Elandrik escrita por NM


Capítulo 4
Tortura mortal


Notas iniciais do capítulo

Ehh! Demorei um pouco pra postar, pois estava sem internet.
Bom, sem contar que agora minha aulas voltaram e, por isso, passarei a escrever mais nos fins de semana (mais por disposição mesmo).
Enfim... Boa leitura! :)



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–- Tenho um trabalho especial... Pra você.

–- Especial? – perguntou surpresa

Deck ainda se recuperava da súbita preocupação de minutos atrás. Girava de um lado para o outro em sua cadeira.

Passando a mão pelos cabelos grisalhos, iniciou o assunto.

–- Elandrik, um cliente muito especial veio até mim... Cê vai entender.

Olhando nos olhos do homem, notou a seriedade com que falava.

Piscou uma, duas vezes, no intuito de se preparar para o que viria a seguir.

–- A única exigência é que eu escolha uma garota especial... Pois então, essa é sua chance.

Ao ouvir os detalhes da oferta, Elandrik não teve dúvidas.

Aquela era sua chance.

***

Abriu os olhos como se saísse de um pesadelo.

E o que viu foi muito branco.

Num impulso movimentou o braço a fim de se proteger da claridade, para logo sentir como se arrastasse um turbilhão de tentáculos ao movê-lo, tornando seu movimento lento e cuidadoso. Com seu membro esquerdo tão próximo do rosto, pôde analisar o motivo de tal peso. Reparou na quantidade de fios e ventosas ligadas a sua pele, fazendo-a se sentir fisgada por um polvo.

Suspirou.

Afinal, o que havia acontecido? Tudo o que lembrava era do sentimento de humilhação, pouco antes de adormecer. Os últimos acontecimentos lhe trouxeram à tona toda a vergonha que aprendera a ignorar. Sentiu-se suja, usada, burra...

Egocêntrica.

Egocêntrica por ter pensado, em algum momento, que seria diferente de qualquer mulher. Por pensar que se tornara intocável.

Sua mente era um turbilhão. Seus pensamentos tentavam arranjar uma forma para se organizar.

“Preciso sair daqui!!” foi no que conseguiu pensar.

Olhando em volta, reparou que sua cama era emoldurada por um material liso, muito semelhante ao silicone, que se curvava e dava para uma tampa de vidro. Imaginou aquele como seu túmulo, e em sua mente via a terra ser jogada por cima, enquanto as pedras e as diversas camadas iam surgindo fazendo peso contra seu cárcere.

Sentindo-se acuada, tentou pensar em uma saída. Depressa.

No fundo de seus pensamentos uma ideia surgiu e, ignorando quaisquer indagações de como fora parar ali, perseguiu aquela esperança -- As ideias juntas e misturadas, tonavam-se impossíveis quando parava para analisar. Empurrar a tampa. Bater e gritar. Todas falhas e muito, muito, dependentes da boa vontade de seu captor para uma mínima parcela de sucesso.

Movendo os braços com dificuldade tirou a máscara de oxigênio, para logo sofrer com uma repentina dificuldade respiratória. Colocando-a de volta, esperou sua respiração voltar ao normal.

–- Espere, algo mudou!

Gelou.

Haviam pessoas lá fora... observando?

–- ... O que!?

–- A atividade, os padrões estão diferentes... – interrompeu -- Parece que está consciente

“E agora!? E agora!?”

Seu coração bateu acelerado quando os homens silenciaram.

Mas continuavam ali, tinha certeza.

Lentamente passou os dedos por sobre o rosto, como se estar ciente de sua integridade física, no momento, fosse acalma-la de alguma forma. Tocou as bochechas, o nariz, sobrancelhas e, por fim, a têmpora. Mas havia algo de errado. Descendo as mãos em direção a orelha, não sentiu nada além da pele nua, e então continuou descendo até que seus dedos tocassem o tecido de um lençol.

“Meu cabelo!” pensou.

Esforçando-se para mover o mínimo possível, seus olhos caminharam cada vez mais abaixo: apenas uma faixa branca cobria dos seus seios até o início das coxas. Estava nua. Um sentimento de raiva e indignação fervilhou dentro dela, aquela série de situações compactuavam para trazer à tona lembranças que insistia em bloquear.

Ouvindo passos sentiu um alarme soar em seu âmago.

Braços ao lado do corpo ereto, pernas brevemente espaçadas. Voltando a posição em que haviam-na deixado, fechou os olhos com o seu sistema em alerta.

–- Muito bem, já deve ter acordado – a voz masculina soou abafada pelo vidro grosso.

–- Tem certeza?

–- Claro.

–- Essa daqui parece estar dormindo – disse o terceiro – Muitos entram em pânico e batem no vidro, agem com violência...

–- É, já tivemos que sedar muitos por hoje.

–- Levem-na.

–- Mas, s-senhor...

Não houve resposta.

***

Sentia como se flutuasse.

Era carregada por labirintos invisíveis, sentia as curvas para direita e esquerda, sem que nenhuma imagem concreta preenchesse sua mente. Plenamente consciente abriu os olhos e fitou um teto cinza mofado; o concreto certamente já fora branco um dia, agora não passava de uma tinta encardida pela umidade.

Aqueles certamente não eram os corredores de um hospital.

Pensando no pior, veio a possibilidade de ter sido pega por algum tipo de quadrilha de contrabando, poderia estar em um centro cirúrgico clandestino... As condições precárias de lugares como aqueles eram de dar nojo. Sentiu náuseas só de pensar. Imaginou seus órgãos sendo arrancados dos domínios de seu corpo, enquanto o sangue lavava de morte as mãos de seu cirurgião, seu cabelo vendido e olhos implantados nos de outro alguém – refletiu sobre a sensação de observar por um corpo que não era seu. Apenas observar. Em momento algum comandar.

Mas claro, estaria morta.

Seria como a sensação de estar 'aqui' e ao mesmo tempo não estar. Sua consciência estaria apagada, e seus olhos como um belo par de chaveiros introduzidos nas órbitas de um desconhecido.

–- É aqui.

Seguiu-se uma conversa distante.

“Calma” sentiu uma gota de suor escorrer “Você só precisa esperar o momento certo...”

Sua confiança oscilava entre um alguém decidido e outro realista, esse que via o lado negativo, que racionava mais do que a impulsão de alguém que queria apenas agir.

Entrando em um pequeno túnel, não captou nada além da brancura provinda de lâmpadas ofuscantes. Sentia-se entrar em uma câmara de bronzeamento artificial, o modelo mais que ultrapassado; uma paciente doente, esperando temerosamente pelos exames da tomografia que ainda nem fizera.

A parte superior de seu diminuto cárcere abriu-se como a tampa de um creme dental, a cama onde deitava deslizou lentamente para fora de seu recipiente. Tão hipnotizada pelo que raios acontecia ali, esquecera de seu trunfo. O fato de estar consciente. Os supostos médicos não acreditavam que ela estava acordada.

Pois então, agora viam tudo. Se é que viam.

Uma linha fina passou por seu corpo, da cabeça aos pés e por fim dos pés à cabeça. Num instante a ventilação ficou mais forte, sentiu uma baforada de ar quente, que logo gelou a uma temperatura próxima a zero graus.

Como se inalasse um gás sentiu sua consciência esvair-se, levando todos os pensamentos preocupantes consigo. Junto de sua lucidez.

***

A água atingiu seu corpo de forma dolorosa. Velocidade e força, combinados a distância e aos litros que recebera direto em seu rosto, foram o suficiente para trazer à tona uma dor lancinante em sua face. A temperatura apenas piorava tudo.

Tomando fôlego de uma só vez, seus olhos encontraram incômodo na mais reles luz, uma grande lâmpada envolta de outras oito menores logo acima de sua cabeça. Sentia-se numa sala de cirurgia. Aquele abajur gigante vindo direto do teto, no entanto, era precário, piscava e fazia barulhos estranhos pondo em dúvida qualquer zelo com o local e seus objetos.

Viu uma mosca pousar em sua superfície.

Enquanto encarava o inseto, sentiu seus olhos arderem. Seu tronco, estava envolto por uma enorme tira de ferro em sua cintura; suas mãos e pés, igualmente encarcerados. Uma pequena coceira nos olhos veio em má hora.

–- Muito bem – o homem se aproximou.

Abrindo a boca quase sentiu sua voz sair com uma resposta ignorante e várias outras perguntas sem resposta, contudo, o que saiu foi um som fino e esganiçado. Enquanto isso, ele anotava algo em sua planilha e a analisava como um homem examina um objeto.

Estando sozinha em uma sala com aquele estranho, pensava no quão confortável estava em seu cubículo de vidro.

–- Parece estar bem consciente...

Ele não falava com ela.

Olhando de soslaio, viu um grande espelho pelo canto do olho. O homem de meia idade olhou para lá e anuiu com a cabeça, como se conversasse com seu outro eu.

Pelo reflexo, Elene quase não se reconheceu, via-se presa àquela cama, completamente nua. De cabeça raspada.

Vergonha.

A expressão de horror em seu rosto era perceptível, tudo que ela queria era gritar e espernear...

–- Nem tente, minha dama – se referiu a ela pela primeira vez – não fará nada que não queiramos!

E novamente, sua presença como humana tornou-se irrelevante.

A cama girou cerca de quarenta graus.

O cientista louco mexia nos botões de um holograma plano e avaliava várias outras telas, cada qual informando suas próprias estatísticas e atividades. A sala era dominada pelo som de bips que acompanhavam as batidas do coração da mulher. Ao apertar de um botão, duas pequenas esferas, uma de cada lado, carregaram: veios elétricos passearam ao redor dos objetos de metal, enquanto um som ensurdecedor ia ao encontro direto de seus ouvidos.

Ao cessar do ruído, passaram-se poucos segundos, até que duas cargas elétricas atingiram seu crânio de forma repentina. Sua mente foi invadida por milhares de agulhas que despontavam das partes mais internas de seu ser.

Seus gritos ecoaram por todo o local. Um fogo passeou por suas veias e artérias, atravessou seu peito ardente e prosseguiu sua rota de maneira perturbadora. O sufoco parecia durar uma infinidade, tanto que seus gritos cessaram, e o que restou foi apenas uma versão indolor daquele ser indigente. Sua mente arranjava um modo de desviar o assunto da dor e seus nervos calejados obedeciam dormentes.

De olhos revirados.

Do lado de fora seu corpo reagia, tendo convulsões e espasmos violentos; sua cabeça pendia para trás, mãos e pés tentavam se soltar e chutar toda e qualquer matéria.

Nem notou quando a máquina fora desligada e ninguém veio para socorrê-la, ou quando a voz dura do desconhecido continuava em seu tom sereno, enquanto notificava os relatórios de seus testes.

“Afinal, que palhaçada é essa?”

Essas seriam as palavras de uma Elene consciente, diferente daquela. Aquele ser parecia um vegetal queimado, sem consciência sobre si mesma ou do que havia em volta. Delirando, viu as sombras passarem por sobre seu rosto e não sentiu, em nenhum momento, o toque ou os efeitos dos diversos choques que tomara ao longo de intermináveis horas.

Apagou.

Essa seria a definição exata.

Quando finalmente teve forças para mover as pálpebras, seu subconsciente ordenou-lhe que fechasse os olhos.

E assim, que esperasse o fim de uma tortura mortal.


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Notas finais do capítulo

E agora, hein?
O que acontece com nossa Elene!? :(

Não sei se repararam, mas esse capítulo em específico não há data... Pois então, é que a Elene não teve tempo de olhar no calendário /brinks kkkkkk
Espero que tenham gostado do capítulo, estou me esforçando como nunca para prosseguir.

Críticas construtivas são bem vindas :D



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