Cisne Negro escrita por Gerome Séchan


Capítulo 8
A Lenda de Camelot – Parte 3a


Notas iniciais do capítulo

[SHIP] Rumbelle AVISO: Contém FORTES insinuações de sexo.
Personagem no banner: Morgana
.
Sinopse
Os heróis visitam a mística ilha de Avalon e descobrem seus segredos. Uma vez curado, Rumplestilskin reata sua relação com Belle. Henry descobre uma profecia sobre o Avatar da Ruína. Merida desperta habilidades latentes. E a investigação de Morgana revela um segredo perigoso sobre Merlin.
Personagens: Arthur| Morgana | Guinevere | Lancelot | Merida | Henry | Rumplestilskin & Belle | A Vidente (sim, a ruiva que aparece em OUAT) | Regina, Mary&David.
N.A. (Notas da Autora): A Parte 3 totalizou 9 mil palavras. Portanto, foi dividida em 2 partes. Prometo não fazer mais isso. Bom, só uma vez em cada arco, vai...



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Na manhã seguinte, os visitantes de Camelot foram acordados mais cedo que o restante da corte pelos serviçais do castelo. Se eles quisessem acompanhar Morgana na viagem a Avalon, teriam de partir antes do raiar do dia.

Belle mal havia conseguido dormir. A notícia de que o Aprendiz havia magicamente transferido parte de sua essência para Henry havia lançado um raio de esperança naquela empreitada fadada ao fracasso. O menino agora possuía o benefício da sabedoria do Aprendiz e uma fração de seus poderes. Mas será que Henry saberia usá-los para salvá-los do perigo?

Um mensageiro compareceu nos quartos de cada hóspede e lhes avisou que o café da manhã estava servido. Morgana e Arthur lhes aguardavam no salão principal. Assim que eles terminassem de comer, partiriam em breve para Glastonbury, onde, segundo a sacerdotisa, se situava a mística Avalon.

...

Morgana e Arthur conduziam os convidados para fora do castelo com ajuda de dois serviçais, que empurravam a carroça onde Rumplestilskin estava deitado. O grupo aguardava os preparativos finais para a viagem estarem prontos. Enquanto isso, os irmãos conversavam afastados dos demais.

— Sabe, sobre o ritual... eu ainda não tive a chance de falar com Guinevere.

Morgana girou o rosto para ele, assustada.

—Para que você quer comentar isso com a sua esposa?

O rei disse que precisava ser sincero com ela, mas a sacerdotisa tratou de dissuadi-lo da ideia.

— Não; Arthur, me escute. –ela ergueu a palma, insistente- Guinevere jamais vai entender, não importa o quanto você tente explicar. Para ela, os rituais de Avalon não passam de feitiçaria e bruxaria, obra do demônio.

Seu irmão tentou interromper, mas ela não deixou.

— Você prestou um juramento quando foi iniciado. Ela, não. Se os padres souberem que o rei da Bretanha, líder dos exércitos contra os saxões fez um ritual sexual, algo que no mundo deles é sujo, pecaminoso, você sabe o que eles vão fazer com você?

A expressão no rosto dele dava a entender que ele sequer havia considerado a hipótese. Ao contrário dele, Morgana tinha informantes que acompanhavam as idas e vindas de Guinevere. A sacerdotisa sabia da influência dos padres sobre ela.

— Não importa. Agora não é a hora para essa discussão. Venha. Quando chegarmos a Glastonbury, conversaremos melhor.

...

Henry e os demais foram conduzidos a uma encosta que descia até as margens de um lago sem fim. Por quilômetros ele se estendia até desaparecer nas brumas distantes. Seus cuidados estavam sob a guarda de um barqueiro cujas feições estavam protegidas por uma capa de capuz anormalmente grande.

Morgana se aproximou e ele voltou sua atenção para a sacerdotisa.

— Saudações, Esther. Trago em minha companhia visitantes à Ilha Sagrada. Eles têm a minha bênção para visitar o solo sagrado de Avalon.

Sua cabeça se moveu em direção a Arthur.

— O filho de Uther não deveria ficar tão longe de Camelot. Não quando seus inimigos se reúnem para destruí-lo. – disse uma voz de mulher.

— Também senti sua falta, Vidente. – Arthur respondeu.

— Vidente? – Henry perguntou a Merida, que deu de ombros.

A remadora removeu o capuz e seu rosto era tão terrível que Merida e Henry começaram a gritar.

A aparência de uma Vidente está dentre as coisas mais terríveis que assolam esse mundo. A metade inferior de seu rosto é como a de qualquer ser humano. O problema reside do nariz para cima.

Onde deveriam estar seus olhos, havia apenas uma longa cicatriz que se estendia de orelha a orelha. A impressão que ela dava era daquela parte do rosto ter sido rasgada, como se um brutamontes tivesse arrancado os olhos e depois costurado a pele de volta sem o menor cuidado.

— E então, Vidente? Nenhuma previsão nova para mim? Só o conselho de sempre, “cuidado com inimigos ocultos e etc?”

— Arthur... – Morgana murmurou. Ele tinha a péssima mania de tratar com cinismo as dádivas do povo de Avalon.

A sacerdotisa fez menção de guiá-los até o barco quando a Vidente ergueu uma das mãos, tateando pelo ar.

— O que ela está fazendo? – Merida perguntou, desconcertada pelo gesto.

— Uma previsão. – Morgana respondeu, pedindo silêncio.

Em voz etérea, ela disse:

Alguém trama contra você...alguém que o conhece...

— Descreveu metade de Camelot agora. –ele comentou.

Um amigo... alguém que o ajudou no passado...

— Deve ser Percival. Eu emprestei o colete favorito dele para um dos servos sem permissão de novo.

Morgana se controlava para não lhe chamar atenção. Os anos passavam e Arthur continuava debochado feito o menino com quem cresceu.

Um conhecedor de Mistérios, alguém que lhe deu a espada e lhe ajudou a ascender ao trono...

No mesmo instante, as piadas cessaram.

Uma terrível traição de um antigo aliado. Cuidado, Arthur Pendragon. Sua linhagem corre perigo. Antes da próxima lua, sua queda virá da mão daqueles em quem mais confia.

O grupo estava sob em um silêncio desconfortável. Arthur encarava a Vidente emudecido. Durante todas as suas visitas a Avalon, as previsões costumavam ser positivas. Aquela era a primeira vez que Arthur ouvia falar de traição. E de um dos sacerdotes de Avalon, pelo que ele havia interpretado daquelas palavras malditas.

— Homem ou mulher? –ele perguntou à Vidente.

Morgana se virou para o irmão assustada.

— Isso a visão não revela. – Esther respondeu, com sinceridade na voz.

Arthur não fez mais perguntas, embarcando de mau humor. Morgana incitou os demais a subirem no barco. A vidente estava prestes a subir a âncora quando um mensageiro chegou a cavalo, gritando pelo nome do rei.

— Majestade, a senhora Guinevere e o cavaleiro Lancelot acabaram de voltar de viagem!

Arthur devolveu um olhar à irmã, ao que ela sacudiu a cabeça, autorizando que ele voltasse ao castelo. Os demais viam como ele respeitava a autoridade da sacerdotisa e ficavam impressionados.

Morgana ainda voltou seu rosto uma última vez ao irmão, preocupada com as mudanças que ocorriam em Camelot, rápidas demais para seu gosto. Quando ela chegasse na Ilha Sagrada, se consultaria no espelho mágico para descobrir se tais eventos tinham algum significado que sua Visão ainda não era capaz de identificar. Com um feitiço, a embarcação navegou rumo a Glastonbury, onde, além do alcance dos padres, com seus sinos infernais, seu Cristo branco e seus dogmas ficavam as brumas de Avalon, resguardando um dos últimos santuários do plano espiritual, cujos portões de entrada e caminhos secretos rapidamente desapareciam desse mundo.

...

Quatro ajudantes carregaram o corpo de Rumplestilskin até a margem. Com cuidado, eles pousaram o homem em uma segunda carroça e a conduziram durante todo o trajeto até o círculo de pedras na colina.

Ninguém enxergava o caminho adiante. Os ventos traziam as brumas do mar, encobrindo a ilha numa neblina espessa. Morgana avisou mais de uma vez que não se afastassem dela ou se perderiam do caminho.

Assim que a sacerdotisa pisou no primeiro degrau da escadaria que ascendia em caracol até o círculo, as brumas se afastaram e a paisagem se tornou visível.

Do alto da colina, os visitantes tiveram uma visão panorâmica da ilha.

Ao norte se erguia imponente o Tor, a torre dos rituais. Por quilômetros se estendia o caminho processional que conduzia ao seu topo, acessível somente aos sacerdotes da mais alta hierarquia.

A leste, ficavam os caminhos de pedra que levavam a uma caverna situada na encosta de uma montanha, e onde ficava o espelho mágico; um espelho d’água formado por uma fonte que existia desde o Início dos Tempos.

O oeste era encoberto por um mar de árvores a perder de vista. Regina e Henry, os mais sensíveis à manifestação da magia, tiveram seus olhares atraídos para uma fumaça branca ao longe no meio da mata que se elevava em espirais. Sua curiosidade foi aguçada e eles tentavam imaginar que espécie de mago escolheria viver feito um eremita estando protegido em um santuário místico.

Os visitantes demoraram alguns segundos admirando a paisagem. Aquele momento jamais voltaria a acontecer em suas vidas. Lá estava ela; Avallóne das lendas, ou, como os bretões a chamavam, Avalon. A ilha etérea, situada na conjunção dos planos material e espiritual, onde a antiga religião sobrevivia, com seus deuses em forma de sol e chuva, em folha e árvore, e seus rituais druídicos, em meio a um mundo em constante transformação.

— Depositem o corpo na esteira. – Morgana ordenou, apontando para uma pedra retangular no centro do círculo encoberta por uma grossa esteira de palha, coberta com um lençol.

A sacerdotisa distribuiu mais um par de ordens às irmãs, que ainda eram iniciantes na hierarquia. Imediatamente elas providenciaram o que a mulher pediu: uma bacia areada contendo água fresca, recolhida da fonte sagrada; ervas para o ritual de purificação; e uma pedra branca, intocada por mãos humanas.

— Onde está Viviane? Ela não saiu do quarto ainda? – a sacerdotisa perguntou, procurando a mestra em todo canto.

— A Grã-Sacerdotisa está indisposta, senhora. – a irmã respondeu – Ela não sai da cama há vários dias.

— E ninguém me informou disso? – ela exclamou, fazendo a irmã recuar e baixar o rosto.

Belle estava ajoelhada ao lado do seu amado, e os dois tinham as mãos entrelaçadas. Ela lançou um olhar de súplica a Morgana. A sacerdotisa pousou a mão em seu ombro com delicadeza. Belle ainda fitou o marido uma última vez antes de deixar a sacerdotisa dar início ao ritual.

As irmãs recitavam palavras mágicas em um idioma estranho, invocando a força da terra. Morgana concentrava seu poder repetindo uma reza em voz baixa. Em dado momento, ela apanhou um pano branco e o molhou na bacia d’água, sem encostar um dedo no líquido.

Os doze pilares de pedra que circundavam os presentes reagiam às palavras proferidas por Morgana. As runas em sua superfície se iluminaram e os círculos concêntricos desenhados faziam os sons ecoarem pelo lugar, amplificando sua potência. O som parecia entrar nos corpos de todos, vibrando em suas entranhas. A sacerdotisa então molhou a fronte de Rumple, pousando o pano enquanto repetia a reza.

Ela repetiu a ação mais seis vezes, molhando partes distintas de seu corpo. O Aprendiz revelou a Henry em pensamento que aqueles eram os sete pontos vitais, ou chackras. Morgana trabalhava para purificar a energia em cada um deles.

Quando o último foi purificado, ela apanhou a pedra branca com o pano e a pousou no plexo solar de Rumple, absorvendo a energia do homem.

A cor da pedra migrou do branco pérola para o cinza e depois para o negro ônix. A aparência do homem se transformou perante os rostos assombrados de todos. Os traços inumanos foram restaurados para uma aparência normal.

Morgana suava profusamente, empalidecendo a olhos vistos e seu corpo estremecia. Antes que completasse o ritual, ela exclamou o nome de uma das irmãs em tom de urgência. A mulher se apressou em envolver a pedra com o pano e jogá-la na bacia d´água, onde seria purificada de volta.

Belle gritou pelo marido e foi correndo até ele. Rumple abriu os olhos, sentindo-se fraco. A esposa quase se desfez em lágrimas ao ouvi-lo murmurar seu nome. Os demais fizeram menção de se aproximar, mas as irmãs os impediram. O homem ainda se encontrava em um estado vulnerável. Tudo ao seu tempo.

Morgana nunca havia removido tanta energia sombria de uma pessoa. A sacerdotisa não aguentou e colapsou no chão. As irmãs vieram socorrê-la e a levaram para a câmara de repouso.

Poucas horas depois...

— Rumplestilskin...

Seu nome foi pronunciado como um pedido de socorro. Como uma alma condenada ao inferno que implora para ser resgatado por um anjo.

Sua visão foi saudada com a imagem da pessoa que ele mais ansiava rever. Ela tinha os mais belos olhos; azuis opacos, como a cor do céu no litoral da praia em uma manhã de verão. Pares de mãos de cujo toque ele se recordava acariciavam suas faces e cabelo. Ela ostentava aquele eterno sorriso, que era para ele, e só para ele...

— Belle. –ele sussurrou aliviado, como o náufrago que avista terra firme.

O som de sua voz rouca e desgastada pelos anos de sofrimento acenderam uma faísca nos olhos da esposa. Belle se inclinou para lhe dar um tenro beijo.

O casal se deliciou por longos segundos com a carícia, esquecendo-se do mundo à sua volta. Fazia meses que Belle aguardava pela chance de voltar a saborear os lábios que ela conhecia tão bem. Mais do que um deleite, eles tinham virado uma necessidade e ela não poderia viver um dia a mais sem os beijos do marido.

Rumple fitava a esposa de volta surpreso.

— Sentiu tanta falta assim?

Belle não conteve um soluço e seu lábio inferior tremeu.

— Sim. –ela disse em voz sufocada, e as lágrimas escorreram pelos cantos dos olhos antes que ela pudesse contê-las.

O casal se abraçou e permaneceu imóvel naquela posição, reconfortado pela proximidade e calor do outro.

Rumple encarava as próprias mãos. Humanas de novo.

Como isso é possível?

Belle entrelaçou as palmas do marido nas suas e disse:

— Nós pedimos ajuda. E fomos atendidos.

O marido não entendia quem teria poder para purificar a força residual das Trevasdentro de si.

— Quem... onde nós estamos?

Camelot, veio a resposta.

Por um instante, ele pensou que havia sido salvo por Merlin. Somente o bardo teria poder para realizar tamanho milagre. Mas Belle lhe explicou tudo que havia acontecido desde a chegada ao reino.

— Entendo. Então, ninguém sabe onde Merlin está?

— Não. Mas Morgana prometeu que, assim que ele chegasse, nos apresentaria a ele.

— Hum. – ele fez, encarando o corpo da esposa em cima do seu.

Belle estava sentada em cima de sua pélvis, as pernas abertas e acomodando a sua parte inferior do corpo na do marido. Ela vestia uma saia, cujas pontas estavam esparramadas ao redor de seu colo. Os dois estavam perfeitamente encaixados, de tal forma que quando ela se mexia, ele podia sentir cada um dos músculos dela lá embaixo. Ao segundo movimento que ela fez, fingindo ajustar o corpo numa posição melhor, ele se sentiu enrijecer.

Uma expressão marota passou pelo seu rosto.

— Você tem certeza de que quer continuar fazendo isso?

Ela respondeu arqueando uma sobrancelha e inclinando o torso em sua direção. Rumple agora tinha uma visão perfeita de seu decote.

— Por quê? Você não gosta?

Belle começou a sacudir muito lentamente a pélvis, observando de perto a reação do marido. Ele não aguentou e inclinou a cabeça para trás, soltando um rosnado e agarrou a esposa, ficando por cima dela.

— Vem cá. Eu sei o que você quer.

Belle respondeu dando um gritinho excitado e soltando risos esparsos enquanto era presenteada com uma chuva de beijos no pescoço, seguidos de mordidinhas de amor no ombro. As mangas de sua blusa desceram e revelaram seu torso desnudo. Houve uma troca de olhares e o desejo de um foi refletido nos olhos do outro.

Houve mais rosnados e gritinhos excitados intercalados com gemidos; primeiro baixinhos, depois foram aumentando e se tornando mais intensos.

Depois, murmúrios, beijos e juras de amor eterno.

E finalmente, silêncio.

Enquanto isso, em Camelot...

Arthur chegou ao castelo vinte minutos depois. Como ditava a tradição, sua esposa, Guinevere, e seu mais fiel cavaleiro, Galahad, mais conhecido no campo de batalha por seu apelido, Lancelot, lhe aguardavam no salão principal.

Guinevere fez uma mesura, segurando o vestido. — Meu marido. Você já voltou de Glastonbury? –ela disse, mal contendo a surpresa.

Arthur detinha uma expressão intensa que mal disfarçava sua insatisfação.

— Guinevere. Você demorou em sua viagem com... para fora da capital. –ele refreou em mencionar Lancelot.

A mulher reparou em como ele havia se recusado a tratá-la por minha esposa.

— Fui mediar uma negociação de Lancelot com o duque Courtwaith. Eu pensei que a minha presença ajudaria. O duque conheceu minha mãe quando ela ainda era viva. Eu e a filha dele fomos amigas de infância.

Arthur sacudiu a cabeça, e a ira contida em seu olhar diminuiu um pouco.

— Pode se retirar para o seu quarto. Conversaremos melhor depois que eu terminar meus afazeres.

Guinevere obedeceu, lançando um olhar a Lancelot antes de deixá-lo a sós com o rei.

— Majestade, se me permite...

Mas Arthur o interrompeu com um gesto brusco.

— Agora não, Lance. Tenho muito a tratar com meus conselheiros. – ele disse, indo se reunir com os dois padres que requisitavam sua atenção.

O cavaleiro se conteve e fez uma mesura tensa, retirando-se do salão.

À meia-noite...

Todos os serviçais já tinham se retirado. Ao entardecer, um camareiro do seu marido lhe visitara com uma mensagem: Arthur partiria naquela mesma noite para Glastonbury a chamado de Morgana. Aquela era a oportunidade pela qual ela tanto havia aguardado.

Guinevere acendeu uma lamparina e espreitou o corredor. Seu caminho estava desimpedido. Tomada pelo desejo de passar uma noite com seu amante, ela fechou a porta com cuidado e partiu pelos corredores sem pensar duas vezes.

Quando dobrou a última esquina rumo ao quarto de Lancelot, uma voz chamou seu nome do outro lado do corredor. Guinevere reconheceria aquele timbre melódico em qualquer lugar.

— Arthur. –ela disse, hesitante- Eu, eu pensei que você estava viajando.

O loiro não respondeu, caminhando até ela sem um traço de sorriso no rosto.

— Onde você vai a essa hora da noite?

Guinevere controlou a mão para não tremer e revelar seu medo. Ela sabia o que o rei estaria pensando dela agora. Nenhuma mulher casta ficava fora de seu quarto após o cair da noite. Aquelas que eram descobertas fora da cama ou perambulando pelas ruas eram para sempre tachadas de impuras, vulgares, prostitutas.

— Eu ia pegar um copo d’água. Fez calor hoje.

— Então por que você veio parar na ala oposta do castelo?

Guinevere ia mentir que havia se perdido, mas ela não era mais uma virgem recém-chegada em Camelot. Não havia desculpa que convencesse o marido de sua inocência.

— Você veio para ver Lancelot. –ele declarou.

Desta vez, a chama em sua mão tremulou, refletindo a tensão que sofria. Seus olhos olhos cintilavam de medo e sua respiração estava acelerada. Seus lábios formaram uma linha fina e reta e ela cerrou as sobrancelhas.

— Há quanto tempo vocês mantêm um caso?

Guinevere lambeu os lábios secos e baixou os olhos.

— Um ano, meu marido.

Arthur bufou e levou as mãos à cintura.

— Você gosta dele tanto assim?

A mulher ousou erguer os olhos, sem dúvida nenhuma de seus sentimentos pelo amante, mas incerta se admiti-los era o correto a se fazer.

— Eu...ele...

O marido fez um gesto que deu a entender que nenhuma explicação era necessária.

— Todos estão comentando. Eles já sabem que vocês têm um caso.

A revelação atingiu seu coração como uma flecha.

— Mas eu não contei a ninguém.

— E precisava contar? Acha que os serviçais não repararam nos sinais? Na troca de olhares entre vocês?

O coração dela palpitava.

— Eu nunca me vangloriei disso.

— Mas não fez nada para por um fim nesta história. Por deus, Guinevere, você até viajou sozinha com ele!

— E o que é que eu deveria ter feito? –ela gritou, fazendo Arthur recuar e exigir que ela baixassem o tom – Eu tentei te dar um herdeiro. Eu tentei fazer de tudo! Aviltei meu corpo, violei minha dignidade para te ajudar. E olha o que consegui! A pecha de meretriz de Camelot. E ainda por cima, de mulher traída, de...de...

Guinevere arfava, fitando o marido com expressão magoada. Arthur, por outro lado, estava bem lívido. Ele dava graças aos céus que não havia nenhum serviçal, nem visitante hospedado naquela ala do castelo. As próximas palavras que sairiam da boca da esposa poderiam condená-lo s e um padre as ouvisse.

— Você dormiu com... com aquela bruxa, aquela feiticeira, que fez alguma maldição contra mim...

— Isso não é verdade.

— Ah, para com isso, Arthur! Você parece que nasceu ontem! A quem você acha que aquela bruxa serve? Deus sabe o que aqueles hereges fazem naquela ilha, mexendo com rituais e poções! Está na cara que ela amaldiçoou o nosso casamento!

— Guinevere, por deus, olha o que você está dizendo!

— Eu vi a forma com que você olha para ela! – Ela é sua meia-irmã! E eu sou a pecadora suja? Você dormiu com a sua irmã. Você botou um filho nela. O seu herdeiro é fruto do maior pecado que um homem e uma mulher podem cometer! E eu te odeio por isso, Arthur Pendragon! Eu te odeio!

Arthur voltou ao dia em que foi enviado para Avalon e submetido ao ritual do fogo de Beltane, o ritual mágico que unia a Deusa e o Gamo Rei num ato sexual. Mal ele havia completado a maioridade, Arthur havia se deitado com uma mulher cujo rosto estava coberto por uma máscara, assim como o seu. Mas alguma coisa em seu interior insistia que a gravidez de Morgana estava relacionada aos seus atos naquele dia. Agora, falado pelas palavras de Guinevere, qualquer dúvida que restava havia desaparecido.

O marido se aproximou da esposa, mas ela o rejeitou.

— Você sabe disso... você sabe...

Guinevere afundou o rosto nas mãos e chorou copiosamente. Arthur sentiu genuína pena da mulher e mais uma vez se aproximou, acolhendo-a em seus braços. Ele sofria tanto quanto ela, mas não podia demonstrar. Cabia ao homem ser forte pelo casal. Essa era a natureza das coisas.

Do outro lado da parede, Lancelot escutara a discussão em silêncio, vendo que não lhe restava outra opção a não ser partir amanhã cedo do castelo, sem se despedir de seu rei e melhor amigo.


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Notas finais do capítulo

Continua na parte seguinte...



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