Paradoxo - Seson 2 escrita por Thaís Romes, Sweet rose


Capítulo 37
Outro Universo.


Notas iniciais do capítulo

Oi Gentes bonitinhas!
O capítulo de hoje está uma loucura, não saberíamos descrever de outra forma. Acontece que nós resolvemos homenagear uma de nossas séries preferidas, dando ao título do capítulo o mesmo título de um de seus episódios. Podem ficar tranquilos, que mesmo em “Outro Universo” os lindos Winchesters não vão aparecer com estacas nas mãos e o cabelo maravilhoso do Sam (pior pra gente). Ainda assim nós estamos muito animadas com o resultado. Um recadinho apenas, muito importante, então prestem atenção. Um das perguntas que levantamos desde o primeiro capítulo da primeira parte dessa fic vai ser respondida nesse universo alternativo, prestem atenção! E vão descobrir por que duas pessoas são tão parecidas!



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TERRA 1 – Dias atuais.

LUNA

Dizem que tudo na vida tem um motivo, uma razão arquitetada por Deus, o universo, ou seja lá o nome que preferir dar. Segundo essa teoria, tudo o que somos é resultado do ambiente em que vivemos, somado as escolhas que fazemos durante a vida, e escolhas que outras pessoas fazem por nós. O que significa que tudo pode mudar, só depende de onde estamos.

—O que aconteceu? –Sara grita me alcançando, com seu arco preparado.

—Isis se foi, Hunt a levou. –olho para a arma em minhas mãos, sentindo o desespero tomar conta do meu corpo. Por um segundo Sara apenas olha para a porta, sem reação, até que sinto sua mão na minha.

—Luna, vem. Vamos alertar os outros. –de alguma forma, ela parece ainda mais sem chão do que eu naquele momento.

 

 

TERRA 51 - 2016

FELICITY

—O que ela fez? –John grita jogando as mãos para o alto indignado.

—Me ofereceu dinheiro, muito, muito dinheiro. Consegue acreditar? –tento respirar, me acalmar, mas minhas mãos tremiam. –Bruxa!

—Falou com o Oliver? –volta a se sentar ao meu lado no sofá, com seus olhos cheios de preocupação fraternal.

—Sabe aquela loura de perna fina que conhecemos no escritório semana passada? –meu coração se aperta, apenas com a lembrança.

—Laurel Lance, a tal amiga de infância.

—É noiva dele. –vejo nos olhos de John, a mesma decepção que senti. -Eu vou embora, vou aceitar o emprego que o Wayne ofereceu, preciso sair daqui.

—Tudo bem, se é isso mesmo que quer. Vou com você. –fala resoluto, se levantando do sofá.

—John, não pode sair de Star City! –protesto.

—Claro que posso. –ele me olha cansado. –Depois de tudo o que passamos Felicity, somos só eu e você agora, desde que Lyla me deixou e levou minha filha com ela. Não vou abandonar a família que me restou.

Sorrio para John, cheia de gratidão, me levanto a passos vacilantes e o abraço. Nós dois temos nossos corações partidos, entendemos a luta um do outro, e fomos traídos da pior forma que poderíamos imaginar. Ele tem razão, somos a família um do outro.

—Sara pode passar os verões conosco, ela e meu bebê podem ser melhores amigos. –toco minha barriga de leve, e ele sorri em resposta. –Então está decidido, vamos para Gotham.

 

 

DEZESSEIS ANOS DEPOIS

LUNA

Como ele consegue ainda estar transando com essa modelo no escritório, com a empresa desmoronando?

Sinto náuseas só em pensar no meu chefe. O Sr. Queen tem apenas dois objetivos na vida, fazer merda e tentar ser um bom pai. Ele é muito bom na primeira coisa, mas na segunda falha de forma vergonhosa. Tento o justificar, afinal um cara que perdeu um dos pais e foi abandonado pelo outro não pode ser muito normal. Só Deus sabe o que eu me tornaria se não tivesse meus pais morando a seis quilômetros de distância.

A história da família Queen é bem simples, e trágica. A vinte e três anos atrás Robert Queen entrou em um navio com uma das amantes, Isabel Rochev e os dois afundaram devido a uma falha de motores, poucos dias depois encontraram os corpos boiando próximos a uma ilha ao leste da China. Sua mãe Moira, ficou revoltada depois de tudo e acabou fugindo com um amigo da família, Malcom Merlin, que descobrimos depois ser pai da irmã mais nova do Oliver, Thea Queen. A garota se rebelou de tal forma que três anos depois morreu de overdose. Não é o retrato da família perfeita?

Oliver por sua vez se casou com Laurel Lance, eles até tentaram fazer o casamento dar certo por um tempo, mesmo com todo os boatos de que o Sr. Queen amasse uma assistente dele que o deixou. Mas após trair Laurel com a própria irmã, não é segredo para os mais próximos que aquele casamento não passa de aparências.

A Sra. Queen dedica seu tempo livre ao melhor amigo de Oliver, Tommy Merlin... Fico confusa se começar a considerar o parentesco entre todos, então prefiro deixar subentendido o que eles fazem para se distrair juntos. Não dá para culpar Laurel, Oliver nem mesmo se dá ao trabalho de esconder as traições, me sinto na idade média todas as tardes, quando uma modelo cada vez mais jovem entra em seus escritório após o almoço, e sai duas horas depois, toda desgrenhada.

Ele não teve filhos com Laurel, por que será? Mas tem um casal, cada um com uma mãe diferente, gosto delas na verdade. Connor Hawke é fruto do relacionamento que teve na faculdade com Sandra Hawke. Ele é o cara mais gato que já vi, e não estou exagerando, o cara é a descrição perfeita de um deus grego, louro, alto, olhos azuis acinzentados, um porte de nadador olímpico, e um sorriso que me faz parecer retardada quando vejo. Canta em bares para ganhar a vida e nega até o último momento que é filho do Queen, mesmo sendo a cara do papai.

Isis Smoak apesar de ser filha de uma das mulheres que mais admiro no meu ramo, não é fácil de se explicar. Não sem ter minha consciência pesando, por alguém como essa garotinha ter saído do ventre de um de um gênio como a Srta. Smoak...

Sou arrancada de meus devaneios, quando a divisória que separa minha saleta do escritório do Oliver se abre, e a modelo da vez sai cambaleando.

—Conseguiu entrar em contato com minha filha, Srta. Delphine? –Sr. Queen aparece completamente alinhado, e me olha com aquele ar sério, que já não me engana há tempos.

—Não senhor. –respondo. –Deixei recado, mas vou tentar novamente.

—E quanto ao Connor? –respiro fundo, se detesto falar com filhinha mimada, gosto menos ainda do filho natureba.

—Ele não atendeu nenhuma ligação, mas tenho algo em mente. –ele sorri de forma mecânica, afinal não é minha culpa se ele ignorou o fato de ser pai por anos. –Senhor, preciso te lembrar que estaremos na reunião com os diretores no fim da tarde.

—Isso te dá duas horas para descobrir onde meus filhos estão! –sai sem nem mesmo olhar em minha direção.

Pego minha bolsa, contendo a vontade de revirar os olhos e saio apressada. Meu celular vibra em meu bolso e vejo a foto da minha mãe na tela, a história sobre seja qual for o nome da nova namorada do meu irmão vai ter que ficar para depois. Corro pelas ruas e pego o primeiro taxi que avisto, indo em direção aos Glades.

Vejo um bar pequeno na esquina, é onde Connor se apresenta a noite, e serve bebidas durante o dia. Respiro fundo com a mão na maçaneta gelada de metal, e me preparo para entrar. O lugar é escuro, com um pequeno grupo de pessoas jogando sinuca nos fundos, um palco pequeno na frente, e um balcão de madeira gasta na lateral.

—Por favor, quero uma água. –peço ao homem louro de costas, organizando as bebidas na prateleira.

—Oi Delphine, estava me perguntando quanto tempo demoraria até você aparecer hoje. –faz careta, se virando com uma garrafa que tinha um líquido âmbar dentro, e me serve uma dose.

—Não foi o que pedi. –olho para o copo a minha frente, não bebo, não faz parte da criação cristã que recebi. Quase consigo escutar a voz dos meus pais me dizendo que estava indo para o caminho errado.

—Você trabalha para o diabo, deve estar precisando disso.  –empurra o copo em minha direção. –É por conta da casa.

—Sr. Hawke, precisa se apresentar na reunião do conselho amanhã, você também é um beneficiário das ações da QC...

—Gosto de olhar para você, seria um idiota se não gostasse, -ele para a minha frente, me secando com aqueles olhos azuis elétricos, e os braços cruzados sobre o balcão, se inclinando em minha direção. –mas quando começa a falar sobre conselho, QC e Oliver Queen, me lembro o porquê de não sermos amigos.

—Não estou tentando fazer amizade, senhor.  –engulo em seco, me inclinando para trás, ele dá um sorriso de lado, cheio de pretensão. Minha espinha chega a gelar. –Esse é o meu trabalho.

—Talvez fossemos amigos se trabalhasse menos. –suspiro frustrada.

—Olha, vou colocar isso de uma forma simples. –perco a paciência e me levanto. –A empresa está falindo, com muita dificuldade encontrei um comprador, foi impossível, você não tem ideia. –suspiro afastando o cabelo do rosto. –Desde então estou tentando falar sobre isso com o seu pa... O Sr. Queen, e ele só quer saber onde os filhos estão, e se eles estarão presentes na fusão! –tudo ao redor fica em silencio e percebo que todos estavam me olhando, Connor tinha um sorriso de admiração nos lábios.

—Se sente melhor, Delphine?

—Na verdade não. –pego a bebida sobre o balcão e a viro em um único gole. O liquido desce queimando minha garganta e me traz lágrimas aos olhos. –Definitivamente, não.

—Não quero o dinheiro dele, não quero nada do Oliver. –responde, parecendo pela primeira vez desde que o conheci, me levar a sério. –Olha o que o dinheiro fez com a Isis. –faço careta e ele dá risada.

—Não é pelo dinheiro, na verdade não existe muito dinheiro a essa altura. –confesso. –Eu convivo com o Sr. Queen a mais de um ano, ele não é um bom marido, não é um bom empresário e com certeza não foi um bom pai. Mas ele não parece se importar em ter falhado em nada, além do fato de não ser um bom pai. –suspiro me sentindo a advogada do diabo. –Por favor, vá a reunião. –quase imploro. –Preciso desse emprego.

—Por você, Delphine. –responde franzindo o rosto em uma careta. –Só por que bebeu. –levanta o copo, e me sinto grata de uma forma que não sei explicar.

 

 

WALLY

É meu aniversário, dezoito anos. Finalmente vou sair de casa, entrar para a faculdade e fazer alguma coisa da vida. Pensei que teríamos uma festa, ou talvez um almoço, qualquer coisa. Mas meu pai não é a pessoa mais animada do mundo, não desde que minha mãe morreu e nos mudamos para Star City, para que não precisasse se lembrar dela. Minha mãe, Ester Allen faleceu após uma luta árdua contra o câncer. Me sinto mal por meus pais, ela era casada com Paul Galler quando os dois se conheceram, ele era um cara violento, e pelo que meu tio Barry conta, até mesmo malvado. Mas de alguma forma tudo mudou no momento em que olhou para meu pai. Ela se divorciou e os dois se casaram dois meses depois, e foram felizes até o último suspiro de vida dela.

 Passei toda a manhã ajudando a família da minha namorada a se mudar para a cidade, e aguentando o humor dela por ter que deixar todos os amigos em Gotham. A única coisa que me animou foi o irmão do meu pai, que é um dos melhores amigos da mãe da minha namorada, e acabou de se mudar para Star City para assumir um cargo de supervisor forense no departamento de polícia da cidade.

—Como Malcom está? –tio Barry me oferece uma garrafa de refrigerante, e nos sentamos nos degraus da frete da casa, depois de colocarmos todos os móveis para dentro.

—Ele não sai de casa, além de ir para o trabalho, me olha com aquele ar de desespero. –dou de ombros com tristeza. –Uma hora ele precisa superar tio, já fazem anos!

—Acredite Wally, eu dividi o útero com ele por nove meses, e nem isso me ajudou a entender a cabeça do meu irmão.

—Sei como se sente.

—Hey, Kid. –me empurra de leve com os ombros. –Feliz aniversário!

—Obrigado. –sorrimos um para o outro, o mesmo sorriso na verdade, sou uma cópia ruiva do meu pai, o que me torna uma cópia do tio Barry também. Me sinto mal por preferir me parecer com meu tio do que com meu pai, mas depois de algumas horas com Malcom Allen, fica difícil não entrar em depressão.

—Wally! –escuto a voz da minha namorada e um calafrio passa por minha espinha. –Preciso de ajuda! –grita impaciente, suspiro, devolvo o refrigerante para meu tio, e entro a seguindo escada acima.

—Feliz aniversário, Kid! –John bagunça meu cabelo quando passo por ele, e Felicity me sopra um beijo. –O que acha de uma pizza à noite para comemorar? –grita enquanto me afasto.

—Claro, vai ser ótimo! –concordo.

—A filha dele vai vir fazer faculdade em Star City, por isso está todo animado. –Felicity conta.

—Uau! Finalmente vou conhecer a famosa Sara. –tio Barry diz.

—Wally, pode andar rápido? –Isis volta alguns passos no corredor, com o rosto transbordando impaciência, apresso o passo e quando entro no que um dia vai ser o quarto dela, vejo uma imensidão de caixas, ainda intactas.

—O que exatamente você estava fazendo? –pergunto chocado.

—Precisava atualizar a Mia, ela quer saber como é essa cidade sem graça. –respiro fundo, tentando me concentrar no quanto isso deve estar sendo difícil para ela. –Pode me ajudar com isso? –sorri de forma doce, com seu rosto de anjo.

—Por ajudar, você quer dizer desempacotar tudo e colocar nos lugares. –Isis dá alguns pulinhos animados, depois me beija, mas seu celular vibra e ela se afasta imediatamente. –Mia de novo?

—Não. A chata da secretária do meu pai. –descarta o celular sobre uma caixa e me abraça novamente. –Já te dei os parabéns? –franze os olhos.

—Na verdade, só o que fez hoje foi explorar minha mão de obra escrava. –respondo e Isis dá risada.

—Feliz aniversário!

—Obrigado. – ela me puxa para cama, onde tinha tudo, menos espaço suficiente para nos encostarmos. –E a Luna não é chata.

—Você fala isso por que tem essa queda por ela desde o dia em que a doida me perseguiu em Gotham. –seus olhos formavam uma linha fina, mostrando o descontentamento por eu não odiar a secretaria do Sr. Queen.

—Ela só está fazendo o trabalho dela. –falo na defensiva, rezando a todas as entidades religiosas, para a ruga no meio de sua testa se dissipasse, não sei se vou conseguir ser um namorado compreensivo se essa conversa se tornar um teatro grego. – Tudo bem, entendo o seu ponto. Sempre que ela aparece significa que você vai ter que lidar com o seu velho. –argumento antes que ela me fuzilasse.

—Não fale assim, por que parece que eu tenho alguma empatia com aquele homem. -reclama enquanto me entrega uma caixa com as coisas da antiga escola. – Vou sentir falta do time.

 Isis pega da caixa um porta retrato, onde ela e um bando de garotas estão segurando pompons e vestindo o uniforme de líder de torcida nas cores do seu antigo colégio, preto e amarelo, e mandavam beijinhos em poses esquisitas. Ver como sua face se torna doce ao observar as amigas, é o que me lembra da garota que ela pode ser em seus melhores dias.

—Pode chamar aquele homem de crápula, ou de Sr. Queen, o que você preferir, eu particularmente prefiro a primeira opção.

Se levanta e coloca o porta retrato em um canto da sua escrivaninha, junto a outras fotos. Na primeira Diggle a levanta como se fosse um álter, na segunda ela e Felicity estavam vestidas para o baile beneficente das indústrias Wayne do ano passado, elas ficam parecidas quando sorriem, o mesmo brilho nos olhos, o ar sapeca e as covinhas no rosto. A terceira era a mais antiga, nos dois sentados no sofá com um balde de pipoca nos separando, ela chorava desesperadamente, enquanto eu tentava a acalmar. Foi nesse dia que a pedi em namoro, mas ela não estava chorando pelo pedido, o choro era por que o Jack de Titanic havia morrido, pela quarta vez naquele ano, e eu na tentativa de que ela parasse de chorar a pedi em namoro, nem preciso dizer que não deu certo.

 Sou um namorado legal, tento ser compreensivo, mas a única coisa que exijo em nosso relacionamento é para não me obrigar a ver Titanic de novo, vai que eu exagere na doze e o próximo pedido seja em casamento. Passamos algumas horas, eu desempacotando e guardando coisas, Isis conversando em suas redes sociais, Deus, vou quebrar esse celular qualquer hora.

—A pizza chegou. – ouço a voz do meu tio berrando no andar de baixo, me levanto animado não com a pizza em si, mas com a possibilidade de não cumprir os meus doze anos de escravidão, okay eu exagerei, doze horas.

—Você vai me abandonar? – lá se vem a chantagem emocional.

—Não pode ficar entre o pepperoni e eu. Além do mais, até um trabalhador escravo precisa de alimento.

Desço as escadas como se o que estivesse me esperando fosse salvação, mas me arrependo amargamente quando vejo que não é somente a pizza que estava lá em baixo. Luna Delphine estava plantada na sala com os olhos fixos em Isis que estava parada atrás de mim.

—Desligar o telefone na sua cara não foi o suficiente? Veio até a minha casa para me dar o prazer de bater à porta também? -eu conhecia aquele tom de sacarmos, nada de bom poderia sair dali.

—Srta. Queen...- péssima escolha Delphine.

—Srta. Smoak. –Isis corrige. –Me xinga, mas não humilha.

—Claro, me desculpe Srta. Smoak. Mas não me deixou outra opção. – Delphine parecia certa da atitude, mas vez ou outra olhava para Felicity. -Precisamos de todos os acionistas amanhã ...

—Tenho dezesseis anos, sou representada legalmente por minha mãe. – Isis sabe ser turrona quando quer.

—Isis? – Felicity chama a sua atenção, mas parece não surgir muito efeito. –Luna, eu vou conversar com a minha filha. Ela estará amanhã nessa reunião.

—Mamãe! – Isis grita em meu ouvido, sobe batendo o pé e fecha a porta com tudo.

—Me desculpe novamente por incomodá-las, mas são empregos, vidas em jogo Sra. Smoak...

—Eu sei Luna, não precisa se desculpar. É por isso que estou aqui. –sobe as escadas atrás da filha nos deixando ali. Eu tenho que admitir, esse estava sendo um aniversario agitado, e eu só queria uma pizza e um pote de sorvete, talvez encontrar meu pai de bom humor.

 

 

DAMIAN

Salvar essa empresa vai salvar a cidade inteira. Coisa que percebi no caminho no hotel até o prédio da QC essa manhã, é que essa cidade está precisando ser salva. Observo meu reflexo através do prédio espelhado da empresa, ajeito meus óculos e a gravata, vendo atrás de mim toda a movimentação de uma cidade grande.

—Damian? -escuto me chamarem.

Me viro e Felicity Smoak, uma velha amiga do meu pai, e uma funcionária de anos, está saído do seu carro com uma garota, que devido à semelhança só posso supor ser filha da Srta. Smoak, a Srta. Smoak II. As duas caminham em minha direção, Felicity com o sorriso fácil de sempre, já a garota estava muito mais interessada em seu telefone.

—Olá querido. – Felicity me abraça me deixando constrangido e entortando os meus óculos na minha face. – Seu pai me ligou agora cedo falando que você estaria na reunião. Quando chegou de Nanda Parbati? –questiona interessada passando os seu braço entre o meu, e me puxando para dentro da empresa. –Você ainda não conhece a minha filha? – digo que não com a cabeça preocupado demais em acompanhar o ritmo da Felicity e da menina que apesar dos saltos agulha pareciam capazes de correr uma maratona na maior classe. –Essa é Isis. -dou um sorriso que deve se parecer mais uma careta de dor, por que a filha da Felicity me olha com cara de nojo, e nem posso culpa-la.

—Mãe. - Isis aponta por sobre o meu ombro para o outro lado da marquise. -Isso vai ser ...

—Interessante.  -Felicity completa, evitando um palavrão. –Connor! -Felicity sorri para o sujeito loiro que vinha em nossa direção.

—Não sabia que estava estagiando para as Industrias Wayne. - tento puxar papo com Isis que parece aliviada de tirar os olhos do cara que cumprimentava a sua mãe com um abraço afetuoso.

—Que? Estagiaria? Não. Fui convocada. Você não sabe? –me pergunta chocada. – Isso foi capa de todas as revistas de fofocas do país, a uns cinco anos. –O dono desse prédio foi o doador de metade do meu DNA.

—Oliver Queen é o seu pai? – me assusto com a revelação, Isis faz um careta de dor.

—Doador de esperma. –me corrige.

—Estive morando com a minha mãe nesses últimos tempos. –argumento em tom de desculpas.

—E isso era no Alasca?

—Nanda Parbati. – Felicity explica.

—Que seria? Geografia não é o meu forte. – Isis murmura.

—Um pequeno pais perto do Tibete. Fica tranquila, quase ninguém conhece, meu avô tem uma empresa que explora o uso consciente dos recursos naturais do planeta por lá. – dou de ombros.

—Você é neto do Ra’s Al Ghul? – o sujeito loiro parece feliz.

—Esse é o Connor, Connor Hawke. – Felicity se ocupa de nos apresentar. –Connor esse e Damian Al Ghul Wayne.

—Cara sou fã do trabalho que o seu avô tem difundindo no mundo, soube que ele salvou da extinção os Tigres-de-bengala.

—Nossa, super interessante. – Isis resmunga enquanto entramos no elevador.

—Pergunta para os tigres, irmãzinha. –Connor aperta a bochecha de Isis e eu começo a pensar que era melhor ter esperado o outro elevador.

—Termos vinte e três cromossomos em comum, não nos torna irmãos. – mostra a língua para Connor, e tenho que segurar o riso.

A porta do elevador se abre, no momento que meu celular começa a vibrar em meu bolso. Uma coisa todo mundo deveria saber sobre mim, sou a encarnação do “sem jeito”, não tenho coordenação motora. Então enquanto tentava tirar o celular do bolso da calça, não sei como, perdi o equilíbrio e dei de cara com o chão, aos pés de uma jovem de pernas bonitas que tentei com esforço não olhar, suponho que trabalhe na empresa.

—O senhor está bem? – pergunta espantada, e eu junto a minha dignidade despedaçada, murmuro um “estou ótimo” e saio de perto a procura de um banheiro.

—Alô? – atendo o telefone me trancando no banheiro do andar.

‘Você não ligou avisando como chegou, sabe quantas possíveis tragédias passaram por minha cabeça?’

—Fica calma, dona Thalia!

 Essa é a minha mãe, a pessoa mais doce que conheço, talvez a segunda mais doce, meu avô é páreo duro. Eu tive a melhor infância do mundo, nos onze primeiros anos, foi quando meus pais decidiram se separar, mas foi sem drama, tranquilo, os dois sempre foram focados nos negócios da família, e muitas vezes precisavam estar longe. Então de uma maneira muito sensata eles resolveram que preferiam seguir caminhos diferentes. Morei com a minha mãe pelos outros oito anos, meu pai sempre viajava para me ver, acho que acabou criando uma ponte aérea para Nanda Parbati, pela frequência que nos visitava. Mas com a chegada da faculdade achei melhor morar em Gotham.

—Cheguei tarde ontem, e só queria dormir. Sem falar que Gotham não é o paraíso do crime, não é uma Metrópoles. Acho que Gotham é a cidade mais segura da América mãe.

‘Mas agora que a gangue dos Grayson’s se uniu com a dos Gordon’s...’

—Mesmo assim é a melhor cidade. – respondo olhando impaciente para o espelho, tentando ajeitar meu terno que estava com a manga direita amassada. –E o comissário Falcone vai dar um jeito, mãe.

—Damian? – a voz da Felicity vem seguida de três batidinhas na porta. – A reunião vai começar.

—Estou indo! -respondo e escuto o barulho dos saltos de Felicity se afastando. – Preciso ir, dá um beijo no vovô por mim. Eu te amo.

‘Também te amo filho, vê se come direito.’

—Tá...

‘E não vai dormir tarde.’

—Tá bom mãe.

‘E não fala como estranhos.’

—Mãe! –exclamo antes de desligar o telefone, tenho dezenove anos e não sou nenhum desinformado, sei me virar. Eu acho...

 

 

FELICITY

Claro que ele estaria atrasado, quando Oliver Queen já esteve no horário em toda a sua vida?

Sinto pena da secretária dele, a garota é realmente muito boa. Acho que a QC não aguentaria até agora sem ela. A Srta. Delphine se senta do lado direito da mesa, o que a deixaria entre Oliver e eu. Isis estava mexendo no celular ainda e Connor tentava conversar com a irmã, recebendo palavras monossilábicas como resposta. Só queria saber de quem minha filha puxou esse gênio.

—Me desculpem pelo atraso. –Oliver entra na sala, e é como se tudo ao meu redor parasse.

Ele sorri sem jeito para os filhos, e seus olhos param nos meus por alguns segundos, como se tentasse acreditar que estava realmente me vendo. Quebro a ligação desviando o olhar para as minhas mãos, depois escuto o som ritmado de saltos, e vejo Laurel Lance, ou melhor, Laurel Queen andando atrás do marido, ela se senta à minha frente, com o rosto cansado, o que me surpreende de verdade.

—Está tudo bem, Sr. Queen. –Damian Wayne responde da outra ponta da mesa.

—Sr. Wayne, eu esperava por seu pai. –Oliver o olha surpreso.

—Claro, todo mundo espera. –Damian parece falar sozinho, enquanto ajeitava os óculos na face. –Não sou o representante das empresas Wayne que ficará no comando, sou apenas o aprendiz dessa pessoa.

—E quem seria essa pessoa? –Laurel pergunta.

—A Srta. Smoak. –Damian responde e de repente todos os olhos estavam sobre mim.

—Que dramático. –escuto Isis dizer com ironia ao meu lado.

—Pode nos dizer algumas palavras, Srta. Smoak? –Damian sugere. Me levanto e caminho para ficar a seu lado em frente a todos, e não posso deixar de perceber o olhar de choque dos Queen’s.

—Quero deixar claro que o Sr. Wayne tem total interesse em manter o nome e prestigio que Robert Queen construiu com essa empresa. Vamos preservar todos os empregos. –olho para Luna que parece claramente aliviada. -Damian e eu faremos parte da diretoria da empresa, como membros ativos, mas o Sr. Queen permanece como CEO.

—Respondendo a você? –Oliver pergunta, em choque.

—Respondendo ao Sr. Wayne, sou apenas uma representante dele. –esclareço. –Nós queremos o melhor para essa empresa, temos todos esse mesmo objetivo, não vejo por que não podemos trabalhar juntos.

—A Queen Consolidation é a chave para a melhoria de Star City. E isso é só o que queremos. Conheço Felicity Smoak a anos, ela se tornou o braço direito do meu pai, e posso garantir que não a mandaria para essa empresa se a presença dela não representasse a melhor chance de vocês. –Damian finaliza, e me sinto grata por sua percepção e solidariedade.

Passamos mais algumas horas na reunião, destacando pontos importantes que a fusão mudaria. Só o que me incomodou foram os olhos azuis de Oliver que me observavam como se eu fosse um fantasma. Quando terminamos, Damian e eu somos os últimos a deixar a sala, Isis praticamente correu por sua vida quando se deu conta que não teríamos mais nada a tratar, Connor saiu com Luna e os outros diretores, Oliver saiu com a esposa um tanto decepcionado, depois que nenhum dos filhos trocou mais do que uma palavra com ele. Na verdade Connor respondeu de forma educada um cumprimento, e Isis fingiu que Oliver não existia, nada promissor.

—Podemos rever aqueles gráficos, é só o que me preocupa de imediato. –Damian fala guardando os documentos em sua pasta, um tanto atrapalhado.

—A garota, Luna. Ela pode nos ajudar, foi quem procurou seu pai para a fusão, é uma das boas.

—Eu percebi. –ele responde apressado. –Parecia saber mais do que o Queen. –é por que ela sabe. Digo em pensamento, mas me limito a sorrir para ele em resposta.

—Vai dar tudo certo, nos vemos na segunda pela manhã?

—Claro, claro! –sorri animado, e me abraça meio sem jeito tentando reproduzir o gesto de horas antes.

 

 

CONNOR

—Obrigada por ter vindo. –Luna para ao meu lado, enquanto eu espero o elevador.

—Me deve uma bebida por isso. –me seguro para não sorrir ao ver o desespero em seu rosto.

—Eu não bebo, Sr. Hawke. –repete pelo que deve ser a milésima vez. E Isis aparece mexendo no celular, o que faz com que Luna volte a atenção para ela. –Srta. Smoak, queria agradecer...

—Eu vou de escada. –Isis murmura a olhando com ar enojado, o que é a gota d’água para mim. Seguro o braço da pirralha e ela me olha com o mesmo desprezo que olhava para Luna.

—Não vou perguntar se sua mãe não te deu educação, por que sei que Felicity deu. –falo em voz baixa, olhando para seus olhos que eram a única prova de que somos irmãos, pois eram idênticos aos meus.

—Me solta, garoto!

—Delphine está te agradecendo por você ter feito algo que era sua obrigação fazer, então não coma criancinhas no jantar, e responda com educação. –aceno em direção a Luna, que parecia constrangida ao meu lado.

—Não precisa agradecer. –diz a Luna sem olhar nos seus olhos, a solto por fim. –Agora se me derem licença. –começa a andar em direção as escadas.

—Me desculpe por ela. –peço com sinceridade quando as portas do elevador se abrem. Respiro fundo controlando o pânico e entro naquela caixa de metal, chega a ser ridículo as coisas que ando fazendo por essa garota.

—Não precisava me defender, eu sei que também não sou sua visita preferida.  –Luna começa a falar parando do outro lado do elevador. –De certa forma consigo entender a Srta. Smoak. –solto uma risada nervosa, muito mais por minha claustrofobia do que pelo argumento sem sentido dela.

—Não justifica que ela seja um mini monstro... Só agradece e estamos quites. –falo, e ela solta uma risada curta.

—Claro. Muito obrigada.

Então a luz do elevador pisca uma vez e para. Não sei direito como meu rosto ficou nesse momento, mas pelos olhos preocupados da mulher a meu lado, posso imaginar que não foi a melhor expressão. Me concentro apenas em respirar por alguns segundos, repetindo sem parar em minha mente que tudo ficaria bem.

—Connor, você está vermelho. –ela diz dando um passo vacilante em minha direção. –O prédio sofreu um pico de energia, vai voltar em alguns minutos, isso acontece o tempo todo. –tenta me tranquilizar, eu apenas afrouxo a gravata, e abro o primeiro botão da minha camisa, me agarrando as barras de aço na lateral do elevador. –Você é claustrofóbico? –balanço a cabeça confirmando. –Tudo bem, olha para mim... Connor, olha para mim! –tudo gira ao meu redor, e com esforço consigo focalizar os olhos grandes dela de um verde quase castanho, com pintinhas mais claras perto da íris. São lindos olhos, nada comuns. –Podemos tomar um café, e você para de tentar me embebedar, o que acha? –tenta me distrair.

—Não tomo café. –respondo com dificuldade, e sinto as mãos dela em meus ombros. –Pode ser um chá verde? –escuto seu riso baixo.

—Claro! Vou adorar tomar chá verde com você. Em um lugar público, e como amigos. –esclarece.

—No domingo, posso te levar uma padaria dos Glades, acho que vai gostar. Nem pode chamar isso de encontro, ninguém sai no domingo de manhã. –falo, e a sala parece ficar menor a cada momento.

—Domingo eu não posso. –morde o lábio inferior, fazendo careta.

—O que vai fazer em um domingo de manhã? Por favor, não me diz que tem namorado... –já estava difícil respirar a essa altura.

—O que? Não! –exclama. –Vou a igreja, com minha família.

—Você é católica? –não sei por que aquilo me surpreende.

—Sou cristã. –responde e a luz pisca novamente e o elevador volta a funcionar. –Meu pai é pastor.

—Nossa, você não para de me surpreender. Chego a me sentir mal, por todas as vezes que te ofereci bebida. O que isso me torna?

—Um enviado do inferno? –sugere, e a olho chocado, me surpreendendo com a gargalhada que solta por ver minha reação. –Estou brincando, é que as pessoas tem certo pré-conceito, então prefiro chocá-las de cara e evitar que fiquem pisando em ovos comigo. Sou uma pessoa normal Connor, que tem fé. –dá de ombros. –E você pode me levar para almoçar depois, vou adorar não precisar enfrentar um almoço de domingo, onde minha mãe vai questionar a nível policial a nova namorada do meu irmão.

—Ou posso ir à igreja com você, e ajudar seu irmão, sendo alvo do interrogatório de sua mãe. –argumento quando as portas se abrem e ela me ajuda a sair segurando meu braço.

—E por que faria isso? –parece confusa.

—Por que um cara com claustrofobia pegaria o elevador, duas vezes em um único dia? –devolvo a pergunta, e sorrimos um para o outro, enquanto andamos em direção ao estacionamento.

 

 

OLIVER

—Nada disso me parece certo! –Laurel grita quando entramos na mansão. –Como se eu já não fosse motivo de piada o suficiente.

—Eu não tinha ideia de que ela iria...

—Por favor, Oliver. –se vira em minha direção com o rosto cansado. –Não finja que sente muito, sei que deve estar se revirando por dentro agora.

—O que eu deveria fazer? –respiro fundo, contendo minha fúria. –O que espera que eu faça?

—Nada. –Laurel descalça os sapatos dos pés, caminha em direção a sala fria e escura, se jogando no sofá. –Eu não fui sua escolha, você nunca me escolheu. Não é verdade? –me sento na poltrona em sua frente e a olho com pesar. –Só seja sincero comigo Oliver, me deve isso depois de todos esses anos. –a parte triste é que não havia nada além de cansaço em sua voz. –Primeiro me traiu com Sandra na faculdade, mas aquilo foi apenas um caso, eu sei disso por que testemunhei boa parte dele. Depois vários outros e sempre ficava dizendo a mim mesma que você poderia ser melhor, que um dia você perceberia que eu era a mulher da sua vida...

—E eu quis que fosse...

—Claro que quis, eu sei disso. –se inclina em minha direção e toca minha mão de leve, depois se afasta. –Mas com essa mulher é diferente, eu vi em seus olhos. Foi como desejei por anos que você me olhasse.

—Sinto muito.

—Não precisa sentir, eu sei que não sinto mais. Não desde Sara. –olho para meus próprios pés envergonhado. Laurel mexe na gaveta da escrivaninha e joga um envelope pardo sobre a mesa de centro. –Estávamos esperando a fusão se concretizar, não temos mais por que esperar.

Abro o envelope e vejo os papeis do nosso divórcio. Laurel já havia assinado, só faltavam as minhas assinaturas, ela me entrega uma caneta esferográfica e assino todas as linhas marcadas. O que me surpreende é a tristeza que aperta meu peito quando tudo termina. Vejo uma única lágrima escorrer por seu rosto, enquanto ela me dá um sorriso triste.

—Eu sinto muito, de verdade. –falo com a voz embargada, mas Laurel se levanta, dá a volta na mesa e me abraça.

—Acho que já passou da hora de nós dois sermos felizes, Oliver. –beija meu rosto, depois escuto o som de seus passos se afastando, enquanto me vejo sozinho dentro dessa casa enorme.

 

 

SARA

Eu deveria ter avisado ao meu pai que pegaria o voo mais cedo, surpresas nunca dão certo. Tudo o que queria era chegar, abri a porta e grita: “Queridos? Chegue!” Mas claro que com essa história de fazer surpresa, a única a ser surpreendida fui eu. Ao dar de cara com a casa trancada e nenhum morador dentro para me receber, e um celular sem carga, após passar todo o voo jogando. Mereço o troféu gênio do ano.  

Desisto de choramingar, e abro a mala no meio do jardim da minha tia, sorte que ela não era uma louca por botânica, por que o salto quadrado da minha bota pode ter deixado alguns furos no gramado.  Por falar em bota, essa foi a primeira coisa de quem me livrei, assim que consegui avistar meu chinelo brega de oncinha. Faço um coque frouxo com meus cabelos, e guardo a jaqueta que usava na mala, junto com minhas botas.

Sorrio orgulhosa de mim mesma. Olho em volta e percebo uma árvore alta, com uma sombra bem atrativa, é quase um presente de Deus em um dia quente de verão. Fecho a mala número um abro a mala número três, reviro rapidamente até encontrar uma canga de praia, que serviria perfeitamente para me proteger de possíveis insetos indesejados, estendo o tecido sobre o gramado aos pés da árvore, e antes de fechar a mala visualizo um caderno de desenho.

—Ótimo, de tédio eu não morro mais. –pego também um lápis de desenho, fecho a mala, me jogo sobre a canga e começo a fazer alguns possíveis croquis, não estariam na próxima coleção Michaels Moda, mas era algo que eu poderia trabalhar em um futuro, junto com todos os outros que eu já desenhei na vida.

—Posso ajudar? –um rapaz alto, com cabelos ruivos e um ar de quem estaria pronto para aprontar qualquer coisa, me desperta de meus pensamentos com seu olhar desconfiado.

—Não sou uma desabrigada, se é isso que está pensando. – me levanto em um salto.

—Não pensei isso, não com as suas... – ele para um momento e olha para minhas malas com um sorriso divertido. –Sete malas.

—Em minha defesa, minha mãe quem pagou o sobre peso. –volto para o meu lugar e o rapaz continua em pé me encarando. -Essa é a casa do meu pai. – explico rapidamente colocando um óculos aro redondo, para proteger meus olhos do reflexo que a luz do Sol produz no cabelo do garoto.

—Notei isso também. – sorri abertamente. – Mas foi divertido ver a sua cara de “não fiz nada de errado”. Você deve ser a Sara Diggle?  Posso? – aponta para a árvore, e eu dou de ombros intrigada, então nos sentamos lado a lado. – Sou Wally. Meu tio e toda a sua família se conhecem a muito tempo, o que me torna um amigo obrigatório para sua lista. –brinca sem pretensão, o que me agrada. -Seu pai fala muito de você.

—Tudo mentira. – respondo na defensiva.

—Até mesmo as coisas boas? –me olha erguendo uma sobrancelha.

—Principalmente as coisas boas. –afirmo categórica, e ele solta um riso rouco e musical que me surpreende.

—São muito bons. – aponta para os meus desenhos. –Veio estudar moda em Star City?

—Não. Eu amo moda, mas decidi tentar algo novo, ou antigo. Depende do ponto de vista. – divago. – Algo novo para mim. – esclareço. – Artes clássicas. – digo por fim

Wally mantém um sorriso sereno nos lábios, sua boca me chama a atenção. Quase como se tivesse algo familiar ali, como se já o conhecesse de algum lugar. Mas meu cérebro não consegue fazer a ligação.

—Sara?

 A voz de Isis me traz a realidade, me fazendo voltar a atenção para a garota de cabelo castanho claro, que voava para todos os lados enquanto a garota corre em minha direção. Me levanto já me preparando para o impacto. Isis me abraça forte, e quase vou parar no chão, só não cai por que um par de mãos me apoiaram pelas costas.

—Pensei que fosse chegar à tarde. –meu pai tinha um sorriso bobo nos lábios, esperando a sua vez de me cumprimentar.

—Queridos? Cheguei! – sorrio, para todos.

—E vejo que já conheceu o outro membro da nossa família. – tia Felicity diz com um ar cansado, que não a impede de sorrir graciosa. – Wally Allen, o namorado de Isis.  – aponta para o rapaz ruivo, o que faz algo se apertar em meu peito, mas ignoro forçando um sorriso para o casal. –Vamos colocar essas malas para dentro, o que é quase a mudança de ontem. – sorri para mim.

—Vamos. – meu pai me envolve em um abraço, que falta quebrar minhas costelas. – Temos que comemorar.

Não sou sensitiva ou coisa do tipo, mas não é precisa ser para perceber quem alguma coisa está errada nessa família. Apesar de Isis me receber feliz, o que sempre acontece, por algum motivo ela pareceu se esforçar para sorrir. Felicity não parecia mais feliz do que a filha, ainda assim se tratando de Felicity Smoak não existe muito que ela não possa superar. Acontece que apesar da faixada Isis não é tão durona como quer parecer.

—Devo perguntar? – encaro o meu pai enquanto ele coloca a última mala no meu novo quarto.

—Sobre esse clima? – concordo com um aceno. –Conto tudo amanhã, hoje precisa ser um dia sem drama para variar. -desço as escadas logo atrás do meu velho, e vejo Wally tentando programar a TV, enquanto tia Fel coloca algumas flores em um vaso na sala e Isis digita de forma frenética em seu celular.

—Wally, seu pai e seu tio vão se atrasar um pouco. Acho que Barry tem uma namorada nova. – Fel sorri para Wally que parece ter levado um choque. – Uma jornalista, eu acho. Podemos a interroga-la hoje. –Isis sorri pela primeira vez desde a minha recepção.

—Por favor, mantenham a mente de vocês sobre controle. – meu pai faz sinal de tempo, entrando na brincadeira. Felicity para ao lado de Wally, o que o faz deixar os fios da televisão por um momento e olhar para ela.

—Querido. –pega uma chave do bolso e entrega para Wally que não entende muito mais que eu, diferente de Isis e meu pai que sorriam divertidos. –Sei que você amou aquela lata velha na fera de carros em Gotham, acho que vai te dar mais prejuízo que alegrias, mas gosto é gosto. – sorri. – Feliz aniversário!

Wally fica paralisado sem saber como reagir, foi divertido, nos primeiros três minutos, ver ele encarando a chave como se abrisse as portas do paraíso, mas depois comecei a achar aquilo assustador.

—A sucata está lá na garagem. – Isis aponta.

—Veio de reboque antes da gente. – meu pai completa.

—É um carro, ou uma bomba? – questiono sorrindo, mas antes que alguém me responda a campainha toca, desviando nossa atenção.

—Deve ser o Damian. – Fel aponta para Isis que levanta contrariada.

—Não entendo por que teve que convidar ele? Deveria ser um evento de família.

—Ele está sozinho Isis. – Fel a repreende aos sussurros. –Agora, coloca um sorriso nessa cara. –Isis estampa um sorriso de vinte e cinco centavos no rosto, que desaparece no momento que abre a porta e encara seu visitante.

—Boa noite. – uma voz grave faz com que todos se calem, então vejo por que Isis usava aquela armadura de amargura, por que sem ela estaria sempre como gora, preste a quebrar.

Felicity vai em direção a porta e Isis sobe as escadas correndo, deixando o homem para trás, sem lhe dizer nenhuma palavra. Wally e eu nos entreolhamos rapidamente, não sei como, mas antes que pudéssemos pensar, já estávamos na porta do quarto de Isis.

—Isis? – a chamo conseguindo ouvir, o choro abafado do outro lado.

—Isis? 

Wally tenta novamente, com um carinho imenso em sua voz, que chega a me constranger por um segundo. Mas não surge efeito algum, ficamos parados ali não sei por quanto tempo. Por fim nos sentamos, um olhando para o outro, nos perguntando o que deveríamos fazer. Bom, não chegamos a uma resposta, por que Oliver Queen sobe as escadas, parecendo cansado e determinado ao mesmo tempo. Nos afastamos cada um para um lado da porta, olhando para Oliver e imaginando o que poderia ser o pior a acontecer.

—Eu não estou pedindo perdão Isis. – Sr. Queen diz para a porta. – Só quero uma chance, uma que nunca tive. Sei que a culpa não é sua, do seu irmão ou das mães de vocês. Sinceramente eu cansei de procurar um culpado, só quero conhecer os dois, ter uma chance de fazer isso. Prometo não te decepcionar.

Tia Fel estava em silencio com os óculos nas mãos e os olhos marejados, parada nos degraus da escada, meu pai logo atrás com a mão em seu ombro, como se tentasse lhe dar apoio mesmo parecer precisar quase tanto quanto ela. Todos olhando apreensivos para o Sr. Queen, esperando por uma resposta.

—Posso desistir de tudo Isis, mas não posso deixar você e Connor. – diz por fim, e por um longo momento nada acontece, até escutarmos o barulho da chave girando no trinco, e a porta se abrir. Isis olha para o Sr. Queen, e um sorriso surpreso, repleto de esperança se abre nos lábios de Oliver.

 

 

TERRA 1

ISIS

Quando a vertigem da velocidade me deixa, volto à tona em súbito, tentando processar o impacto de todas as imagens que assisti a pouco. Só o que consigo sentir é meu corpo sendo lançado, minha cabeça bater em algo duro, o lapso de dor que me paralisa por um breve momento, a voz de Hunt ao fundo e o som de metal se arrastando.

Então não consigo mais manter minha consciência, me agarro a imagem dos meus pais juntos, os verdadeiros, que se amam acima de qualquer coisa e nunca estragariam as próprias vidas daquela forma. Meu irmão que passou noites em claro ao meu lado, apenas para garantir que estivesse segura, a salvo, a pessoa que mais amo nesse mundo e que me ama da mesma forma.

 E Damian, ele é o único que merecia um pouco da paz que aquele outro mundo tinha a oferecer, uma mãe normal, um pai dedicado e uma cidade que não fosse infestada por psicopatas. Uma vida onde não fosse morto aos quinze anos, pela pessoa que deveria ama-lo e protege-lo acima de tudo. Deus, Damian merecia não ter o peso que carrega a todo tempo sobre os ombros, queria que não tivesse. E vendo o sorriso atrapalhado de sua versão nerd, me entrego a escuridão total.


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Notas finais do capítulo

Acho que no fim das contas essa adaga não é de tudo malvada, ela poupou nossa pequena Queen de muita dor, ou quase. Espero que a maioria de vocês tenha pescado a resposta que falamos no início, queremos ter tempo de contar como isso aconteceu, por que esse personagem nunca apareceu na primeira parte, o que significa que tem treta no meio, que vai explicar o porquê de meu bebê ter sofrido tanto na infância.
Gentes, nós temos uma leitora Lauriver, que amamos demais, eu (Thaís R.) a chamo de meu unicórnio, por que é uma das pessoas mais doces que conheço (apesar de não concordarmos com essa história de Oliver e Laurel), ainda assim nos respeitamos em nossas diferenças e conseguimos fazer dar certo. Então Mika, é o máximo de uma relação Lauriver que conseguimos fazer, desculpe amor! Hahaha precisa continuar amando a gente!
Vemos vocês nos comentários!
Bjnhos!