Divergent escrita por GG


Capítulo 11
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Notas iniciais do capítulo

Olá, leitores!
Estou programando esta postagem hoje, dia 29 de setembro de 2015, por causa da instabilidade do meu tempo livre. O nono capítulo ainda nem foi postado, foi igualmente agendado, mas decidi agendar este logo.
Bem, aqui vai a pergunta: vocês gostariam que todos fossem agendados para sábados às 14:30? Vou voltar a postar a cada duas semanas, por falta de tempo, e falta de capítulos prontos!
Obrigada de qualquer modo.
Boa leitura ♥



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A manhã seguinte foi bastante difícil.

Estava morrendo de dor de cabeça e por isso, pouco antes do café da manhã, peguei alguns analgésicos na enfermaria e senti-me vazia quando lembrei que não poderia visitar Mabel após o treinamento, antes do jantar.

Mabel estava morta.

— Sinto muito, querida. — diz a enfermeira enquanto entrega-me alguns analgésicos, não sei o que dizer e então apenas assinto balançando a cabeça, tomo os analgésicos e sigo até o refeitório.

Sento em um lugar totalmente distante de Luke e os seus amigos, que estavam próximos de ser pessoas pelas quais me afeiçoei, mas é melhor manter distância por enquanto. Ontem mesmo ele me ignorou completamente na 'festa' mesmo sabendo quão infeliz eu estava.

Pego panquecas, uma comida totalmente nova para mim, com mel e um copo de leite integral, com essa bebida eu estou acostumada. Como quietamente até que alguém senta ao meu lado, talvez seja algum iniciado, por isso ignoro. Mas quando vou pegar mais um pedaço da panqueca, consigo ver um vislumbre do rosto da pessoa que está ao meu lado.

Eric.

— Sozinha? — ele pergunta soando interessado, limpo meus lábios com o lenço que peguei com a moça que servia as comidas e assinto quietamente. — E o seu amiguinho, onde está?

— Não me interessa. — eu digo enquanto massageio as têmporas. Malditas dores de cabeça, maldito Eric. Tenho vontade de socar sua cara mas sei que:

Ele é mais forte do que eu e tem um treinamento mais avançado.

Vou só arranjar mais confusão pra mim.

Então eu apenas fico lá, sem fazer nada. Mesmo sabendo que o assassino de River e Mabel está sentado ao meu lado agora mesmo.

Para minha surpresa, ele apenas sai. Um sorriso sádico nos lábios. Perco toda a minha vontade de comer e empurro o prato de panquecas pro lado, apenas tomo o leite integral e pego um copo de água, depois uma garrafinha de água de meio-litro, será útil para o treinamento.

Ah, o treinamento....

+++

Hoje no treinamento, teremos nossas primeiras lutas de verdade. E as classificações serão iniciadas hoje mesmo, e por isso estou nervosa. Ponho o uniforme de treinamento assim que chego na sala do treino e me sento em um banquinho esperando os outros chegarem.

— Nós podemos conversar um pouco? — pergunta-me Tris, eu assinto mesmo não querendo conversar. Não quero encarar Tris ou Tobias, ainda sinto vergonha pela noite passada. Não deveria ter bebido, isso não é certo. Prometo-me silenciosamente que não farei aquilo nunca mais.

— Só, por favor, não me lembre de ontem a noite. — peço e ela ri baixinho, assentindo.

— Talvez você não queira conversar sobre o que eu quero, mas eu preciso tentar. — ela avisa seriamente.

— Não consigo imaginar o que pode ser. — declaro curiosamente.

— Desculpe-me, mas é sobre o seu passado.

— Passado?

— Sim, sobre sua vida na Abnegação. — ela sussurra.

— O que quer saber? — eu pergunto cruzando os braços, o assunto é ainda pior do que a noite passada. Pensar no passado me faz lembrar automaticamente de quando Marcus chegava em casa e me empurrava para dentro de seu quarto, o cinto em punho, ele descontava todas as suas frustrações em mim, por meio de minha dor.

— Seu irmão teve um passado muito difícil, ele sofreu nas mãos de seu pai. — ela diz e eu assinto tentando não demonstrar meu nervosismo com o assunto mas ela vai perceber mais cedo ou mais tarde, Tris é bastante esperta. — Estive pensando..... o que aconteceu quando o seu irmão deixou a Abnegação?

— Meu pai não ficou feliz com a partida de Tobias, resmungava pelos cantos que era o pior filho que existia, ao passo que para mim ele era o pior pai existente e.... — eu paro, estou prestes a soltar que no dia da partida de Tobias, pela noite, meu pai me agrediu pela primeira vez. — Foi só isso.

— Mais nada? — interroga Tris, as sobrancelhas arqueadas de maneira curiosa e descrente, seus olhos me encarando firmemente.

Ela sabe. Ela sabe. Claro que sabe.

— Mais nada. — eu confirmo mentirosamente, ela não se dá por convencida.

— Está bem, quando estiver pronta para conversar.... é só me procurar, Tobias estará fora essa noite, pode ir até nossa casa. — ela diz e entrega-me um cartão, provavelmente com seu endereço, pisca como se estivesse segredando-me algo e volta a fazer os preparativos para o treino.

Suspiro e deixo as mãos caírem em meu colo, guardo o cartão em meu sutiã, já que não há nenhum bolso na roupa de treino. Parece-me uma boa ideia, ter alguém com quem conversar, uma amiga, uma confidente.... mas será que eu posso confiar em Tris? Repreendo-me mentalmente, é claro que eu posso, e devo! Tris guardou o meu segredo, sobre eu ser Divergente, caso contrário eu poderia estar como Mabel, morta.

Algo me ocorre....será que River também era Divergente? E se ele fosse, será que foi por isso que ele e Mabel foram assassinados? Será que é realmente um 'plano' de exterminar os Divergentes? Bem, a última coisa que Mabel disse era que eles estavam caçando os Divergentes. Tris, ela também deve ser Divergente, e Tobias...

— Iniciados, todos aqui, por favor. — chama Tris cautelosamente. Estive tão imersa em pensamentos que acabei nem notando que todos os outros chegaram, pouco a pouco. Balanço a cabeça, eu tenho que passar na casa de Tris e Tobias mais tarde, é uma necessidade agora.

Junto-me aos outros e vejo Luke murmurar algo para May, sinto-me excluída mas ignoro esse sentimento. Luke me abandonou no momento que mais precisei até agora, ele fingiu que eu não existia durante a noite passada e ainda me tratou da pior forma possível pouco antes da morte de Mabel.

— O nome de todos vocês será encontrado ali e haverá o nome de seu oponente, vocês lutarão por ordem do quadro. E talvez nem todas as lutas sejam realizadas hoje, talvez seja necessário expandi-las até amanhã.

Uma figura adentra a sala e bate palmas sinicamente, Eric. Meu estômago revira, e eu novamente me sinto enojada e irritada com a sua presença ali.

— E um de seus líderes assistirá a todas as lutas, com afinco. — ele garante com seu sorriso sádico de sempre, ninguém parece gostar da ideia.

Mas é claro que absolutamente ninguém se opõe a isso, ninguém o faria.

E então Tobias indica o quadro com os nomes.

Corro os olhos pela tela mas nem preciso de muito, estou escalada para a primeira luta. E lá está meu nome no grandioso quadro.

"Lena X Luke"

+++

Não gostei nem um pouco da ideia de ter que lutar logo de cara, e ainda mais com Luke. Podemos estar passando por um péssimo momento mas ainda gosto bastante dele, ele sorri ameaçadoramente para mim de longe e isso me deixa triste, mais triste e chateada ainda, devo dizer.

— Primeira dupla, organize-se agora mesmo na área de lutas. — ordena Tobias secamente. Ele não parece muito feliz comigo lutando, mas tenta não demonstrar, eu consigo perceber seu nervosismo mas duvido que muitas outras pessoas possam fazê-lo.

Eu prendo novamente meus cabelos em um rabo de cavalo alto, apertado e firme. Não posso deixar que os cabelos atrapalhem, ainda mais agora. Devo dizer que não quero lutar com Luke, não quero ter que levantar a mão contra ele ou vê-lo o fazer, mas não posso ficar apenas parada enquanto ele me espanca, o que espero que ele não faça.

Ficamos frente a frente e Tobias assente, como se nos dissesse para começar. Nós ficamos parados, apenas dando voltas na área de luta, na defensiva.

— Deixem de palhaçada e lutem logo! — exclama Eric, eu viro-me para encará-lo, e é aí que o primeiro soco me atinge na boca.

Sinto o sangue quente escorrer pelo meu rosto e descer pelo queixo, até atingir o pescoço. Assustada, continuo na defensiva, não quero ter que tentar machucá-lo, não quero, não quero....

Puft, outro soco atinge-me, agora no olho. Bem, isso vai ao menos deixá-lo inchado, se não ficar inchado e roxo.

— Com River foi diferente, onde está sua coragem? — grita Luke, eu não consigo acreditar que é o mesmo garoto do trem diante de mim, que é aquele que eu considerei meu amigo em tão pouco tempo. Parece que estive errada.

Ele aproveita meu choque e chuta-me, me derrubando no 'colchão'. Eu arfo automaticamente e ele prossegue me chutando, a dor preenche meu corpo e eu sinto meus olhos se fecharem, e a cena muda.

— Você precisa ser corajosa, logo eu não estarei aqui por perto. — murmura Tobias com as mãos no colo. Arregalo os olhos, como assim ele não estará por perto?! Meus olhos ardem em lágrimas.

— Onde você vai estar, Tobias? — eu pergunto infeliz.

— Apenas seja corajosa, irmã. — ele diz e beija os meus cabelos suavemente.

Abro meus olhos e ponho-me de pé em um pulo, o que me provoca uma onda de dor infeliz. Ignoro-a. Soco a cara de Luke, uma, duas, três vezes. E então chuto-o na cintura repetidas vezes, ele cai e eu soco-o uma última vez antes dele gritar pelo fim da luta.

"— Apenas seja corajosa, irmã.", a frase ressoa na minha mente repetidamente, como um disco arranhado.

— Temos uma vencedora! — exclama Eric e bate palmas, agora mais animadamente. Sinto meu rosto corar quando todos me encaram e Tobias anuncia minha vitória. Mas a culpa não deixa de me visitar, eu bati em Luke...

"Mas ele bateu em você antes disso, sua estúpida! Ele não é seu amigo.", grita-me minha mente. É verdade, eu tentei não dificultar as coisas mas não foi possível.

— A primeira vencedora, Lena! — exclama Tris erguendo meu braço.

Sou aplaudida por espancar alguém.

+++

Cerca de oito lutas depois, que duram bem mais que a minha luta e de Luke, estou liberada do treino que não passou da minha luta contra Luke. Decido passar na enfermaria antes do jantar, ela está vazia, parece que o orgulho falou mais alto que a dor de todos os outros ou então estão esperando o término do jantar para virem até aqui.

— Olá, querida. — cumprimenta a enfermeira Daisy Oliver, descubro que este é seu nome, ela que cuidou de Mabel e já me conhece. Ela não parece assustada quando vê meus ferimentos, sendo enfermeira da Audácia ela já deve estar bastante acostumada com ferimentos como esses e até piores, e logo pede para que eu sente na maca, silenciosamente ela cuida de todos os ferimentos com habilidade. Demora bons trinta minutos mas não me importo, não tenho a menor vontade de ir até o refeitório e dar de cara com Luke.

— Está pronto, vai parar de sentir dor logo. — ela declara limpando seus utensílios, eu sorrio fracamente para ela e agradeço, permanecendo sentada na maca. — Não quer ir para o refeitório? Posso trazer algo para comer aqui, quer?

— Seria maravilhoso. — eu digo sorrindo levemente, ela bagunça meus cabelos brincalhona e desaparece, e quando reaparece traz o meu jantar em uma bandeja.

+++

Após o jantar com a enfermeira Daisy Oliver, vejo que está na hora de ir até a casa de meu irmão e de minha cunhada. A palavra parece nova para mim, diferente e totalmente inédita, mas me agrada. Me despeço da enfermeira e vou até o dormitório apenas para tomar banho e vestir roupas limpas e confortáveis, e logo estou vagueando pelos corredores do Complexo da Audácia, não chega a ser proibido mas nenhum iniciado costuma fazer isso.

Não tenho muita dificuldade para encontrar a casa de Tris e Tobias, no cartão há várias explicações sobre como encontrá-la, por isso logo estou batendo na porta. Sou recepcionada por Tris, que sorri largamente e me abraça quando me vê, algo que me surpreende. Não sei bem como reagir mas acabo retribuindo o abraço, quando me solta ela ainda sorri.

— Sabia que você viria! — ela anuncia enquanto me leva para dentro da casa e bate fortemente a porta atrás de nós duas.

— Vocês têm... uma bela casa. — digo timidamente, ela me puxa até uma mesa na cozinha e faz com que eu me sente de frente para ela.

— Sobre o que quer conversar? — ela pergunta enquanto serve um bolo grande de chocolate, eu sei o que é por causa dos últimos dias no refeitório, vi vários integrantes comendo-o animadamente e Luke me explicou que chamava-se bolo de chocolate e ficou bastante surpreso que eu nunca tenha visto um, tampouco comido, mas sempre pareceu bastante gostoso.

Fico em silêncio enquanto Tris coloca uma fatia para mim em um pequeno prato e sorri empurrando.

— Sei que parece errado, comer essa comida 'extravagante' e conversar falando sobre si mesma, mas precisa se acostumar. — ela sussurra e parece entender exatamente meu dilema, como se tivesse vivido na Abnegação, cerro meus olhos tentando enxergar além de seu rosto, que parece-me estranhamente familiar, mas não consigo me lembrar direito.

— Parece que entende o que estou passando. — eu digo mas parece soar acusadoramente, algo que eu não queria. Tris assente lentamente.

— E entendo exatamente.

— Só entenderia se fosse da Abnegação. — eu digo e suspiro, mais uma vez ela suspira e memórias surgem em minha mente, como um flashback gigantesco.

— Essa é Beatrice Prior, filha. — diz meu pai, e eu encaro a menina, ela é apenas um ano mais velha do que eu mas tem exatamente a mesma altura que eu, assinto lentamente. Era o dia do velório de mamãe e eu não estava com a mínima vontade de socializar, mas Beatrice estava.

— Sinto muito, entendo que esteja passando por um momento difícil e não quero....

— Não entende nada! Você não perdeu sua mãe, eu perdi. — digo exaltada, todos os olhares prendem-se em mim e eu deixo as lágrimas caírem de meus olhos, corro escada acima mesmo com os gritos de protesto de meu pai, não importava naquela hora.

Corri para dentro de meu quarto e bati a porta fortemente, ninguém precisava dizer que sentia muito pois não era verdade. Dentro de alguns dias todos se esqueceriam da nossa dor, ninguém se importaria como dissera se importar, era apenas por educação e eu não precisava de educação, eu precisava de outra coisa.

Enfiei a cara no travesseiro e deixei-me chorar, deixando o meu manto cinzento totalmente abarrotado e bagunçado, não podia fazer isso mas naquele instante não importava.

A porta se abre, para minha grande surpresa. Ergo o rosto vermelho e inchado do travesseiro, por causa do choro excessivo nas últimas horas.

— Magdalena.... — chama Beatrice, eu sempre odiei meu nome mas foi mamãe que o escolheu então passei a admirá-lo e me agarrar nele desde o momento em que ela se foi. Passei as costas das mãos no meu rosto, apenas para afastar as lágrimas, não escondê-las.

— O que foi, Beatrice? — eu pergunto enquanto me sento na cama, ela senta ao meu lado.

— Me desculpe, mas eu realmente sinto muito. — ela faz algo surpreendente para um membro da Abnegação.

Ela me abraça.

— Você é Beatrice Prior! — eu digo exaltadamente. — A filha de Andrew e Natalie, você foi no velório de minha mãe. Eu lembro, lembro desse dia.


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