Dentro do Espelho escrita por Iuajen


Capítulo 6
O Rei Branco


Notas iniciais do capítulo

Bastantes dúvidas irão surgir na cabecinha de vocês nesse capítulo. Mas nesse capítulo, será explicada a existência do garoto loiro e o que ele é. Boa leitura.



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O céu era laranja, mas nuvens ainda eram brancas. Mas apesar do cenário bonito, mas estranho, a garota ofegava ainda nos ombros de Umbra, assustada, mas com os olhos abertos, ela abraçava Umbra com força.

– Q-quem era ele? Por que ele é do mal? O que aconteceu com ele?

Umbra colocou a garota no chão. E se sentou no chão, poderia ter se escorado na parede, mas não havia nenhuma por perto.

"Nós o chamamos de Vincent."

– Vincent?

"É. Ele é uma sombra que tomou forma, ele é como uma versão evoluída das sombras.

– O que é "evoluída?"

"Uma versão melhor."

– Mas Umbra é bem mais legal que ele, por que ele é melhor? Umbra é melhor que ele.

"Enfim, ele se mantinha na forma vermelha dele, lembra? Bennet?"

– Aquela que me machucou? Também não gosto dela, você é mais legal que ela.

"Sim, essa mesmo. Ele preferiu aquela forma, onde nós nos tornamos agressivos e incapaz de racio... de pensar."
Ele percebeu que falar palavras difíceis só ia causar, mais perguntas de Irene.

– Então, é como se vocês virassem animais? Tipo Leão e cobra?

"Nunca ouvi falar de leão e cobra, mas sim, como animais selvagens. Ele no entanto, após muito tempo naquela forma, virou aquilo que é agora, não sei bem explicar o que é... mas é como se ele fosse constantemente agressivo, porém pode racio... digo... pensar."

– O que é constantemente?

"Significa, (para sempre)"

"Então, Irene, fique longe dele. Ele é perigoso, e gosta de atormentar seres que parecem ser pequenos e frágeis."

– Ei! Eu não sou pequena! Eu sou a maior da minha sala! Mas você é bem maior que ele. Com você, não tem o que se preocupar né?

Umbra colocou uma mão em sua cabeça. De alguma forma parecia exausto, apesar de tudo, ele também sentia um medo bastante forte de Vincent, aquilo que aconteceu, aquilo... não tem como esquecer...

Perdido nos pensamentos, Umbra pareceu se assustar quando Irene embaixo dele, o olhava curiosa. Era uma garota corajosa, mesmo com Bennet e depois Vincent, a garota não parecia estar com tanto medo.

"Tudo bem então. Vamos, meu amigo vive ali em frente."

– Isso que eu ia te perguntar... Onde a gente tá? O céu é laranja, não tem parede em volta, o chão é um quadrado preto e outro quadrado branco, e olhando lá em baixo é só um grande laranja.

"Ahhh, não se preocupe, aqui é o reino do Rei Branco."

– Rei Branco?

"É, mais a frente tem o palácio, mas tome cuidado, eles estão em guerra com o Rei Preto, já faz algum tempo, eles invadiram o castelo, a rainha, derrotou vários, mas morreu. Desde então o Rei Branco nunca mais foi o mesmo."

– A namorada dele morreu? Que triste.

Algumas lágrimas começaram a se fazer nos olhos da garota que foram rapidamente notadas por Umbra.

"O que é isso?"
Disse Umbra apontando para os olhos da garota.

– Ahm? Ah, você não tem olho, então não chora?

"Chora?"

– Quando a gente fica triste por algo, ou com muito sono, a gente chora, ai cai essa aguinha dos nossos olhos.

" Vocês humanos, são estranhos."

Irene riu, ela não sabia o significado de ironia, mas com certeza era isso que ela achava, por uma sombra dizer que ela era estranha.

– Vocês que são.

Umbra se levantou, e Irene também, foi quando ele sentiu algo agarrar sua mão.

" O que você tá fazendo?"

Irene que estava nas pontas dos pés, para conseguir segurar a mão da Sombra, fazia um esforço para falar.

– Eu to... Unnngg segurando na sua mão.

" Mas por que?"

– Papai sempre segura minha mão, quando a gente sai, ele diz que é perigoso.

Tomando em conta os últimos acontecimentos, era realmente perigoso deixar essa garota sozinha por ai. Umbra concordou com esse tal de papai que ela tanto fala, se o mundo deles fosse perigoso como esse, uma criança como ela jamais poderia andar desacompanhada.

"Tudo bem. Não solte a minha mão."

E caminharam, Umbra se curvou um pouco para que Irene não precisasse ficar na ponta dos pés, e como resultado, sua mão e seu braço, agora era propriedade da garota que insistia em balança-los, assim como seus ouvidos para a pergunta: "Nós já chegamos?" E sua outra mão para escrever: "Ainda não". Um pouco mais a frente, uma parede branca nas laterais foi vista pela garota que novamente perguntou.

– Agora a gente chegou?

"Sim. Mas calma eu tenho que falar com os peões."

– Peões?

"Soldados. São eles que protegem o Rei da invasão inimiga, são os de maior número nesse reino."

Os dois seguiram em frente, e chegaram em um grande portão com oito coisas brancas na frente. Eram indubitavelmente peças de xadrez, peões. Uma pena que Irene não sabia reconhecer, porque nunca jogou e nunca ouviu falar. Umbra parou na frente deles e escreveu.

"Oi, eu sou Umbra, um velho amigo do rei de vocês. Esta aqui é Irene, precisamos falar com ele, para ele não deixar que aconteça de novo."

– Acontecer o que de novo Umbra?

"Segredo. Meu e do rei."

Irene emburrou a cara. Estava murmurando algo como "Me conta. Me conta." Mas não quis dizer em voz alta, Umbra por outro lado esperou a resposta dos peões.

– Tudo bem senhor Umbra, nós nos lembramos do senhor. Pode entrar, mas tome cuidado, como você sabe os Bispos são bem... como posso dizer... desconfiados, principalmente os da casa branca.

Umbra que sabia muito bem das desavenças entre os bispos das casas brancas e os bispos das casas pretas, entendeu que a cor dele, para os das casas brancas era motivo de desconfiança, e não só isso traição eram algo recorrente entre membros das duas casas, sendo "sacrifício" a desculpa mais usada.

O portão abriu, e Umbra e Irene entraram, com Irene acenando um tchau para os peões que sem braços ou pernas, apenas olharam para ela e disseram "tchau" como resposta.

– Ei, Umbra, como eles se movimentam?

"Os peões, eles se movimentam sempre pra frente, e um desses quadrados por vez, em combate, eles literalmente esmagam o oponente que estiver em uma das diagonais."

– Diagonais?... Ah... Sim.
Irene lembrou da aula, que explicava as posições, diagonal era aquilo que não ficava nem na vertical, nem na horizontal.

– Mas como eles se movem se eles não tem pernas?

"Todos daqui, se movimentam pulando."

– Eles pulam, sem pernas?

"É."

– Que estranho. Eles só tem aquela coisa redonda ali, uma bolinha no lugar da cabeça e aquela coisa ali seria o corpo?

"Exatamente, os outros são um pouco diferentes, mas todos tem aquela bola amassada embaixo deles para se mover pulando."

– Mas todos tem olhos e boca?

"Sim."

– Que estranho.

Um pouco mais a frente, se via outras peças que pareciam bem desinteressadas nos dois, eram bem parecidas com os peões, mas uns possuíam uma cara de cavalo bem grande no lugar da bolinha, outros tinham um chapéu grande com uma bolinha bem no centro, e um corte na parte frontal. Outros eram literalmente torres em miniatura.

– Nossa, que tanto de coisa.

" Eles são peças, é um nome estranho para uma raça, mas todos eles são peças, a diferença entre eles são chamadas de sub-especies."

– Subispecies?

"Ahhmmm..."

Perdido e sem saber como dar um bom exemplo para explicar, ele se lembrou dos vestidinhos.

"Sabe, existem vários tipos de vestidinhos, eles não deixam de ser vestidinhos, mas são diferentes."

– Então vestidinhos diferentes são subispecies também?

"Não, só para gente que é vivo."
Lembrando que palavras difíceis estão proibidas, então usar o termo ser vivo não é permitido.

"Subispecie é para coisas que são iguais, mas também são diferentes? E só serve pra gente vivia?"

"É... mais ou menos isso."

– Tá.
Ela não entendeu. Mas desistiu de tentar entender.

Os únicos que pareciam se importar, eram os de chapéu que estavam nas casas brancas, pareciam olhar para Umbra com maus olhos, mas nenhum deles fez nada, e nem parecem ter dito nada. Continuaram andando, passando pelas peças até que chegaram em uma grande porta de madeira, onde uma imagem de uma coroa com uma cruz em cima e a palavra REI estavam encravados.

– É aqui?

"É sim Irene. Atrás dessa porta, o rei das peças brancas dá ordens as outras peças."

– Hummm...

Umbra e Irene, abriram a porta, um grande e longo tapete vermelho se estendia até o trono, onde uma longa peça branca com uma coroa com uma cruz se sentava cabisbaixo.

– Umbra. Quanto tempo, meu amigo.

"É. Fazem alguns anos, não é? Vossa majestade. Está aqui é Irene, uma humana."

Irene viu os olhos do Rei Branco, focarem ela, os olhos pareciam estar vermelhos, como os dela ficam quando chora bastante.

– Você tava chorando?

O rei, pula até ela, de casa em casa. Umbra por outro lado se ajoelhou em respeito.

– Não, não estava. A outra garota também perguntou isso quando esteve aqui. O que me leva a perguntar, por que a trouxe Umbra?

"Vincent. Não sei qual outro lugar poderia ser mais seguro para ela, e como Rei, acredito que você consiga a proteger."

Irene olhou para o Rei Branco, e depois olhou para Umbra, quer dizer que ela iria ficar com ele agora e não com Umbra?

– Não quero! Eu quero ficar com Umbra! Você disse que ia me ajudar a procurar papai e mamãe.

Os olhos da garota ficaram vermelho como as do rei, e as lágrimas começaram a cair, enquanto ela fazia a cena.

" Você disse antes que isso acontecia quando você estava muito triste ou com muito sono. Está sentindo um dos dois agora?"

Umbra que não entendia o motivo daquilo, apenas perguntou para a garota, achando aquela cena estranha, até mesmo para uma criança.

– É porque ela está triste e não quer te deixar Umbra, é por isso que ela está fazendo isso.

O Rei Branco, respondeu, sério e frio. Não parecia se importar com a criança, mas explicou para Umbra o que ele não entendia.

" Como você sabe?"

– Meus olhos estão vermelhos pelo mesmo motivo, mas eu ainda não sei o porque sai água dos olhos dela.

Ele entendeu que o Rei estava se referindo a Rainha. Então calou suas mãos. Irene ainda continuava a chorar, e parecia não cessar, até que...

– Irene, não é? Não fique assim.
Ele sorriu. Era um sorriso triste, um sorriso que parecia se forçar a se manter, mas que logo sumiu.

– Umbra tem um favor para me fazer, e ele irá pagar esse favor, ficando com você e a ajudando a achar... mamãe e papai?

"São pessoas que te amam, te protegem, te limpam quando você se suja, te dá parabéns quando você acerta e ficam bravos quando você faz algo errado."

– Parecem ser seres bons. Entendo o motivo de você procurar por eles.

" Não ligo de ajudar ela procurar, mas como vou protegê-la de Vincent, se ele nos encontrar, não sou forte e nem capaz de protegê-la e... se acontecer o mesmo da outra vez?"

Irene continuava chorando, sem ligar para a conversa, assim como a conversa não parecia ligar para a garota que berrava. Mas, ambos olharam para ela antes de continuarem.

– Sabe a coroa da Rainha? Eu venho guardando ele, desde que... desde que aconteceu. Use-o, eu sei que é um amuleto protetor, foi assim que ela... me protegeu.

"Ouviu Irene? Pela bondade do Rei Branco, o amuleto de proteção..."

Quando ele se virou para Irene, ela que ainda estava chorando, abraçou o Rei Branco.

– Obrigada.

Foi por um ínfimo momento, mas Umbra teve a impressão que Irene havia crescido. Mas foi muito rápido, o Rei por outro lado, pulou até o lugar onde estava a coroa, e fez com que levitasse até Irene, que pegou com as mãos e colocou na cabeça.

– Agora, você parece uma pequena princesinha.

E o Rei sorriu novamente. Da mesma forma que o anterior, foi rápido, forçado e bastante difícil de se colocar.

"Obrigado, vossa majestade, eu fico em débito com o senhor, boa sorte."

– Não há sorte na guerra. Somente perdas.

Era verdade, Umbra concordou em seu intimo, mas agora, não havia para onde ir, para onde iriam procurar pelos pais dela?

– Se está se perguntando, aonde ir, que tal irem a cidade? Como ela é humana, acho que o papai e a mamãe dela também são. Lá, é o lugar mais parecido com o mundo deles.

"Obrigado de novo."

Umbra sabia bem o motivo, do Rei saber tanto sobre o mundo dos humanos. Era realmente difícil. Já Irene que finalmente parava de chorar, chegou a entender que iriam para outro lugar em busca dos pais dela, e não entendeu o motivo de Umbra parecer tão aflito.

– Ei Umbra! Obrigada você também.

E ela o abraçou, se sujando ainda mais. Mas ela parecia não se importar, ela queria que Umbra se sentisse bem.

– Bonito não é? Esses humanos. O que são capazes de fazer com a gente.

Umbra não entendeu o que o Rei estava dizendo, mas mesmo assim assentiu, pegou na mão da garota e a levou dali, passando pela porta de madeira gigante. O rei, suspirou e voltou a se sentar no trono, olhando para o céu.

– Desde que você explicou o significado do seu nome Uro... Eu nunca mais consegui olhar para lua do mesmo jeito.

E novamente, o rei abaixa a cabeça, sentado ao trono, com o olho se avermelhando e o céu escurecendo.


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Notas finais do capítulo

Irão ser feitas mais perguntas sobre os capítulos posteriores, do que, respostas dos capítulos anteriores. Assim como eu disse nas notas iniciais. Espero que tenham gostado do capítulo e gostando desse mundo estranho e macabro que Irene entrou.