Paradoxo - Seson 2 escrita por Thaís Romes, Sweet rose


Capítulo 38
Pesadelo.


Notas iniciais do capítulo

Oi amores!
Olha, vocês tem pedido e esperado por esse capítulo desde o inicio dessa segunda parte, e finalmente aí está um capítulo inteirinho da Isis.
Esperamos que gostem!



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ISIS

As pessoas costumam dizer que quando se está morrendo a vida passa por seus olhos como um filme. Ai vem a pergunta, se você está morrendo, viu o tal filme chato e.... morreu, de onde raios saiu essa história?

Sempre me perguntei isso, fiz muitas piadas e usei de uma ironia quase mordaz, e agora posso entender o que dizem, e o porquê de dizerem isso. E minha conclusão é que meu filme é um saco, okay, eu usaria uma palavra mais apropriada para expressar minha revolta, mas não consigo falar sem me sentir culpada imediatamente. Tem tantas coisas que ainda quero fazer, não me parece justo meu tempo ter sido tão curto.

 

 

SETE ANOS ATRÁS...

—Não adianta ficar com raiva, não vai fazer sua técnica melhorar. –Laurel diz, dando um chute nada gentil para afastar minhas pernas e arrumar minha postura de combate.

—Não preciso dominar mais uma forma de luta. –reclamo com todo o meu corpo dolorido.

Laurel é excelente, tão boa que Hipólita já a requisitou como treinadora para as amazonas. A parte ruim é que ela não se contenta com nada que esteja na média, se sou a pupila dela, tenho que ser a melhor, não é uma opção, nunca foi. O problema é que tenho muita concorrência boa, ser a melhor é quase uma tarefa impossível.

—Você precisa ser imprevisível. –responde como se eu não tivesse dito nada. –Está pensando pequeno, é como essa sua mania de sempre pender para a direita. –fala enquanto me ataca e torna incapaz que desvie. Ai!

—Não precisa me bater de verdade, só estamos treinando! –reclamo esfregando minha coxa direita.

—Tenho que aproveitar que sua mãe está no trabalho. –pisca para mim, com um sorriso doce nos lábios.

—Oi galera! –Sara entra animada com meu pai, os dois parecem acordar ligados no 220, não sou assim, puxei minha mãe, gosto de treinar à tarde, depois que meu corpo já acostumou a estar acordado.

Sara é o sonho da Laurel, pior pra ela que não a tem como pupila. Enquanto estou apanhando e me obrigando a permanecer de pé, Sara brilha treinando com meu pai. Alguns minutos depois Connor se junta a eles, e ela usa um bastão no centro, sendo atacada pelos dois ao mesmo tempo. Como se não fosse o suficiente ainda leva o nome da irmã super heroína morta, da minha mentora.

—Está distraída, se concentre. –Laurel diz me atacando mais uma vez, com sorte consigo desviar. –Já contou a seu pai sobre o seu codinome, Nightmare? –sorri divertida, e damos uma pausa, graças a Deus.

—Ele vai dizer que é coisa da Batfamilia. –faço careta, secando meu rosto com uma toalha.

—Bom, “pesadelo” não é o que um pai babão espera que a princesinha dele use. –responde me atirando uma garrafa de água.

—Não sou princesa de ninguém. –reclamo, andando em direção aos computadores da minha mãe.

—Anda feito uma princesa. –a escuto dizer em tom de deboche. –E faz pirraça como uma!

—Soube que o filho do Bruce voltou dos mortos?  -Thea se aproxima de nós duas, e beija meu rosto. –Oi meu amor. –cumprimenta, e sorrio murmurando um “oi tia” em resposta.

—Dizem que ele é um porre. –dou de ombros sem interesse, quando o tio Roy bagunça meu cabelo como se eu ainda tivesse três anos de idade.

—Não julgue o moleque, você mal o conhece. –me repreende, como um bom tio deve fazer para educar uma criança. Detesto ter que ser educada, mas sorrio em forma de desculpas, já que as palavras não sairiam da minha boca nem se me obrigassem.

—Ele é bonitinho. –Laurel entra na conversa e pisca em minha direção. –Ainda parece ter quinze anos.

—Eca. –reviro os olhos enojada, pensando em como um cadáver de quinze anos deve se parecer.

Quando paro de pensar, ou ser capaz de me lembrar qual era o assunto. Um vento forte invade a caverna, e os papeis sobre a mesa voam para todos os lados. Então um raio amarelo e vermelho, rouba a Sara do meio dos arqueiros e a rodopia no ar como um comercial de dia dos namorados, vejo Wally tomar forma, e seus cabelos ruivos brilhando quando a luz bate neles. Meu coração quase não cabe em meu peito, desvio meus olhos para a tela do computador, constrangida e incomodada ao mesmo tempo.

—Posso conseguir o telefone do pirralho Wayne para você. –Thea sussurra com cumplicidade, depois de assistir minha cena patética. Olho para ela de lado, e nego com um movimento discreto.

—Necrofilia não é minha praia.

 

 

AGORA...

Estava em um lugar sujo, com um cheiro desagradável de pizza velha, cerveja barata e mofo. As paredes eram encardidas, o piso de madeira fria e parece não ver uma vassoura a meses. Me lembra uma espécie de delegacia desativada, julgando pela grade que me separava dos três delinquentes a minha frente, mas não é possível. Dentro da minha cela, havia uma cama de concreto com um colchão fino e um vaso sanitário que eu nunca usarei na vida, os germes devem ter nomes naquela imundice, são tipo o bichinho de estimação deles.

Zoom estava sentado atrás de uma mesa redonda, lendo uma revista de fofoca, sério? Mas percebo sua perna enfaixada sobre o uniforme, e uma faixa fina do braço direito que me confunde. Existe alguma possibilidade de um velocista ser atingido por uma bala?

Ao lado dele o Mestre dos espelhos esbanjava seu porte magrelo, mais parecendo um grilo que deu errado em sua malha verde e laranja, a Galeria de Vilões é tão brega que as vezes sinto vontade de arrumar um designe de moda para eles. E por último o Onda Térmica estava todo quebrado, estirado em uma cadeira ao lado dos outros, parecendo ainda sentir muita dor.

—Hey! –grito em direção ao Hunt que levanta os olhos da revista por um segundo. –Me tira daqui, seu feioso! –eles dão risada como se eu fosse um cachorrinho fofo, e sinto o sangue em minhas veias ferver.

—Você acordou! –se levanta, e antes que possa piscar, está em frente à minha cela. –Escolha peculiar de roupas. –aponta para minha calça de moletom suja.

—Estava no meio de uma reforma quando você chegou. –sorrio com cinismo para ele. –Vocês dois, energúmenos! –grito para os outros que me olham com desdém. –Pensei que possuíssem um código!

—Não finja de garotinha indefesa, Queen. –Hunt responde pelos outros. –Conheço a sua fama.

—Ótimo, então deixe a vantagem da super velocidade de lado, entra aqui, e posso quebrar sua cara. Vai ser meu presente de Natal adiantado. –cuspo as palavras, olhando furiosa em seus olhos verdes desbotados, e vejo um raio azul passar por eles, como se estivesse se deliciando com minha língua afiada.

—Pensei que de todos, você em especial não se sentiria mal por eu ter acabado com a vida da Sara. –diz, andando de um lado a outro.

—Não seremos amiguinhas, e isso não é uma festa de pijamas pra ficar fofocando, bundão. –ele solta uma gargalhada com minha ofensa.

—Pelo que eu soube, você amou o Wally por anos... –ah, a velha história de novo, tão 2028. Reviro meus olhos entediada, e enfio a mão no bolso, precisava sair daqui. –Está procurando por isso? –mostra a Katoptris em sua mão, ainda suja do sangue nojento dele. –Não achou que te deixaria armada?

—Me faz um favor? –ele me olha sério por um momento. –Fica com ela para você! –sorrio. –Seria um final feliz, ver essa faca de cortar pão acabar com a sua vida!

Hunt parece confuso, mas dentro de alguns minutos a adaga reapareceria em meu bolso, para meu desprazer, e talvez eu a jogue em direção a carótida dele, não vai acertar, mas vou me divertir ao tentar.

—Por que está sorrindo? –ele pergunta me analisando.

—Me conta uma coisa, Zoom. –me afasto e me sento na cama de concreto grudada a parede. –Sua mãe, ela te deixou cair muito durante sua infância?

—Entende que é a refém aqui? –acho que já estou torrando a paciência do psicopata, pior para ele.

—De onde tirou a ideia que matar Sara fosse fazer algo bom a Wally? Claro, bom além de motivá-lo a destruir a sua vida. –parece ser o limite, Zoom atravessa as grades e para em minha frente com todo o seu corpo vibrando e os olhos irradiando fúria, os retardados atrás dele passam a prestar atenção no que estava acontecendo na cela.

—Não pense que me conhece, Queen. Não faz ideia de quem eu sou. –me calo por um momento, meu instinto de sobrevivência fala mais alto. –Vai me agradecer um dia. –sua mão se fecha ao redor do meu pescoço, e vejo o Onda Térmica se levantar da cadeira com certo esforço.

—Já chega!  –ele diz a Zoom que nem mesmo se vira para olhá-lo. –É só uma garota.

—Está errado. –engulo em seco, com medo de que ele revelasse minha identidade, mas Zoom me solta, e sai da cela. –Vou checar algumas coisas, não tirem os olhos da pirralha. Ela é mais esperta do que aparenta.

Eu pareço ser uma pessoa esperta! Não pareço?

 

 

SEIS ANOS ATRÁS...

—Vai ficar ai com essa cara de choro? –Connor fala depois de um suspiro irritado, enquanto fazia sua mala. –Vou morar a vinte minutos daqui.

Aquilo não vai levar mais do que alguns minutos, ele não tem nada nesse quarto sem graça que cheira a creme para barbear e anticéptico. Ainda assim me agarro a seu travesseiro, sentindo meu coração pequenininho em meu peito.

—Como isso vai funcionar? –pergunto contendo as lágrimas.  –Ela nem aceitou se casar com você.

—Luna é mais inteligente do que eu. –responde se fazendo de durão, mas posso ver que aquilo o machucava. –Pensei que gostasse dela. –me olha confuso.

—E gosto, só que posso gostar dela com você aqui, e ela lá. –murmuro manhosa, e ele sorri.

—Pensei que fosse ficar feliz em me ver pelas costas. –Connor se senta na beirada da cama e arranca o travesseiro dos meus braços. –Vive dizendo que os três meses por ano que passo com minha mãe são os melhores da sua visa.

—É meu trabalho fazer com que acredite nisso. –cruzo os braços sobre o peito e ele me puxa para seus braços, me apertando. –Me solta Connor! –reclamo me debatendo quando ele começa a sair do quarto comigo nos braços como se eu fosse um bebê. –Eu vou te matar quando me colocar no chão!

Desce as escadas correndo, e eu sacudindo feito pipoca na panela. Para minha completa humilhação vejo meu pai ao lado de Wally e Damian, que conversavam se passando por pessoas civilizadas na frente dele. Connor para na porta da sala olhando para os três, peço que me coloque no chão, mas não tenho um terço da força desse brutamontes, ele me conhece bem demais para conseguir golpeá-lo de alguma forma.

—O que está fazendo, filho?

—Nosso bebê quer carinho. –responde com deboche, e tampo meu rosto com as mãos, pedindo ao universo para mandar um meteoro e destruir a humanidade nesse instante. Ainda assim consigo escutar o riso baixo do meu pai e Wally, nem posso imaginar a cara de Damian.

—O que fez com ela? –Wally pergunta, e me sinto trocando de braços ao meu redor, ah não!

—Está sofrendo por minha partida. –responde entreabro os olhos vendo a cabeleira ruiva de Wally que me carregava agora.

—Pode me colocar no chão, por favor? –tento, respirando fundo e fingindo ser educada.

—Não! –responde dando risada, e de repente estou ao lado do meu pai.

—Por que estão fazendo isso com ela? –Damian pergunta ao Connor em voz baixa, nos olhando como se fossemos objeto de estudo.

—Humilhação familiar é a melhor forma de demonstrar afeto. –dá de ombros com os braços cruzados sobre o peito.

—Não é não. –Damian murmura sem entender, enquanto Wally me passa para os braços do meu pai.

—Por favor, só me mata! –peço olhando para meu novo raptor, que sorri cheio de carinho.

—Se relaxar acaba mais rápido. –ele diz e escondo meu rosto entre seu pescoço e ombros, o sentindo me ninar como se eu fosse uma criança.

—Acho que está bom, pai. –Connor caminha em nossa direção e me pega de novo nos braços. Mas dessa vez me joga sobre seus ombros. –Ainda preciso fazer as malas.

—Eu posso andar! –reclamo quando ele volta a seguir em direção as escadas. –Espera! –grito quando me dou conta de mais uma coisa, e Connor para. –Você veio falar comigo? –pergunto a Damian que parecia perdido em meio à loucura da minha família.

—Era a ideia, mas se tiver que te pegar no colo para isso eu passo.

—Você não é engraçado. –reclamo da piadinha tosca.

—Eu achei bem engraçado. –Connor entra no meio, mas se cala quando o fuzilo com os olhos, como resposta ele fez a única coisa que pioraria meu dia ainda mais, me colocou nos braços de Damian. –Toma, pode ficar. –fala como se eu fosse um livro que ele já leu.

Nunca tinha encostado no Damian dessa forma, ele é bem... firme. Ficamos sem ação por um momento, mas quando meu pai limpa a garganta do outro lado da sala e Wally nos olha de braços cruzados, nós somos obrigados a voltar para realidade.

—Eu vou... Vou te colocar no chão agora. –Damian diz parecendo sem graça.

—Por favor. –respondo baixinho, morrendo de vergonha e sinto meus pés tocando o chão.

—Pensei que a minha família fosse estranha.

—Não se engane, ela ainda é.

AGORA...

Já sei até mesmo onde está cada rachadura desse lugar, e acredito ter pensado em tudo o que poderia me tirar dali, mas com o Mestres dos Espelhos e o Onda Térmica me vigiando, eu não tenho muitas opções de fuga no momento. Se ao menos conseguisse alcançar a Esteira Cósmica, que estava do outro lado da sala... Mas como vou fazer isso com esses dois aqui? Nesses momentos, é que rezo para o rumor de minha mãe ter implantado um microchip no meu cérebro ser verdade.

—Eu ouvi boatos. –começo a falar e os dois me ignoram. –Sobre você, Mike. Que havia passado para o lado dos mocinhos com o seu parceiro. O Capitão Frio. –Onda Térmica não responde, mas seu rosto fica vermelho feito fogo. Ao menos as partes de seu rosto que não estavam roxas. –Sempre respeitei vocês dois sabia? Gosto do código moral, do estilo. –elogio exagerada. –Quero dizer, olha as roupas do Mestre aí. –aponto para o outro cara que olha para as próprias roupas sem entender. –Não estou podendo falar de roupas no momento, mas você entende o que quero dizer, ele não tem o que você tem.

—O que eu tenho? –começa a se interessar.

—Como assim, você não sabe? –faço cara de surpresa. –Essa aura de bravura, o medo que inspira, a força bruta... Ele só usa malha, e vamos combinar, em uma péssima combinação de cores!

—O garota, é melhor você se calar, antes que eu entre ai! –o outro ameaça, e cruzo meus braços me fingindo de assustada.

—Deixe a garota falar, Sam!

—Não diga meu nome, idiota! –começam a discutir, e passo a olhar a fechadura, quando sinto o peso da Katoptris novamente em meu bolso. Agora preciso me livrar do “Sam”, por que não tenho ideia de quem machucou tanto o Mike, mas gostaria de dar um beijo em seja quem for, sem saber essa pessoa pode ter me dado uma grande chance de escapar.

 

 

 

TRÊS ANOS ATRÁS...

 

—Nem sob tortura. – olho para o tecido rosa pink todo trabalhado em predaria, e tenho uma anciã de vomito mortal. -Vai ter que tentar a sorte com outra. – deixo minha avó sentada na cama com cara de choro e me volto para o guarda-roupas em busca de algo que eu possa usar e passar despercebida hoje no coquetel anual da Q.C.

Luna aparece na porta com a mesma animação que eu sempre tenho para esses eventos, nenhuma. Consigo ver a luz se acender no alto da cabeça da minha queria e amada vovó, mas o lampejo é tão fugaz que desaparece no momento que Luna contém uma risada por educação.

—Um dia vocês vão sentir falta de mim. – reclama já com uma tromba infantil no rosto. Luna se senta ao seu lado, fazendo questão de colocar a maior distância entre ela e o vestido.

—Pink, vó? – faço careta de desprezo.

—E com pedraria? – Luna tem um reflexo contido da minha careta, ou talvez seja vertigem, só Deus para saber. Minha avó parece desapontada antes de se levantar e sair revoltada do meu quarto.

—Acho melhor avisar a minha mãe que a vovó está a caça de uma voluntaria para transformar em Barbie. – esboço um sorriso enquanto jogo os vestido de festas no chão do quarto.

—A Felicity saiu correndo com o saltos ainda nas mãos. Acho que começo a entender o porquê.

—Mamãe é a melhor em se esconder dela. –assumo com admiração. –Por falar em coisas sem necessidade, como foi o encontro duplo com Connor ontem? –Luna franze o nariz.

—Durou quinze minutos, então ele e Keith foram buscar algumas bebidas. –começa a contar, eu particularmente adoro as tentativas idiotas dos dois de não ficarem um com o outro, chega a ser o ponto alto da minha semana. –Me deixou sozinha na mesa com a tal de Susan, e a garota simplesmente pegou um cigarro da mesa ao lado, ela pegou o cigarro de outra pessoa Isis! –diz como se a garota tivesse praticado terrorismo.

—Uau, uma ladra! –dou risada. –O que mais falta para Connor? –brinco. –E o tal Keith, era o amor da sua vida?

—Ele não voltou do banheiro, mas Connor parecia bem incomodado quando me arrastou para fora do restaurante, encerrando a noite. –dá de ombros.

—Vocês são patéticos! –murmuro entre uma gargalhada. –Mas por favor, nunca parem de fazer isso!

—Não somos tão patéticos quanto um vestido pink com predarias. –muda de assunto, acho que a deixei desconfortável com a verdade.

Luna sorri para o vestido, realmente era uma piada, minha avó tinha esse dom de botar todas as mulheres a sua volta para correr. Prendo o riso na garganta quando percebo que ela volta com mais duas sacolas, já sofria arrepios de medo antes mesmo de ver o conteúdo.

—Vocês não merecem. – reclama, e entrega uma sacola para mim e a outra para Luna que fica surpresa e talvez um pouco apreensiva por ter uma sacola para ela também, vovó indignada pega o tecido “unidos do carnaval” e leva para fora como quem carrega o corpo de uma amigo ferido em combate.

—Bom pela cara dela de tristeza, talvez possamos ter alguma esperança. – Luna tenta ser otimista, mas eu sou mais cautelosa e abro a minha sacola acreditando que uma fada com purpurina iria me atacar.

 Mas após vencer o medo e abrir a sacola, me deparo com um vestido azul marinho simples com renda subindo pelos ombros e com o mesmo detalhe nas costas, me faz ter esperança na humanidade. Olho para Luna que está feliz com o seu vestido preto, a replica exata do que a Audrey Hepburn usou em Bonequinha de Luxo, consigo ver o brilho nos olhos de dela, parecia uma criança na manhã de natal.

—Poderia ser pior. – concluo feliz enquanto começava a me arrumar.

Quando chegamos à recepção lembro o porquê de odiar tanto eventos como esse. Haviam tantos flashes que deixariam o sol ofuscado, okay, estou exagerando, mas era quase isso. Entro apenas acenando rapidamente para os fotógrafos e me escondo atrás de uma pilastra.

—Pensei não viver o suficiente para ver o dia em que Isis Queen correria de algo. – Damian estava parado a alguns passos de mim com uma taça de champanhe na mão.

—Tecnicamente você morreu, então não sei se conta. Você não deveria estar bebendo isso. – me aproximo dele e roubo a taça dando um longo gole.

—Tentei roubar um copo de whisky. Não deu muito certo. – faz a sua careta de desdém típica.

—Conheço essa música. –começo a andar até ficar de frente para a pista de dança e então me lembro o único motivo no mundo que me faz vir nesses eventos.

 Meu pai dançava olhando encantado para a minha mãe, como se não existisse nada mais importante no mundo, apenas os dois. Eles possuem um nível de cumplicidade que poucos casais alcançam, poderia assistir essa cena por horas e duvido que me entediaria por um segundo se quer. Me pego sorrindo sem nem mesmo notar.

—Aquele não é o seu pai? – Connor aponta para o velho morcego que... okay, acho que a taça deveria estar envenenada.

—E a Diana. –Luna complementa quase tão abismada quanto estou.

—Uma longa história. –Damian se limita, me deixando mais curiosa que deveria.

—Se nós derem licença? -Connor puxa Luna usando de alguma força, para conseguir tirá-la do lugar. –Qual é, você é vice-presidente da empresa, precisa fazer mais do que comparecer aos eventos agora. –o escuto dizer enquanto eles se afastavam.

—Ela já deveria ter se acostumado a essa altura. – Wally aparece entre Damian e eu, com seu sorriso cheio de dentes. – Estou muito atrasado? – questiona se virando para que eu pudesse arrumar a sua grava torta.

—Seu pai não chegou. – Damian dá de ombros.

—Só falta ele? – Wally pergunta e eu concordo com a cabeça. – Merda. Ele não vai poder vir.

—Tinha essa alternativa? – questiono esperançosa.

—Não sei ao certo, mas se o Bruce está aqui, acredito que a resposta é não. – dá de ombros, olhando interessado para a bandeja que um garçom carregava. –Se vocês me dão licença, eu só vim aqui pela comida grátis. –Wally segue o garçom, aquela bandeja era algo perdido. Dou risada ao me dar conta de que ele passaria toda a festa dentro da cozinha interceptando bandejas.

—Vocês dois não vão dançar? – minha avó parece só Deus sabe de onde, quase me fazendo pular de susto. –Dançar. -aponta para a pista de dança. – Vamos, a juventude não é para sempre. – ela me empurra para os braços de Damian. – Não voltem antes da música terminar. – nos ameaça, e por um momento o vestido rosa passa por minha mente.

—Me desculpe. –coloco meus braços envolta do seu pescoço. – Não uso pink. – Damian me olha intrigado, mas entra no jogo colocando as mãos em minha cintura.

—Não estaria dançando com você se usasse.

 

 

         AGORA...

Eu olhava para o Mestre dos Espelhos pensando qual era a melhor maneira de irritá-lo. Sei do meu dom natural, mas já estou esgotando minha cota de indiretas.

Sam é uma abreviação para Samuel? - consigo a atenção do meu amigo laranja. –Não consigo imaginar um Samuel tão... Inadequado.

Estou sentada na cama com as costas encostadas na parede, e a cabeça baixa. Me sentia igual os heróis dos filmes de cowboys, só me falta o chapéu. Abro um sorriso no canto dos meus lábios, para caracterizar o personagem.  

—Não sairia na rua fantasiado de laranja, ou mexerica? –pondero analisando seu traje. –O que acha Mike, laranja ou mexerica. –pergunto ao Onda Térmica, cheia de cumplicidade, e ele tenta não sorrir em resposta.

—Você não sabe calar a boca, fedelha? – Mestre dos Espelhos para em frente as grades da minha cela.

—Não encontrei ninguém capaz desse ato. Mas me diz? Sua roupa foi patrocinada por uma fabricante de suco de caixinha? Ou de pastilha de vitamina C. – começo a ver espuma no canto de sua boca, todos os anos vendo Sitcom estavam sendo de grande ajuda hoje. Onda térmica tinha a cabeça baixa sobre a mesa, mas conseguia ouvir as risadas abafadas. –Serio, me solta e juro que pago alguém para desenhar um uniforme decente para você. Isso até poderia estar em alta nos anos vinte, o que eu duvido, mas cara para um Mestre dos Espelhos, não tem perdido muito tempo reparando na própria imagem, não é mesmo? –Sam me olha com tanta raiva, que temo por minha vida.

—Eu vou dar uma volta. –diz por fim.

—Não esquece de levar querosene! –grito. -Onda Térmica poderia emprestar o fósforo para ele? – me levanto e passo meus braço pelos vãos da grades, consigo ver meu amigo Sam saindo pela porta. -Assim ele aproveita e taca fogo nessa atrocidade ao bom gosto. – grito, e escuto um palavrão sendo gritado em resposta. –Você beija a sua mãe com essa boca? – um já foi, agora Mick, é entre nós dois. Sinto Katoptris pesar em meu bolso, espero não precisar usar de força.

 

 

UM ANO ATRÁS...

 

—Qual o problema com ela?

Tess me sacode em meio ao refeitório, me fazendo acordar do transe que a faca de manteiga me submeteu. Enquanto Mia dá de ombros voltando a atenção para o livro, Danny estava muito preocupado com o almoço para se importar com minhas bizarrices, e Phill olhava interessado para a mesa das Barbies, do outro lado do refeitório.

—Estava perguntando se vai vir no jogo? –repete como se eu fosse uma retardada, nem posso culpá-la, perdi a conta de quantas vezes havia feito essa cara de pastel por conta da Katoptris com eles me observando. –Vamos, vai ser legal. E nem vem com a desculpa de ser dia de semana. Amanhã é feriado. – faz cara de cachorro que caiu da mudança e não tenho como negar.

—Vai ser legal ver o Danny dar uma lavada nesses... –começo mais fico na dúvida. –Contra quem é o jogo mesmo?

—Gateway. – Mia fala por cima do livro.

—Vamos Star! -puxo um grito o que chama a tenção de Danny e de Phill que começam a dar risada. –Qual é o problema?

—Você é muito meiga. –Danny tira sarro da minha cara.

—Não dá para te levar a sério. –Phill se debruça na mesa em meio as gargalhadas.

—Vocês dois são hilários. – reclamo, vendo uma mensagem no meu celular.

 

 

AGORA...

—Por que está fazendo isso? –me sento na beirada da grade, onde ficaria mais perto do Mike.

Se a lenda sobre meu microchip for real, não vai demorar mais do que alguns minutos até que alguém apareça aqui. E pode ser alguma variação da Síndrome do Estocolmo, mas não quero que Mike apanhe mais, ele é um cara assustador, enorme e muito insano, ainda assim consigo gostar dele por algum motivo bizarro.

—Por que mais eu faria? –me olha sério. –Dinheiro.

—Minha família tem muito dinheiro, se esse for o problema. –argumento.

—É, eu sei quem é sua família. –dá de ombros, algo parecia incomodá-lo. –Talvez não seja apenas por dinheiro, talvez eu não confie mais em heróis. –agora sim estamos chegando a algum lugar!

—Me desculpe por perguntar, mas o que aconteceu entre você e Snart?

—Não quero falar sobre isso! –ele bate na mesa se levantando.

—Sabe que eles estão vindo por mim, muitos deles, não sabe? –Mike se vira e me olha de lado, como se não soubesse o que pensar a meu respeito naquele momento. –Olha Mike, eu te entendo. Vivo cercada por pessoas mais inteligentes, mais fortes ou mais influentes do que eu. –desabafo, batendo de leve no chão do outro lado da grade para que ele se sentasse. –Eu sou sempre a garotinha mais nova que fica para trás, na verdade meu pai me chama de variações delicadas de princesa e bebê. –faço careta. –Você ouviu o que o Zoom disse sobre eu amar o Kid Flash, que agora é o segundo Flash... Bom, você ouviu, não ouviu?

—Não estou interessado em seus dramas adolescentes. –fala, mas se senta à minha frente, demonstrando o contrário. Contenho um sorriso antes de voltar a falar.

—Eu o amava, ou pensava que amava, hoje é confuso. Mas na época ele era tudo para mim! –suspiro nostálgica. –Acontece que a namorada dele era como uma irmã, eu cresci com Sara, Sara Diggle a garota que Zoom assassinou. –falo e pela primeira vez ele parece surpreso. –Eu queria ser como ela, ter a força dela a admiração que minha família tem por ela, ser a melhor amiga do meu irmão, o amor da vida do West... O que eu percebi desde o sequestro é que nunca se tratou do Kid, sempre foi por Sara. Eu queria ser ela, por que nós queremos ser como nossos irmãos mais velhos. E fui infantil, tola, e talvez egoísta no processo.

—E você bateu nela? –pergunta esperançoso.

—Teria levado um coro se tentasse. –vejo a decepção em seu rosto. –Me desculpe. Mas ela nunca me julgou por isso, nunca me viu com outros olhos... O que estou tentando dizer é que existem laços mais fortes do que algo romântico, e não sei o que aconteceu entre você e seu melhor amigo, eu sei que Snart pode ter sido um criminoso, mas ele era leal a você e a irmã dele. E que nesse momento você deve estar furioso com ele, só o que quero te pedir é que pense nos motivos que ele pode ter para estar furioso com você também.

—Por que está fazendo isso? Quer me distrair para que você possa fugir? –parece confuso, tentando mascarar a emoção que havia despertado nele com sua habitual máscara de fúria.

—Já disse, eles estão vindo por mim. Estou falando por que gosto de você, e quando for embora quero ter certeza de que vai fazer a coisa certa. –respiro fundo contendo o nó em minha garganta. –Esse homem assassinou a minha irmã, bem na frente do marido dela, só para o ensinar uma “lição”, não é o tipo de cara com o qual você faz alianças.

 

 

ALGUNS MÊSES ATRÀS...

 

—Qual o seu problema? –esbravejo.

É a terceira vez seguida que derrubo Damian no tatame. Com certeza ele vai ter manchas roxas por um mês, espalhadas por todo o seu corpo.  Não está revidando com metade do poder de luta que sei que ele possui, na verdade lutar contra o Don seria um desafio maior.

—Se eu soubesse que treinaríamos dessa maneira... – aponto para ele no chão enquanto busco uma toalha para secar meu rosto. – preferiria treinar com bonecos de madeira. Vamos lá Damian, sei que pode fazer melhor que isso, ou talvez deva indicar a minha mentora para você. – desdenho com um leve sorriso angelical nos lábios.

—Talvez, só talvez, você não pensou que esse é o meu melhor?

—Não. – jogo uma toalha para ele. – Você está se segurando por que eu sou sua adversaria, se fosse outro qualquer já teria trucidado por perder a paciência. –me aproximo sentando ao seu lado no tatame da famigerada Batcaverna. – Esse lugar é tão silencioso. – observo ao redor, as redomas com os uniformes antigos dos membros da família, os diversos veículos alinhados na parte inferior da caverna, sem falar em todas as outras Bat-bulgigangas devidamente arrumadas.

—É uma caverna, uma caverna de verdade. – faço careta para ele, não tinha sido eu a dar o nome de Caverna para o porão a baixo da prefeitura, não pode me culpar. – E os outros estão fora.

—Quer dizer que a cidade está desprotegida? –estranho pois Bruce, nunca deixaria Gotham a mercê dos bandidos.

—Ninguém que frequente esse lugar. –esclarece e um “Ah!” sai dos meus lábios em surpresa.

—E porque estamos aqui? –questiono intrigada. –E não me diga que foi para treinar. –me coloco de pé com as duas mãos na cintura, e em um golpe rápido, Damian me dá uma rasteira, que me faz cair ao seu lado.

—Satisfeita? Nunca baixe a guarda. – sorri com o folego preso na garganta, tenho que dizer que foi o som mais sexy que já ouvi.

—É um começo. –sorrio ruborizando.

Damian se levanta me puxando para recomeçarmos o treino. Dessa vez, é o que ele realmente é em batalha, preciso e focado. Tenho dificuldade para me esquivar dos ataques, e ainda mais para conseguir contra-atacar, até que em um momento que perco o foco, Damian me desequilibra e eu caio no chão, em uma ação de contra-ataque, prendo minhas pernas entre as suas, o fazendo cair sobre mim.

—Podemos declarar um empate? –sorrio para ele que acaricia meu rosto levemente, Damian inclina seu rosto sobre o meu e me dá um beijo suave. –Não temos muitos momentos assim. –envolvo meus braços em seu pescoço. –Como namorados. – explico rapidamente. – Mas também não treinamos juntos. –dou de ombros, o que o faz sorrir. -Falo demais, mas em minha defesa é só quando estou nervosa, você me deixa nervosa com esse seu silencio, e esse olhar de predador.

—Você fala por nós dois. – completa, voltando a me beija.

— E você fica em silencio por um exército. Sabe, deveria aprender o poder que o diálogo tem, pode ser uma grande arma, irritar seus oponentes até eles quererem arrancar as próprias cabeças de raiva. – começo a falar cada vez mais rápido.

—Acho que sei a sensação. Isis, eu não sou bom nisso, mas estou tentando, pode por favor não dificultar tanto as coisas? – a voz era de deboche, mas tinha uma verdade ali.

—O que?—questiono muito rápido. –O que está tentado?

—Não ficou claro? – aceno negativamente e ele resmunga indignado, saindo de cima de mim e se sentado ao meu lado. – Caverna vazia, marcas roxas pelo meu corpo, silencio e ninguém nos atrapalhando.

—Está tentando me seduzir? – questiono em choque.

—Sou um cara de vinte anos, isso se você ignorar os quatro anos que passei morto. Ainda virgem, namorando a garota mais gata que já pus os olhos. Já morri uma vez Isis, isso aqui é pior. – começo a rir, o que o faz levantar irritado. –Ótimo, obrigado.

—Não estou rindo de você, tapado. – jogo a toalha que estava no chão em seu rosto. – Estou rindo de mim. Agora volta aqui.- ele não se move, me levanto ficando em posição de combate, mas mesmo assim sem nenhuma alteração em seu semblante imparcial. – Serio? – me revolta as vezes como ele pode ser tão cabeça dura. Tomo impulso e jogo todo o meu corpo sobre o dele, o faço desequilibrar novamente e tombamos os dois no chão. Acaricio a sua face, e distribuo beijos por todo seu rosto. – E qual era o seu plano? Além de me seduzir. – Damian afasta minhas pernas deixando uma de cada lado da sua cintura, depois dá um giro e estou por baixo dele novamente. – Tenho dezoito anos, ainda virgem, namorando o garoto mais gato que eu já vi. Não morri, mas não pode ser pior que isso.- o parafraseio fazendo sorri.

 

—Isis você não sabe ficar quieta? -questiona antes de me beijar, enquanto se levanta comigo em seu colo e caminha em direção ao elevador que nos levaria até a mansão.

—Talvez você consiga isso pela próxima hora. – sorrio o puxando para os meus lábios.

 

AGORA...

—Por favor Mike, não esteja aqui quando eles chegarem. –peço quase desesperada, me dando conta de que o tempo estava acabando e ele ainda não se decidiu se confia em mim ou não.

—Posso lidar com o Flash, o Arqueiro ou o Batman. –dá de ombros.

—E o que vai fazer? Impedir que me levem? Vai me machucar se eu tentar escapar? –sugiro, vendo como a ideia o deixa desconfortável. –Conheço caras durões, bem de perto. Convivo com eles todos os dias, eu sei quando se importam com alguma coisa.

—Se afasta. –fala de repente se colocando sobre seus pés.

—O que? –questiono confusa.

—Você quem disse que estamos sem tempo, Zoom vai voltar em breve. Agora vai para a cama e se proteja! –avisa tirando a arma da cintura e mira na fechadura, eu me protejo com o colchão fino e escuto o chute que ele dá na grade a rompendo.

—Obrigada. –digo cheia de sinceridade, sentindo meus olhos se encherem de lágrimas. –Vem comigo?

—Não sou um herói princesa, não saberia ser um. –caminho em sua direção cheia de uma determinação que nunca senti antes, e fico nas pontas dos pés para beijar seu rosto com carinho.

—Foi meu herói hoje. –acaricio sua face antes de correr em direção a escada. –Se cuida. –paro e me viro em sua direção, antes dele acenar com um pequeno sorriso em sua face.

Saio em um beco escuro das ruas de Central, eu só precisava chegar na casa do tio Barry, o problema é que velocistas são como deuses, eles podem estar em vários lugares ao mesmo tempo. Foi quando a pior ideia do mundo passa por minha cabeça, mas uma coisa eu aprendi com a estranha terra paralela pela qual passei, é que não podemos levar a culpa pelos erros de nossas duplicadas, eu que o diga, poderia eu mesma espancar a garota mimada que saia desfilando pelo mundo co minha cara.

—É tudo uma questão de frequência sonora. –murmuro para mim mesma, quando encontro uma rua movimentada, onde estaria segura ao me misturar com a multidão, e começo a falar baixinho. –Clark. –respiro fundo e tento mais uma vez. –Clark, por favor...

Então um borrão azul e vermelho desce dos céus e para a minha frente. As pessoas ao nosso redor ficam boquiabertas ao ver o Superman de perto em Central City, acho que elas já se acostumaram com o Flash, mas o Homem de Aço é uma baita novidade. Clark me olha como olharia para uma criança assustada, que é exatamente o que sou nesse momento.

—Escolha interessante de roupas. –brinca, e tento ajeitar a blusa velha de Connor que usava da melhor forma possível, o que não muda nada.

—Não estou no meu melhor dia. –murmuro com voz de choro e ele abre os braços para mim, que me aninho ali, sentindo a adrenalina deixar meu corpo e começo a me dar conta do inferno pelo qual passei.

—Está tudo bem querida, está a salvo agora.

—Você me escutou. –murmuro surpresa enquanto ele alçava voo ainda me confortando com seu abraço.

—Já estava procurando por você, todos nós estamos. –responde. –Quando escutei a sua voz chamando meu nome fui ao seu encontro.

—Obrigada. –pousamos atrás da Star Labs, e começo a ouvir a voz da minha mãe, enquanto caminhava com Superman em direção ao convex.

—Ela tem que estar aqui, tem que estar em algum lugar dessa cidade. –diz de forma quase obsessiva enquanto Cisco e Caitlin a observavam de uma distância segura. –Que tipo de mãe eu sou? Quem deixa a filha sair pelo mundo combatendo crimes, ela é só uma garotinha!

—Querida, não é sua culpa, e muito menos sua escolha. –Iris coloca a mão no ombro dela.

Não posso me controlar, deixo Clark seguir com seus passos normais e saio em disparada ao encontro dela. Meu corpo está todo rígido, mas ignoro a dor e vertigem quando os olhos bondosos da minha mãe se iluminam ao me ver. Ela se levanta e corre ao meu encontro, me aperto em seus braços como se o espaço fosse pequeno demais, e nada mais no mundo importasse.

—Você está bem? Eles te machucaram? –pergunta se afastando para examinar cada pedacinho meu, nem consigo reclamar.

—Não, na verdade eu quase matei Zoom e o Mestre dos Espelhos de raiva, e o Onda Térmica me ajudou a escapar.

—O Mike? –Cisco pergunta incrédulo e apenas confirmo com um aceno antes de voltar a abraçar minha mãe.

—Obrigada Clark. –fala sobre meus ombros e deposita alguns beijos ali. –Preciso avisar os outros. –Connor está enlouquecendo por não conseguir sair a campo, e seu pai deve ter dizimado metade dos bandidos de Keystone com as próprias mãos, Wally acabou com a outra. –conta falando muito rápido.

—Eu aviso eles. –Cait se prontifica, e me sopra um beijo a distância.

—Podemos ir para casa? –peço em voz baixa. –Estou um pouco zonza. –foram as palavras mágicas e no mesmo instante Cisco assumiu os computadores enquanto Cait vem em minha direção para me examinar.

—Ela está desidratada, –conclui. –e em choque.

—Já passei por coisas piores, só quero ir para minha casa. Por favor. –quase imploro.

—Tudo bem, mas vamos te deixar na caverna e você vai direto para a ala hospitalar. –fala andando até um armário de onde retira duas bolsas de soro e entrega para minha mãe, depois prende um comunicador em minha orelha, beija o alto da minha cabeça e sinto meu corpo ser teletransportado.

Quando paro no meio da caverna, a primeira coisa que vejo é Connor sentado na cadeira da nossa mãe, segurando a mão de Luna como se fosse a única coisa que o mantivesse desperto. Luna estava se segurando, se mantendo forte por ele, e por Sara que estava da mesma forma de seu outro lado.

—Ainda quer me matar? –pergunto com a voz fraca para Sara que levanta correndo, seguida por Luna e Connor que não podia correr ainda.

—Te mato depois que me der um abraço para eu ter certeza que está vida. –fala me apertando em seus braços, e sinto os braços da Luna, depois Connor que abraça nós três ao mesmo tempo. Respiro aliviada, me sentindo segura no meio deles.

—Você está ferida? –ele pergunta assim que nos afastamos e consegue me ver com clareza.

—Estou bem. –garanto depois de um longo suspiro. –Desidratada, muito cansada e precisando mais do que nunca ver o papai. –Connor sorri aliviado.

—Eu estou aqui, meu amor. –escuto a voz de meu pai atrás de mim, e ele me pega em seus braços, bem a tempo de minhas pernas falharem.

—Ela está desidratada. –escuto minha mãe dizer, enquanto sou levada para o elevador em direção a ala hospitalar, então a última coisa que vejo é o rosto de Damian que corre para entrar no elevador antes que ele se feche e sinto a Katoptris exigindo minha atenção...

Eu não estava mais na caverna, assistia a uma versão minha que tinha as listras verdes do meu uniforme rasgadas. Estava machucada e parecia lutar em uma guerra, julgando pelo caos ao meu redor. Mas nada disso parecia ser importante para mim, tinha as minhas costas coladas as de Damian e cuidávamos da retaguarda um do outro. O mais estranho é que aquilo parecia um Apocalipse, ainda assim nós estávamos felizes.

 

—Você aceita? – Damian estava todo ensanguentando, um corte no supercílio esquerdo, e seus lábios estavam um pouco inchados, a máscara estava com uma parte rasgada, seu olhar era sério como se não tivesse sobrado muito tempo, e em sua mão um anel escuro, quase uma aliança, estava estendido para mim. –Não temos nenhum tempo para explicações.

—Estava me perguntando quando iria me entregar. – tiro rapidamente a luva do uniforme, e visto o anel que se encaixa perfeitamente. -Depois me explica. – dou um selinho, Damian faz uma careta de dor, mas retribui, volto a colocar a luva.

—Eu te amo. – diz sério.

—Não, você não vai usar essa estratégia. Você não disse isso, eu não ouvi. – falo perdendo a paciência. – Vai me dizer quando tudo estiver acabado, e me contar a história por trás desse anel. – ele concorda sorrindo. – mas para registro, eu também te amo. Mas finge que não ouviu, esse não é o fim, não para nós dois, para nenhum de nós, mas vai ser o fim para alguém.

—Nada de saídas fáceis. – Damian sorri com o dedo no comunicado. -Ouviram isso?  Nightmare não quer saídas fáceis.

‘Fala para essa garota, que já está complicado de mais. Simplificar um pouco não faria a coisa toda perder o charme.’ a voz do Wally debocha da situação.

‘Vamos acabar com isso.’ Luna interfere. ‘Estão todos prontos?’

‘Artêmis em posição.’ Sara confirma.

‘Flash em posição’

‘Arqueiro Verde, em posição’

Olho para Damian que sorri para mim, estávamos ferrados mesmos, que diferença faria. -Robin e Nightmare em posição.

 

 

AGORA...

Abro os meus olhos, sentindo como se tivesse vivido toda uma vida de sedentarismo. Demoro alguns segundos para reconhecer a cama hospitalar, sentir o cateter em meu braço, e uma mão segurando a minha. Damian estava sentado na poltrona a meu lado, com os olhos fechados apesar de saber que não estava dormindo, aproveito a brecha para observar seu rosto. Ele estava machucado, não como em minha visão, parecia mais ter arrumado algumas brigas de rua, e os ossos de seu punho estavam feridos, o que significa que os outros caras estão muito piores do que ele.

—Oi. –falo, fazendo com que ele abra os olhos e se incline em minha direção com o semblante aliviado.

—Você dormiu por dezoito horas. –fala, como se eu tivesse perguntado a respeito. –Connor precisou sair para comer e tomar um banho, sua mãe e Luna estão trabalhando, e o seu pai está ajudando Wally, mas eles devem voltar em algumas horas. Sinto muito, não pensei que acordaria enquanto eu estivesse aqui, só não queríamos que ficasse sozinha. –justifica soltando minha mão, sem me dar tempo de revidar, ele se coloca de pé e me olha irritado. –Quer saber, você é hipócrita!

—Desculpe? –questiono me sentindo como quem começa a ler um livro pela metade.

—Não vou mais ficar me desculpando com você. –fala se controlando para não gritar. –Fez do meu último mês um inferno, me senti a pior pessoa do mundo por ter escolhido seguir a vontade do Connor ao invés da sua. E o que você fez em seguida?

—Damian...

—Fez a mesma coisa, ignorou a vontade de suas amigas! Prendeu uma guerreira experiente, e outra que tem sido treinada por um velocista por anos, para se fazer de mártir! –exclama jogando as mãos para o alto, respira fundo e volta a se sentar ao meu lado. –Não vou mais me importar se minha presença te incomoda, precisei lidar com a merda do seu sequestro, vai se virar para lidar com a minha companhia. Não vou sair daqui! –fico sem reação por alguns segundos antes de conseguir dizer a única coisa que fazia sentido no momento.

—Minha boca está seca, pode me dar um pouco de água?

 


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Notas finais do capítulo

Bom, nós esperamos que vocês tenham gostado, não deixem de nós falar o que acharam, esperamos por vocês nos comentários.
Feliz Páscoa para todos.
Bjnhos!