Divergent escrita por GG


Capítulo 10
IX


Notas iniciais do capítulo

Oi, leitores!
Mais um capítulo programado, já que nunca sei quando vou poder postar novamente.
Obrigada por tudo ♥



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— Acho que nunca mais vou conseguir andar direito. — eu resmungo para Luke, ele ri alto e assente.

Os últimos três dias foram bastante complicados, o treinamento pesado de Tobias e Tris acabou me fazendo sofrer mais do que pensei ser possível. Afinal, nunca pratiquei esportes ou algo do gênero que me desse uma disposição física melhor do que essa.

— E aquele Tobias....bem, ele é estranho. — diz Luke parecendo amedrontado só de pensar em meu irmão.

— Eu não acho. — digo pondo as mãos na cintura, soando afetada. Ele revira os olhos.

— Não vai dizer que também está 'apaixonada' por ele? Assim como todas as outras iniciadas e....

— Nunca mais diga isso. — eu ordeno seriamente e ele assente, sem entender muito bem. Faço pra encerrar o assunto e também por ser uma ideia idiota, ele é meu irmão, mas Luke não sabe, claro.

— Vamos logo para o refeitório, Theo tá guardando um bom lugar pra gente. — diz Luke ansioso. Eu, aos poucos, tenho começado a gostar dos amigos dele, e quem sabe com o tempo não possa chamá-los de amigos também?

— Não posso. — digo balançando a cabeça.

— Ah, Lena! — ele diz parecendo irritado com isso. — Não me diga que vai visitar a louca da Mabel?

— Mabel não é louca. — eu digo convictamente. — Só está sob forte pressão no momento, qualquer um reagiria dessa forma.

— Ela é louca sim e eu ouvi boatos de que os líderes estão pensando em expulsá-la dentro de alguns dias e que....

— O quê? Isso não é justo!

— Lena. — ele diz num fio de voz, e em um tom misterioso. — Você por acaso já viu algum deficiente físico ou mental, por aqui?

Penso nisso e percebo que não, tampouco idosos, senti falta da presença deles por aqui.

— Pra falar a verdade, não.

— Eles tentam manter a perfeição por aqui, Lena. Não dá pra manter uma louca com eles, ela não vai ser útil em nenhum cargo. Nem mesmo iria conseguir acompanhar o treinamento, supondo que ela milagrosamente se recuperasse amanhã mesmo, estaria atrasada. Injusto seria jogá-la para lutar conosco. É o melhor pra ela.

— Isso não é verdade.... — eu rebato automaticamente. — Só por não ser 'útil' eles precisam ser desfazer das pessoas? São pessoas! Não objetos descartáveis. Você escutou alguma palavra que proferiu agora? Isso é desumano, errado, inadequado, e...

— Nós não estamos na Abnegação, Lena, aqui é diferente.

— Exatamente! — eu digo contrariada. — Na Abnegação nós somos humanos.

Dito isto, saio pisado forte pelos corredores, rumo a enfermaria. Eu tenho uma pessoa para visitar.

+++

— Mabel. — cumprimento assim que adentro o quarto da enfermaria dela. Mabel não apresentou melhoras durante os dias que se passaram, apenas pioras, e isso é preocupante. As enfermeiras me segredaram que ela tem apenas 0,5% de chance de sobreviver, e caso sobreviva ela irá ter sequelas muito graves. Perdeu muito sangue e está desacordada na maior parte do tempo.

— Novamente. — ela diz com a voz cansada, percebo como cada palavra lhe dói. Mas faz três dias que eu espero que ela conte o que realmente aconteceu naquela noite, que ela confirme o óbvio, que Eric tentou matá-la.

— Novamente o quê, Mabel? — pergunto cuidadosamente, a enfermeira que costuma visitá-la pela noite me pediu para não forçar as coisas, não tentar fazê-la falar mais do que consegue, mas preciso entender tudo que ela diz.

— Você. — ela diz como se fosse a resposta mais óbvia do mundo. — O que faz com que perca seu tempo e venha até aqui?

— Eu me importo com você. — eu digo timidamente, ela balança a cabeça e um sorriso enorme se estende no rosto pálido e exausto.

— Nunca nos falamos antes daquela noite. Você quer alguma coisa, sei...sei, sei disso. — ela diz, algumas vezes ela tende a repetir as palavras desesperadamente, como um robô que sofreu uma pane. Repreendo-me mentalmente, ela não é um objeto descartável, eu mesma disse isso para Luke poucos minutos atrás.

— Só quero que fique bem. — garanto balançando a cabeça.

Ela ri e é então que algo errado começa a acontecer. Primeiramente ela começa a tossir, a saliva atingindo o meu rosto algumas vezes, eu chamo por uma enfermeira — uma delas me garantiu que qualquer coisa é super importante e que eu sempre deveria chamá-las — e então a saliva é substituída por sangue, o sangue carmim de Mabel.

— Lena....Lena....Lena! — ela chama como uma criança pequena cantarolando, eu olho-a desesperadamente. Mabel está morrendo, morrendo bem na minha frente.

— Enfermeira! — eu grito. — Enfermeira, por favor!

— Preciso...te....contar uma coisa. — ela engasga com o próprio sangue ao falar.

— Descansa, Mabel, elas já vão chegar, prometo.

— Lena, eu sou Divergente, e eles estão nos caçando.... — ela diz e tosse uma última vez, eu grito desesperadamente.

Ela sorri uma última vez para mim e então Mabel fecha os seus olhos para sempre.

+++

Naquela noite há outra festa, como no dia da morte de River. Mas diferente da outra vez, decido participar desta. Talvez seja por estar mais triste com a morte de Mabel, e preocupada. Ela disse que era Divergente e que eles estão nos caçando, mas quem são eles? E qual o motivo de nos caçar? Será que eles, seja lá quem sejam, sabem sobre mim, que eu sou Divergente?

Exatamente por essas perturbações que eu pego o primeiro copo com uma bebida alcoólica que eu nem sei qual é. Desce queimando pela garganta mas uma onda de satisfação invade meu corpo, deixando-me feliz sem ter motivos coerentes para isso. É por isso que pego o segundo, terceiro, quarto, quinto e o sexto copo.

Quando engulo numa só bebericada o sexto copo, Tobias aparece na minha frente com uma expressão nada feliz. Eu gargalho alto disso, é tão patético.

— Está bebendo? — ele indaga parecendo surpreso com minhas ações.

— O que você acha? Eu presenciei duas malditas mortes, estou sendo caçada segundo Mabel e quer que eu faça o quê? Fique feliz sem nada e....

— Você disse que está sendo caçada?

— Sim, eu e os Diver....

— Cale a boca. — ele diz automaticamente e me puxa pelo pulso sem se importar se está me machucando. Eu reclamo, resmungo e peço para ele me soltar, mas ele só o faz quando eu estou no dormitório, vazio exceto por nós e Tris, dos iniciados transferidos. Tobias me empurra e faz com que eu sente numa cama qualquer.

— Está bêbada. — diz Tris parecendo tão surpresa quanto ele.

— Olha, se você também vai me julgar e....

— Magdalena, por favor, cale a boca. — pede Tobias pondo as mãos na cabeça.

— O que aconteceu, Quatro? — pergunta Tris e eu percebo que causa-lhe estranheza chamá-lo assim, claro que ela sabe, ela sabe que o nome dele é Tobias, e não Quatro.

— Conte o que você me disse, Lena. — ele pede tentando manter a calma, mas não está funcionando muito bem. Abro um sorrisinho presunçoso.

— Acabou de mandar eu calar a boca. — digo cruzando os braços sob o peito.

— Está sendo infantil.

— O álcool faz isso com a gente. — eu afirmo balançando a cabeça. Tudo está girando, girando e.... mordo o lábio inferior e enterro o rosto nas mãos, maldita dor de cabeça.

— Lena, tá tudo bem? — pergunta Tris sentando ao meu lado, ela parece realmente preocupada comigo, então é a minha vez de ficar surpresa, não pensei que ela se importasse comigo.

— Mabel disse que nós, Divergentes, estamos sendo caçados. — digo sabendo que acabei de dizer algo que não deveria, não, na verdade deveria sim. Tris sabe disso, ela que alterou meu resultado do teste e Tobias, bem, ele é meu irmão.

— Tira o rosto das mãos, e levanta a cabeça. — pede Tobias meio provocativamente.

— Não. — eu digo firmemente, não quero erguer o rosto, esse momento, percebi, é o mais vergonhoso da minha vida. Bêbada, a palavra dança em minha mente, estou bêbada.

— Por que?

— Porque estou com vergonha. — eu digo com o rosto em chamas de tão envergonhada que estou.

E pela primeira vez desde que cheguei aqui no Complexo da Audácia, eu escuto Tobias rir alto.


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