A Mesma Face escrita por LelahBallu


Capítulo 12
Somebody Else


Notas iniciais do capítulo

HEY!!
“I’m back bitches!”
Ok, brincadeiras a parte, a verdade é que eu não sei se realmente estou de volta, então eu não queria começar com uma ameaça, por que não é, soa mais como um pedido, mas: Não me façam me arrepender disso!!
Eu não estou voltando com todas minhas fics, A Mesma Face está aqui, por que eu sei que as coisas terminaram meio em suspenso e muita gente realmente lamentou essa quebra de ritmo ao excluir a fic no meio disso, então esse é meio que meu presente de natal para vocês.
Um presente.
Então vamos valoriza-los, ok?! E quando digo isso, não, eu não me acho a última bolacha do pacote, significa apenas que a única coisa que estou pedindo aqui é por respeito, certo? Não leiam plágios, me alertem e aprendam que para toda ação a uma reação, eu não me orgulho de ter excluídos minhas fics, eu amo o que faço, mas certamente não hesitarei em fazer isso de novo e dessa vez em definitivo se voltar a acontecer. O que eu fiz não foi um drama, não tomem isso de forma errada. E se descobrirem, não oculte temendo minha reação, por que será pior, por que invés de apenas me sentir chateada com a pessoa que plagiou, ficarei também com vocês, e isso é algo que eu não quero.
Agradeço todo o carinho que recebi ao excluir as fics, tentei responder a todas as mensagens, eu acho que respondi a todas, se não respondi é por que realmente não vi. Eu sei que machucou muita gente o que aconteceu, mas pense em quanto machucou a mim.
Desculpe pelo texto, mas é mais um desabafo, e aqueles que leram até o fim, eu agradeço.
Espero que gostem do capítulo.



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OLIVER QUEEN

Tamborilei meus dedos na superfície lisa da mesa de reuniões da Palmer Technologies. Uma reunião a qual eu deveria estar prestando extrema atenção, mas eu não conseguia. Ray Palmer, atual CEO da empresa falava sem parar dos novos projetos e investimentos da mesma, e no que isso ia trazer para a Queen Consolidated. Um contrato que eu e Isabel estivemos correndo atrás para conquistar, que quase perdemos, que seria decidido todos os detalhes nessa reunião, uma reunião a qual meus pensamentos não deveriam estar tão... Soltos.

Mas por mais que eu tentasse, eu não conseguia me concentrar em uma palavra sequer do que ele dizia. Eu podia até mesmo sentir o olhar de Isabel em mim, um olhar cheio de censura e curiosidade.

Ignorei sua leve, mas perceptível repreensão e tentei mais uma vez me concentrar em Ray Palmer.

Tem sido um mês disso.

Um mês em que eu havia me enfiado de cabeça no trabalho, tentando em vão encontrar sentindo no que eu havia descoberto. Um mês em que meu humor tem oscilado de um extremo a outro. Eu estava confuso, irritado, e alarmado, se eu fosse escolher uma emoção que se destacasse, com certeza seria o de confusão.

Descobrir que sua esposa, na verdade não era sua esposa, me deixou desnorteado. Eu não tinha certeza de quem era a mulher que estava em minha casa, eu tinha um nome, até mesmo um sobrenome, mas eu não a conhecia, eu não sabia quem era ela, e qual era sua intenção ao participar de tudo isso, ao se infiltrar em minha casa, eu só tinha certeza de uma coisa.

Aquela não era Megan Queen.

E eu não tinha ideia de onde estava a verdadeira Megan Queen.

Minha grande dúvida além das óbvias como quem era a mulher que estava tomando o lugar da minha esposa, usurpando sua identidade, por que ela estava fazendo tudo isso e qual era a relação dela com Megan, minha dúvida era... Eu queria saber onde estava Megan?

Tommy havia me feito essa mesma pergunta quando apareci em sua casa um mês atrás jogando sobre seus ouvidos o que eu havia descoberto.

Ele ficou incrédulo, quase tanto quanto eu havia ficado. Então logo passou a ficar preocupado, e a dizer que eu devia estar enganado. Uma pessoa ser tão parecida a outra, assumir seu lugar, imitar até mesmo seus gestos? Tinha que ser algo que acontece apenas na TV, certo? Logo ele me perguntou como exatamente eu cheguei aquela absurda conclusão.

Aconteceu na noite em que fomos a festa na casa de Isabel. Eu estava me esforçando tanto a fazê-la se sentir bem em uma festa em que obviamente ela não queria estar, que não prestei atenção nos detalhes, não notei logo de cara por que ela havia corrido da festa. Achei que tinha sido culpa minha, que leva-la a uma festa tendo a mulher com quem a traí nos recepcionando foi demais. Eu estava tão determinado a salvar meu casamento, que não prestei atenção.

Escutei seu verdadeiro nome e não assimilei a sua figura até horas mais tarde.

Fui em busca dela, fui até aquela maldita boate e agi como marido ciumento. Tão fixado no fato de não estar usando um objeto tão pequeno que a ligava tanto a mim, tão nervoso por ter tirado a aliança de casamento e temendo que aquele realmente fosse o fim, que não prestei atenção. Vi a falta da marca da aliança, mas deixei-me ser enganado por sua desculpa idiota. Ansioso por tê-la em meus braços e provar que ela era a única que chamava minha atenção, mais uma vez eu não prestei atenção.

Então a levei para casa. Escutei mais de uma vez uma ou outra frase que a entregava, mas as ignorei, não quis ligar os significados, aceitar que houvesse outros significados. As atribuir a uma mente desfocada, sobrecarregada pelo álcool. Queria tanto cuidar dela, mostrar que eu poderia fazer isso, que escolhi não prestar atenção. De novo.

Até que não deu mais.

Nos beijamos.

Nos tocamos.

E por mais que eu tentasse fazer a coisa certa, por um segundo pensei que íamos além.

Até que ela disse.

Ela disse que não poderia ser minha Megan, que por mais que eu quisesse, ela jamais seria como ela

Eu não posso ser sua Megan, Oliver, eu não posso ser ela. Eu sei que você a quer, mas eu não posso ser ela. Eu não posso ser a sua Megan.”

Eu fiquei confuso com sua frase dita após um beijo que eu sabia tinha fodido com minha cabeça. Pensei que havia me enganado, não havia escutado direito. Como o que eu havia escutado era certo?

Sua cabeça havia caído contra os travesseiros novamente, e seus olhos estavam fechados.

Chamei seu nome, ou melhor chamei pelo qual julgava ser seu nome.

Ela protestou, ainda com os olhos fechados e em tom de resmungo pediu que eu não a chamasse assim.

“Não me chame assim, eu não sou ela.”

Quando tornei a chama-la ela estava dormindo.

Profundamente.

Foi quando minha cabeça deu um giro de 360º, e eu me vi questionando novamente cada momento em que eu percebi, ela, Megan estava estranha. Vi-me encarando cada momento em que ela não agia como minha esposa, sua determinação em não ter sexo, suas pequenas mudanças.Tudo veio em velocidade atordoante, me deixando ainda mais confuso e incrédulo, percebi que precisava falar sobre isso com alguém, e que precisava me afastar dela o quanto antes.

Foi quando invadi a casa do meu melhor amigo no meio da noite.

Ele ficou irritado, por que ao que parece eu havia interrompido ele e sua esposa. E me ter andando de um lado para o outro sem dizer nenhuma palavra o estava deixando tonto e nervoso. Tommy me irritou com seus comentários ácidos e cheio de humor, enquanto eu tentava mais uma vez entender as ações da minha esposa, e de alguma forma explicar o que ela havia dito, fazer encaixar em algum contexto em que fizesse sentido.

Por que uma estranha assumindo o papel de esposa relutante e mãe amorosa, não fazia sentindo. Não para mim.

Ainda não fazia.

Tommy me escutou, tentou assim como eu compreender, e falhou junto comigo.

Aceitando a verdade ele pediu que eu me afastasse, não sabíamos as intenções da estranha, não sabíamos qual era o seu plano, e ele sabia que eu não teria a frieza de fingir que nada havia acontecido, não se eu ficasse muito tempo perto dela.

Então viajei.

Criei uma viagem a trabalho completamente desnecessária, apenas para ter tempo e espaço para procurar quem era realmente ela. E o que ela queria. Eu ainda tinha que falar com ela por telefone, mas era mais fácil assim, escutar sua voz fazia com que eu pudesse fingir por alguns momentos que eu estava errado, aquela era Megan.

Foi quando Tommy me perguntou. Se ela não era Megan, qual diabos era seu nome? Quem era ela afinal?

O encarei incerto. E ainda mais confuso.

Mas então como um clique sua ida brusca ao banheiro mais cedo na festa, o chamado de Barry Allen por uma mulher que eu não conhecia. Ele veio até mim, ansioso perguntando se eu sabia para onde sua amiga havia ido.

Felicity.

Seu nome.

Felicity Smoak.

O nome que Barry falou quando eu o questionei sobre sua amiga.

O nome que eu havia escutando antes dela falar que precisava ir.

Eu sorri, e neguei, falei que não conhecia nenhuma Felicity, ele devia ter se enganado. A única mulher que estava comigo era Megan, minha esposa. Eu disse até mesmo que a apresentaria a ele. Ele ficou um pouco sem jeito pelo engano cometido e aguardou junto comigo, mas ela não apareceu. Tive que pedir desculpas e dizer que ia procurar por minha mulher.

Ao que parece eu ainda estava procurando por minha mulher.

Por que invés de Megan, eu tinha Felicity.

E Felicity não era minha esposa, e havia me enganado por meses, fazendo-me pensar que era.

Fechei meu punho ao imaginar quão divertido deveria ter sido para ela me escutar mais de uma vez pedir desculpas por tê-la traído. Quando a verdade era o inverso.

— O que você acha Sr. Queen? – Pisquei ao perceber que Ray me encarava com uma pergunta no olhar, e que não tinha ideia ao que se relacionava.

— Receio que Sr. Queen ainda precise analisar direito os pontos das pautas. – Isabel tomou voz atraindo a atenção para si. – Está claro que o benefício desse projeto é mutuo, mas é muito dinheiro a ser investido. Precisamos parar e analisar ao certo quando uma vantagem é realmente uma vantagem. – Falou se erguendo. – Eu pessoalmente gostei do que vi, Sr. Palmer, e eu posso dizer que a Queen Consolidated em breve estará pronta para fechar esse negócio. – Ergueu sua mão e Ray Palmer prontamente a pegou em um aperto. Um sorriso confiante em seu rosto.

— Eu concordo. – Murmurei também me erguendo. – Não se preocupe Sr. Palmer, eu acho que a próxima reunião será para assinar os papéis.

— Isso é bom. – Apertou minha mão e me deu uma aceno firme. – Por um momento pensei que o havia perdido.

— Nem um pouco. - Menti. Não havia dúvidas que eu teria que ler as anotações da assistente de Isabel e escutar pela própria Isabel os pontos principais. O que seria inconveniente, já que ela insistiria em saber o que estava acontecendo e mudando minha atenção.

Com um aceno a mais de despedida e novos apertos de mãos aos demais integrantes da reunião saímos, bastou entrar no elevador para eu sentir o peso do olhar de Isabel em mim.

— Eu suponho que o que tenha tornado tão distraído não só hoje, mas em várias outras ocasiões nesse mês tenha sido algum problema conjugal. – Falou. Não precisei direcionar meu olhar para ela para saber que estava sorrindo. – E eu sei que se eu estiver certa não vai ser comigo com quem você vai falar sobre. – Permaneci em silêncio, meu olhar sobre os números que pareciam tão lentamente decrescer. Eu precisava chegar ao térreo urgentemente, só assim, eu poderia me livrar dessa conversa e ir direto para a qual eu não poderia evitar.

Eu precisava conversar com Felicity Smoak.

Minha pseudo esposa.

— Oliver? – Chamou-me determinada a quebrar meu silêncio.

— Vá logo ao ponto Isabel. – Murmurei impaciente.

— Bem, se havia alguma dúvida que havia problemas no paraíso, eu agora tenho certeza. – Falou tomando minha frente. – Eu não vou fingir que compreendo essa sua insistência em um casamento que não pode ser descrito como outra coisa além de fracasso, mas eu peço que resolva logo por que está te atrapalhando nos negócios. Você sabe que antes de tudo, eu sou sempre negócios. Não que eu não mantenha a porta do meu apartamento sempre aberta para você, quando precisar lamber suas feridas.  – Dirigiu-me um de seus sorrisos sedutores e então ergueu sua mão para alcançar minha gravata, surpreendendo a nós dois interrompi o ato ao segurar seu pulso quando um flash de memória me levou apenas a um dia antes, quando Felicity fez o mesmo.

Eu ainda não conseguia entender por que sempre que eu a encontrava eu me via tentando a me esquecer de quem ela realmente era, uma desconhecida. Eu até mesmo a provoquei, no dia seguinte a noite em que descobri tudo, falei sobre honestidade e tentei de forma indireta fazer com que ela fosse a que entrasse no assunto, mas ela não o fez. E desde então eu venho fingindo, não só para ela, mas para mim mesmo.

Ela mexe comigo.

Eu venho tentando negar isso, mas eu não preciso beija-la sempre que a vejo, e ainda assim de alguma forma eu faço com que isso aconteça. Eu também nunca planejei dizer que sentia saudades dela, e o fiz. Antes que pudesse me conter o fiz. Talvez eu tenha saudades de quando apenas achava que minha esposa estivesse mudando, tornando-se uma versão melhor de si mesma, talvez eu sentisse saudades da minha absoluta ignorância para com a realidade que me cercava. Mas eu disse que sentia sua falta. E aquele maldito beijo mexeu comigo.

Precisei me afastar mais uma vez, achei que poderia conduzir um jantar cercados por amigos, mas me enganei, percebi que logo ficaria sozinho com ela, e que não poderia esconder por muito tempo o quanto eu sabia, saí com Tommy, esperava que quando voltasse ela já estivesse dormindo.

Ela não estava.

Ela estava com Lexie, e a visão das duas teve o poder de me quebrar, escutar sua história e perceber que não era apenas um conto de fadas, me quebrou, me confundiu ainda mais e deixou toda a minha situação ainda mais complicada.

Por que Felicity Smoak parecia ser boa, parecia ter sido usada. E sua história fosse verdade... Parecia ter sentimentos por mim.

Eu não tinha ideia do que fazer quanto a isso.

Encarei Isabel que parecia surpresa por minha reação.

— Um pouco brusco não acha? Você poderia apenas ter dito não, como fez naquela noite na Rússia. – Deu de ombros. – Então, isso é um não? - Eu não compreendia, eu havia descoberto nesse último mês poucas coisas sobre Felicity Smoak, mas muitas sobre Megan Queen, suas traições foram confirmadas, então o que me impendia de aceitar qualquer coisa que Isabel me oferecia? Meneei a cabeça em negativa – Que pena.

— Chegamos. – Murmurei observando as portas do elevador se abrirem e deixando-a para trás com um olhar perplexo.

 Isabel estava certa, até certo ponto. Eu não poderia deixar com que minha vida pessoal interferisse na profissional, eu tinha uma empresa a dirigir, e eu não conseguiria fazer nada direito até ter uma conversa com Felicity.

Tendo isso em mente saí do prédio com Isabel atrás de mim.

— Diggle. – Acenei em sua direção. – Leve a srtª Rochev para a empresa.

— Sim, Sr. Queen. – Concordou. – Precisa que eu chame um carro para o senhor?

— Eu mesmo farei isso. – Falei não perdendo o olhar curioso de Isabel sobre mim. – Eu estou indo para casa. - Falei pegando meu celular.

— Sr. Queen, eu acho que seria de seu interesse saber que sua irmã e sua esposa estão na empresa. – Diggle murmurou fazendo com que eu afastasse o celular e cancelasse a chamada na mesma hora.

— Minha esposa. – Repeti.

— Eu mesmo as deixei antes de vir. – Falou.

— Mudanças de planos. – Falei abrindo a porta para Isabel. – Eu estou indo para a empresa também.

— Que surpresa. – Isabel sorriu. – Totalmente domado, Oliver. Eu tenho que admirar Megan, por que ela realmente tem você abanando o rabinho para ela.

Revirei meus olhos me perguntando mais uma vez, como eu cometi a estupidez de dormir com Isabel.

— Você ainda quer essa carona? – Perguntei a observando entrar no carro. – Então, eu a convido a ficar em silêncio.

— Que maneira elegante de me mandar calar a boca. – Sorriu. – Está bem, por sua sanidade mental, e para o bem dos negócios eu ficarei em silêncio.

Não a respondi por que minha resposta por si só poderia conduzir a outra sua. Então eu mesmo fiquei em silêncio até a nossa chegada na empresa. Ocupei-me de me questionar o que será que tinha levado Thea e Megan a ir a QC.

Eu não me corrigia quando a chamava de Megan, temia que em algum momento deixasse escapar que eu sabia que seu verdadeiro nome.

Quando saí do elevador em meu andar, felizmente não contava mais com a presença de Isabel que havia descido no seu próprio andar. Fui logo para minha sala julgando que minha irmã e minha... E Megan estaria lá esperando por minha chegada, mas me enganei, minha assistente não soube informar onde estava minha irmã, mas logo disse que a Srª Queen estava na sala de reuniões.

Agradecendo internamente o fato de poderia encontra-la sozinha não demorei a ir até lá.

Foi quando o vi.

Chase estava tocando-a, beijando, e claramente nada disso era com seu consentimento. Não demorou um segundo sequer para eu perder minha cabeça. Eu estava vendo vermelho, eu precisava tira-lo de perto dela. Eu não pensei, eu agi.

A única coisa que conseguiu me acalmar foi seu toque, e ainda assim, junto com a calma veio a frieza. Por que não era nenhuma surpresa para mim, que Adrian Chase estivesse entre aqueles com quem Megan me traiu, mas me fez pensar em quantas vezes havia acontecido dentro da minha própria empresa. Algo deve ter me entregado, minha expressão, minha aparente calma, talvez minha preocupação com ela, mas ela percebeu que eu estava fingindo, e em um piscar de olhos, Felicity Smoak entrou em desespero, ela queria ir embora, e eu temi  que ela estivesse fugindo, então pela primeira vez, deixei que seu nome saísse de meus pensamentos.

Pela primeira vez a chamei pelo seu verdadeiro nome.

Agora ela me encarava atônita, pálida.

E embora eu achasse que não fosse de sua natureza, que fosse dramático demais, eu realmente pensei que ela estivesse prestes a desmaiar.

Me irritava que ela parecesse tão frágil, tão inocente.

Ela estava me enganando, a minha família, meus filhos.

Eu não deveria simpatizar com Felicity.

Julga-la inocente apenas por que assim ela parecia.

Eu precisava pensar em Felicity Smoak alguém como Megan. Ela não inocente, ela era culpada. Ela manipulava e enganava, ela mentia. Ela me fez acreditar em coisas que Megan nunca havia feito, e isso por si só era o suficiente para nesse momento eu a odiar. Por que Felicity Smoak além de tudo estava pronta para partir, e eu não podia perdoa-la por isso, não quando ela virou meu mundo de cabeça para baixo.

Ela queria fugir, eu podia ver isso em seus olhos.

Senti uma onda renovada de fúria me dominar.

Por que ela queria ir embora.

E temendo que isso realmente pudesse acontecer, eu me aproximei.

 

FELICITY SMOAK

Engoli em seco enquanto observa Oliver finalmente se mover.

Ainda petrificada pelo o que eu havia escutado fui incapaz de me mexer enquanto ele chegava até mim. Seus olhos intensos me avaliavam, e era como se pela primeira vez ele estivesse realmente me vendo.

 Felicity.

Não Megan.

Oliver estava olhando para mim.

Felicity Smoak.

Ele havia me chamado de Felicity. Por duas vezes Oliver havia dito meu nome. E por mais assustada que eu tivesse, eu não podia deixar de me sentir eufórica enquanto a isso.

Finalmente me dando conta de sua proximidade tentei recuar, minhas costas indo de encontro a porta. A forma como me encarou me assustou, por que enquanto ele havia me chamado com certa urgência, eu não tinha visto nenhum sinal de irritação, até agora. E Oliver nunca havia me encarado dessa forma, tão desprovida de qualquer emoção fora a raiva.

— Como você sabia? – Perguntei quando ele deu mais um passo, que novamente eliminou a pequena distância entre nós dois. Evitei reagir quando ergueu sua mão, para minha surpresa Oliver alcançou o trinco da porta e a fechou na chave, com um suspiro o observei guardar a mesma chave em seu bolso da calça. Só então ele recuou me dando as costas.

Assustou-me como o inferno apenas para ter certeza de que eu não fugiria da conversa.

Respirei fundo enquanto o observava levar às mãos a cabeça em um claro gesto de aflição Forcei-me a deixar meus medos de lado, Oliver estava irritado, possivelmente como eu nunca vi antes, mas ainda assim, pelos meses que passamos, eu sabia que ele não me machucaria, ao menos era no que eu poderia apostar. Eu não podia, nem iria ficar encolhida contra a porta enquanto observa lentamente Oliver perder a cabeça, por que eu sabia se fizesse isso, perderia qualquer chance de me explicar para ele. De não ser junto com Megan a vilã em sua história.

— Oliver. – Murmurei o chamando e me afastando da porta. – Como você sabia meu nome? – Perguntei embora soubesse que essa não deveria ser minha primeira pergunta. – Como sabe quem eu sou? – Isso o fez se virar de imediato a fúria em seu rosto.

— Como sei quem você é? – Perguntou em tom descrente, logo se aproximou em passos largos, fiquei imóvel quando suas mãos se ergueram para me segurar, mas pararam no ar. – Eu não tenho ideia de quem você é. – Meneou a cabeça em negativa. – Tudo o que sei é que você não é Megan, que esteve os últimos meses agindo como fosse e que vem mentindo para mim desde então.

— Oliver...

— Você esteve em minha casa. – Continuou. – Com meus filhos, eu toquei em você, noite a pós noite dormi com você em meus braços e eu não tenho ideia de quem é você. – Finalizou.

—Oliver. – Chamei sua atenção quando o notei tornar a me dar as costas, percebi que essa era a sua maneira de procurar por calma. – Você disse meu nome. – Murmurei.

— Eu não tinha certeza de que era seu nome. – Murmurou por fim, mas ainda de costas para mim. – Eu esperava estar errado, tinha esperanças de que tudo fosse loucura da minha cabeça, e que eu não tivesse realmente sido engando por todo esse tempo.

— Então, como... – Parei em seco quando ele voltou a se virar.

— Na noite após a festa da empresa. – Falou fazendo-me franzi o cenho. – Você estava bêbada. Disse coisas estranhas, nenhuma havia chamando tanta minha atenção. – Deu de ombros. – Mas quando nós estávamos nos beijando e quando pareceu que íamos... – Desviei meus olhos dos seus ao escutar o que disse, era uma noite que eu não me lembrava de muita, mas que eu sabia que eu havia atacado Oliver.  -... Enfim, quando me afastei, você me abraçou. – O encarei confusa, tentando entender como um abraço havia me entregado. – Você olhou para mim... – Oh merda será que eu disse que era virgem? – E disse... – Oh inferno, não. – que não era ela. – Fechei meus olhos, mas voltei a abri-los ao perceber que a frase não havia terminado como eu imaginava.

— Perdão? – Murmurei querendo me certificar de que pelo menos quanto a isso, eu realmente não havia sido louca em revelar.

— Suas palavras exatas foram: Eu sei que você a quer, mas eu não posso ser ela. Eu não posso ser a sua Megan.  – Falou. Por um breve momento eu pensei ter visto algo semelhante a um sorriso em seu rosto. – Então você dormiu.

Eu não acredito.

Foi isso que me entregou?

— Eu poderia estar me referindo ao passado. – Comentei estreitando os olhos. – Eu poderia estar falando que não poderia ser a mesma Megan de sempre. – Gesticulei.

— Sim. – Assentiu com diversão. – Exceto a parte em que você se virou quando te chamei de Felicity, e é claro o fato de no momento estar falando hipoteticamente. – Olhei de um lado para o outro tentando entender como eu podia ser tão estúpida.

Megan iria me matar.

— Você jogou verde?! – Murmurei incrédula.

Ele deu de ombros.

Sério?!

Eu não posso acreditar nisso.

Meneei a cabeça em descrença e passei a andar de um lado para o outro.

— Eu não fiz isso. – Murmurei ainda descrente, falava sozinha e podia sentir o peso do olhar de Oliver em mim.  – Eu não fiz isso, eu não simplesmente me entreguei quando podia muito bem ter fingido surpresa e negado, quando você não tinha certeza de nada e apenas estava pescando por informações. Eu não fiz isso. Não quando eu podia simplesmente ter ido até você e entregado minha maldita identidade. – Juntei minhas mãos e parei, estava pronta para começar a andar novamente quando senti sua mão envolvendo meu braço, me aproximando de si. Não havia mais diversão no rosto de Oliver.

— Essa situação não é engraçada Me... Felicity. – Corrigiu-se.

— Eu sei. – Assenti. – Eu estou nervosa, e quando estou nervosa eu falo demais, ou não, depende de quão paciente a pessoa é, mas quase sempre são impróprias, como quando eu disse que o gato da do filho da minha vizinha era bonito e pareceu que eu estava falado do filho dela, mas na verdade eu estava falando do animal e no dia seguinte ele me mandou flores, o filho, não o gato. – Apressei-me a esclarecer. Oliver inclinou sua cabeça.  – Seria estranho um gato envia...

— Felicity!

— Até que você é bem paciente. – Murmurei admirando isso. Ele me encarou mostrando que sua paciência já estava muito rapidamente, desaparecendo. – Ok, desculpe.

— Eu não desconfiei apenas por conta daquela frase. – Murmurou voltando a focar no que realmente importava no momento. – Tudo em você estava diferente. – Comentou. – Eu fiquei confuso, e aos poucos cada detalhe pequeno veio a minha mente, seus gostos, suas manias, o fato de não querer mais sexo, a ausência da marca da aliança, a forma que falou que não podia assinar os papéis por que ainda tinha que fazer algo aqui, Barry Allen me perguntando por uma mulher que eu não conhecia, e ficando confuso quando lhe disse que apresentaria minha esposa, tantas e tantas coisas a entregavam que cada vez mais eu me sentia um tolo por não ter percebido antes. – Confessou.

—Barry? – Perguntei confusa. Eu havia pensando sim em Barry e me preocupado com que no futuro houvesse outro encontro, mas por alguma razão, provavelmente a bebida que veio depois naquela mesma noite, eu havia descartado a possibilidade de Barry ter ido até Oliver e perguntado por mim. – Foi assim que você descobriu meu nome?

Oliver me encarou com desdém e impaciência.

— Eu devia estar lhe fazendo mil perguntas e ainda assim você está focada em saber como cheguei ao seu nome. – Comentou meneando a cabeça.

— Ninguém vai de Megan a Felicity em um estalar de dedos. – Murmurei na defensiva. Era importante para mim, saber o quanto ele sabia e como havia descoberto. – Oliver você descobriu que sua esposa na verdade trocou de papéis com uma garçonete e até o momento não elevou a voz. Por um mês você soube, e nem um momento me tratou diferente, eu estou confusa, eu não sei bem a direção que você quer tomar e quanto você sabe de mim.

— Eu não tenho ideia de que direção tomar quanto a você. – Confessou. – Eu queria gritar com você, entrega-la para as autoridades e deixar que você e a verdadeira Megan lidem com as consequências, mas eu não consigo.

— Não? – Perguntei confusa.

— Por alguma razão, a qual eu ainda não conheço totalmente, eu não quero vê-la sofrer. – Falou. – Talvez seja por que você não pode fingir como é com meus filhos, ou pela história que escutei contar para Lexi, eu não acho que você mereça o mesmo tratamento que Megan.

— Você escutou. – Murmurei admirada. Ele assentiu.

— Eu preciso saber o quanto daquele conto é real. – Falou me soltando. O observei se forçar a aparentar indiferença, Oliver agora era todo negócios.  Ele apontou para uma das cadeiras.  – Sente-se, precisamos discutir nosso falso casamento.

— Não somos casados. – Murmurei automaticamente, embora fizesse como ele pediu, sentei-me.

— Foi por isso que coloquei “falso” na frente. – Respondeu sem humor. – Eu presumo que você assumiu a identidade de Megan desde a sua volta 4 meses atrás, certo? – Assenti concordando. – Então queira você ou não, envolvendo todos os aspectos ou não, por quatro meses temos sido marido e mulher.

— Ok. – Assenti. – Eu posso entender o que você quer dizer.

— Então, você pode entender por que eu me sinto duplamente traído. – Resmungou. Na verdade não, eu era uma desconhecida, Oliver não deveria esperar nada de mim. Seu foco deveria estar em Megan, sua verdadeira e única esposa, não em mim. Mas tendo em conta que qualquer coisa que eu dissesse poderia virar contra mim, eu apenas esperei que ele continuasse a falar. – Por que vocês fizeram isso? E qual seu relacionamento com Megan? Eu presumo que são irmãs.

— Eu não tenho certeza, mas imagino que sim. – Assenti. Ele me encarou confuso. – O que exatamente você sabe de mim?

— Seu nome é Felicity Smoak. – Respondeu. – Você é de Vegas. – O encarei surpresa. – Quando eu descobri que você não era Megan, eu tinha apenas seu primeiro nome e Barry Allen como ponto de partida, eu viajei por que não conseguia lidar com tudo isso sem acabar explodindo e por que eu precisava descobrir mais de você. Eu contratei alguém para ir atrás de Barry sem fazer alarme, se ele era amigo seu eu não o queria alertando isso, então meu cara descobriu que você estudou com ele, que foram mais do que amigos. – Ergui uma sobrancelha ao notar sua careta ao dizer isso. – Quando teve seu sobrenome ele abandonou Barry como foque e se fixou apenas em você. Eu sei que você é de Vegas e por incrível que pareça nunca saiu de lá, sei que sua mãe a criou sozinha e não há nenhum registro de irmã. Sei que até quatro meses antes você era uma garçonete e que foi despedida após uma denuncia de um hospede, algo relacionado a roubo. – Engoli em seco ao escuta-lo falar em tom monótono sobre o que aconteceu naquele dia. Ele não tinha detalhes, ele não sabia como foi, então ele já me julgava culpada, eu tinha certeza. - Eu também sei sobre a doença de sua mãe.

— Você sabe mais do que eu esperava. – Murmurei após um longo silêncio, eu não esperava que ele trouxesse até mesmo minha mãe para a conversa, era algo que eu esperava falar com ele.

— Quem era o hóspede que a acusou de roubo? – Questionou-me com olhar firme.

— Você não conseguiu essa informação? – Perguntei trincando meus dentes.

— O hotel aparentemente se orgulha de não ceder informações de seus clientes. – Respondeu.

— Mas pode ceder informações de uma mera camareira. – Meneei a cabeça sem ver humor realmente.  – Você sabe quem foi.

— Ela estava mentindo. – Falou. Pensei ter ouvido uma pergunta, mas não foi. Oliver não conhecia a história, mas já havia chegado a conclusão de que eu era inocente? Ao menos quanto ao roubo ele havia decidido assim. – Você já a conhecia antes?

— O que o faz pensar que eu não a roubei? – Não pude resistir a fazer a pergunta. – O que o fez você ter tanta certeza que ela estava mentindo?

— Eu não tinha. – Negou. – Até ver o seu olhar quando eu falei no roubo.

— Oh. – Difícil acreditar que ele me julgaria apenas por minhas expressões. Respirando fundo tentei me concentrar em sua pergunta anterior. – Eu nunca tinha visto Megan até aquele dia. Ela me abordou, me surpreendeu conhecer alguém tão parecida comigo.

— Idêntica. – Interrompeu-me.

— Sim. – Concordei. – Eu sei o que você está pensando.

— Eu duvido muito.  – Murmurou em tom cortante.

— Oliver, eu não quis participar de nenhum plano para engana-lo. – Jurei.

— E ainda assim o fez. – Respondeu.

— Eu não tive escolha. – Falei.

— Sempre há uma escolha. – Ergueu a voz. – Você apenas decide qual aquela que mais lhe convém e esconde-se na desculpa de que não havia uma, é mais fácil encarar sua própria consciência dessa forma.

— Não. – Neguei. – Ela estava me acusando, é muito fácil para você dizer isso quando você nunca estará do outro lado, mas ela é rica, ela tem meios. Ela fez parecer com que eu havia a roubado e me chantageou, ou eu fazia o que ela queria, ou eu ia para cadeia, e eu não podia me dar o luxo de ir para cadeia.  Eu tinha minha mãe, eu não podia apenas deixa-la para trás.

— Você tem. – Lembrou-me. – Ela está viva.

— Sim, por que eu fiz o que Megan queria. – Falei. – Pelo dinheiro que hoje possibilita minha mãe fazer parte desse tratamento. Eu sei que eu não pareço melhor aos seus olhos Oliver, mas eu não tinha escolha.

— Como eu disse, você escolheu o que lhe era conveniente. – Retrucou.

— Por minha mãe! – Ergui minha voz.

— Por você mesma. – Retrucou não apenas erguendo sua voz, mas se levantando ao fazê-lo. – Você não tinha ninguém antes, eu entendo, mas e depois? Por que não me contar a verdade? Por que passar quatro meses mentindo? Por que lhe foi conveniente.

— Não é verdade. – Neguei. – Megan me viu e achou que havia encontrado a solução para seu egoísta problema, por vaidade ela não quer abrir mão de você, vaidade e ganância. Ela não lhe é fiel, não lhe respeita ou ao casamento de vocês, ela me usou por que queria um tempo da sua “entediante família”. Ela me usou. Eu entendo que esteja irritado, mas eu não tive escolha Oliver, eu sequer poderia ter contando depois, por que eu não sabia como seria sua reação, eu tinha razões o suficiente para confiar em você, tanto quanto você tem para confiar em mim agora. – Falei. – Nenhuma.

Ele me dirigiu um longo e intenso olhar. Não tornou a sentar, e por um bom tempo não disse nada, com sua mão apoiada sobre a mesa Oliver apenas me encarou.

— Por quanto tempo. – Murmurou por fim.

— O quê?

— Por quanto tempo ela decidiu ter férias da família? – Perguntou ironicamente.  – Onde ela está agora?

— Eu não tinha ideia de onde ela está. – Confessei. – Mal nos comunicamos, essa era uma exigência sua, falar apenas quando urgente e quando tento falar com ela, apenas me ignora e qualquer pergunta que eu faça. Quando fizemos o acordo, ela falou que duraria seis meses. – Dei de ombros. – Talvez menos.

— Seis meses. – Repetiu. – Faltam apenas dois.

— Eu sei.

— Deve estar ansiosa para voltar para casa e ficar longe da família a qual você foi obrigada a participar. – Comentou me sondando.

— Oliver...

— Não. – Cortou-me. – Eu não quero, nem posso escutar o que você vai dizer, por que eu não quero ficar questionando a mim mesmo, se é verdade.

— Está bem. – Assenti. – O que você vai fazer?

— Eu não sei. – Deu de ombros. – Esperar por sua volta, eu acho. – Respondeu. – Eu tenho procurado por ela, mas não vejo muito sentindo se sua intenção sempre foi voltar, e quando ela voltar, eu entregarei aqueles malditos papéis.

— E quanto a mim?- Perguntei franzindo o cenho.

— Eu já disse que não planejo te entregar a polícia. – Falou.

— Então eu estou voltando para Vegas. – Deduzi. Passo errado. Oliver ficou tenso, seus olhos ficaram frios e todo o seu corpo enrijeceu.

— Não. – Murmurou firme.

— Não? – Repeti confusa.

— Você não vai para nenhum lugar. – Tornou a negar. – Não sabemos quando exatamente Megan voltará, caso ela saiba que você está em Vegas, ela pode sequer voltar, eu preciso confronta-la.

— Então até lá...

— Você fica conosco.  – O encarei surpresa.  – O quê? Não acha justo?

— Você parece bem chateado por que tenho me passado por Megan. – Murmurei com calma. – Eu não pensei que você queria que eu continuasse com isso. – Falei. – Eu não pensei que queria que eu...

— Mentisse? – Questionou-me. – Eu não estou chateado, eu estou puto.  – Falou.  – Você me enganou, você me fez... Eu... – O observei se afastar da mesa. – Eu estou cansado.  – Rugiu. – Eu estou cansando de escutar suas mentiras, cansado de dia após dia vê-la fingir ser outra pessoa. Fingir que se importa conosco, comigo. Você não é minha esposa. – Murmurou em tom mais baixo. Decepcionado.  – Você não é.

— Sua esposa não só te traiu. – Murmurei passando a ficar decepcionada também.  – Como também o abandonou. E ainda assim você não consegue me perdoar por não ser ela.

— Eu não acho que você entendeu...

— Eu entendi. – Falei me erguendo. – Você me odeia por que eu o enganei, menti e usurpei o lugar da sua esposa e ainda assim contrariando tudo isso, você quer que eu continue isso. Por que lhe convém. – Sorri meneando a cabeça. Não havia diversão nisso, não era engraçado, mas ainda assim eu ri. – Eu acho que essa é sua escolha.

— Você não pode ficar ofendida, não depois...

— Eu não estou. – Neguei, estava cansada daquela conversa, eu queria apenas ir embora. – Eu posso ir embora, ou a partir de então preciso estar sempre acompanhada? –Tentei a todo custo não soar chateada, eu já esperava por todo o sentimento ruim que essa revelação traria, mas não esperava me sentir tão vulnerável quanto a isso. Ele ergueu as sobrancelhas e parecia preste a responder quando escutamos o som da porta tentando ser aberta.  Fiquei surpresa ao escutar a voz de Isabel.

— Como eu disse. – Falou em tom irritado. – Não há ninguém. A porta até mesmo está trancada. – Tornou a tentar abri-la.

— Eu sei que deixei minha cunhada aí. – Pisquei ao escutar Thea. Encarei Oliver que sem dizer mais nada foi até a porta. – Megan? – Thea chamou-me.

— A maldita porta está trancada Thea. – Isabel interveio.

— E quão normal é isso? – Perguntou. – Megan você está ai? – Tornou a gritar, eu estava prestes a responder quando observei incrédula Oliver abrir os três primeiros botões da sua camisa e tirar sua gravata.

— O quê...

— Apenas aproveitando-me para me livrar de algo. – Falou em tom baixo antes de abrir seu terno e bagunçar seu cabelo.

Não. Ele não estava fazendo o que eu estava pensando.

— Oliver... – O chamei enquanto tentava ignorar a conversa lá fora. Thea tentava convencer Isabel a encontrar a chave, ela argumentava que eu poderia ter desmaiado e alguém poderia ter me trancando sem saber, tive pena de Thea ela parecia realmente estar preocupada. – Você vai fingir que estávamos transando?

— Isso é muito para você? - Perguntou antes de vir em minha direção.  – Fingiu tantas outras coisas.

— Eu só não entendo o por quê...

— Isabel vem intensificando seus avanços, já que acha que estamos tendo problemas no paraíso. – Respondeu. Pisquei tentando assimilar o que dizia. – Está ficando chato.

— Você não devia ter transado com ela. – Não resisti falar. Ele me encarou e por um momento pensei ter visto um sorriso iluminar seus olhos. – O quê?

— Nada. – Falou olhando para baixo. Franzi o cenho ao perceber que olhava para meus seios.

— O que você pensa que... Oliver Queen! – Protestei quando o observei passar desabotoar a minha blusa, não muito, mas o suficiente para passar a ideia que ele queria. Dessa vez eu não me enganei, Oliver sorria. – Isso não é divertido.

— Não.  –Concordou. – Não era para ser. – Murmurou antes de soltar meus cabelos e empurrar meu corpo até a borda da mesa, segurei seu bíceps pensando que nunca tinha visto Oliver tão agressivo, e buscando em minha mente algum alarme de medo, mas eu não consegui encontrar um. Os olhos de Oliver desceram até meus lábios e eu sabia, sabia que ele ia fazer mais do que encenar, mas nada no mundo, nem mesmo minha consciência foi capaz de me fazer impedi-lo.

Sua boca se aproximou, perto o suficiente para eu sentir seu calor, mas ainda sem manter o contato que ambos queríamos. Minha respiração ficou em suspenso, aguardando, precisando que a distância fosse eliminada. Meus olhos moveram-se indo dos seus lábios e encontrando seus olhos.

— Essa pode não ser uma boa ideia. – Murmurei molhando meus lábios, após senti-los tão subitamente secos. Ansiosos.

— Essa é uma terrível ideia. – Respondeu. – Mas eu não me importo. Agora não, talvez mais tarde.  – Pisquei tentando acompanhar seu raciocínio, mas fui interrompida, por que a espera havia acabado. De forma abrupta, intensa e maravilhosa.

Agora tudo se resumia ao seu sabor.

Seu cheiro.

Seu toque.

Quando seus lábios tomaram os meus foi quente. Não havia mais a polidez com que começou aquela conversa, ou a frieza que o tomou depois. Oliver me beijou como se nada tivesse acontecido, como se eu realmente fosse sua. Seus lábios tomaram posse dos meus, os reivindicaram. Foi brusco, animalesco e não menos excitante. Oliver estava me punindo, com seu corpo, Oliver estava me dominando.

Esquecendo-me das suas reais intenções, deixei-me levar pelo beijo, e o correspondi. Com a intensidade guerreando com sua eu o beijei, toquei a sua língua com a minha e deixei minhas mãos espalmarem seu peito, os acariciando por sobre a camisa branca, enquanto suas pernas empurravam as minhas deixando-as abertas enquanto fazia com que eu me sentasse sobre a mesa. Gemi ao senti-lo crescer, sua rigidez contra meu ventre.

Deus, eu não sabia como parar isso.

Eu não queria parar isso.

Suas mãos moveram-se por baixo da minha camisa e subiram em minhas costas, fazendo-me arquear para o seu toque enquanto sua boca mais uma vez saqueava a minha. Com uma mão ainda dentro da minha camisa, e a outra apertando minha coxa, Oliver moveu sua boca até meu pescoço, sua boca deixando um rastro úmido, dentes apertando, trazendo uma dor deliciosa e angustiante.

— Oh. – Deixei meu corpo imóvel quando escutei o murmuro feminino. Afastando meu rosto do de Oliver meus olhos caíram nos de Thea. Enquanto Isabel mantinha a porta aberta e nos olhava com desgosto, Thea sorria.

Ela. Sorria.

— Oh Deus. – Murmurei voltando a encarar Oliver. Ele parecia respirar fundo, percebi que Oliver buscava por controle, alcancei suas mãos com as minhas e as tirei de cima de mim. – Eu acho que encontro você em casa. – Falei constrangida antes de força-lo a me dar espaço e saltar da mesa. Oliver ainda se mantinha de costas para plateia quando assentiu.  – Vamos? – Perguntei passando por Thea, ela assentiu seu sorriso se ampliando.

— Sexo sobre a mesa de reuniões. – Isabel inclinou sua cabeça me analisando. – Um maldito clichê.

— E quem não ama um clichê? – Perguntei lhe dirigindo um sorriso.  – Eu amo. Oliver também. – Pisquei antes sair deixando-a com um olhar carrancudo.

— Então, eu estava procurada com você, mas na verdade você estava se pegando com meu irmão.  – Thea murmurou divertida quando entramos no elevador.

— Não é o que você pensa. – Neguei.

— Parecia muito ser o que penso. – Falou.

— Em casa eu explico melhor. – Falei em alerta. – Mas para resumir: Adrian me beijou a força, Oliver viu tudo e avançou sobre ele, conseguir afasta-los só para perceber que Oliver sabia que eu na verdade não sou Megan Queen. Conversamos sobre e meio que estamos em pé de briga, ele está puto. Aquilo que você viu foi Oliver encenando uma cena apaixonada para afastar Isabel. – Concluí.

— O quê?! – Indagou surpresa. – Como... quando?

— Mais tarde. – Repeti. Ela piscou ainda confusa com o que revelei mais assentiu concordando. Quando descemos Diggle já estava a nossa espera, o encarei incerta se ele sabia a verdade ou não. Sempre foi muito discreto, mas Oliver confiava totalmente nele, parecia improvável que não soubesse, Oliver havia me contado de Tommy, mas será que Sara sabia? Diggle? Oliver sabia que sua irmã soube quase imediatamente da verdade?

Quando cheguei em casa contei tudo a Thea que estava tão perplexa quanto eu havia ficado, percebi que estava tensa. Ela temia a reação do irmão quando ele chegasse a conclusão de que ela também sabia de tudo.  Oliver chegou apenas mais tarde quando eu já jantava com as crianças, sua mãe e Thea. Ele não fez nenhum comentário ácido ou deixou passar nada que deixasse o jantar tenso, quem nos visse pensaria que realmente se tratava de uma família feliz.

Mas eu podia senti-lo tenso. Podia sentir seus olhos em mim, cada ação minha com as crianças estava sendo vigiadas, analisadas e julgadas. Jamais seria o mesmo diante. Ele subiu antes e me perguntei o que aconteceria quando eu também subisse. Não demorou muito para eu descobrir.

Quando subi, Oliver estava sentado na beira da cama, me aguardando.

— Nós vamos ter outra das nossas conversas tensas? – Perguntei hesitante.

— Eu só queria pedir desculpas. – Falou me surpreendendo. – Eu avancei sobre você, e agora eu percebo por que você nunca quis que nós dois... Enfim, eu sou um estranho e você não queria uma relação intima assim, você pode ter me enganado sobre muita coisa, mas sempre deixou claro sobre isso. – Falou. – Eu só não sabia a razão.

— Oliver...

— Eu só ia beija-la. – Interrompeu-me. – E então ia abrir a porta, eu não planejava...

— Entendi.  – O cortei. – Eu sou igual a ela, e se você tem sido sincero e não voltou a transar com Isabel, tem sido três meses sem sexo, certo? – Oliver me encarou incerto como responder.

— Eu fui sincero. – Murmurou por fim.

— Então, não se preocupe. – Falei. – Eu entendo.

— Não foi por que vocês duas são iguais. – Negou me surpreendendo. – Ou eu jamais a tocaria.

— Hum. – Franzi o cenho sem saber como responder aquilo. – Eu só vim pegar algumas coisas, eu vou para o quarto ao lado. – Oliver franziu o cenho, logo seu rosto ficou carrancudo. – Eu pensei que você iria querer isso, Oliver. – Suspirei.

— Eu posso dormir no chão, embora não ache que seja preciso. – Falou. – Eu tenho respeitado seu espaço, e tenho intenção de continuar dessa forma, eu não a tocarei, minhas razões para ficarmos no mesmo quarto ainda são as mesmas de quando você sugeriu na primeira vez. Empregados comentam, e as crianças sempre escutam o que não devem. Eu não sei como ficará as coisas depois dos dois meses que ainda há, mas eu não quero fazer uma mudança brusca.

— Entendo. – Assenti. – Eu posso ficar aqui. – Não era como se dividir a cama com Oliver fosse um incômodo só não seria mais o mesmo.

— Eu tenho um pedido para você. – Murmurou chamando minha atenção.

— Ok. – Acenei. – O que é?

— Eu não fingirei que não vejo como você é com as crianças.  – Falou. – Eu fiquei preocupado com muitas coisas desde que descobri a verdade, mas não quanto a isso. Eu só quero que você lentamente se afaste.

— O quê?- Perguntei sentindo meu coração se encolher.  – Por quê?

— Você não é a mãe deles. – Murmurou apertando ainda mais, machucando.

— Eu sei. – Murmurei. – Megan...

— Megan também não é. – Cortou-me. – Ou não teria agido como agiu.

— Então...

— Meus filhos não tem mãe. – Falou em tom cortante. – Está na hora deles irem se acostumando com isso.

— Oliver...

— Isso chegou para você. – Apontou para trás de si. Entendi de pronto que aquela questão era algo que ele não cederia, então fixei minha atenção no que ele apontou. Era uma caixa retangular, um laço de fita preto e dourada a envolvendo. Franzi o cenho, pois não esperava por isso. – A empregada colocou aí, eu abriria, mas temo ser algum presente de amante.

— Eu não...

 -Amante de Megan. – Esclareceu. O encarei esperando algum sinal de aborrecimento, mas Oliver não exibia algum, ele parecia muito rapidamente conformado com o fato de que havia constantemente sendo traído. Movida pela curiosidade fui até a caixa. Surpreendi-me ao ver o lindo vestido vermelho ali dentro. Dois envelopes entre o tecido. Oliver que havia se erguido pegou o primeiro envelope.

— É o convite para o baile anual dos Wayne. – Falou abrindo o envelope. – Megan e eu fomos no ano passado. Bruce passou a fazer desde que se casou com Selina.

— Megan deve ter deixado o vestido separado. – Falei. – Ela fez o mesmo com o de Isabel. – Expliquei. Oliver invés de se fixar no que significava, que era em como Megan sempre agia de forma incisiva e não deixando espaço para manobras, ele resolveu focar na frase em si.

— Era da empresa. – Lembrou-me.

— Na casa dela. – Retruquei. Eu também deveria não ter me fixado nisso.

— Era nosso. – Repetiu não disposto a abrir mão disso.

— Que seja. – Falei pegando o segundo envelope, não estando com humor para seguir o caminho que a conversa poderia tomar. – Deve ser instruções. – Falei o encarando.

— Então abra. – Deu de ombros.

“ Hey!!

Minha querida, como você consegue ser tão maçante ao ponto de cumprimentar os outros assim? Eu espero que vivendo como Megan Queen tenha lhe ensinado a esquecer tão odioso hábito. Se as coisas estão como programei, e se você foi inteligente o suficiente para abrir essa caixa sozinha, eu posso falar com você livremente. Então, junto com o vestido há também os convites para o baile anual (E incrivelmente entediante) dos Wayne. Bruce Wayne já foi uma das minhas antigas paixões (Embora ache essa palavra forte demais), mas o fascínio foi embora quando ele deixou sua vida de solteiro incurável e casou-se com sua amada esposa Selina. Infelizmente o Sr. Wayne não é (mais) a favor de casos extra conjugais, então não tema está entrando em território de um ex- amante. Oliver insiste em ir a essa festa, então você é obrigada ir também, mas não se preocupe, tenho informações quentes que dessa vez o Sr. Wayne fará um baile mascarado, talvez eu possa deixar as coisas mais interessantes dessa vez.

Divirta-se se possível, e não se esqueça de salvar meu casamento.

Até breve,

Q.”

Encarei Oliver que lia o bilhete por cima do meu ombro, o entreguei para que terminasse e voltei a pegar a caixa e após afastar o papel dourado, achei a máscara. Deixei meus olhos caírem novamente em Oliver que já deixava de lado o envelope e cruzava os braços me encarando com desafio.

— As mensagens dela são sempre assim? – Perguntou-me.

— Irritantes? Sim. – Oliver revirou os olhos e percebi que não era exatamente disso que ele perguntava. – Sempre dá instruções, sempre exige que eu salve o casamento de vocês, nunca diz onde está e até agora não havia dito sobre data de retorno.

— Até agora. – Repetiu inquieto. Parecia incerto ao que eu me referia.

— Ela disse até breve. – Falei. – E ela disse que tornaria as coisas mais interessantes. Ao que parece, não teremos que esperar aqueles dois meses afinal. – Falei colocando a máscara em frente ao meu rosto. – Eu espero que você tenha uma máscara, meu querido, por que você vai precisar dela nesse baile. Uma figurativa e real. Em breve, mais precisamente daqui duas semanas, você estará cara a cara com sua esposa, a verdadeira. – Sorri. – A questão é: Você vai reconhecê-la?


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Notas finais do capítulo

É isso, espero que tenham gostado, e que esteja a altura das expectativas.
Nos vemos nos comentários,
Xoxo, LelahBallu.
*Deus como eu senti falta disso.



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