Sombras do Passado escrita por Zusaky


Capítulo 10
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Notas iniciais do capítulo

Chegamos ao décimo capítulo. Mais explicações de física, mas também temos mais respostas com isso, né? E para quem gosta de romance, há um toque dele (mesmo sendo sutil) nesse capítulo.

Boa leitura.



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No momento em que Eileen falou o que mais evitava desde o início, não soube o que esperar. Imaginou uma situação invertida, onde alguém do futuro fosse para seu tempo e lhe dissesse aquelas palavras. Ela certamente não iria acreditar.

Ethan permaneceu um tempo em silêncio, sendo observado pelos outros dois, que mantinham olhares apreensivos. Ele sentiu uma ansiedade crescer dentro do peito, mas simplesmente não sabia o que fazer. Eles chegaram ali, do nada, não deram informação alguma desde o início, para naquele momento virem com aquela notícia inacreditável. Ele estava incrédulo.

Viagem no tempo era algo abordado somente em livros de ficção. Um sonho tolo do homem, assim ele julgava. Mas passando a pensar melhor sobre o assunto, as pessoas de antigamente também possuíam desejos que muitos considerariam loucura, como ter energia, por exemplo. Aquilo o fazia lembrar-se de Tesla, novamente. Havia sido ele o responsável por até mesmo o governo americano adotar a corrente alternada como fonte de energia. Muito tinha aprendido com ele – coisas que o próprio Ethan não acreditava antes.

— Ethan?

Ele piscou repetidas vezes ao ouvir seu nome sair da boca de Eileen. Pensou em todos os momentos que passaram juntos naquele curto espaço de tempo. Naquele instante, tudo pareceu tão óbvio para ele. Ela realmente não se encaixava ali de maneira alguma. A aparência, as roupas que usava, o jeito de andar e falar, toda a rebeldia de seus atos.

Houve uma frase dela, porém, que ele lembrou-se perfeitamente naquele minuto.

Quanto mais rápido resolvermos isso, mas rápido eu poderei voltar.

Ao perguntar sobre aquilo, ela somente mudou de assunto, como se fosse algo proibido. Ele conseguia compreender perfeitamente agora. Ainda assim, aquela ideia o assombrava. Não conseguia pensar em como estaria o mundo no futuro, como as pessoas seriam, o tipo de cultura e as máquinas criadas. Tudo era completamente novo.

— Pode continuar falando, Sr. Sanders — ele ignorou o chamado de Eileen e dirigia a palavra ao velho homem. Seria difícil compreender as coisas a partir daquele momento, ele sabia, mas precisava saber mais sobre o que estava acontecendo.

O cientista não se acanhou.

— Como eu disse antes, nossas moléculas foram aceleradas à velocidade da luz. — Joshua Sanders notou que Ethan estreitou mais os olhos ao ouvir novamente sobre aquilo. — Pois bem, quando isso aconteceu, houve uma distorção no espaço-tempo, criando uma espécie de túnel imaginário.

Ele deu uma pausa, tentando ver se eles estavam assimilando tudo. Na verdade, se preocupava mais em explicar para Eileen, já que Ethan teria sérios problemas para entender toda aquela questão.

— Foi esse túnel que nos permitiu viajar até esse tempo.

— Por que caímos justo nessa época? — Eileen perguntou, quase que imediatamente. — Foi aleatório? Poderíamos muito bem ter caído em... Los Angeles, por exemplo?

Joshua levantou da cadeira e pôs-se a andar pelo quarto, não olhando para nenhum ponto específico e levando a mão até o queixo.

— Não sei porque permanecemos em Londres — ele revelou, com o cenho franzido, incomodado por ter algo que não conseguisse responder. — Mas provavelmente viemos para esse ano, de 1890, porque a energia desferida em nós só foi suficiente para nos trazer até essa época. Quando essa energia acabou, toda a matéria orgânica se reagrupou. — Ele olhou para Eileen. — Você provavelmente perdeu alguma coisa ao ser puxada para cá, não é?

A assassina concordou, acenando com a cabeça.

— As coisas que estavam longe de nós, ou até mesmo em nossas extremidades, não foram trazidas para cá. No caso das roupas, porém, foi diferente, pois elas estão coladas ao nosso corpo.

Eileen analisou o que o cientista estava dizendo. Quando acordou no campo cheio de lâmpadas, em meio ao nada, ela não havia encontrado sua arma, apenas a lâmina que ficava por baixo da calça. Imaginou como ele sabia de tudo aquilo, mas antes que pudesse sequer abrir a boca, ouviu uma outra voz.

— Se a energia fosse maior, vocês teriam ido para mais anos atrás?

Para espanto deles, foi Ethan quem tinha feito a pergunta. Ele manteve-se sério por todo o tempo. Eileen imaginou que a mente dele estivesse uma bagunça total.

— Exatamente! — O cientista exasperou, batendo uma única palma, inquieto com tudo aquilo que acontecia. — Se a energia fosse menor, tenho quase certeza de que teríamos ido para o futuro.

Todo o recinto ficou silencioso após as considerações de Joshua. Eileen sentiu o coração acelerar ao ouvir aquilo. Era coisa demais para sua cabeça, algo completamente sem noção, mas, ainda assim, com total sentido. Tudo aconteceu exatamente como o cientista estava dizendo, ela não tinha motivos para duvidar dele. Além do mais, duvidava que ele também não estivesse ansioso para voltar ao seu tempo, com a ciência muito mais evoluída do que a da época vitoriana.

— Como você teve tempo de pensar em tudo isso? — inquiriu a assassina.

— Desde anos atrás que a viagem no tempo é algo estudado por especialistas — ele disse, olhando diretamente para ela. — Obviamente eu não tinha conhecimento de que minha criação faria algo desse porte, já que não a criei com este fim. Mas é um enorme avanço na ciência, realmente!

Eileen revirou os olhos. Não podia acreditar que ele estava realmente feliz por ter sido uma espécie de cobaia de algo que nem ao menos fora planejado. Mas aquilo não importava no momento. Ele havia falado que talvez pudesse haver a chance de ir ao futuro.

— Então... Se conseguirmos criar uma energia que é menor que a velocidade da luz, poderemos voltar para nosso tempo?

Eileen não soube se foi impressão sua ou se sua voz tinha realmente saído com certo desespero. Mas era daquele jeito que ela estava se sentindo internamente. Os segundos que o cientista demorou para responder a questão levantada pareceram horas para ela.

— Talvez tenhamos uma pequena chance. — O cientista foi para perto da janela do quarto e pôs-se a olhar para o lado de fora, já escuro. As folhas das árvores balançavam com violência naquela hora. — Quando viemos para cá, nós descarregamos uma quantidade enorme de pósitrons, que são, na linguagem mais informal, elétrons positivos.

A reação de Eileen e Ethan foi a mesma. Os dois mais que depressa chegaram à conclusão mental de que aquele homem havia perdido a cabeça, ou talvez tivesse mesmo ficado louco com a mudança de época.

Ethan sabia muito bem que elétrons possuíam cargas negativas, e não positivas, como os prótons, por exemplo.

— Sei muito bem que estão pensando que isso é besteira — disse Joshua, suspirando pesadamente logo em seguida. — Saibam vocês que os pósitrons existem, meus caros. Vejam dessa maneira: ele passa a existir quando um próton se choca contra um nêutron. Mas o que importa é que há partículas de pósitrons espalhadas por aí, provavelmente em um lugar que tenha bastante energia canalizada. Falta descobrir onde.

Novamente, os outros dois mais jovens tiveram a mesma reação e mesmo pensamento. Um olhou para o outro. Eileen teve mais do que certeza de que Ethan havia tido a mesma ideia que ela.

O campo onde eu apareci!

. . .

Para Eileen, nada mais importava, apenas ansiava ir ao campo o mais rápido possível. Após contar para o cientista sobre suas suspeitas – ainda que de um modo grosseiro, uma vez que nunca conseguiria confiar nele –, ela pôs-se a praticamente implorar a Ethan para levá-los para a cabana perto de onde ela havia aparecido pela primeira vez.

Ele prontamente recusou, embora também estivesse ansioso pelo desenrolar daquela história. Quando Eileen pediu novamente, Ethan soltou um suspiro cansado e disse-lhe que, embora ela não soubesse, em Londres havia um toque de recolher, por causa dos recentes assassinatos.

— Já passa das dez da noite, Srta. Hawkins.

Eileen somente bufou em resposta. Embora a raiva a tivesse deixado cega por certos momentos, ela ainda havia notado, porém, que ele voltou a chamá-la pelo sobrenome novamente. No fim, ele acabou não cedendo, dizendo para eles aguentarem ao menos mais uma noite ali.

— Sr. Sanders, o senhor poderá ficar acomodado logo no quarto ao lado — disse Ethan, já com a mão na maçaneta, pronto para deixar o recinto. — Instruirei minha Governanta para que o acomode bem.

Joshua, já sabido sobre os hábitos daquela época, curvou a cabeça e soltou um agradecimento baixo. Ele então finalmente notou uma atmosfera estranha no ar. Ethan havia deixado o quarto; restava só ele próprio e a mulher que tentara o matar. Pensando naquilo, engoliu em seco e virou-se para fitá-la. Ela o olhava de maneira séria.

Ele sabia que ela não poderia matá-lo, caso ainda quisesse voltar para casa.

— Por que você não disse a ele? — Ele surpreendeu-se com a pergunta dela, mostrando-se confuso ao ouvi-la. — Por que não contou que só estamos aqui porque eu tentei te matar?

O cientista quase suspirou de alívio.

— Aquele homem, não sei como nem por que, gosta de você — disse o cientista, com um ligeiro sorriso nos lábios. — Acha que ele continuará com esse afeto caso saiba desse fato?

Eileen não soube dizer o que era pior. Ouvir aquelas palavras vindas daquele homem ou ter enrubescido. Sabia que tudo o que Ethan tinha feito por ela era apenas porque a própria disse que o ajudaria a investigar sobre os assassinatos. E ainda porque ele queria estudá-la. Desconsiderou todas as palavras do cientista; ele já era velho, por isso provavelmente tinha aqueles conceitos ultrapassados em sua mente.

Fazendo um barulho com a boca, como se estivesse apenas limpando a garganta, a assassina desviou o olhar, claramente incomodada.

— Por que está me ajudando? — ela voltou a questionar, ainda sem olhá-lo. — Por que justo você?

Joshua já estava prestes a sair do quarto quando ouviu a voz de Eileen novamente. Já tinha aberto a porta, mas não iria deixá-la sem uma resposta.

— Quando você chegou ao laboratório, era claro que não sabia o que eu estava construindo, não estou certo? — Ele falava em sussurros, para que ninguém mais, além dos dois, soubesse o assunto da conversa. — Nada do que aconteceu foi sua culpa, você foi apenas influenciada por terceiros.

— Aquela máquina... — Eileen começou, com a voz um pouco mais alta, mas ao notar o erro em falar daquele jeito, tratou de abaixar mais o tom. — O que é aquela máquina?

— Eu já te disse isso, não disse?

E saiu, enfim, do quarto. Quando Eileen se viu sozinha, a voz do cientista apareceu na sua cabeça.

“É a cura que a humanidade precisa.”

. . .

Trancado em seu próprio quarto, Ethan não conseguia controlar os próprios pensamentos. Era uma ideia insana seguida de outra. Ao mesmo tempo em que achava toda aquela história algo completamente sem fundamento, conseguia ver também que era possível, considerando as explicações do Sr. Sanders.

Se tudo aquilo era mesmo verdade, então Eileen vivia em uma época em que ele próprio já deveria estar morto. Pensou em como tudo aquilo devia ser ainda mais estranho para ela. Agora conseguia entender o motivo de ela ter ficado tão enraivecida ao encontrar o cientista, deixando de conhecer Aaron.

Aaron.

Ethan pensou em seu amigo jornalista. Quando toda a confusão na rua terminou, ele tinha simplesmente sumido. Não tinha tido tempo de pensar nele ainda; toda vez que colocava sua mente para funcionar, só conseguia imaginar Eileen voltado para o futuro.

Ele se jogou na cama após retirar as roupas pesadas.

Era estranho refletir sobre aquilo. Imaginar deixar de ver aquela pessoa que apareceu com a pele brilhando. Que tinha um humor ácido e uma língua afiada. Era totalmente independente, mas que, ainda assim, fazia com que ele se preocupasse até demais com ela.

Era ainda mais estranho pensar que ele a estava ajudando a deixá-lo.

Naquela noite, Ethan não conseguiu dormir direito.

. . .

Eileen despertou cedo pela manhã, e antes que a Sra. Bradley aparecesse, ela correu para o banheiro, sentindo-se aliviada por ter seu corpo sendo acordado pela água. Quando ainda estava se enxugando, ouviu a porta do quarto ser aberta e pôde deduzir, pela cantoria, que se tratava da Governanta.

Adelaide Bradley havia escolhido um vestido azul anil com mangas longas, um decote redondo e uma saia rodada. Eileen tinha certeza de que, com aquele, ela não conseguiria correr. Ainda assim, resolveu colocá-lo, talvez pudesse fazer alguns arranjos depois.

Ao perguntar por Ethan, a Sra. Bradley se aproximou, como se fosse contar uma fofoca.

— Ele ainda está dormindo! — E ao ver a expressão confusa da convidada, completou. — Eu sei, é algo realmente raro, não é? Nosso querido Sr. Caulfield, saiba você, detesta dormir. Creio que ele deveria estar realmente cansado.

Todo o bom humor da assassina despencou. Ela colocou o melhor sorriso no rosto e tentou soar o mais amável possível.

— Oh, isso me faz lembrar uma coisa. Ele me disse, ainda na noite passada, que iria ir dormir tarde, me incumbindo do trabalho de acordá-lo assim que eu estivesse pronta.

Eileen se sentiu um desastre após sua fala. Não conseguiria se acostumar a falar da mesma maneira que eles, mas pensou ter conseguido passar a ideia que queria; ao menos foi essa a conclusão que chegou, visto que a Governanta sorriu.

— O Sr. Caulfield deve mesmo confiar na senhorita, eu suponho — disse ela, terminando de arrumar os fios do cabelo escuro de Eileen por debaixo do pequenino chapéu. — Mas isso não tem importância agora. Vamos, minha querida, vou te mostrar o quarto dele.

Após ouvir a primeira frase, a assassina se sentiu ainda mais tola. Era óbvio que, naquela época, uma simples amiga – assim ele havia contado aos empregados – geralmente não teria tanta intimidade com um homem a ponto de entrar no quarto dele. Mas agora a catástrofe já estava feita, e ela nem ao menos desejou querer voltar ainda mais no tempo para corrigir aquilo. Estava cansada daquilo.

A Sra. Bradley logo a conduziu pelo corredor longo. Assim que passou pela porta do quarto onde o cientista estava, Eileen se perguntou se ele também ainda estava dormindo. Como se lesse seu pensamento, a Governanta comentou que o Sr. Sanders estava visitando a biblioteca na companhia da Srta. Caulfield. A assassina queria poder soltar um sorriso sarcástico, imaginando o quão azarado era o velho.

— Terei que te deixar aqui, Srta. Hawkins — disse a mulher assim que chegaram perto do quarto do dono da casa. — Preciso verificar ainda algumas coisas. Se me der licença. — E se curvou, virando-se de costas logo em seguida e percorrendo o caminho de volta.

Longe de entender a insinuação sutil da Sra. Bradley, Eileen bateu na porta duas vezes. Como não houve resposta alguma, ela simplesmente abriu a porta, fechando-a logo que entrou. Demorou alguns instantes para que pudesse se acostumar com toda aquela escuridão. Embora certa luz entrasse pela janela, as cortinas atrapalhavam. Quando já conseguia enxergar mais as coisas, não se surpreendeu por encontrar um quarto extremamente bem arrumado. Não havia muitos móveis e ela imaginou que ele gostasse assim. O que mais tinha, porém, eram livros dos mais variados tipos.

Provavelmente ele pega da sua biblioteca e esquece de devolver.

Quando olhou para a cama, viu que ele realmente ainda dormia, estando de bruços. A respiração era ritmada e o cobertor não o cobria completamente, de modo que Eileen pôde visualizar suas costas fortes. Os cabelos estavam totalmente bagunçados e os lábios entreabertos.

Eileen sentiu o coração acelerar e se viu sem reação no momento. Era a primeira vez em anos que entrava no quarto de um homem sem intenção de matá-lo. Nunca havia estreitado suas relações com ninguém, simplesmente não sentia as mesmas necessidades carnais que tanto ouvia falar.

Contrariando o que sua mente insistia em dizer, ela se aproximou ainda mais, colocando os dois joelhos no chão silenciosamente, de modo que pudesse ficar na mesma altura que ele. Quase que de maneira instintiva, sua mão passeou pelas costas dele, como se desenhasse os músculos, e logo subiu para o pescoço.

Quando enfim tocou os cabelos escuros, ela teve de fechar os olhos. Eram finos e macios. Nunca antes tinha imaginado como seria tocar naquele homem. Era uma sensação boa. Mas sabendo que não poderia ficar ali por muito tempo, ela logo tratou de acordá-lo.

— Ei, Ethan — chamou, mas não obteve resposta alguma. Com um sorrisinho atrevido no rosto, ela colocou a ponta do dedo indicador na bochecha dele e apertou. — Ei, senhor engomadinho, acorde logo.

Ela alargou o sorriso ao perceber que ele, enfim, estava começando a despertar. Quando ele abriu os olhos castanhos, a surpresa contida neles fez o prazer da assassina aumentar ainda mais. Ethan imediatamente sentou-se, encostando-se na parede.

— O que está fazendo aqui? — perguntou, falando rapidamente e com a voz ainda sonolenta.

— Vim acordar a Bela Adormecida — Eileen ironizou, ainda de joelhos.

Ela notou que Ethan havia ficado calado e imaginou o quão constrangido ele deveria estar. Sentado da maneira que estava, sem nada cobrindo o peitoral, Eileen podia ver perfeitamente o abdômen dele, uma vez que ele havia esquecido de puxar o cobertor. Pensando naquilo, ela enfim levantou-se, arrumando o vestido e ansiando deixar o quarto o mais rápido possível.

— Tente não demorar.

Eileen não demorou a sair do lugar, deixando dentro de Ethan uma enorme confusão.

. . .

O desjejum tinha sido rápido, com Louisa fazendo algumas perguntas para o Sr. Sanders e ele respondendo com o típico cavalheirismo da época. Ela às vezes dirigia algo a Eileen, que tentava respondê-la da melhor maneira que podia. Ethan, por outro lado, manteve-se calado quase que o tempo todo, mas quando era obrigado a falar algo, o fazia rapidamente e usando poucas palavras.

Quando os três deixaram a casa dos Caulfield, a viagem na carruagem foi extremamente silenciosa no início, até que Eileen a quebrou.

— Por que eu fiquei brilhando? — questionou, notando que somente naquele instante Ethan tinha a olhado, mesmo que por poucos segundos. Ela tratou de não se importar com aquilo e fixou a atenção no cientista. — Quando eu apareci aqui, o Ethan me disse que eu estava com a pele brilhando e que fiz as luzes das lâmpadas ao meu redor acenderem também.

Joshua ficou pensativo por alguns instantes, olhando para o teto da carruagem.

— Pense em uma lâmpada — ele começava a explicar, sempre gesticulando com a mão. — Quando a energia passa pelo filamento de carbono, pelo fato de a resistência ser baixa, essa energia gera calor e luz.

Eileen assentiu, apoiando ambos os cotovelos nas coxas e curvando-se para frente.

— No seu caso, ao invés de pegar fogo com toda a energia, você provavelmente gerou luz e emitiu um pouco de eletricidade, fazendo as tais lâmpadas de acenderem. — Ele coçou um pouco o queixo. — Pode ter sido por outra razão, não sei, teríamos que analisar isso mais a fundo depois. É uma questão interessante, sabe?

Ao término da análise, Eileen saiu de sua posição e voltou a encostar as costas no banco. Ethan agora já tinha sua resposta, não precisava mais estudá-la. Ela pensou em dizer aquilo a ele, mas a carruagem já havia chegado ao seu destino e eles logo teriam que descer.

Eileen sentiu um arrepio percorrer seu corpo ao avistar o enorme campo verde. Para ela, parecia ter se passado vários dias desde sua aparição ali; tanta coisa já acontecera desde então. Lembrou-se que a primeira pessoa que tinha visto ao acordar fora Ethan.

Ela olhou de esguelha para o rapaz ao seu lado. Ele ainda mantinha sua costumeira expressão indiferente no rosto, bem como naquele dia, mas ela agora já podia notar um ar mais tranquilo em seu semblante. Aquela expressão, porém, logo mudou para uma mais aflita. Eileen franziu o cenho, confusa, e olhou para o mesmo ponto que ele. A porta da pequena casinha estava totalmente escancarada, enquanto uma fumaça cinza subia para o céu.

A cabana estava em chamas.


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Notas finais do capítulo

E aí, gostaram dessa exposição maior do pensamento dos dois protagonistas? Coloquei mais sentimento no negócio agora. Hahah, ai, esse não é o meu forte, mas eu tentei.
O capítulo foi mais parado, com mais falas e poucos cenários, mas foi preciso. O nosso querido cientista revelou várias coisas, embora ainda falte mais algumas. Espero que tenham gostado.



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