faz algo pelo qual não esperava, beija a minha bochecha suavemente e desaparece e retorna para a sua cama.

Eu volto a dormir com um sorriso de alegria boba no rosto.

+++

— Aqui na Audácia a iniciação se divide em duas importantes partes: a primeira, que é a física e a segunda, que é a mental e psicológica. — explica Tobias, meus olhos estão pregados nos seus e eu não consigo tirar as lembranças da minha mente. Do dia em que ele me consolou mesmo sabendo que teria grandes chances de pagar caro por isso, do dia em que eu fui a maior covarde existente. Queria poder correr na sua direção e abraçá-lo forte, agradecer por tudo que já fez por mim mas...não posso. — E hoje iniciaremos a primeira parte. Ah, tem mais. Queira explicar, Tris.

— Vocês serão classificados por meio de seu desempenho próprio. Separadamente dos nascidos na Audácia até o resultado final. E a pontuação é muito importante, afinal apenas os dez melhores classificados poderão fazer parte da Audácia e....

— O que você disse?! — Gwendolyn, uma transferida da Erudição, praticamente grita. Ela tem a pele escura e os cabelos num tom um pouco mais escuros, os olhos de um castanho fervoroso, ouvi boatos de que ela é bastante irritada mas não confio apenas neles. Ela me parece extremamente amedrontada agora, assim como eu.

Encaro todos os outros transferidos. Somos um total de vinte e cinco iniciados e apenas dez conseguirão fazer parte da Audácia de verdade. Eu não sabia disto mas se soubesse a minha escolha não teria sido diferente, esse é meu lugar, precisa ser.

— Exatamente o que você ouviu. — diz Tris no mesmo tom de voz de antes, ela abre um sorrisinho fraco enquanto encara Tobias e volta a encarar os iniciados, percebo que seu olhar repousa em mim mais uma vez, claro.

— Isso não é correto! — grita outro iniciado, é River, ele veio da Amizade e não parece se encaixar na Audácia, até eu combino mais com o lugar do que ele.

— Se não está contente com isso, aconselho que vá embora agora mesmo. — diz uma voz surgindo dentro da casa de treinamento. É Eric. Todos cessam as conversas e reclamações e encaram-no nervosamente, ele causa esse efeito nas pessoas mas eu mantenho-me firme e da mesma maneira de antes, apenas mordo o lábio inferior e, infelizmente, é exatamente nesse momento que Eric me encara, ele abre um sorrisinho malicioso e volta a encarar irritadamente o iniciado.

— Não podem fazer isso conosco. — prossegue o garoto com a voz fraca, falhando.

— Eu tenho uma ideia. — ele diz e encara Tobias e Tris com um sorriso gigantesco no rosto. — Vamos começar logo isso. Mas primeiro preciso saber, qual seu nome, transferido?

— River Summers.

— Ótimo. — diz Eric com aquele mesmo sorriso assustador estampado no seu rosto. — Você mostrou ser covarde mas pode tentar se redimir. Agora mesmo irá lutar contra a transferida da Abnegação e se vencer poderá ter sua idiotice perdoada mas se perder..... bem, isso é surpresa.

— Eric, ainda nem começamos a treiná-los, não está certo.... — começa Tobias e percebo que ele me encara nervosamente, como se estivesse com medo da luta. Será que ele acha que eu sou fraca? Que eu sou a mesma garotinha de antes? E será que eu realmente a sou?

— Você vai conseguir. — Luke murmura delicadamente, eu assinto sem muita vontade. Eu preciso conseguir, tenho que provar que sou capaz, que não sou fraca.

— Não importa. — rosna Eric e seu olhar alterna-se entre mim e River, um sorriso malicioso cresce em seu rosto quando ele me encara por completo. — Agora, os dois, vão colocar as roupas de combate!

+++

A roupa de combate é um traje que parece mais com uma 'segunda pele', todo negro e marca todo o corpo. Sinto-me desconfortável por estar tão exposta. Encaro meu reflexo no espelho e coro só de me observar, imagine quando os outros me verem! Puxo meus cabelos e faço um rabo de cavalo rígido, garantindo que ele não desfaça no meio da luta, não posso correr o risco de ter meus cabelos usados contra mim.

Saio do vestiário e encontro os outros aguardando. River ainda está vestindo-se, ouvi Emmeline Johnson dizer que ele está chorando. Fico quieta e sento em um dos banquinhos, Luke conversa com outro garoto transferido e eu respiro fundo várias vezes até perceber que alguém sentou-se ao meu lado. É Eric.

— Essa roupa te deixou mais bonita. — ele murmura no meu ouvido fazendo com que um tremor percorra meu corpo. Não de uma boa maneira, mas de maneira temerosa e asquerosa. Não gosto de Eric, por algum motivo que ainda não compreendo, mas é meu subconsciente dando alertas e eu costumo confiar nele. Forço um sorriso e mordo o lábio inferior, tenho certeza de que meu rosto está extremamente vermelho, Eric sorri.

— Ah, obrigada. — digo baixinho enquanto me levanto, River finalmente chegou. Não sei se fico feliz por me livrar de Eric ou infeliz por ter que lutar contra River. Passo a olhar seu rosto atentamente, realmente ele deve ter chorado pois está vermelho de maneira inchada e não corada de vergonha como o meu.

Vamos até a área de combates, uma espécie de 'colchão' preto, quadrado e extenso está abaixo de meus pés descalços. As pessoas ao meu redor deveriam me intimidar mas elas não o fazem, quem o faz é apenas Tobias, eu olho-o e lembro da minha covardia de anos atrás, eu deveria ter interferido, ter tentado ajudá-lo a fugir das garras de Marcus mas tudo que eu fiz foi chorar como uma idiota.

Eu deveria provar minha coragem.

— Lutem! — grita Eric animadamente e seu olhar repousa em mim.

Eu fico hesitante com os punhos fechados e na frente de meu rosto para que eu possa reagir, mas quando River desfere o primeiro golpe eu não sou rápida o bastante para reagir, eu levo um soco no rosto e um grande susto. Sinto o sangue escorrer mas ignoro-o. Então eu me aproximo dele e espera por um soco mas eu faço diferente, chuto-o na barriga e ele despenca de barriga pra cima no colchão. Abaixo-me e soco-o automaticamente, estou como um robô programado.

E é questão de segundos não é River, e sim Marcus encarando-me com olhos cerrados e sangue surgindo do rosto. Despejo toda a minha raiva nele, chutando e socando, empurrando e....

— Pare, Lena, acabou. — pede Tobias enquanto me puxa.

Estupefata eu encaro-o e depois volto a olhar River, ele está cheio de sangue. Filetes de sangue escorrem por todo seu rosto. Oh meu Deus, eu sou um monstro. Não é Marcus, é River. Levanto-me enquanto Tobias me guia para fora do colchão ou seja lá qual for o nome, ele me coloca sentada no banquinho e eu escondo o rosto entre as mãos.

Sou exatamente como Marcus, sou um monstro que precisa ser detido.


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