Dentro do Espelho escrita por Iuajen


Capítulo 9
Passado Sombrio


Notas iniciais do capítulo

Fantasmas, Cemitérios e a introdução ao passado.



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Quando finalmente chegaram no hotel novamente, a sombra azul, ainda estava como porteiro, e as bolinhas de pus também estavam ali, agora estando bem perto, Irene percebeu que elas estouravam e logo depois surgiam outras, podendo estarem de tamanhos diferentes antes de explodir. O porteiro que estava observando o movimento lá de fora, acenou para Umbra quando o viu e assim que chegou perto o suficiente o cumprimentou.

– Ora, ora, ora... você não se cansa das Pequerruchas? O que te trás de volta? Depois de sair correndo com a garota daquele jeito? Esqueceu algo?

Umbra que parecia com pressa por estar batendo os pés enquanto escrevia virou-se para ele com o bilhete.

"Preciso da chave do subterrâneo para chegar até a mansão dos fantasmas e ver se encontramos os tais de papai e mamãe para a Irene."

– Irene eh?
Enquanto ele entonava a voz de forma indagadora, duas bolinhas explodiram juntas no ombro, o lugar tomou um tom mais claro de azul. Olhou para ela e depois retornou para Umbra.

– Esse tipo de coisa tem nome também?

Irene por outro lado parecia bastante impressionada com aquelas mini explosões de pus que deixavam o azul mais claro.

– Faz de novo! Faz de novo!

"Sim, todos os humanos, possuem nome. Assim como nós. Agora você pode por favor ir buscar a chave?"

Umbra virava seu rosto toda hora para a porta, com certeza tentando ver se Vicent se aproximava. Mas um barulho de batida fez com que Umbra voltasse e visse o punho do porteiro no balcão.

– Você tá tirando com minha cara?

Irene não percebeu o tom ameaçador de voz da sombra, pensando que era somente uma pergunta sem sentido, respondeu.

– Mas... não tem como tirar uma cara. E mesmo se tivesse, você não tem cara.

Outro punho bateu no balcão, dessa vez estourando algumas bolinhas de pus e fazendo o balcão ficar sujo. Umbra se pôs a frente quando a sombra fez uma tentativa de pegar a garota.

" Ela é só uma criança. Ela não sabe... Agora pela terceira vez, você pode por favor nos dar a chave?"

Ele pareceu se afastar, e Irene olhando para os pés, sem entender, mas achando que fez algo errado, expressava um rosto de arrependimento e murmurou:

– Desculpe... foi sem querer. Prometo que não faço de novo.

Desconcertado, a sombra voltou com o braço novamente para dentro, e virou sua cabeça para Umbra.

– Tá... Tudo bem, eu vou lá pegar as chaves, podem se sentar. O velho enzo deve ter deixado a chave na sala dele... Meio birutão ele.

Quando ele se virou, ambos conseguiram ver uma grande bolota na nuca dele. Era tão grande quanto um botão, um pouco mais adiante explodiu, fazendo com que ele limpasse com a própria mão. Irene não pode deixar de soltar uma risadinha tentando ao máximo não fazer barulho.

Umbra fora se sentar na cadeira, dando olhares de tempos em tempos para o lado de fora, quando a garota percebeu o que ele tava fazendo, o imitou, provavelmente imaginando se Vicent já voltara do hotel, ele não deve estar muito feliz.

Alguns momentos depois, a sombra azul estava de volta, dessa vez com uma bolota do tamanho de um limão na testa e estava inchando. Irene encarou a bolota por uns dois segundos antes de começar a gargalhar auditivamente, apoiando uma das mãos no balcão e segurando a própria barriga enquanto seu rosto começava a ficar vermelho.

Assutado pela mudança de cor da garota, o porteiro deu um passo para trás, as outras sombras que passavam pelo lugar também pareciam estar mantendo a máxima distância e cochichando umas com as outras.

– E- Ela tá virando um deles?

"Não. É uma reação normal. Acontece quando eles ficam sem ar."

Parecia impossível que Irene ia parar de rir em algum momento, aquilo na testa dele já tomava quase a proporção de uma laranja.

– Como você sabe, que ela não vai virar um deles?

" É impossível para um humano se tornar. Somente nós sombras, e ela não está irritada, ela está rindo."
Umbra se aproximou da garota e mostrou um bilhete.

"Pare de rir, temos que ir embora, antes que Vincent chegue."

– Tá.. Tá...

Ainda com a barriga doendo, ela parou de rir e começou a tomar ar novamente, seu rosto novamente tomando a cor normal. Umbra pegou a chave da mão do porteiro e deu a mão para Irene, e juntos seguiram para uma escadaria, porém antes de descer Irene perguntou aos gritos.

– É mesmo! Eu esqueci de perguntar... Por que você não toma banho senhor?

– Meu nome é Esnai para sua informação e não senhor. E é pelo meio-ambiente! A água tá acabando e se todo mundo tomasse banho somente uma vez a semana, esse problema acabava! Então estou fazendo minha parte!

– Que legal!

Umbra, pegou a mão da garota e desceu os degraus rapidamente, em um ponto a soltou.

"Não deixe de tomar banho Irene! Não é higiênico e você pode pegar doenças. Não sei até hoje como ele não pegou."

– Tá ok! Mas e a questão da água como fica?

" Se as pessoas não tomarem banho, a água ainda vai acabar... não é esse o problema, agora vamos."

Pegou novamente a mão da garota, um pouco mais forte que o costume, parecia que não queria conversar muito e estava bem apressado. Desceu mais alguns jogos de escadas e chegou em uma porta de madeira bem trabalhada, abriu e deu de cara com um grande corredor lateral. Após fechar a porta e guardar a chave, Irene soltou uma exclamação quando o barulho da porta fechando ecoou e apertou a mão da sombra com mais força.

Juntos seguiram pelo corredor que parecia não haver nada além do piso que por estar bem escuro, não dava para saber o que era, a medida que avançavam o aperto na mão de Umbra aumentava com Irene resmungando que era para ele não soltá-la de forma alguma, ameaçou odiá-lo e e ficar de mau. Como resposta, ele apenas apertou a mão dela com mais força. Um pouco depois conseguiram ver uma rampa com dois corrimões que subia, iluminando parte da saída.

Quando saíram a primeira coisa que viram foi uma lápide muito grande, e um aglomerado de terra na frente.

– Sa-ccom?

Lendo o que estava escrito na lápide, Irene virou-se para Umbra que por sua vez já pressentindo a pergunta, estava escrevendo antes mesmo da garota falar.

"Seccom. Foi a primeira sombra a viajar pelo espaço, criou sua própria espaçonave e só por curiosidade também, era um excelente pianista.

– E como ele morreu?

" Esfaqueado e na própria espaçonave. Não sabe quem o matou, mas segundo a mídia, a nave ainda foi até marte e depois voltou. Isso foi no ano que eu nasci."

– Quantos anos você tem?

" Dois mil e quatro"

– Sombras vivem tanto assim?

" Eu sou bem novo ainda. Mas sombras não morrem por velhice como vocês humanos, mas se tirarem nossa cabeça ou por doença, ou por qualquer outra coisa ainda morreremos da mesma forma.

– Que legal!

"É... é sim..."

Movendo a cabeça em direção a frente, Umbra pegou a mão da garota e a levou a frente, enquanto ela observava o cenário a sua volta.

Uma névoa densa parecia envolver todo o lugar, deixando de fora somente a lápide de Seccom. Ainda dava para ver outras pequenas lápides espalhadas pelo lugar, e o caminho era bem estreito porque vários aglomerados de terras ficavam a frente das lápides, lá em cima a lua brilhava.

– Mas não tava de noite quando a gente saiu do hotel.

" É que aqui no cemitério, alguém teve a genial ideia de que sempre será noite e iluminada pela lua."

– E quem foi?

" Você a conheceu... a bruxa. Segundo ela: (Um cemitério não é um cemitério se não houver névoa e uma lua cheia iluminando tudo.)" Depois ela riu e ficou um ano preparando a magia para transformar esse lugar."

– Uau! Ela é tão forte assim?

" Antigamente sim. Agora, ela perdeu os poderes, graças a um acontecimento na mesma época que a morte de Seccom. Desde então se enfunou naquele quarto com os polvos de pelúcia, sorte a dela que alguns itens da coleção dela ainda funcionam."

Irene pegou sua coroa e a olhou, sorriu e depois botou novamente, e apertou a mão de Umbra. Enquanto era guiada por ele, ela procurava em volta alguma coisa. Depois de um longo tempo andando pelas lápides, finalmente chegaram em um caminho feito de pedras, após mais um longo tempo seguindo o caminho, chegaram em uma porta e sombra se virou para a garota.

" Me prometa uma coisa. Para entrarmos na mansão juntos temos que fazer uma coisa antes. E assim que percebi que seu pesadelo na verdade era uma volta ao tempo, eu sabia que eu não podia escapar disso. Então eu quero duas coisas. Que você me perdoe por ter tentando lhe deixar naquele momento, eu não sou corajoso e eu não quero passar por tudo que passei novamente. A segunda coisa que eu quero que você faça, é confiar em mim porque apesar do que fiz antes, por minha covardice, eu me arrependo verdadeiramente e se pudesse faria tudo diferente e você é a minha forma de redenção, é a forma que eu tenho de me desculpar com o passado, é não deixar acontecer de novo. O que eu quero que você me prometa é que apesar de tudo o que ver, fique comigo até eu te tirar daqui, eu lhe prometo que assim farei, não importa o perigo que estiver.

Irene não entendeu quase nada do que estava escrito, coisas sobre o passado, covardice, pesadelos e desculpas. E ela não pôde nem reler o que estava escrito, Umbra já havia amassado o papel e feito em pedacinhos, estavam na frente da porta e Irene notou que Umbra estava tremendo bastante, antes de colocar a mão na maçaneta.

Uma escrita brilhante se fez na porta e nela se lia:

"Memórias compartilhadas, futuros entrelaçados"

– O que significa essas duas palavras bem grandonas ai?

"Significa que você também deve por a mão na maçaneta."

– Tá... mas...

" Apenas coloque... por favor..."

Umbra começara a tremer novamente, parecia estar se esforçando bastante para manter a mão na maçaneta, já que estava firmando com o outro braço. E obedecendo a ordem de Umbra ela colocou uma das mãos na maçaneta, a outra no entanto segurou a sombra.

– Tá tudo bem. Vai ficar tudo bem.

E aquela pequena criança, apesar de tudo que aconteceu com ela, estava tentando confortar a sombra que ainda estava tremendo. Outra frase apareceu na porta.

Estão Prontos?

– Sim!

Irene gritou, um sim alto, já Umbra apenas grunhiu após uma longa pausa, onde se virou para Irene e para a mão que segurava sua roupa. E então a porta abriu e um clarão branco os cegou.


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Notas finais do capítulo

Esse capítulo é o predecessor para o passado de Umbra. Nos próximos três capítulos entraremos mergulhando nas lembranças de Umbra e com ele, algumas respostas.



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