Era mais um dia comum na Academia Pokémon/Orfanato Earlish.

…Bem, isto é o que eu gostaria de dizer.

Infelizmente, havia algo, ou melhor, alguém fora do lugar. E não era ninguém menos que “o encrenqueiro de New Bark Town que causa problemas por onde passa”. Aquela situação não era uma exceção: Em meio a dezenas de crianças do orfanato, tentando atender seus pedidos sem perder a paciência, estava o infame Gold.

Aparentemente, ele estava pagando um favor, ou coisa parecida, e teria de trabalhar no local por uma semana*. Como já devem ter advinhado, ele não era exatamente o melhor em cuidar de crianças – irônico, se pensar que seu título era Criador. Mas, crianças eram totalmente diferentes de pokémon recém-nascidos, era o que ele pensava.

– Ei, aniki*, eu quero brincar! Me empresta um pokémon?

– Aniki, eu preciso ir no banheiro!

– Eu quero comida!

E definitivamente mais irritantes também.

O rapaz estava quase a ponto de explodir, falando alguma coisa que renderia choros e chutes (por parte de Crystal, se descobrisse), quando a dita-cuja apareceu em sua frente. As feições sérias e a pokébola em suas mãos eram um claro indicativo de que sofreria se fizesse qualquer idiotice.

Em seguida, também reparou no garoto loiro ao seu lado. Emerald não usava mais aqueles sapatos ridículos ou o cabelo em formato de croissant, e como resultado, era mais difícil notá-lo. Sentiu a irritação mais uma vez aumentando ao ver o sorriso irônico em seu rosto.

“Isso, ria da minha desgraça, seu baixinho maldito.” – mordeu a língua ao desviar o olhar para Crystal, ainda na ameaçadora postura. Por sorte, a azulada pareceu cansar-se da situação, e suas feições se suavizaram quando ela falou:

– Crianças!

Todos imediatamente viraram-se para Crystal, os rostinhos iluminados. Logo se puseram a cumprimentá-la com entusiasmo.

– Crystal-oneesan!*

– Ei, ei, todos se acalmem. Brincarei com vocês mais tarde, agora vão lá fora. Trouxe pokémon novinhos para vocês.

E assim todos saíram em disparada, para o alívio do trapaceiro de olhos dourados, que despencou numa cadeira.

– Não sei como você consegue lidar com aqueles pirralhos.

– Não fale assim deles!

– Tá, tá, tanto faz.

– Agora é hora do almoço. Já que você obviamente não sabe cozinhar, vou ter dar uma mãozinha, só por agora.

E então a garota saiu, deixando-o à sós com o conquistador do Battle Frontier.

– Se divertindo? - o dito-cujo perguntou-lhe, o sorriso maroto ainda presente em seus lábios.

– Muito. E você, como vai, baixinho estranho? - provocou em resposta, observando seu rosto tornar-se vermelho de raiva.

– N-Não me chame assim! Eu cresci cinco centímetros desde o ano passado.

– Oh, sério mesmo? Nem percebi.

O menino de olhos esmeralda bufou, desistindo. Gold observou pelo canto do olho que ele havia ficado um tanto cabisbaixo.

– Ei, não fique assim. Se quer saber, você fica bem melhor sem aquele cabelo de croissant. - ele abriu um sorriso de canto, colocando a mão sobre a cabeça dele e bagunçando os fios loiros. Emerald deu um tapa em sua mão, fingindo irritação.

– Pronto, já fiz o almoço. Gold, você não aprontou nada enquanto eu estive fora, certo?

A menina de olhos cristalinos voltou ao cômodo, vestindo um avental e com o olhar repreendedor.

– Claro que não! Só estava conversando com o baixinho aqui, certo? - ele colocou um braço ao redor dos ombros do garoto, dando um tapinha em suas costas.

– Sei. Agora, sente direito, pelo amor de Deus! Isso não é a sua casa!

Emerald observou a cena com um sorriso discreto. Aqueles dois não eram nem um pouco normais, e tão diferentes como água e vinho, mas os admirava. Tanto a responsabilidade e gentileza de Crystal como o entusiasmo e a determinação de Gold. Eram quem ele desejava ser, no fundo.

– Mas eu juro que não fiz nada! - o Criador choramingou, recebendo mais um chute da garota.

Beeem, talvez não inteiramente.