Elandrik escrita por NM


Capítulo 3
Trabalho especial


Notas iniciais do capítulo

Obrigada por chegarem até este capítulo, isso significa muito para mim!!
Boa leitura :) Quaisquer erros, me avisem.



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“A noite uma criança,

Seus donos, gatos magricelas;

As damas vendiam prazer

–- olhem, uma dama da noite”

10.09.2099 20h51min

Os ponteiros haviam caminhado no relógio de parede, sabia que chegava a hora de trabalhar.

Acompanhada de uma garrafa de vinho, preparou-se para enfrentar a sua realidade em questão.

Trocou seu jeans velho e regata surrada pelo vestido negro perolado, aquele que não cobria nem metade de suas belas pernas e, colocando uma meia calça três oitavos, calçou seu melhor salto. O batom vermelho brilhava em seus lábios, um delineador preto destacava olhos azuis-escuros e madeixas curtas eram lambidas para trás, dando Ênfase ao rosto moreno. Os traços latinos eram extremamente marcantes.

Não tinha muito a ver com latinos, no entanto. Em um passado distante as etnias já haviam sido bem delimitadas, porém com o evoluir do século a miscigenação não levou os humanos a outro caminho, se não uma mistura confusa no DNA da raça humana. Apesar de tudo, Elene tinha traços comuns se comparada aos outros favelados, em sua grande maioria mulatos de olhos castanhos.

***

A noite era de poucas estrelas. A solidão tomava conta de uma lua redonda em seu ponto mais alto, trazendo a sensação de impotência a qualquer ser sensível o suficiente para olha-la diretamente.

Sugando o ar pelas narinas, liberou o carbono logo em seguida, para enfim dar passos curtos em direção a cidade.

23h00min

Ao virar de uma esquina Elene viu as luzes piscantes da boate.

Aproximando-se viu um grupo de garotas com roupas igualmente demonstrativas. Exibiam-se paradas em frente a calçada, os poucos carros que passavam perdiam o rumo.

–- Elan!! pensei que não fosse vim, depois do porre que tomô ontem – exclamou uma delas

–- Quê que cês pensam de mim? Fala sério, me...

–- Elandrik... – Uma garota pequena interrompeu – O chefe tá te chamando, disse que tem um trabalho importante... – notificou tímida.

Elene analisou-a tristemente. Provavelmente menor de idade. Aquele figura magra remetia-lhe ao seu próprio passado.

–- Tudo bem... – respondeu – Eu vou.


Dentro da boate as cores se misturavam em uma atmosfera confusa. Gelo seco, música alta e uma decoração luxuosa. Garotas dançavam nuas e exibiam seus corpos para homens engravatados, sentavam em seus colos, acariciavam suas faces e diziam aos sussurros palavras capazes de enlouquecer qualquer um.

Enquanto caminhava, uma das garotas surgiu desnorteada, olhava de um lado a outro sem saber a quem se reportar. Elene se aproximou:

–- O que aconteceu?? Tá tudo bem?

–- Não!! Não tá tudo bem.

–- Fica calma...

Em poucos instantes um grupo de outras cinco garotas se reunia em volta da dupla.

–- Gianinny, tudo bem?

–- O quê que aconteceu?

–- Eles levaram!! Levaram ela!!

–- Ela quem? – indagou Elandrik.

–- A Katly!! – Ganinny pronunciou de forma confusa e temerosa, gesticulando desesperada.

–- Eu... Eu vou pegar uma água – solidarizou uma das colegas.

–- A Katly sumiu!? Ai meu Deus!! – exclamou alguém, logo atrás de Elene

A atmosfera, tomou o ar de preocupação no âmago daquelas mulheres. Já a algum tempo pessoas desapareciam, para logo serem encontradas em suas camas, confusas e desnorteadas.

Diferentes.

Cyber-profetas falavam em abdução e profetizavam a, finalmente, chegada de outras vidas em nosso planeta. Inventavam casos e forjavam testemunhos duvidosos. Elene jamais acreditou em nada disso, já enfrentara realidade o suficiente para rezar à qualquer Deus. Afinal, qual o problema se eles a devolveriam no final?

Enquanto todas reagiam, nada fez, se não observar o desespero com uma falsa preocupação.

–- Licença. Sai da frente – Deck empurrava o aglomerado de garotas, a fim de ver o que acontecia em seu núcleo.

De charuto na mão, indagou – O que acontece aqui?

–- Mais uma garota sumiu, Chefe – respondeu Elandrik

O homem fez uma careta, franziu o nariz e olhou em volta.

“Perdição!” pensou. Estavam querendo acabar com seus negócios.

O círculo silenciou-se e a música ao fundo pulsava eletrônica e agitada.

Dando uma tragada, não tinha outra opção a não ser continuar sem uma de suas garotas. Cuidaria daquilo depois. Ah... Claro que cuidaria!

–- Elandrik... – disse consternado.

–- Sim... Chefe.

–- Venha até minha sala... – virando as costas, não deu tempo para novas perguntas.

***

10.09.2099 00h00min

As ordens eram claras.

A promessa era de grana alta, o que vinha muito bem a calhar. Por esse motivo, ao ouvir que um empresário bilionário resolvera investir em uma bela prostituta, Elandrik sabia que havia se dado bem.

Após um agradável percurso de limusine, com direito a espumante e vista para os melhores pontos turísticos de uma cidade rica, foi deixada em um dos hotéis mais luxuosos da cidade... Pensar que toda aquela beleza escondia algo nada bonito, a negligência quanto aos da sua própria espécie. O luxo, servia nada mais como maquiagem contra os mais pobres.

Saindo do carro, contemplou a rua. Estava limpa. Pessoas bem vestidas andavam com suas roupas luxuosas, carros passavam com seus sons no último volume e tudo parecia correr bem. Contudo, num canto escuro, escondia-se uma pequena acne, causada pela sujeira interna e imoral de toda uma sociedade. Um aglomerado de pus comprimido em um vulcão adormecido, uma sujeira no tecido da pele, disfarçado com base e corretivo.

Um senhor de idade em trapos rasgados, dormia sentado em seu amontoado de bagulhos.

Um mendigo.

Virando a cara seguiu em frente, como quem ignora meias sujas submergidas em sua sopa.

A entrada do hotel era decorada por plantas de aparência saudável, porém artificiais. Grandes colunas se erguiam, com seus vários pisca-piscas trabalhando para construir um efeito gráfico interessante, tudo por meio da brincadeira de cores e movimento de pequenos pontos de luz. Ao deslizar de portas automáticas, entrou atraindo o olhar de homens e mulheres.

Vendo-se em um hall pouco iluminado, aproximou-se da recepção e repetiu educada:

“Suíte Principal, por favor”

Era como se as palavras saíssem da boca de Deck novamente, dessa vez com sua própria entonação.

Entrando no elevador, alcançou o segundo andar após quase três metros de uma subida que dava para uma vista de puro luxo. As portas de vidro mostravam-se extremamente vantajosas, para os que pretendiam avaliar o belo Design trabalhado por profissionais de ponta.

Elene suspirou diante de tanta beleza.

A Beleza do poder...

E do dinheiro...

“Essa é minha noite” pensou, afastando os maus pensamentos.

“Essa é a melhor oportunidade que já te surgiu. Não gasta tempo pensando asneira” disse a si mesma.

Aquela era uma chance para poucos. Ela era como poucas.

Katly que se ferrasse, já devia estar morta. Se não, que bom para ela. Elene sabia se cuidar, confiava em seu taco. Era boa de cama, tudo o que precisava era levar o tal empresário às alturas.




Confiante, deslizou a porta de metal branco adornada por veios azuis. A luz celestial iluminava seu olhar.

–- Olá – disse ao pedir licença. Cuidou para que sua voz límpida e madura soasse da melhor forma.

Examinou a série de quadros, cortinas, cadeiras e poltronas, tudo distribuído de forma a conservar o espaço da enorme suíte. Os veios de luz que passeavam de forma linear pelas paredes, refletiam seu azul neon nos móveis, formando contornos e desenhando sombras tridimensionais. Incrível.

–- Pode entrar – pronunciou uma voz não tão distante.

O salto alto fez barulho ao tocar o assoalho de imitação de madeira, denunciando seus passos.

Logo ao fundo, uma sombra masculina se escondia da iluminação. Estava sentado em um sofá decorado com todos os tipos de miçangas em volta, como um véu cintilante.

–- Venha, sinta-se à vontade – tinha uma taça na mão.

Suspirou.

Aquela visão fazia seu coração bater de forma intensa e descompassada. Ao fundo o pulsar suave de uma trilha sonora.

Sentiu-se atraída, no entanto não sabia dizer se era material ou...

Dando passos curtos, seus quadris se movimentavam em um gingado sensual.

... Magnético.

–- Venha – disse uma voz grave, em contraponto com a suavidade da entonação, enquanto servia uma segunda taça.

Aproximando-se do fim da sala, afastou a cortina de brilhantes e se sentou no sofá circular. Agora as faces um do outro, mais visíveis diante a luz fraca.

Que comece o jogo de sedução.

Analisando-o notou belos traços em um rosto jovem marcado pelo tempo, sua face era gélida, com exceção de seu leve curvar do canto dos lábios. Devia ter seus trinta anos.

–- Beba – deu-lhe a taça com vinho, enquanto seus olhos atinham-se em seu belo par de coxas.

–- Um brinde? – perguntou

–- Claro.

Enquanto dava o primeiro gole o homem se aproximou.

E uma troca de desejos foi mais que o suficiente para a dança de corpos começar.


–- Não, não! Por favor – gritou a voz infante

Mas já era tarde.

Aqueles homens queriam apenas uma coisa. E já haviam conseguido.

Junior olhava tudo de mãos atadas, enquanto lágrimas rolavam por um rosto juvenil que já vira o pior dos sofrimentos. Com exceção àquele.

Com selvageria, os homens invadiam o corpo da garota -- Desabrochando, assim, uma menina virada em mulher.

–- Elene... – o jovem lamentou


–- Elandrik, hein –- disse, tirando-a de seu torpor –- Belo nome para uma... Dama da noite.

Sorriu um sorriso forçado.

Deitada em seu colo por sobre um colchão macio, o lençol cobria apenas parte de seus corpos nus.

–- Eu... vou me vestir.

–- Está bem – respondeu, beijando seu braço e sorvendo o aroma suave da pele morena.

Levantando-se caminhou até o banheiro, ciente de que era observada com malícia.


Voltando de sua tarefa final, o homem lhe esperava, dessa vez com um copo de Whisky com gelo.

Aceitando, sentou-se ao seu lado.

–- Espero que esse seja o último – brincou durante o brinde

–- Com certeza é.

Enquanto bebia, ele a olhava.

A desejava e isto estava claro.

Desejava tanto que iria contrata-la novamente.

“Tenho certeza”

Sentindo uma vertigem, Elene colocou o copo sobre mesa de centro. Ainda não havia se recuperado da ressacado do dia anterior.

–- Sabe, é uma pena...

Sua visão embaçava gradualmente, deixando-a assustada.

–- Uma pena? – indagou surpresa

Quando seu pulmão implorou por oxigênio, mesmo que por poucos instantes, sentiu que estava prestes a morrer.

–- Mas o que!? – exclamou ao cair no chão

–- Uma pena que você seja boa no que faz -- O homem serviu-se de mais um copo. Dando pequenos goles, olhava para frente, como se a mulher em seu tapete fosse um inseto a ser ignorado.

Retorcendo-se no chão, sentiu diversas pontadas de dores no corpo. Seu coração batia a mil, enquanto sua boca se abria, no intuito de puxar todo o ar para os pulmões. Sentindo o álcool do Whisky se encontra com seu corpo, o gelo queimou sua pele em uma temperatura negativa. Toda a bebida se espalhou por suas roupas, encharcando-a de humilhação.

–- Bom...

Antes de alcançar o ápice da negritude, seus ouvidos captaram os últimos fragmentos de som que seu cérebro pôde processar.

–- Na melhor das hipóteses, não se lembrará de nada...


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Notas finais do capítulo

Vish, e agora!?
O que acontecerá com nossa meretriz?



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