Paradoxo - Seson 2 escrita por Thaís Romes, Sweet rose


Capítulo 31
O Plano.


Notas iniciais do capítulo

Oi amores!
Então, respirem fundo, se livrem de tudo que possa ser quebrável a seu redor, e se lembrem de que vocês até que gostam da gente, assim, de vez em quando.
Prontos?
Bom capítulo para vocês, xuxus!



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SARA

Não é à toa que sempre tive medo do Bruce Wayne, o cara por trás da capa, não o mito. Eu entendo o Batman, consigo saber como ele pensa, é um cara bom para se focar a raiva, é teimoso, e quase nunca escuta. Ele pode parecer frio, indiferente e não ter medo de mostrar o seu pior lado. Tem um talento especial de olhar em sua alma, e ver tudo o que você pode fazer, então explora isso, planejando contingências “só para o caso de precisar”. Resumindo, ele é basicamente um pesadelo. Mas apesar de tudo, está no meu top five, dos melhores aliados quando tudo der errado. O que me faz pensar que se um cara desse sorri para mim, alguma merda muito grande eu devo ter feito.

—Você está bem? –era a voz grave do Bruce, a reconheço em qualquer lugar, e ainda assim tenho calafrios.

—Por que estou aqui? –tento me levantar, mas minha cabeça roda sem parar, e todo o meu corpo doí. –E que lugar é esse?

Sinto o cheiro de grama e madeira, quando consigo olhar em volta, percebo que estou com meu vestido de noiva, em um quarto grande e iluminado, com piso de madeira e uma penteadeira antiga. Nunca estive nesse lugar antes, mas me lembra a fazenda dos Denvers, passei um verão por lá, com Barbara a muitos anos atrás.

—Está em um local seguro. –Batman me responde, ele estava sentado em uma poltrona ao lado da minha cama.

—Eu deveria estar me casando. –começo a entrar em pânico, tentando me levantar. –Wally, ele está me esperando...

—Se acalme. –sua mão em meu ombro me impede de levantar, mas a sua voz não deixava enganar, aquilo não era um pedido. Mas estou longe de estar calma, mal consigo puxar o ar. –Precisa me ouvir com atenção. Qual a última coisa que consegue se lembrar?

—M’egann. –sussurro confusa.

O DIA DO CASAMENTO

M’egann

Normalmente eu adoro casamentos, vestidos de casamento, noivas em casamentos, adoro ver o noivo nervoso, que a propósito, nunca chegou ao nível de Wally West nervoso. Esse garoto parece um borrão, literalmente falando. Mas não gosto desse casamento em particular, não gosto do que vou ter que fazer agora.

Tenho estudado Sara a semanas, meu tio me procurou a cinco anos atrás, desde então ela passou a ser meu dever de casa. O problema é que existem duas Saras, a que foi minha amiga, membro do time, e essa Sara que voltou da missão para o governo, ela é mais sombria, sorri menos. É quase um Batman de saia e não tão mal humorado.

Respiro fundo, e seguro no braço de Kon-el assim que vejo tio J’onn conversar com a Gláuks, ela parecia nervosa demais, deveria pedir ao Damian para aplicar um daqueles sedativos que ele vem usando no Wally também na garota. A sorte dela é ser muito bonita, e todo mundo primeiro reparar a aparência para só depois se tocarem do nervosismo.

‘M’egann, está na hora.’ J’onn diz em minha mente.

—Oh, olha! –vejo em meu celular uma mensagem supostamente de Tim (Damian invadiu os sistemas dele), e mostro ao meu namorado. –Precisamos ir!

—Não te vejo animada assim para uma missão que te tirasse de um casamento, desde Vibro e Fogo!

—A Fogo tem problemas de temperamento, e representa um perigo real a minha existência! –justifico, o fazendo sorrir de maneira fofa, odeio mentir para ele, mais do que para qualquer outra pessoa.

—Oi Luna. –cumprimento, mas ela não parece me ouvir, então vou direto para J’onn. –Tio, há um chamado no Tibete. –faço cara de tristeza, e ele sorri compreensivo. Sua atuação tem melhorado com os anos. –Superboy e eu estamos a caminho. Pode pedir perdão a Sara e Wally por nós?

—Tudo bem. –ele sorri e me abraça.

‘Essa garota está nervosa demais para me dar cobertura!’ reclamo a ele em pensamento.

‘O trabalho de Luna é impecável, todos sabem que ela não se sente confortável perto de muitas pessoas, o nervosismo se justifica só por isso.’ Responde, e apenas fecho a cara por um segundo, então entrelaço meu braço no de Kon-el e começo a sair da igreja.

—Nossa, nós poderíamos ao menos ver Sara antes de ir. –reclamo com um falso suspiro, quando já estamos fora da igreja.

—Mas você acabou de pedir J’onn para... –ele começa a argumentar, mas olho em volta procurando a tal porta lateral que Batman me indicou.

—Você sabe como eu sou, adoro um vestido de noiva! –faço pouco caso.

Fiquei sabendo que foi necessário uma doação generosa das Industrias Wayne a alguns meses para construírem às pressas. Por falar em Batman, tem uma van estacionada a uma quadra, que começa a avançar assim que Kon-el e eu saímos da igreja. Estava na hora, e não tem como evitar mais.

—Olha ali, acho que é a nossa chance, por favor! –sorrio para ele, com meu melhor ar de cachorrinho abandonado.

—Tudo bem, mas se nós demorarmos Red Robin vai comer nossos fígados. –reclama.

 O deixo ir na frente, e quando passamos pela porta, toco sua nuca o apagando imediatamente. Odeio fazer isso, mas não tem como ser diferente. Passo por um corredor curto que me deixa dentro da sala onde vejo Sara se olhando assustada em um espelho de corpo inteiro, ela está linda, mais linda do que já vi qualquer outra noiva estar.

—M’egann, o que faz aqui? –se vira em minha direção, quando se dá conta de minha presença.

—Tenho um chamado agora, queria me despedir pessoalmente. –sorrio com tristeza para ela, que abre um largo sorriso.

—Sinto muito, eu adoraria te ver na igreja. O time está lá? –questiona esperançosa.

—Todos, até a Ravena veio! –seu sorriso se enche de emoção. –Nós amamos você, Sara. Só um conflito no Tibete para me afastar daqui!

—Obrigada, M’egann. –responde caminhando em minha direção para me abraçar.

—Sinto muito, queria que fosse diferente, mas só queremos te proteger. –sussurro em seu ouvido enquanto ela apaga em meus braços, no mesmo instante que Connor e Damian passam pela porta.

—Ou! O que é isso? –Connor pergunta vendo a melhor amiga desmaiada em meus braços. –A visão precisa acontecer, isso não vai funcionar, raptar a noiva e depois fazemos o que? Fugimos com ela para sempre?

—Se acalma. –Damian murmura a seu lado. –O que precisamos fazer, Miss Marte?

—Vai acontecer o casamento, Connor. –tomo a forma de Sara e dou um segundo para o choque nos rostos deles se dissipar. –Mas Sara, estará a salvo. Robin, leve o Superboy para a van que está aqui a frente. E Connor, leve Sara. –a entrego para ele que a pega cheio de carinho. –Dois minutos, daí vem a pior parte. –aviso, abrindo a porta para eles.

Espero andando de um lado a outro, tentando ser convincente na pele de Sara, até que eles voltem. Em um minuto e cinquenta, os dois passam pela porta novamente. Olho para Connor e Damian, me aproximando com cuidado, é delicado falar sobre as habilidades marcianas para controle de mente, humanos não se sentem confortáveis com elas.

—Preciso que esqueçam o que fizeram, que pensem ter falhado. –digo devagar, dando tempo para que absorvam. –Seja quem for que vai matar Sara hoje, estará fazendo isso para atingir Wally, e não vai parar se não tiver certeza que o atingiu. Se der errado o próximo alvo pode ser a família dele. –olho para Connor. –As pessoas que ele ama como irmãos. –encaro Damian, ele sabe que Isis está nessa lista. –A melhor amiga. –volto a olhar para Connor, e vejo no rosto dos dois que já haviam concordado. –É apenas um bloqueio temporário. Vai sair assim que um período considerável de luto se passar.

—Faça. –Connor diz, dando um passo à frente. –Está certo, é melhor sofrer por dias do que perder qualquer uma delas permanentemente.

—Pode fazer. –Damian concorda depois de um longo suspiro. Toco na cabeça deles, seus olhos brilham por um momento.

—Voltem para seus lugares sem serem vistos, aproveitem o casamento do amigo de vocês. –comando, e os dois saem.

SARA

—M’egann se casou com meu noivo? –exclamo, ignorando a náusea que sinto ao me sentar rapidamente, sem falar em como o Kon-el vai ficar irritado com Wally, aquele garoto tem problemas de temperamento, vejo Batman se recostar na cadeira, como se quisesse se afastar o máximo possível, bem feito, é bom para ver como é estar do outro lado.

—Não deu tempo de se casarem...

—Isso não ajuda!

—Diggle, precisa se acalmar. –diz com aquele ar robótico de sempre.

—Me acalmar? –olho para ele chocada. –Eu passei por muita merda nesse ano, muito merda. Fizeram carne moída da minha alma, se eu fosse o Connor agora estaria fazendo qualquer analogia com Harry Potter, e para considerar pensar como Connor, significa que estou a ponto de enlouquecer! –o vejo me estender um copo com água, cogitei jogá-lo nele, mas ele pode tirar a máscara e sorrir para mim, só de crueldade, então bebo a água em silêncio, me acalmando antes de voltar a argumentar. –Depois de muito tempo minha vida voltou aos eixos, eu tinha uma casa, uma família, uma nova melhor amiga que apesar de socialmente estranha, é a pessoa mais doce e leal que conheço, e hoje me casaria com o amor da minha vida.

—Ontem. –me corrige, um pouco desconfortável.

—Ontem! –quase grito, então tento respirar de forma ritmada.

—Vinte e duas horas, na verdade. –odeio essa precisão desnecessária no momento.

—Você já cogitou abrir mão dessa vida por alguém, Bruce? –pergunto em voz baixa, me sentindo um lixo.

—Sara, estamos perdendo o foco. –responde e retira a máscara, me sinto tão devastada que nem medo sinto ao ver o belo rosto do Bruce Wayne.

—Por favor, não vai adiantar nada ficar aqui se você não consegue entender o que está acontecendo. –seguro as lágrimas, e Bruce se senta na beirada da minha cama.

—Você sabe que para mim, Bruce Wayne é a máscara. –limpo uma lágrima que escorria por meu rosto, na esperança de ter sido antes que ele percebesse. –Como Batman eu perdi coisa demais. –o sinto pegar a minha mão. –Entendo o que está passando, fiz Dick mentir para toda a família dizendo estar morto para evitar uma terceira guerra mundial, que mataria todos nós. Já forjei a morte do Batman diversas vezes, perdi meus filhos. Sara, eu entendo.

—Obrigada. –suspiro e ele assente. –Posso fazer uma pergunta?

—A ideia é responder suas perguntas.

—Como Wally não percebeu o outro velocista?

O DIA DO CASAMENTO

M’EGANN

Me sinto tremula, a única coisa que me mantém de pé é John Diggle me segurando como se fosse o maior bem dele, o que me parte o coração, por que realmente, Sara é. Antes da porta da igreja se abrir, ele para em minha frente, me olhando com seus olhos emocionados.

—Como se sente, querida?

—Apavorada. –não é mentira, realmente estou. Ele abre um sorriso carinhoso, e tento retribuir. –Mas estou feliz pai, eu amo o Wally.

—Eu sei. –ele beija a minha mão, e entrelaça novamente meu braço no dele.

Quando a Marcha Nupcial se inicia, vejo o sorriso enorme que se abre no rosto de Wally. Ele parecia um príncipe, se príncipes se casassem de smokings, até seus cabelos ruivos estavam impecavelmente arrumados, não sei quanto gel deve ter sido necessário para isso, eu sei, por que já tentei domar aquela juba. Vejo Damian entregar a seringa a Connor e ele aplicar mais uma dose. Esse sedativo, é a única garantia de que tudo não vai por água a baixo, em suas condições normais, Wally veria qualquer velocista se aproximando, embora ninguém ainda assuma, ele já superou Barry Allen a uns bons anos.

SARA

—Tudo bem, isso do sedativo foi uma boa ideia.  –assumo, com minha cabeça dando voltas. –Mas não explica tudo.

—Claro que não, Sara. Isso é um plano forjado por quatro anos, cada detalhe foi pensado.

—Wally tem uma ligação comigo, não apenas uma ligação metafórica. –tento explicar, mesmo vendo no rosto dele de que já sabe do que estou falando. –Sou a âncora dele, mesmo se forjarem a minha morte, Wally vai saber que estou viva, ele pode sentir isso. O que me leva a outra pergunta, talvez a mais importante de todas, como M’egann não morreu de fato?

DIA DO CASAMENTO

M’EGANN

Sinto o meu corpo arder como se estivesse em uma pira olímpica, discretamente olho para o chão a procura de algum fio que tenha entrado em curto, mas nada. O meu estado atual é o problema. Não sei se poderia ser considerado uma traição, afinal estava casando com o noivo de uma grande amiga, por um momento me sinto a maior traíra da história. Mas esse momento some quando Wally começa os seus votos, ele estava uma pilha de nervos, mas apesar de tudo suas palavras eram as mais belas que já ouvi, ou seriam se estivesse as escutando da quarta fileira onde deveria estar acompanhada com o meu namorado. Quando Wally termina declarando o seu amor por Sara, não sobra muito a dizer, tudo soaria falso saindo da minha boca, então optei pelo mais simples, e o mais verdadeiro, e o que Sara gostaria que ele soubesse, se lembrasse depois que ela partisse.

—Eu te amo. – minha voz é fraca, mas é verdade, o amo tanto quanto amo a Sara, e é por eles que estou aqui. –Não quero que esqueça disso. –Deus sabe que ele vai precisar se lembrar.

Wally pega a aliança com Connor, e essa é a última coisa que consigo entender. Depois tudo se reduz a um borrão, levo um tempo até me adaptar com a velocidade, a essa altura já estávamos a mais de quinze quilômetros da igreja, em uma área perto do parque de Central, tento lutar para sair das mãos do meu sequestrador, mas é impossível, ele é forte, forte demais para uma humana lutar, mesmo essa humana, no caso a Sara, estando no pico da condição física humana.

Uma peça, coloco em minha cabeça, uma de sacrifício e dor, um vilão louco, uma mocinha indefesa e um mocinho que teria que aprender a superar a dor. Já assisti muitos desses filmes, livros, novelas, peças e novelas, não me orgulho da quantidade de lenços de papel que já gastei enquanto assistia filmes do Nicolas Sparks, mas era a vez de bancar a mocinha sofrida, mas essa mocinha era especial, ela não iria se render, então quando enfim consigo fazer alguma coisa para honrar a imagem de Sara, corro como se minha vida dependesse disso, e tecnicamente dependia, claro que é inútil, o cara era mais rápido. Me pega antes que consiga fazer qualquer coisa, parecia que queria apenas afirmar que não poderia fazer nada, era uma luta vencida, que a vitória dele não era algo apenas certa, era absoluta, apenas uma questão de quando.

Wally aparece e aquele é o gatilho que queria, mas algo acontece, a mente sempre inquieta do velocista parece encontrar um ponto no qual fixar toda a sua atenção, e esse ponto é o Wally. O assassino faz isso de uma maneira psicótica, era por Wally que estava matando Sara, ele realmente acreditava nisso. Quase sinto traços de carinho, o que não faz nenhum sentido em nossa situação.

E foi a última coisa que senti antes do velocista “quebrar” meu pescoço, ainda bem que marcianos tem mais elasticidade que os humanos, ou poderia ser perigoso. Acompanho os movimentos de suas mãos com minha cabeça, simulando o barulho parecido com o de um pescoço quebrado. Sinto meu corpo ser levantado do chão, e o grito de desespero do Wally faz com que meu coração se aperte no peito, mas era assim que deveria ser, era a única maneira.

SARA

Fisionomia marciana, claro, M’egann é uma marciana Branca, sua força é maior até mesmo do que a de J’onn. Com certeza é capaz de sobreviver a um pescoço quebrado, uma queda, um tiro, 90% das mortes humanas normais, se ela tivesse sido ameaçado com um fosforo talvez a situação poderia ter sido diferente.

—Mas ainda não explica Wally não perceber que estou viva. -olho para o Bruce que agora beirava entre a impaciência e insatisfação que só o Bruce Wayne consegue transmitir.

Bruce se levanta da cadeira com movimentos lentos, e o rosto repleto do que julgo ser empatia, por um momento senti o que a escória de Gotham sente quando Batman vai ao ataque. Um frio de medo percorreu minha espinha, e quando ele estende a mão para mim, minha vontade é me esconder de baixo da cama. Mas engulo a bolha em minha garganta e aceito a sua mão, sentindo a tontura ao me levantar.

—Me lembre de nunca mais deixar um marciano mexer com a minha cabeça. – reclamo enquanto me apoio nele. Descemos por uma escada de madeira, tudo nessa casa antiga faz com que me sinta em um lar.

—Essa casa me lembra o rancho dos Kent’s. – tenta ser amistoso, o que não é legal, se não fosse a tontura teria fugido para o lado oposto. Bruce para em à frente de uma porta, não sei por que tanto mistério, mas pensando bem esse era o Batman, mistério deveria ser o seu nome do meio, “Bruce Mystery Wayne”.

—Você tem um segundo nome? – divago, mas ele me olha como se fosse uma imbecil, não posso culpa-lo.  – Desculpa. – coloco a mão na minha cabeça, me fazendo de confusa. – Deixa para lá.

—Tomamos todas as precauções, que foram possíveis. –abre a porta, e me vejo no meio de uma grande imensidão de nada, cheio de cores em espirais e inexatidão, não havia gravidade, terra ou céu, apenas todas aquelas cores infinitas.

—Que porra é essa? –não estou em um bom momento para preservar minha educação.

—Não finjo entender a relação entre os Flash’s e as suas ancoras. – me ignora, me surpreendo por haver algo que ele não saiba. – Mas Wally descobriria se não estivesse realmente morta, então encontramos um meio termo. -aponta para o vazio cheio de confusão a nossa frente. –Zatana e o Sr. Destino colocaram o seu abrigo em uma fenda dentro do espaço tempo. Estamos fora dos 52 mundos, e dentro deles ao mesmo tempo. Longe de qualquer vibração que Cisco possa captar, ou os Flash’s possam viajar. O feitiço se levantou quando o velocista achou que havia matado a Miss Marte, precisávamos cortar a ligação que existe entre vocês naquele momento.

—Mas e Wally? – o ar me falta. – Meus pais, os Queen’s, Luna... Bruce, não posso fazer isso com eles.

—Não se trata apenas dele, Sara. –responde paciente. –Quem fez isso com você, tem como objetivo destruir o Flash, e parece conhecer a vida privada dele. O próximo alvo pode ser um dos Allen’s, Queen’s ou qualquer pessoa com a qual o Wally se importe.

—Precisa ter outra maneira. –sussurro contendo o pavor em minha garganta.

—Essa é a única maneira, ou poderia ser uma morte definitiva. Qual das duas afetaria mais a sua família?

—Golpe baixo. – reclamo me voltando para dentro, não aguentava mais olhar para o vazio, me sento em uma poltrona, olhando para uma lareira acesa. – Então basicamente, Isis teve uma visão? – concorda com um breve aceno. – Mas... – Isis não pode falar sobre sua visão. – ela está em perigo também, isso nunca acaba?

—É uma história longa...

—J’onn leu a mente dela? – deduzo.

—Basicamente, e ela não sabe disso. Mas ninguém além dele e Isis conhece de fato a visão. E apenas os responsáveis pelo feitiço, J’onn, M’egann e eu sabemos que está viva, por hora.

—Não posso ficar aqui para sempre, seja quem for que tenha feito essa merda comigo, pode não parar, Iris e os irmãos de Wally, podem estar correndo perigo também. – levo as mãos à cabeça. – Precisamos descobrir quem é o louco da vez. – olho para Bruce, e algo me diz que ele já sabe, não estaria parado se não soubesse. – Quem é Bruce?

—Temos suspeitas. – diz apenas.

—Suas suspeitas, são melhores que a maioria das certezas das outras pessoas. Preciso de um nome.

—Ainda é cedo. – responde secamente. –Mas colaborar com sua parte, nos ajudaria a descobri a verdade.

—Não estou reclamando. –o encaro séria. –Mas no momento em que sair desse... -olho para os lados a procura de uma palavra. – disso aqui, as pessoas saberão que estou viva, Wally será o primeiro.

—Nunca foi a nossa intenção esconder. –vejo nos seus olhos o que ele queria dizer nas sublinhas, não é justo com meus pais, e Bruce sabe bem disso. –Ao menos os que forem participar do plano. Para o resto do mundo, Sara Diggle está morta. –sua voz é profunda e quase me faz acreditar no que diz.

—E como vou ajudar, presa no limbo?

—Acho que você se lembra como se usa. –Bruce me estende um colar dourado que conhecia muito bem, foi o mesmo que usei em uma missão a cinco anos atrás, com ele e John Stwart.

—E a única maneira? – questiono não gostando muito da ideia de ser outra pessoa novamente.

—Sim. –afirma, enquanto coloco o colar. – Preciso ir. – se levanta indo em direção a uma porta lateral.

—Um portal? –pergunto enquanto me acostumo com o meu novo eu, ele concorda. – Mas uma coisa não ficou clara. –digo, e ele espera. – Como você descobriu sobre a visão? Não me vem com essa de “Eu sou o Batman”, vou precisar de mais do que isso dessa vez.

—Isis. Ela não iria sentar e te ver morrer, mas sabia que era ariscado falar abertamente. Então me encaminhou uma carta codificada. – me entrega um livro que estava na estante ao seu lado. Era um livro que nunca havia visto, espanhol e com um título muito peculiar.

A Função da Ignorância, Sara Pain.

—A carta está dentro, já legível. – vejo um inclinar de seus lábios que me lembra um sorriso doce. - M’gann e Zatana chegaram em breve, para te levar, tem roupas no closet do quarto onde acordou. Vista algo apropriado.

—Apropriado, para?

—Não é todo mundo que tem o privilégio de ir no próprio velório. É uma experiência que não deveria perder. -Bruce sai sem falar mais nada, me deixando com meus pensamentos, um livro de psicologia estranho, e uma carta descodificada, que teria salvo a minha vida.

“Espero que entenda, essa é a minha última jogada. Você é a única pessoa que conseguiria fazer isso da maneira correta. Não posso dizer muito, mas em breve algo em branco irá cair, não posso permitir, mas não há maneira de impedir, não sem algo catastrófico acontecer. A velocidade é amarela, e insana.  Talvez alguém que já conheceu a loucura de perto, saiba como virar o jogo a nosso favor.

Cuide bem desse livro, é a melhor autora.”

—Garota esperta! –sorrio colocando a carta de volta ao livro, e lançando os dois na lareira.

Enquanto os observo queimar e se reduzirem a cinzas, percebo que essa foi a mesma coisa que aconteceu com Sara Diggle, ou Sara West. Não posso existir enquanto esse assassino perturbado respirar, em pensar que cheguei a acreditar que meus dias de assassina acabaram junto a vida de Ivo, não podia estar mais errada. Nesses momentos sinto uma falta absurda do meu padrinho, e da ausência de julgamento dele nesse caso.

Subo as escadas e vou até o closet, escolho um vestido preto, sem detalhes e saltos da mesma cor. Sorrio ao identificar uma antiga jaqueta do Connor, em estilo militar, eu odiava essa jaqueta e ele a adorava, então a roubei em um verão a uns nove anos atrás, é bom ter algo dele aqui. Em um surto desesperado, procuro por qualquer coisa do Wally, tornando tudo em minha volta em um caos sem fim.

Me permito chorar de forma desesperada por alguns minutos, tentando voltar a ter calma, minha mão vai automaticamente para o colar em meu pescoço, mas esse não é o pingente de estrela que me ligava a Luna, não posso chamar socorro, ao contrário, esse medalhão em meu pescoço me faz ser alguém que ela não reconheceria. Pego um casaco e escuto os passos no assoalho, mas antes de ver as garotas, preciso me ver, não posso surtar mais ainda, e seria pior com plateia.

—Puta merda, sou asiática! –exclamo no momento em que M’egann abre a porta.

—Eu acredito que seja mestiça... –fala analisando meu novo rosto oval.

—Ao menos você é bonita. –Zatana dá de ombros.

—Me digam que vocês podem ver a ironia nisso. –murmuro com o pouco de sarcasmo que me restou, mas ao invés de uma resposta, sou atacada por dois pares de braços que me rodeiam. –Obrigada. -sussurro deitando minha cabeça no ombro de M’egann.

—Me perdoa por ter quase me casado com seu noivo? –pergunta quando nos afastamos, enxugo minhas lágrimas e estudo o seu rosto por um momento, ela parecia quase temerosa.

—Espero que tenha morrido, antes de chegar com sua boca a qualquer lugar perto da do Wally? –ela confirma com um aceno apressado. –Então estamos muito bem! –sorrio a puxando novamente para um abraço. –Você salvou a vida de nós dois, M’egann, vou te dever para sempre.

—Bom, acho que vai querer isso. –deixa o colar de Luna cair na palma da minha mão, o que faz uma lágrima escorrer por meus olhos. –Foi o seu “algo emprestado”. –conta, é uma merda eu não saber disso por mim mesma. –Meu tio te mandou isso também. –ela me entrega um par de brincos com a mesma estrela do colar. –Disse que pode escolher seu contato dessa vez, eu te consigo uma entrevista. –sorrio, mas minha escolha é óbvia, não se mexe em time que está ganhando. Guardo o colar no bolso do casaco e coloco os brincos.

Zatana e eu entramos em uma limusine, o que julguei ser um exagero estrondoso, até receber os documentos de Linda Parker. A vida de Linda foi uma espécie de espelho da minha, isso se não fosse filha de uma agente da ARGUS, meu pai não trabalhasse com o Arqueiro Verde e meu noivo não fosse o Flash. Resumindo, Linda Parker, é uma Sara com uma vida normal.

—Não vão descobrir que essa garota não existe de verdade?

—Sara... Quer dizer, Linda. –sorri se virando em minha direção. –Foram feitos pelo Damian, você conseguiria adotar uma criança com esses documentos, e todos os antecedentes que ele criou. O garoto é uma peste, mas é quase tão bom quanto o Tim, com essas coisas. –okay, isso pode servir para mim.

—Então, como funciona isso? –me viro para Zatana.

—Estou te camuflando, até que estejamos perto o suficiente. –responde. –Sara, precisa estar pronta para o que vai ver, sua família, amigos, o Wally...

—Eu sei. –interrompo, pois decidi não chorar mais. –Como vamos pegar quem fez isso?

—M’egann conversou com o assassino, bom, segundo ela não foi exatamente uma conversa.

—Me conta. –falo impaciente.

—Parece que ele ficava repetindo que estava te matando pelo bem do Wally, sim Wally e não Flash, o cara sabe quem vocês são. –sinto algo parecido com medo, mas não por mim.

—Eu tenho que me afastar? –sussurro contendo o nó em minha garganta.

—Não querida, agora vai começar a terceira parte do plano. –me entrega uma pasta, com um dossiê sobre Linda Parker, onde eu moraria, trabalharia. Tudo o que precisava saber, nesse momento me sinto grata por Waller ter estado em minha vida, sem ela, eu não seria capaz de fazer o que estou fadada a fazer agora. –Vou ficar em silêncio para você estudar em paz. –aceno em forma de agradecimento, e me recosto no banco.

Chegamos no cemitério de Star City e Zatana me avisa que estava na hora. Respiro fundo algumas vezes e tento imaginar como seria a personalidade de Linda, estava concentrada nisso quando M’egann se aproxima, vindo sabe-se lá de onde. Zatana murmura um feitiço me tirando do limbo e quando olho para frente, Wally está caminhando para discursar, ele para pôr um momento e vejo sua postura mudar, como se seus pés estivessem mais firmes, e se locomover se tornasse mais fácil. Deus, o que estou fazendo?

—Posso te fazer ouvir o que ele está dizendo. –Zatana sussurra para mim, enquanto caminhamos em direção ao enterro.

—Não suportaria. –recuso, o vendo me olhar com certa curiosidade, se não estivesse tão devastado pela dor, me reconheceria no mesmo instante.

Acontece que não é só o Flash que precisa de sua âncora para ser quem é, nunca estive realmente separada de Wally, mesmo quando estive afastada, sabia que éramos um do outro, destinados. Mas Wally ama uma garota morena, de cabelos encaracolados e pavio curto, Linda Parker não é Sara West, ou Diggle. Deus, eu não vou conseguir viver sem ele.

Vejo a distância o rosto devastado da minha avó, Felicity e Oliver saíram de braços dados com Donna que não parecia nada bem. Connor estava idêntico ao pai, o mesmo semblante permanente de dor, a fúria assassina nos olhos. Sorrio um pouco ao ver Luna sendo consolada por Sandra, ela parecia mesmo precisar de consolo, mas meu coração se apertou ao ver como Isis tentava se manter firme, algo nela havia se apagado, aquele brilho incessante não estava mais lá, e odeio ter sido eu o motivo.

Espero paciente que todos cumprimentem minha família, as garotas não falam nada, me permitem ter paz e tentar processar o que estava vivendo. Fico surpresa com a quantidade enorme de pessoas que compareceram, mas minha mãe não parecia que suportar aquilo mais, meu pai havia envelhecido vinte anos em um dia e Wally, ah meu Wally... Ele tentava ser educado, mas simplesmente não era ele, sem sorrisos, sem humor e sem nenhuma velocidade.

—Acho que é a nossa deixa. –Zatana me incentiva quando vemos Connor se aproximar, e eu conheço bem aquele semblante.

—Connor vai bater no Hunt. –aviso dando um passo em direção aos três, mas M’egann me contém.

—Connor anda batendo em muitas pessoas, Linda. –responde, para me lembrar que para aquelas pessoas eu não passo de uma desconhecida.

Por algum motivo, Con estava se contendo com um esforço sobre humano, Wally parece não se importar com a reação dos amigos, mas a verdade é que Wally não parecia se importar realmente com nada. Me aproximo, quando vejo os dois se afastando, deixo as garotas irem na frente e cumprimentar os três. Dou passos vacilantes, até parar em frente ao Wally e sinto aquele magnetismo natural que me impulsiona em direção a ela, não sabia o quanto é doloroso não ceder ao impulso, chega a doer fisicamente. Ele me olhava intrigado, estudando meu rosto, quase tenho ciúmes, o que é ridículo.

—Sinto muito por sua perda, Sr. West. –digo com um bolo em minha garganta, sentindo a maior dor do mundo ao ver meus pais mal se aguentando em pé e Wally como um defunto andante.

—Desculpe, eu não me lembro de você. –aquilo era a minha voz? O tom que ele usa para falar comigo, quer dizer, com Sara?

—Conheci Sara no exército. –meus pais me olham interessados, e tudo o que quero dizer é que sou eu, a garotinha deles, e me permitir ser abraçada pelos dois, mas não posso, então falo com perfeição a história forjada. No fim aperto a mão do meu pai e consigo um abraço da minha mãe, do qual eu precisei me manter firme para não demonstrar o quanto estava emocionada. Aceno para Wally em despedida, não suportaria tocá-lo de forma alguma, sem me revelar, e pelo que entendi o velocista pode ser qualquer um aqui. Começo a andar novamente em direção a limusine quando sinto uma rajada fraca de vento, e reprimo um sorriso já sabendo quem era.

—Srta. Parker? –Wally me chama, andando ao meu lado.

—Sr. West, não te vi chegar. –finjo surpresa.

—Por favor, me chame de Wally. –fala com a voz fraca.

—Como preferir, pode me chamar de Linda. –dou um sorriso fraco, usando toda a minha energia para conseguir fazer isso.

—Você disse que conheceu Sara, e pela forma... Bom, eu vi em seus olhos que está sofrendo por ela.

—Não faz ideia. –engulo em seco, já estava em frente a limusine, Zatana com certeza me espera lá dentro. –Eu sinto muito por sua perda, de verdade. Sinto mais ainda pela forma que aconteceu. –me permito olhar em seus olhos, ele tentava me desvendar, entender o porquê estava sendo atraído em minha direção. –Nós conversávamos muito, e sei que se casar com você era o maior sonho dela. –estar em qualquer lugar com você, e não precisar nunca mais partir. Acrescento em pensamento, contendo as lágrimas.

—Obrigado. –a sombra de um sorriso passa por seu rosto. –É a primeira vez que sinto algo perto de conforto, hoje.

—Me perdoa. –disparo com a mão na maçaneta, não suporto mais ficar assim tão perto e tão longe ao mesmo tempo. –Eu preciso ir, tenho uma entrevista. –minto.

—Ah, claro. Não quero te atrapalhar. –dá um passo para trás, e aproveito a deixa e entro no carro como se fugisse de um tiroteio.

—Nossa, isso foi a coisa mais dramática que já vi. –Zatana murmura, parecendo falar sozinha. –Esse garoto vai ficar muito, muito confuso agora.

—É isso de âncora, é um laço físico, estamos literalmente presos um ao outro. –dou de ombros emburrada. –Ele me ama, é mais forte que nós dois, não adianta me dá uma cara nova e esperar que o sentimento mude. –levo as mãos ao cabelo.

—Sara, queria poder te consolar, mas infelizmente não temos tempo. M’egann está pegando o seu contato agora, onde quer se encontrar com ela?

—Vamos a QC. –respondo colocando um par de óculos escuros. –Posso ver Luna no escritório dela, sei entrar sem ser notada.


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Notas finais do capítulo

"OMG! Sweet e Thaís, isso não se faz, vocês nos fizeram pensar que ela estava morta, eu chorei!"
Nós sabemos, e sentimos muito, mas estava tudo ali desde o inicio, todas as pistas. Agora podem dizer o que acharam, nos xingar, ou sei lá... Só não xinguem muito não, sou uma pessoa sensível. Esperamos por vocês nos comentários!
Bjnhos!