Cisne Negro escrita por Gerome Séchan


Capítulo 9
A Lenda de Camelot – Parte 3b


Notas iniciais do capítulo

Aos fãs do ship, tem mais Rumbelle na continuação...



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No dia seguinte, em Avalon...

Heny havia se afastado de sua família por um momento. Mary e Regina haviam iniciado uma discussão, como costumavam fazer sempre que discordavam em pontos fundamentais. David estava tão ocupado em apartar as duas que nem reparou na ausência do garoto.

Seus pés o levaram pela floresta e ele seguia por um percurso onde não havia mais trilha. Henry deveria se sentir assustado por ter se perdido, mas havia alguma coisa na ilha que lhe transmitia muita segurança; tal como uma presença benévola, que estava sempre olhando por ele.

O garoto calculou que devia ter andado por uns bons trinta minutos, sentindo-se em paz com seus pensamentos.

Não adianta o quanto eles tentem; nós jamais seremos uma família de verdade. –ele ruminava.

Henry estava tão distraído que nem se deu conta de que havia ido parar em uma seção estranha da floresta. Ele não reconhecia os carvalhos, nem as amendoeiras dentre as árvores, típicas da flora de Avalon. Ali, a vegetação tinha um aspecto diferente, como se envelhecido. Os troncos eram nodosos, os galhos, secos e curvados. Muitas das árvores já haviam perdido as folhas.

Atrás de si, o caminho estava encoberto pelas brumas. Para onde quer que girasse o rosto, a neblina dificultava sua visão. O garoto moveu os olhos para seus pés. Em um momento, ele estava na trilha. No instante seguinte, a trilha não estava mais ali.

Essa não é a mesma floresta. –veio a ideia repentina, que não era da sua mente, mas da do Aprendiz – Eu caí no plano espiritual sem querer.

Henry deveria entrar em pânico, exceto que seu coração estava estranhamente calmo. Como se ele tivesse a certeza de que, enquanto estivesse na ilha, estaria seguro.

O barulho de algo tombando no solo veio de um ponto mais adiante e Henry deu alguns passos na direção do som. Uma cabeleira ruiva encontrou seus olhos.

— Merida? O que está fazendo aqui?

Mas quando ele viu seu rosto, percebeu que aquela menina poderia ser qualquer pessoa, menos Merida. Pois ele tinha avistado os mesmos traços na barqueira que o conduziu a Avalon.

A vidente não devia ter mais do que seus sete ou oito anos. Ela ergueu uma palma e enxergou Henry por meio de um único olho azul. Em seguida, ela pareceu deliberar sobre uma ideia. Quando teve certeza, ela falou com o garoto, pedindo que a seguisse.

— Espera. Onde você vai me levar?

Mas o pedido de Henry foi ignorado. Não havia saída. Ou ele seguia a vidente ou ficaria para sempre perdido no plano espiritual.

...

Henry acabou indo parar em frente a um casebre feito de madeira. As brumas haviam se dispersado e ele sentiu os raios de Sol aquecerem sua nuca novamente.

A menina gesticulou para que ele entrasse e Henry avistou uma placa de madeira contendo o desenho de três mulheres, todas de idades diferentes – uma jovem mulher, uma senhora de meia idade e uma idosa -, fiando unidas uma imensa trama em três rocas. E logo abaixo, a seguinte inscrição:

Dentre os mortais, existem aqueles tocados pelos deuses. Nascidos com alguma deformidade que os torna únicos e especiais, eles colocam sua habilidade incomum a serviço dos sacerdotes de Avalon, servindo dessa forma à humanidade e trabalhando pelo bem comum.

Aos amaldiçoados com a cegueira mundana ao nascer, os deuses lhes abençoaram com a visão espiritual, do plano situado além dos confins do profano: o Mundo Espiritual. Lá é onde todos os destinos são traçados pela deusa tríplice em um grande tear: a roda do tempo. Pela sua mão é tecida uma grande trama que se estende e encobre o mundo.

Visível apenas aos deuses e aos seus escolhidos, sua textura contém o passado, o presente e o futuro, onde todos os acontecimentos da vida são entrelaçados em fios feitos da própria matéria do tempo, que define todos os caminhos possíveis da existência material.

Como se hipnotizado, Henry adentrou o casebre e encontrou quatro mulheres jovens, todas com cabelos cor de fogo, rodeando um leito onde jazia uma idosa, que respirava com dificuldade.

As quatro imediatamente ergueram as mãos na direção do garoto. Olhos azuis da cor do céu lhe fitavam através de palmas abertas. Quando elas constataram que se tratava de uma criança, baixaram as mãos. A velha no leito ergueu uma mão trêmula e o olho em sua palma se arregalou ao reconhecê-lo.

Em voz rouca, ela pediu: — Por favor, Henry, chegue mais perto...

Ele não fazia a menor ideia de como a idosa sabia seu nome, mas obedeceu de qualquer jeito. A mão da idosa se movia pelos fios invisíveis da trama onde estava entrelaçado o fio da vida do menino.

— O seu destino... ao seu redor, há vários fios, se entrelaçando com o da sua vida... você é o ponto focal. O ponto onde todos eles se encontram, e a partir do qual eles mudam de direção.

A mão se deslocava mais rápido agora.

— O Avatar... o fio dele se entrelaça com o seu no final. O destino dele depende do seu. Sim, eu posso ver. Eu posso ver!

— Ver o quê? –Henry perguntou, incomodado com todo aquele mistério.

— Você tem alguma missão a cumprir. Os deuses não criam coincidências. Sua vinda a Avalon obedecia algum desígnio da Ordem Superior.

Henry se sentia exposto com tantos olhares voltados para ele.

— É você. É sobre você que a profecia fala. Você vai trazer a grande mudança. Sim. Sim! Eu posso ver. Eu posso...

A idosa estremecia, tomada de uma poderosa visão e as palavras ficaram presas em sua garganta.

— Oráculo! – chamou uma de suas irmãs em desespero.

Com um esforço final, ela ofereceu as palmas abertas a Henry e disse:

— Leve os meus poderes.

O garoto recuou, assustado.

— O quê? Não!

— Leve os meus poderes! Você vai precisar deles para enfrentar o teste que está por vir. Você vai precisar deles... salvador.

Henry se sentia como um ladrão; prestes a roubar algo valioso de uma pessoa decente. Mas a aflição da velha era mais forte. Sem pensar direito sobre o que estava fazendo, ele se viu cumprindo seu último desejo.

Suas mãos se tocaram e uma força mágica, poderosa e intensa como uma chama inquieta, atravessou por suas palmas. O garoto se dissociou da realidade e foi acometido pela aparição de milhares de imagens, referentes aos mais diversos planos de existência.

A sensação era de ter sua mente aberta por cima, como se sempre houvesse uma porta escondida em seu cérebro, e poder enxergar tudo que acontecia com o universo com mil olhos. Os mesmos eventos se sucediam de diferentes formas, compondo um todo confuso e impossível de compreender.

Ele sentiu uma mão agarrar seu braço e foi trazido de volta ao presente.

— Respire fundo. É normal se sentir perdido no começo. – disse uma das Videntes, mandando que lhe trouxessem água.

Henry voltou sua atenção para a moribunda, que ainda segurava sua palma firmemente na sua. A idosa abriu um sorriso fraco e deu seu último suspiro. Sua mão tombou no colchão e ficou inerte.

A finalidade daquele ato causou em Henry um impacto inesperado. Ele testemunhava a natureza da morte em primeira mão. Uma força absoluta, imperiosa, inadiável, da qual era impossível escapar.

Suas irmãs se aconchegaram ao cadáver sem demonstrar nenhuma reação a mais. Pois elas já haviam previsto sua morte muitos dias atrás. E no entanto, Henry não deixou de notar a tristeza que elas sentiam no ar perdido e nas mãos que acariciavam os cabelos da falecida. De que adiantava prever o futuro se, na maior parte das vezes, era impossível fazer qualquer coisa para mudá-lo?

A vidente que o trouxe de volta à realidade falou com ele novamente.

— Você entende o que o Oráculo entregou a você?

Henry se limitava a encará-la de volta, sem saber responder.

— Há uma profecia sobre como tudo termina. Ela foi proferida pela primeira vidente da história. O fim do universo virá pelas mãos de uma entidade conhecida apenas como o Avatar da Ruína. Está escrito nas estrelas, onde os sacerdotes leem o futuro. Mas para nós, que enxergamos o outro mundo, ela pode ser lida na grande trama do destino. –ela explicou.

— O que diz essa profecia?

A vidente ergueu o rosto para um ponto distante, entrando em estado de transe. Em seguida, sua mão se moveu de cima a baixo, como se lendo os versos de um poema.

Many years from now, in a land made of fantasy

Where the price of power is measured by dark magic

Once alive in pages, characters will become reality

And the fate of many shall be no less than tragic

.

With the final curse shall the savior become

A black swan, his darkness upon this land

He shall pour until all fairy tales are turned

Into a bleak nightmare with no end

.

When circumstances have become dire

Fate will cast the chosen one onto an odyssey

If to awaken the hero you desire

Listen to the words spoken in this prophecy

.

Within a soul of fire, bravery will be found

The twins of ice will stumble on your path

One holds a staff, the other wears a crown

A dark prince will awaken from a long nightmare

.

The god who manipulates the sand of dreams

A pirate’s treasure worth more than gold,

Deep beneath the earth, find the lonely king

A vizir, the truth about his father he’ll unfold

.

By the hands of the hero, the blessing finally might

Restore the heart of darkness back into light

But even should the power to vanquish evil be unleashed

The Earth might still be consumed by the Apocalypse

.

For the secret lies in the dark one’s lineage

His long, hard path will lead him to a bifurcation

Once awakened to the truth about his heritage,

A choice he must make: destruction or salvation

.

Light may prevail, good may come through

Darkness may finally meet its demise

But for the holy blessing to come true

The cost is nothing short of a personal sacrifice

.

But should the hero fail, heed my words

The future may not yet be set in stone

Should his hand by cowardice be deterred

The descendant shall become the new Dark One

.

And Mankind will watch as disaster unfolds

All hope will be lost, all dreams will fade

As the Avatar of Ruin walks on this world

Leaving nothing but destruction in its wake

A leitura da profecia parecia exigir da vidente uma grande dose de energia e ela colapsou na cadeira de palha, estremecendo e suando frio. Suas irmãs vieram ajudá-la e a deitaram numa cama.

De sua parte, Henry continuava confuso. Ele recitou os versos fora de ordem em voz baixa, tentando fazer sentido do que eles diziam. Muitas partes continuavam um mistério para ele. Mas quando ele entendeu a história que eles contavam, teve uma importante realização.

— Então a Bênção de Merlin pode não funcionar?

A vidente, agora deitada na cama, fez com a cabeça que não.

— A única maneira de evitar que as Trevas destruam o universo é com a Bênção. - ela disse em voz fraca – Mas somente isso não vai impedir a passagem do Avatar da Ruína.

Henry não compreendia como o Avatar continuaria a existir depois de sua mãe ser derrotada.

— Não entendo. Por favor, me diga: o que eu tenho de fazer para impedir esse Avatar?

— O beijo do amor verdadeiro. Sim; ele é capaz de quebrar a maldição das Trevas. Mas a Maldição Final exige algo mais poderoso para confrontá-la. – a vidente deu uma pausa – A essência dos poucos escolhidos, resistentes ao poder das Trevas.

Sua voz foi desaparecendo e Henry ainda tentou perguntá-la a identidade dos escolhidos quando Regina e seus avós apareceram na porta.

— Graças a deus, meu filho! Por que você saiu correndo daquele jeito? Procuramos você por toda parte! – Regina exclamou, acolhendo-o em um abraço.

Henry se desvencilhou da mãe e se virou para a vidente, mas ela havia desmaiado.

— Vamos, querido. Vamos sair daqui. – Regina disse, puxando o filho pela mão. Relutante, Henry obedeceu, virando o rosto mais uma vez na direção das quatro mulheres antes de deixar o casebre.

...

A mão de Rumplestilskin deslizava pelas costas de Belle, num lento indo e vindo contínuo. Sua esposa ronronava de prazer. A mão às vezes desviava do percurso e explorava a pele sensível debaixo do seu seio. Em outras, ela fazia um trajeto mais ousado e afagava uma nádega, dando pequenos apertos gostosos.

— Para. – fez Belle, dando risadinhas, fingindo que afastava a mão do marido. Ele respondeu dando um tapinha, ao que ela girou o rosto e deu-lhe uma chuva de beijos, roçando a perna na sua.

Ela descansava a cabeça na curva de seu pescoço, ao que Rumple fitava o teto. Da última vez que ele estivera com a esposa, fazia quanto tempo? Um mês? Dois? Sem contar com o longo período enquanto esteve inconsciente...

— Você nunca teve uma noite de núpcias. –ele disse de repente.

— O quê?

Rumple baixou a cabeça e os dois se fitavam.

— Eu nunca te proporcionei uma noite de núpcias. Quero dizer, nós casamos, mas depois da cerimônia, não acredito como isso ficou esquecido.

Belle desviou o olhar.

— Bem, me lembro que você estava preocupado na época. Você sabe como a nossa vida é agitada. Sempre tem – tinha, na verdade - alguma coisa acontecendo em Storybrooke. Acho que isso acabou ficando em segundo plano.

Rumple franzia o cenho com a indulgência excessiva dela.

—Sim, mas isso não é desculpa para eu nunca ter te proporcionado isso. Não é à toa que você me trocou pelo Will.

Ela ajeitou sua posição para ficar cara a cara com o marido.

— Então é disso que se trata? Rumple, eu não te troquei porque nunca fomos para a cama. Acha mesmo que eu seria fútil a esse ponto?

Pela primeira vez em anos, ele se lembrou da Belle que conheceu na Floresta Encantada; uma mulher única, de personalidade e atitude, como havia sem igual no mundo. A princesa que sonhava em ser uma heroína, que se sacrificou ao aceitar partir com um monstro.

O amor é complexo, um mistério implorando para ser desvendado. Eu jamais poderia me apaixonar por um homem tão fútil quanto Gaston.

Era por essas e outras que Rumplestilskin era apaixonado por aquela mulher.

— Não, Belle. Eu acho que não. Mas eu queria ter sido um marido melhor para você. Desde que eu te encontrei de novo, eu não deveria ter duvidado do seu amor.

Ela abriu um daqueles sorrisos misteriosos, que dissolviam seus temores e o desarmavam, baixando suas defesas, descortinando a alma.

— Aí está o Rumple que eu conheci. E que eu amo.

Ela inclinou o rosto, enchendo-o com uma nova chuva de beijos. Rumplestilskin se sentiu levado pelas carícias de Belle; sua essência se dissolvia a partir da boca, indo até o maxilar, o nariz, os olhos e o resto do rosto. Sua mente estava desligada; tudo que existia era aquele momento; a respiração conjunta dos dois que batia no rosto um do outro, o ritmo do toque de lábios, o calor da proximidade.

Seus lábios estavam inchados de tanto beijar e serem beijados. Por anos; não, séculos; lhe foi negado esse prazer. Agora, ele se deliciava na abundância de sensações, feito um faquir que por muito tempo havia se negado alimento; o alimento da alma. O Senhor das Trevas, que sempre fora tão cerebral, tão cauteloso, nunca tomando nenhuma ação que não fosse premeditada, agora se deixava entregar ao momento, deixando-se guiar pelos sentimentos cegos, perdendo-se no amor de Belle.

A lembrança de seus dias como o Senhor das Trevas retornou e ele descobriu ter memórias que não possuía.

Seus lábios pararam de se mover e suscitaram a desconfiança da esposa.

— O que foi, meu amor?

Rumple via o gnomo negro saindo do espelho e andando de um lado para outro em seu antigo castelo. Ele gesticulava e falava, indicando que havia mais alguém no recinto.

Um vestido preto com uma cauda impossivelmente longa. Um decote que descia até o plexo solar, revelando a pele alva por baixo. Um coque alto elegantemente penteado. Olhos frios, que denotavam indiferença e desprezo em um rosto familiar.

O diálogo travado entre as duas criaturas se repetiu em sua mente e ele foi tomado pelo pânico.

— Essa não...

Belle viu o marido ficar agitado e levantar da cama, colocando sua roupa de volta apressado. Ele pediu desculpas e mandou que ela não deixasse o quarto para sua própria segurança.

Rumplestilskin saiu correndo pelos caminhos sinuosos da ilha de Avalon, gritando pelo nome de Morgana. Ele precisava alertar a sacerdotisa. Todos em Camelot estavam em perigo.

Alguns minutos antes...

Merida retesou o arco novamente, concentrando-se com intensidade. A flecha voou e acertou longe do centro do alvo. A jovem grunhiu de frustração.

Henry, que resolveu ficar com ela na área de treinamento em vez de voltar aos dormitórios com sua família, fez um comentário.

— Você está tensa. Isso está afetando sua mira.

— Habilidade com o arco não tem nada a ver com algo tão leviano quanto mudança de humor! –ela rebateu.

O garoto deu de ombros, murmurando um Ok.

A ruiva retesou o arco mais uma vez, pensando nos problemas de casa. A flecha acertou uma galinha que ciscava por perto.

— Ei! –fez Henry.

— A culpa é dela de ficar andando solta por aí. Tem gente treinando com espadas mais adiante. – ela retrucou.

Merida respirou fundo, preparando-se para tentar uma terceira e última vez. Não adiantava; seus pensamentos se voltavam para a mãe e o fatídico dia em que ela se deparou com a ursa na floresta. Sua mão vacilou na corda, estremecendo pela primeira vez desde que ela pôs a mão em um arco...

Ela sentiu uma mão pousar em seu ombro e apertá-lo de leve.

— Eu sei o que te preocupa. Sua mãe e a maldição que a acomete. A ursa fugiu pelas florestas antes que você pudesse impedi-la.

Merida havia lutado tanto contra a tristeza, que ameaçava aflorar a qualquer minuto...ela não aguentou mais a pressão e desabou, deixando lágrimas escorrerem desimpedidas pelas faces.

— Ela está em perigo por minha culpa...porque eu fui egoísta demais para tentar conversar com ela.

A voz da arqueira saía aguda e contraída, e sua expressão se contorcia de dor e arrependimento. A sacerdotisa a acolheu em um abraço e deixou que ela se acalmasse.

— Sinta a dor. Nós viemos a esse mundo para aprender. A dor se converte em experiência, que vira aprendizado e enriquece a nossa alma. Se você conhecer seus próprios sentimentos, passará a dominá-los ao seu favor, e não se deixará dominar.

Merida se deu conta de que as palavras soavam como uma espécie de estratégia. Sentimentos também faziam parte de um guerreiro. Eles podiam paralisá-lo e condená-lo à derrota ou elevá-lo acima do medo e garantir sua vitória.

A arqueira fitou a sacerdotisa com admiração eencontrou Morgana sorrindo com benevolência.

— Agora, vou lhe ensinar um truque, muito usado pelos sacerdotes de Avalon...

Morgana mandou a jovem ficar de frente para o alvo de novo. A seguir, ela lhe pediu que imaginasse uma redoma branca ao seu redor, como um espaço vazio, no qual ninguém poderia entrar em sua permissão. O mundo não existia. Avalon não existia. Dentro da redoma, haviam apenas Merida e o alvo.

— Respire devagar. Mantenha os olhos fechados.

Merida sentiu as batidas de seu coração se acalmarem e voltou a fitar o alvo. Sua mão retesou a corda, mirando o arco no círculo vermelho sem estremecer...

A certeza dentro de seu peito cresceu e uma aura luminosa acendeu no campo astral da menina. Henry ia exclamar alguma coisa, mas um olhar de Morgana bastou para interrompê-lo.

Tal qual um raio de Sol, a flecha atravessou o ar e voou segura em sua trajetória, atingindo o centro do círculo. Merida encarava o alvo, iluminado pela energia luminosa.

— Você conseguiu. – veio a voz distante de Henry, impressionado.

— O que foi isso? – ela perguntou.

O olhar de Morgana cintilava ao encarar a arqueira de volta.

— Magia. Tal qual os primeiros humanos a caminharem sobre o mundo, você despertou a magia latente dentro de você.

Uma hora depois...

Morgana havia sido chamada nos aposentos de Viviane. A Senhora do Lago não saía da cama há semanas desde a partida de Merlin. Após uma conversa, a sacerdotisa agora sabia o porquê da indisposição de sua mestra.

A situação era como os visitantes haviam contado. As Trevas, uma força combatida há muitos séculos pelo mestre de Merlin, voltavam a atuar na realidade material. Morgana desconfiava de um fato desde a chegada deles. As Trevas ainda não tinham poder suficiente para ameaçar os mundos da maneira que eles descreviam. Pois Merlin havia se certificado de reforçar o selo que as mantinham presas em uma dimensão inquebrável.

Agora, parecia que alguma coisa havia interferido no status quo.

Ainda febril, Viviane disse que Merlin havia discutido com ela e viajado para a dimensão secreta. Viviane tentou impedi-lo de cometer uma besteira, mas o velho era teimoso. Ele preparou uma poção e contaminou sua comida para se assegurar que viajasse sem ser seguido.

Nada do que Viviane dizia batia com o comportamento do bardo, sempre tão responsável e comedido. A mente de Morgana estava agitada, e seus pensamentos giravam em torno de uma única questão: o que teria perturbado o Grão-Sacerdote de Avalon para justificar ele tomar uma atitude drástica?

A sacerdotisa dispensou os guardiões do quarto de Merlin e adentrou o recinto. Sem perder tempo, ela abriu seu armário, vasculhando no lugar que Viviane lhe ordenara. O pequeno baú com runas vermelhas parecia intocado.

Morgana respirou aliviada. Então o Grão-Sacerdote não havia apelado para a Maldição Final...

— Ele violou o baú e levou o pergaminho antes de ir embora da ilha. –disse uma voz infantil detrás dela.

Morgana se virou e reconheceu a filha de Esther parada na soleira da porta. A menina voltava da pequena missão que a sacerdotisa lhe conferira para o garoto, Henry. Ainda nova demais para ter suas primeiras visões, a criança fazia como lhe era ordenado, fitando o mundo através do olho azul em sua palma.

— Quando foi isso?

A menina informou que foi no mesmo dia em que Viviane caiu doente. E que isso aconteceu um dia depois de Morgana deixar Avalon.

De sua parte, Morgana não podia evitar pular para uma desagradável conclusão: a de que Merlin havia esperado a sacerdotisa ir visitar Arthur em Camelot para violar o baú.

— Você o viu levando um pergaminho?

A menina sacudiu a cabeça, fazendo que sim. Em seguida, ela apontou para o círculo de pedras do lado de fora, e para o espaço entre um dos arcos em específico. O rosto de Morgana se contorceu em uma expressão de puro terror.

Aquele era o portal proibido, cuja passagem havia sido vetada desde a guerra na qual o mestre de Merlin participou.

A sacerdotisa tentou fazer sentido de tudo que havia visto e ouvido naquele dia. Merlin partira para combater as Trevas sem permissão de Viviane e levara consigo o pergaminho proibido. A sacerdotisa sabia que ele jamais deveria ser retirado sem permissão da Grã-Sacerdotisa. E Merlin tinha plena consciência do crime que havia cometido.

Só havia um motivo para o mestre dele ter escrito a Maldição Final: durante a batalha contra o criador das Trevas, o mago roubara a magia de seu inimigo prendendo as palavras no pergaminho, para nunca serem proferidas por quem não o detivesse.

Se as Trevas tivessem acesso àquelas palavras...

A menina ao seu lado tombou no solo e começou a gemer. Como acontecia com todas de sua idade, ela estava tendo sua primeira visão. Quando ela voltou a recobrar a consciência, disse que imagens confusas a acometeram.

Morgana sabia que os deuses haviam escolhido a pequena para lhe transmitir alguma mensagem importante. Ou assim ditava a religião de Avalon.

— O que você viu?

— O mar. Uma tempestade. Avalon sendo arrastada por uma ventania.

Morgana sentiu medo naquela hora, mas não demonstrou. A visão confirmava os pesadelos mais recentes que ela vinha tendo.

— O que mais?

— Camelot. O castelo. Um velho entra lá. Depois, fogo e cinzas.

— Deuses... - murmurou a sacerdotisa.

Do lado de fora, vozes se exaltavam.

Onde ela está?

Que isso, mas o que houve? Acalme-se!

Fale logo onde ela está, droga!

Morgana fez a menina se sentar na cadeira e abriu a porta. Rumplestilskin gritava em desespero enquanto sacudia uma das irmãs novatas. A sacerdotisa emergiu do quarto e o homem foi até ela, exclamando que a havia procurado em todo canto daquela maldita ilha.

— As Trevas sabem que nós estamos aqui. Elas estão vindo para Camelot!

Rumplestilskin se virou para a filha de Esther e perguntou se ela via sombras ou algo parecido na visão, mas ela fez que não.

Morgana se virou para a noviça e, sem dizer uma única palavra sobre a visão, transmitiu suas últimas ordens.

— Avise a Esther que vamos voltar a Camelot. Depois volte para cá e mande as irmãs ajudarem nossos convidados a se prepararem. Enquanto isso, vou me despedir de Viviane.

— Espere! O que está acontecendo? Por que a urgência em voltar?

Morgana se virou e respondeu:

— Porque Merlin viaja neste mesmo instante para Camelot.


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Notas finais do capítulo

Na conclusão do arco de Camelot, Morgana e seus novos amigos descobrem que o castelo está sob ataque de forças desconhecidas. Os heróis finalmente encontram Merlin e uma batalha será travada pela salvação do reino.



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