Paradoxo - Seson 2 escrita por Thaís Romes, Sweet rose


Capítulo 21
O Caçador de Marte


Notas iniciais do capítulo

Oi xuxus!
Então, domingo e como sempre capítulo novo, vocês sabem que as coisas começaram a se tornar mais sombrias, então como uma bandeira branca, esperamos que os shippers Lunnor e Damisis curtam esse capítulo em especial, e temos uma surpresa para vcs, então não deixem de ler as notas finais!
Bjnhos!



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DAMIAN

–Eu vou ou você? –pergunto, Connor me olha e posso ver o impasse, depois seus olhos passam para a porta, já sei a resposta antes mesmo que ela saia de sua boca.

–Vai você. –diz. –Faça ela se sentir melhor.

Aceno para ele, antes de seguir apressado para a escada. Coloco minha mão na parte mais alta do corrimão, e tomo impulso para me erguer nele, dou um salto assim que me sinto firme o suficiente, e com um baque surdo estou no meio das escadas. Corro pelo restante dos degraus, mesmo assim, era como se não fosse veloz o suficiente.

Em pensar que protelei de todas as formas, tentando não estar aqui hoje. Hospedado na cobertura da minha família, em um dos prédios mais luxuosos da cidade, tentava ponderar em minha mente qual seria a relevância de um evento como esse. Andei de um lado para o outro dentro do apartamento, e depois fiquei mais cinco minutos parado em frente ao Gallardo Coupe LP560-4, até que enfim desistir de tentar achar uma desculpara para não ir e simplesmente fui. Mesmo sem saber ainda, o que me faz necessário aqui.

Encontro a resposta no momento em que a vejo espreitando pela janela, debruçada sobre o parapeito, observando as luzes distantes da cidade. Seu rosto estava torturado, a ponta do nariz avermelhada, e os lábios muito vermelhos, um pouco inchados, Isis puxou isso de Thea, mesmo se apenas uma lágrima escorrer por sua face, parece que ela chorou por toda uma noite.

Queria poder perguntar diretamente qual o problema, mas era muito mais provável que não me dissesse a verdade, ou que meu questionamento a frustre ainda mais. E mesmo com aquela ruga entre as sobrancelhas, e sua preocupação aparente, Isis é a mulher mais bonita que já vi. E agora aqui, a olhando quase surtando a minha frente, me arrependo de não ter tentado as minhas chances a pouco mais de uma hora atrás e questionado sobre essa ruga que agora tinha junto uma veia pulsante.

–Volta lá para dentro Damian, eu preciso de cinco minutos e uma faca bem afiada. – sorri fraco, enquanto se apressa em secar o rosto, tentando amenizar o que se passou a menos de um minuto em uma dessas salas.

–E aí? –começo a andar em sua direção. –De qual maneira os Queen’s arquitetaram meu assassinato?

–Sei o que está tentando fazer Damian, e não vai funcionar. –me olha de lado, mas vejo aos poucos o sangue voltando ao seu rosto novamente. Sorrio da melhor forma que posso, e ela suspira em resposta, seus dentes alinhados e roto simétrico ligam algo em meu cérebro. Pois me sinto como se estivesse assistindo os fogos de artificio na parada de 4 de julho. Ainda bem que meus pensamentos são só meus, minha reputação estaria muito comprometida se fosse o contrário.

–Então? –pressiono.

–Eles ficaram surpresos. –diz se virando em minha direção, com as mãos espalmadas sobre o parapeito. –Meus pais acreditavam que nós já namorávamos, a quatro anos. – completa, e solto um riso baixo.

Isis toma impulso e se senta, me viro e faço o mesmo, ficando a seu lado. Seguro suas mãos entre as minhas, não precisava de palavras, por que no fundo o conhecimento do nosso relacionamento era o menor dos problemas. Mas a ruguinha ainda estava ali, então contrariando todos os meus instintos, eu continuo a conversa idiota.

–Bom, não é como se tivesse saído com outras garotas durante esse tempo, e sei que você também não esteve com ninguém. –Isis me olha com um sorriso divertido em seus lábios.

–Você sabe? – tenta, e tranco o sorriso, apenas levantando minha sobrancelha em desdém, escuto sua risada, de uma maneira leve. –Você sabe.

–Então, estamos juntos a quatro anos? – sorri, e balança a cabeça em negação.

–Conseguiu Damian. – uma falsa cara de espanto surge em meu rosto. –Estou mais calma.

–Isso é bom. Mas você não pode me dizer o que te atormenta. – não era uma pergunta. –Olha Isis, está sendo um relacionamento complicado nesses nossos quatro anos juntos. –debocho.

–E você é a pessoa mais fácil de lidar desde... Júlio Cesar. – recosta sua cabeça em meu ombro. – Não tenta fazer piada, é estranho. –diz baixinho depois de um riso curto. -Seu humor vem das dozes letais de sarcasmo. Com isso já estou acostumada, essa sua versão Grey é assustadora.

–Ótimo! Odeio fazer isso de qualquer modo. – Isis levanta seu rosto, seus olhos encontram os meus, antes que tenha uma real noção das minhas ações, nossos lábios já estão unidos, mesmo agora, depois de ter se acalmado, seu beijo era tenso, mas era ali que estava o certo para mim.

–Preciso da sua ajuda. – se põe em um salto a minha frente, logo após os nossos lábios se separarem, contra minha vontade.

–Sem perguntas? – ela balança a cabeça em afirmação. –Vou colocar um cabo HDMI nessa sua adaga, quero transmissão simultânea dessas imagens na minha televisão, e um arquivo em anexo não seria ruim, para poder ver de todos os ângulos depois.

–Lembra do lance da piada? – seu sorriso era brincalhão.

–Não era piada, estou a ponto de levar essa faca de manteiga para o Lodai, o mínimo que ele pode fazer depois de te dar essa joça, é colocar uma entrada USB nela. – isso já havia passado em minha cabeça mais de uma vez, e em todos os cenários era absurdo, mas talvez Cisco consiga alguma coisa.

–Vai me ajudar ou não? –seus pés inquietos me levam a imaginar que ela iria começar um número de dança, as vezes ainda espero passarinhos e Bambes quando ela se anima.

–Fala como se tivesse alguma real escolha. –salto para o chão, envolvo sua cintura em um abraço, e beijo o topo da sua testa.

–Cuidado Wayne, quem nos vê assim, pode pensar que você é um namorado normal. –brinca erguendo o rosto para me olhar nos olhos.

–Mas nós sabemos que eu não sou. –a aperto mais contra o meu corto.

–Você quem está dizendo.

CONNOR

Quando apareço em meu uniforme dentro da torre de vigilância, vejo a Canário Negro ao lado do Sr. Incrível, eles olhavam várias telas, tentando cruzar informações sobre o Arqueiro Negro, o tal antigo amigo de infância que está caçando meu pai. Laurel tem literalmente morado dentro da Torre, desde que descobriu que Tomas Merlin está vivo, e em todas as nossas incursões, atrás de rastros, ela tinha um brilho nos olhos que nunca vi antes, estava cheia de esperanças, a pior parte era ver como ela se abatia no fim de cada uma delas, quando não descobríamos nada de novo. Passo por eles que nem mesmo percebem a minha presença.

A Sala de J’onn fica no fim do primeiro anexo de dormitórios, ela é clara demais para meu gosto, com uma mesa redonda no centro, e algumas cadeiras em volta, no fundo havia uma máquina de café. Sei lá o porquê. Ele estava em pé, ao lado da tal máquina, olhando feito uma estátua para a porta.

–Arqueiro. –cumprimenta, depois de alguns segundos, tarde demais para impedir que ficasse estranho.

–As visões da Isis estão começando a se realizar. –digo sem rodeios, e seu rosto finalmente ganha alguma expressão, esse cara é como o Castiel em seus primeiros anos na terra, posso criar uma palheta de suas emoções com apenas uma foto dele.

–Nesse caso. –ele abre uma gaveta no arquivo que servia de mesa para a máquina de café, procura por alguns segundos e me entrega um papel.

Era um papel grosso, e estava velho, parece estar sendo guardado a alguns anos, ao desdobra-lo vejo um endereço ao sul de Keystone. Olho no verso para saber se existia algo mais, e estava em branco. Levanto meus olhos para ver J’onn que me observava em silêncio.

–O que é isso?

–Sua parte. –responde simplesmente. –É uma fazenda, afastada entre Keystone e Star City. Você vai compra-la, faça parecer real, e não seja rastreado. –ele parece pensar por um momento. –Talvez Luna seja útil, a leve com você. Vou ligar a tecnologia da Spyral através dos comunicadores de vocês.

–É tudo? Não vai fazer mais nada, ou me dizer qual a ameaça para que possamos acabar de vez com ela? –minha voz soa ríspida, sei que meu semblante está tão duro quanto ela.

–Isso sou eu fazendo alguma coisa. –espero que ele complete, mas era isso, nossa conversa estava terminada.

Bato a porta com força ao sair da sala, e em segundos estou novamente em minha caverna. Me troco de forma mecânica, queimo o papel depois de memorizar o endereço e vou direto para o meu apartamento. Durante todo o percurso só consigo pensar em Lyla, John e Wally, não quero pensar em como de fato a morte da minha melhor amiga vai me afetar, não queria ter que esperar que uma outra pessoa pense em tudo e nos mova feito marionetes, mas ando meio que sem opções.

Abro a porta e tudo parece vazio, eles ainda devem estar na casa dos meus pais, melhor assim, não conseguiria sorrir para Phill, ou explicar o porquê de ter arranjado um encontro para ele com a garota que estou investigando, não que ele saiba da segunda parte. Nesse momento queria que Sara fosse como Phill, ignorante para o nosso real mundo, desejava o mesmo para Wally, os dois em qualquer lugar distante, pensando que finais felizes realmente existem fora dos filmes.

–Connor? –escuto a voz de Luna, enquanto eu saia do meu banho frio.

Enrolo uma toalha na cintura no mesmo momento que ela bate de leve em minha porta. Digo para que entre, e seus olhos se perdem em mim por dois segundos, antes de fixa-los em meu rosto, com muita dificuldade. Em um dia normal eu diria para ela que estou de greve por causa da mentira sobre a jaqueta, ou debocharia do fato de que só lhe daria acesso depois do casamento, que aliás, ela não quis, mas não sou capaz de fazer isso hoje.

–Como foi com J’onn? –sua voz sai ainda mais baixa que o normal, e ela fica estática, com os olhos em meu rosto tentando ignorar o fato de que estou semi nu.

–Temos uma missão, amanhã pela manhã. –ela não se move. -Luna? –chamo mais uma vez sua atenção.

–Po... pode se cobrir? –ela aponta para meu dorso. –Fico cantarolando em minha me... mente, mas não consigo te ouvir, e ouvir a música ao mesmo tempo. –o menor dos sorrisos surge em meus lábios.

Pego uma camisa branca e uma calça de moletom cinza, e volto para o banheiro, fechando a porta de acesso ao quarto atrás de mim. –Que música estava cantando? –pergunto quando volto para o quarto e a encontro sentada na mesinha de canto, ao lado da minha cama.

–You Give Love a Bad Name, Bon Jovi. –seu rosto se fecha em uma carranca mau humorada, que só poderia ser descrita como adorável. –Era a faixa um, do lado A do meu vinil. O que você assassinou lançando da ponte.

–Nessa música ele culpa a mulher de todos os problemas do suposto relacionamento de uma noite. –faço uma careta involuntária me sentando na cama. –E não é só nessa música, a codependência dele me preocupa. –ela me olhava descrente. -Deixa as expectativas das mulheres muito altas, nós não somos assim. –explico.

–Vai comprar outro. –diz me olhando de forma ameaçadora.

–Não vou não. –respondo da mesma forma. –Vai encontrar minha jaqueta?

–Connor, não é a mesma coisa...

–Se não vai, estamos quites! –ergo um dedo no ar, pedindo silencio. –Você veio me perguntar sobre o J’onn. –a lembro. –Não quero brigar com você, ainda mais antes do que vamos ter que fazer.

–Okay. –seu rosto de boneca se mostra mais uma vez preocupado, ela vira o corpo me olhando de frente. –O que J’onn te deu? –semicerro meus olhos para ela, que pisca algumas vezes, se dando conta de que falou algo errado.

–Como sabe que ele me deu algo?

–Bom... Ele te deu algo? –ela muda o tom, e vejo nos seus olhos que está implorando para que eu não faça mais perguntas, por algum motivo idiota eu resolvi realmente não fazer, verdade seja dita, o motivo idiota é que sou incapaz de ir contra algo que ela queira, talvez esse seja o nosso problema.

–Vamos ter que comprar uma fazenda. –falo e me agacho para pegar uma caixa escondida em um assoalho oco, de baixo da minha cama. Retiro uma identidade falsa para ela, junto a outros documentos.

–Por que tem isso? –questiona pausadamente analisando o documento.

–Sou precavido, tenho algumas para Phill também. Pode chamar de “Seguro Família”. –dou um meio sorriso, e volto a procurar alguma das minhas.

–Audrey Hepburn? –vira a identidade em minha direção.

–Pensei que fosse achar divertido. –dou de ombros.

–E você vai ser quem? Adrea Dotti ou Mel Ferrer? –debocha.

–Credo, nenhum. –entrego a minha para ela. –Audrey pode ter sido uma das mulheres mais lindas que pisaram na terra, mas nunca vi gostar tanto assim de homens com nomes femininos!

–Eu acho que o Mel era um gato. -a olho surpreso. –Tudo bem, senhor... Carry Connor Grant? Jura? –dou de ombros, sem querer render.

–Por que continua se chamando Connor?

–Gosto do meu nome. –respondo naturalmente, mas algo muda em seu rosto.

–Quer dizer que não gosta de Luna? –semicerra os olhos, com as mãos na cintura, o que me faz engolir em seco.

–Por que você sempre entende tudo errado? –penso alto, mas só faz o semblante raivoso dela piorar. –Eu adoro Luna. É a palavra que mais gosto de dizer, meu nome preferido, se tivesse uma filha a chamaria de Luna, com toda certeza! –tagarelo. –O problema é que não é um nome comum, e qualquer um que olhar para seu rosto, somado ao seu nome, não vai mais esquecer você. –ela cora desviando os olhos dos meus.

–O que vamos ser? –muda de assunto, e se mexe como se não encontrasse um lugar seguro para colocar as mãos.

–Bom, podemos ser irmãos. –faço careta, até falar algo absurdo assim soa estranho. –Mas não convencemos dessa forma, no mínimo vão pensar que somos os gêmeos de Os Sonhadores, mas como não nos parecemos, não acho que funcione, a verdade é que vai parecer muito mais pornô barato!

–Connor! –murmura ficando vermelha, mas eu estava certo, então ela não discute. –Tudo bem. Vamos nos casar em breve, e queremos não sei... Começar uma família e criar nossos filhos no campo? –seu rosto se torna pensativo, e eu consigo visualizar essa vida com tanta facilidade que chega a ser triste, estou parecendo a porra do Bon Jovi. –Aqui está falando que você é um militar. –diz enquanto lê. –Ótimo, fica mais fácil justificar o fato de você parecer estar querendo bater em alguém na maior parte do tempo!

–Luna, eu sou um monge, um pacifista. –murmuro ofendido, mas vejo meu rosto sendo refletido em um pequeno espelho que ficava ao lado da porta, minha testa estava franzida, meu supercilio ainda estava cortado, consequência de alguma missão recente, e não parecia ser muito sociável no momento, mas por dentro eu me sinto bem, em paz... Estranho. –É, pode ser. –digo a ela em voz baixa, e ela solta uma risada soprada.

–Eu sou médica? Você ficou louco? –fala alarmada.

–Com sua memória fotográfica e todas as temporadas de Grey’s Anatomy que já assistiu, vamos ficar bem.

–Sabe que pode não ser daquela forma não é? E nós nunca vamos saber, por que não somos realmente médicos! –se levanta e começa a caminhar em direção a porta, então me lembro de mais uma coisa que poderia ajudar, abro minha gaveta de meias e tiro uma caixinha azul de dentro.

–Luna! –chamo quando ela já estava prestes a abrir a porta, fazendo com que se vire para me olhar. –Pega isso. –tento soar casual, lançando o objeto em sua direção, ela segura a caixa nas mãos, sem reagir, apenas vejo seus olhos assustados. –É por Sara, precisamos fazer o melhor. –digo, e ela assente pálida, antes de sair.

DAMIAN

Depois de enrolar a todos divagando sobre para quem seria a primeira bola de sorvete, Isis disse que já que Connor não estava ali, e eles tinham algum tipo bizarro de pacto, daria a primeira bola para ela mesma. A essa altura todos já estavam servidos, meus sobrinhos tinham sorvete até as sobrancelhas, e ela ainda não havia parado de falar. Os Queens são pessoa estranhas, e isso vindo de um Wayne, realmente significa algo.

No fim da noite eu era o único convidado ainda presente. Isis me olha com ar infantil, e me pede para esperar um minuto, o que na língua dela significa dez, aparentemente. Fico na entrada da mansão, com as mãos em meu casaco, olhando para aporta na esperança que ela aparecesse logo. Quando surge seus olhos estão brilhantes, e havia um sorriso de orgulho em seu rosto.

–Por favor, entregue para o seu pai. Acho que foi a coisa mais difícil que já escrevi na vida, mas talvez ele consiga entender o que não posso dizer. –Isis começa a mexer nervosa com os dedos nos botões do meu casaco, tenho que controlar minha mão para não toca-la.

–Deveria me sentir ofendido por você não acreditar que sou capaz de decifrar o seu código inquebrável. –balanço o envelope a sua frente, Isis fecha a cara em resposta, aquilo não iria nos levar a lugar algum. Dobro o envelope e coloco no bolso interno da jaqueta. –Pode guardar o Lamborghini para mim? Vou voltar de carona. –balança a cabeça concordando.

–Obrigada pelo presente. – ela se joga nos meus braços e a recebo sem nem ao menos perceber. Seu olhar se encontra com o meu, ficamos assim por um período breve, ou longo, não sei pensar direito quando estou com ela dessa maneira.

–Isis? –escutamos a voz do Oliver, vindo de dentro da mansão.

–Tem certeza que ele não está mesmo tramando minha morte? –ergo uma sobrancelha para ela, não tenho boas lembranças da última vez em que entrei em uma briga contra o Arqueiro, e aquilo foi apenas um treino.

–Melhor eu ir. –diz apressada, beijo o alto da sua cabeça ao mesmo tempo que aperto o comunicador em meu ouvido. –Um, para casa Tim. – e assim não estava mais em Star City, mas tão pouco estava na mansão Wayne.

Era uma sala fechada, com uma mesa com duas correntes com algemas, presas a uma cadeira típica de interrogatórios policiais, ali só estava faltando uma parede com um espelho para achar que estava encrencado. Só preciso de dois segundos para que meu cérebro processe o que estava acontecendo. Quando acontece, me viro em direção ao meu anfitrião.

–Você vai dizer por que estou aqui J’onn? –ele se materializa a minha frete. – Sabe que não caio nesse truque desde daquela vez que estava fazendo o papel da Felicity.

–Começou. – ignora meu comentário, e tem um bom motivo. Já havia notado que tinha começado, mas agora era a comprovação, e sinto como se todo o ar dos meus pulmões estivessem se esvaído, não sei se consegui esconder minha reação bem o suficiente, ou o marciano teve a educação de ignorar o meu silencio.

–O que precisa que eu faça?

Minha postura volta a ser a de um soldado. Precisava tirar da equação a proteção de Isis se quisesse que ela realmente estivesse protegida, afastar meus sentimentos, foi isso o que aprendi com o meu treinamento da Liga, parece contraditório, mas não é. A segurança de Isis era minha prioridade, impedir que sua visão se concretize é o necessário para que isso acabe, mas se não me concentrar, e pensar com clareza, tudo passa a ser uma batalha perdida.

–Identidades diferentes, com as digitais de três membros da equipe. – me entrega três envelopes, ao abrir vejo os dados de Felicity, Sara, e Thea, porém a foto dentro era da mesma pessoa, uma mulher em seus vinte e cinco anos, cabelos escuros, olhos verdes, pele branca, um rosto comum entre tantos outros. – Três identidades com o nome de Linda Parker, jornalista investigativa do News 52, nova moradora de Keystone. –apenas confirmo com um aceno, não precisava de informações além do estritamente necessário, teria que trabalhar no escuro, posso conviver com isso. –O que nos leva a outra parte do seu trabalho.

J’onn indica a cadeira para que me sentasse, mas permaneço parado, sem intenção nenhuma de me mexer antes de terminar. Ele suspira, e imagino quanto deve ser monótono para um marciano lidar com as crises humanas, pensando bem, é monótono até par aos próprios humanos, para ETs devem ser um suplício.

–Encontre esse colar. –em minha frente surge um holograma, de um colar dourado, com uma pedra verde água.

–Por onde começo as buscas?

–Nos registros do time, Robin Vermelho saberá onde ele está. Precisa de mais alguma informação?

–Não. –precisava voltar para a caverna e me preparar.

–Não preciso dizer que ninguém pode te ver, isso deve ser mantido em segredo, e seu único contato sou eu?

–Tem razão, não precisa dizer. –me viro em direção a uma das paredes.

–Ótimo. –e assim estava parado em frente aos computadores da caverna, enquanto o velho Wayne focalizava algumas imagens aleatória de uma investigação de assassinato, isso ou era sua versão de paciência.

–Como foi a festa? –pergunta sem desviar a atenção do trabalho.

–Longa. – paro ao seu lado e entrego o envelope em meu bolso. -Nunca te pedi nada, mas preciso que me ajude com isso. –ele me olha por um momento, analisando tudo que conseguia encontrar e memorizando o resto.

Ele abre o envelope lendo atentamente o conteúdo da carta. Sua feição vai mudando conforme ele parece assimilar o significado. Meu pai coloca o papel em um dispositivo remoto para scanner, e espera que a imagem seja carregada em seu banco de dados. Mais duas telas são abertas, ele dá um passo para trás, coçando o queixo, e analisa novamente.

–Vou precisar de um tempo com isso. –volta a sua atenção para mim. –Você tem trabalho a fazer. –concordo, não perco mais o meu tempo me surpreendendo com o que ele sabe ou deixa de saber, apenas me convenci que Bruce Wayne é uma entidade onisciente.

LUNA

Quando me levantei pela manhã, tomei um banho rápido, escolhi jeans escuros, uma camisa branca, e coloco uma jaqueta por cima, cogitei usar uma blusa xadrez, mas isso é o mesmo a dar munição suficiente para Connor me zoar pelo resto de sua vida, deixo minha bolsa separada com os documentos falsos de Audrey, e a caixinha que até agora não tive coragem de abrir. Vejo Phill sentado na em frente a bancada da cozinha, revirando o cereal que um dia pretendeu comer, o conheço o suficiente para saber que a essa altura já estava com nojo da papa que aquilo se tornou.

–Oi. –digo passando por ele, para pegar um copo de suco de laranja e algumas torradas.

–Ei. –responde pensativo, me sento ao seu lado e tento ignorar seu estado de espírito pelos primeiros dois minutos.

–O que está acontecendo? –falo por fim, deixando minha torrada de lado.

–Nada. –responde com sua voz rouca, dando de ombros, sem olhar em minha direção.

Ele tem mania de bater com o dedo indicador de forma ritmada na bancada, como se estivesse tocando algum tipo de percussão. Esse gesto foi o que levou nossos pais a darem a ele seu primeiro instrumento musical aos cinco anos, era um inferno o escutar batucando sem saber o que fazia naquela antiga bateria infantil. Aos sete anos descobrimos que ele era alto de data, papai costumava dizer que ele seria um astro de rock, e que a aparência ele já possuía. Aos oito, antes da morte deles, Phill melhorava mais a cada dia, ele era realmente muito bom, nós costumávamos nos sentar em frente a ele e o escutar por horas seguidas, rindo de suas expressões e trejeitos. Ele nunca mais tocou nada desde que eles se foram, o tic foi tudo o que restou, e agora serve apenas como um alarme para mostrar quando está incomodado com algo.

–Philippe, você está assim por que Isis começou a namorar? –coloco minha mão sobre a dele, chamando sua atenção para meu rosto, seus olhos estavam sem foco, e permanecem confusos por alguns segundos.

–O que? –parece surpreso por minha conclusão. –Acha que eu gosto da Isis?

–E não gosta? –devolvo a pergunta, vendo seus olhos lilás se tornarem divertidos.

–Todo mundo gosta da Isis, Luna. Não gostar dela é o mesmo que alguém não gostar de você, ou de cachorrinhos. –brinca dando um sorriso de lado. –Só não gosto dela desse jeito aí que você está pensando. –se levanta para jogar fora a gororoba. Quando volta, para do outro lado da bancada, de frente para mim. –A vejo como uma irmã, eu te juro. –semicerro meus olhos para ele. –É fácil ficar à vontade com ela, por que bem, ela não me nota como as outras, escuta tudo o que eu digo sem aquela veneração bizarra, e principalmente não me olha com cara de boba. –dou risada, sem conseguir me conter.

–Que grande fardo! –murmuro empurrando seu braço, enquanto ria dele.

Escutamos a porta se abrir, e vejo Connor entrar, usando uma camisa preta, jeans, e uma jaqueta aberta, penso mais uma vez em como deve ser um fardo... Mas trato de voltar para a terra ao ouvir a tosse de puro deboche do Phill, que recebe um olhar de desagrado meu como resposta.

–Bom dia família! –diz deixando uma maleta preta sobre o sofá, e se senta ao meu lado, na cadeira que Phill ocupava antes. –Qual o drama matinal de hoje? –debocha olhando de Phill para mim.

–Ele está amuado. –aponto para meu irmão, e Connor rouba uma torrada do meu prato.

–Por causa da Mia? –olho assustada. –Cara, é só um encontro. –dá de ombros enfiando a torrada inteira na boca, depois pega meu copo de suco. Olho irritada, mas Phill se adianta, me servindo um copo novo

–Não é qualquer garota. –ele o responde com naturalidade, como se conversassem sobre isso o tempo todo.

–Entendo. –Connor diz com empatia. –Mas Luna e eu estaremos aqui para ajudar, e se não precisar saímos sem que percebam!

–Você gosta da Mia? –questiono confusa.

–Não sabia? Ele é seu irmão! –debocha se levantando. –Vai comer isso? –aponta para minha última torrada. Suspiro vencida e empurro o prato em sua direção. –Vamos nos atrasar. –murmura de boca cheia, viro meu copo de suco, apoio minhas mãos na bancada e tomo impulso, para conseguir dar um beijo no rosto do meu irmão do outro lado.

–Nos vemos no jantar. –murmuro e ele assente sorrindo. –Mande lembranças para Joss e Marta... Pensando bem, só para Marta. –ele sorri divertido, e escuto a risada do Connor que pega a maleta e segura a porta aberta para mim.

–Mande lembranças a Marta por mim também, e juízo! –dessa vez sou eu quem dou risada. –Não faça nada que sua irmã não faria! –acrescenta quando estou próxima a ele.

–Ótimo, vou ficar na casa das minhas mães, assistindo uma maratona de Hitchcock! –debocha. Sério, onde eu estava com a cabeça quando aceitei criar um adolescente com Connor? Agora é como assistir a reprodução de uma ameba.

–Hey, respeitem o Alfred! –murmuro para os dois, que tentam não sorrir.

CONNOR

A viagem estava silenciosa, não que Luna seja a maior tagarela do universo, mas já estava estranho até mesmo para ela, que é a pessoa mais estranha que conheço. O sol não costuma ser uma presença constante em Star City, mas ele começa a se mostrar, assim que nos aproximamos dos limites de Keystone, tudo passa a ser mais colorido e cheio de vida, quase sinto as vibrações mudando.

Sai pela manhã para pegar um dos carros menos chamativos da garagem dos meus pais, algo que um ex militar pareça ser capaz de comprar, meu Posher, não convence. Depois fui em busca de uma placa que não possa ser rastreada e uma maleta com o dinheiro que pagaríamos pela fazenda, pode se encontrar coisas incríveis em nossa caverna. Passei algum tempo validando os documentos do mesmo carro, no banco de dados da Felicity, agora Audrey e bom, Connor, eram tão reais que poderiam votar se quisessem!

Olho para Luna a meu lado, os raios de sol criavam pequenos reflexos avermelhados em seu cabelo castanho, o vento o balançava para todos os lados, quase como uma dança. Poderia apenas assistir isso por toda a minha vida, o sol, a vegetação e os cabelos de Luna. É quando percebo que sua mão esquerda ainda estava vazia.

–Você não está usando. –digo a tirando de seus pensamentos.

–Eu não tive coragem de abrir, ainda. –assume, pegando a caixinha azul dentro de sua bolsa. –Tenho uma pergunta. –desvio meus olhos para a estrada.

–Quer saber a quanto tempo eu a tenho. –digo por ela.

–Isso. –sua voz é apenas um sussurro.

–Vamos fazer assim, primeiro você abre a caixa, a coloca no dedo e depois eu conta a história.

Luna assente, abre a caixa com cuidado. Vejo seu rosto se iluminar assim que ela a vê, não era um diamante enorme que chamaria a atenção de todos, isso não é algo que Luna Delphine colocaria no dedo. Era uma aliança fina, dois milímetros de largura em ouro branco, trabalhado em padrões abstratos, com uma única pedrinha de diamante, incrustrada na parte superior. Não era o melhor que meu dinheiro pode comprar, mas era a única que a mulher ao meu lado usaria, eu vi o jeito dela, a timidez, a beleza indiscutível e obvia, refletida nesse anel.

–É... –ela procurava as palavras.

–Sua cara. –concluo por ela que sorri me olhando de lado.

–Isso. Estava com medo de um diamante enorme, em corte princesa. –respira fundo, deslizando o anel por seu dedo longo e delicado. –A quanto tempo? –é minha vez de respirar fundo, já estávamos chegando ao local, então posso soltar uma versão resumida.

–Quatro anos, o comprei quando descobri que me casaria... –finjo uma tosse ao perceber que saiu mais do que queria. Os olhos de Luna perdem o foco por um segundo, e vejo a placa da fazenda. –Chegamos! –aponto, e ela desvia o olhar, com uma expressão indecifrável.

DAMIAN

Já era manhã quando o Marciano me teleportou para a base do time. Devo admitir que era uma boa base de operações, tecnologia equivalente ao de melhor da torre da Liga, Tim não deixaria que fosse diferente. De qualquer maneira esperei que amanhecesse para entrar na base, por que essa era a melhor hora para não ser visto. Vigilantes tem dessas coisas malucas de trocar o dia pela noite, ou simplesmente somos eternos adolescentes, e vamos acordar depois das duas, e para muitos de nós que trabalham, bom, esses são os verdadeiros zumbis da vida moderna.

De qualquer maneira, estava tudo silencioso, e de uma forma que eu não sei, ou me interesso em saber, J’on entrou no sistema de monitoramento assim não seria visto. Então, a única coisa que tenho que fazer é me manter nas sombras. O que em teoria deveria ser fácil, mas a verdade é que não parece funcionar. Notei isso assim que cheguei e ouvi uma serie de murmúrios perto de mim, tive apenas o tempo de me esconder atrás dos computadores. M’egann e Kon-El, estavam discutindo alguma coisa que tentava, em vão, não ouvir.

Consigo me esgueirar para fora do salão principal, tenho que admitir que agradeci internamente por M’egann e Kon-el estarem tão distraídos um com o outro facilitando minha fuga. Não frequento a base do time, posso contar nos dedos quantas vezes estive aqui. Aliás, já passou da hora de dar um nome descente para esse bando, Liga da Justiça Jovem, me parece preguiçoso.

E então vejo onde realmente estou, logo na cozinha. ‘Merda!’ me xingo mentalmente por ter ido parar no pior lugar possível em uma base como essa. A maioria das pessoas não sabem, mas a cozinha é o lugar mais procurado após uma missão quase suicida, e enfrentamos essas missões todos os dias, nada dá uma sensação melhor de dever cumprido que a barriga cheia, e aqui há várias pessoas que sempre estão afim de ter essa sensação. Abro a porta da geladeira, no momento exato que alguém passa pela porta.

–Red é você? – a voz do Virgil, ou como é comumente conhecido, Super Shok, me faz criar maneiras diferentes em minha cabeça para sair dali, mas todas elas acabavam com o alarme sendo acionado e Virgil inconsciente no chão da cozinha, isso seria um problema futuro.

–Hum? –respondo, fingindo estar comendo alguma coisa, claramente ele pensava que eu era o Tim, e não tiraria isso da sua cabeça.

–Preciso que alguém me cubra na missão de amanhã. Tenho prova de mecânica na faculdade, e meu pai não aceita meu trabalho noturno como desculpa para meu desempenho. – desabafa, estava quase revendo a minha posição sobre deixá-lo apagado no chão, só para parar de ouvir a reclamação de um bebê chorão.

–Ok. – faço a minha melhor imitação do Drak, mastigando qualquer coisa, jogo uma lata de refrigerante para Virgil na esperança de dar a história por encerrada, o que funciona. Me esgueiro para fora tomando o cuidado para fugir da sala de TV, sempre tem alguém por lá, nem que for só para dormindo no sofá.

Para minha felicidade os corredores estavam vazios, o que facilitou o meu acesso a sala de armamentos. O colar estava em uma pequena caixa em um canto esquecido por Deus, tamanho era a quantidade de pó que se acumulava sobre ela. Pego o colar e o coloco em um dos compartimentos do meu cinto.

–Você realmente achou que não te notaríamos aqui? –Tim está encostado na porta do salão. – Ou que ao menos, eu não o notaria. – reformula, porque nós dois sabíamos que ninguém suspeitava que a base foi invadida.

–Já estou de saída. –faço mesão de apertar o meu comunicador.

–Quando você vai aprender que é só pedir? –Tim balança em seus dedos o verdadeiro colar.

–Como você sabia? – dá de ombros como se fosse algo banal antes de jogar o colar para mim, eu odiava ter que admitir, mas ele é bom. -Substitua Virgil na missão de amanhã. –Tim acena confirmando, sem demonstrar qualquer surpresa, é mesmo o mais parecido com meu pai, dentre todos nós, e está ai, mais uma coisa para minha lista do que não gosto de admitir. – Obrigado. – digo por fim, e pela primeira vez consigo tirar alguma reação de seu rosto, não sei se foi surpresa, espanto ou medo, talvez uma mistura dos três, mas não fiquei ali para ver. Aperto o comunicador, e estou à frente de um cara verde com quase dois metros de altura.

CONNOR

É uma bela fazenda à primeira vista, com um casarão de tijolos vermelhos a frente, e um celeiro de madeira atrás, o tipo de lugar que faria o Superman lembrar de sua juventude. Um homem idoso nos esperava ao lado da entrada, ele era alto, seus ombros que um dia foram largos e imponentes agora estavam curvos, seus olhos azuis neblinados nos estudam enquanto abro a porta do carro para Luna. Entrelaço meus dedos nos dela, e caminhamos em direção ao senhor.

–Dia. –diz com um forte sotaque texano. –Vocês devem ser...

–Connor Grant. –sorrio para ele estendendo minha mão, em um cumprimento. –Essa é minha noiva Audrey Hepburn. -Luna acena com um sorriso tímido.

–É bom conhece-los, sou Max Grimm. Vou mostrar a propriedade para vocês.

Nós o seguimos por toda a fazenda, conhecendo cada parte insignificante do lugar, mas o que me chamou atenção era a forma carinhosa com que ele falava de tudo aquilo. Vejo uma aliança dourada grossa em seu dedo, a forma como estava apertada indica que estava ali a anos. Mark finalmente nos leva para o interior do casarão, e contrariando todas as minhas expectativas, era uma bela casa.

–Por que o senhor quer vender esse lugar? –Luna pergunta, projetando sua voz mais alta e de forma segura, o que faz com que a olhe surpreso, ela apenas dá de ombros para mim, apontando em direção ao homem.

–Não se engane querida, eu tento vende-la a anos, só não encontrei a pessoa certa, ninguém com a chama, se é que me entende. –fala convicto nos fazendo engolir em seco. -Morei aqui com minha esposa, por cinquenta anos. –responde nos indicando um grande sofá marrom no centro de sua sala, ele se senta em uma poltrona ao lado. –Camille e eu não tivemos filhos, prometemos um ao outro que o que partisse antes, venderia essa fazenda, e se mudaria para Coast City, para ficar perto de nossa sobrinha.

–Sentimos muito por sua perda. –Luna fala cheia de sinceridade na voz.

–Faz pouco mais de quatro anos. –fala com um sorriso fraco.

–Desculpe perguntar senhor, mas qual o motivo de não ter encontrado a pessoa certa? –digo.

–Então meu jovem, minha Camille e eu construímos esse lugar juntos, trabalhamos nele, da mesma forma que trabalhamos em nosso casamento. –ele sorri saudoso, e algo naquilo era intimo demais para ser observado, Luna pega minha mão, e fico olhando para nossas mãos entrelaçadas. –Nós estivemos juntos por toda a nossa juventude, e sinceramente, espero que quem vá comprar esse lugar dê continuidade a isso, talvez o enchendo de crianças, algo que nós queríamos ter feito.

–Bom, é o que Audrey e eu esperamos fazer. –digo dando um beijo não mão de Luna, que sorri me olhando com carinho.

–Então, me falem sobre vocês. –diz simpático.

–Nos conhecemos a quatro anos, antes do meu alistamento. –falo o combinado. Mark era um bom ouvinte, ele assente, me incentivando a continuar. –Ela pediu que eu segurasse um elevador para ela. –Luna solta um riso divertido, tirando um fio de cabelo preso a seus lábios. –Me apaixonei no momento em que a vi. –suspiro me lembrando.

–Me encostei o mais distante dele que podia, no espaço pequeno do elevador. –complementa. –Connor é um amor, mas a primeira vista, ele assusta um pouco. –debocha, ela estava mesmo na personagem, o que quase me faz dar risada.

–Então o elevador quebrou, ficamos três horas presos, e ela foi obrigada a me conhecer. –conto com diversão, nossas meias verdades.

–Ele cantou Don’t You, do Simple Minds.

–Só por que ela estava tremendo feito uma máquina de massagens!

–Foi quando eu me apaixonei. –diz séria, me olhando nos olhos, e sinto meu coração vacilar uma batida, era fácil demais acreditar em suas palavras.

–É uma bela história. –ele diz nos observando com um sorriso sereno nos lábios. –E por que querem se mudar para o campo? –agora era a hora da mentira, respiro com pesar, e tento pensar nas piores coisas que já vi no mundo, percebo que pensar em Sara deixando de existir, passou a ser o suficiente.

–A guerra me fez ver o que existe de pior na humanidade. –estremeço de leve. -Só quero dar um lar seguro para minha família. –tudo aquilo, sai mais real do que esperávamos. –Frequento um grupo de apoio para ex militares em Keystone, e Audrey faz residência no Hospital da Misericórdia, então aqui seria o lugar perfeito.

–Senhor... –Luna começa a dizer.

–Por favor querida, me chame de Mark.

–Mark. –experimenta com um sorriso doce, o homem chega a esquecer de respirar por um momento, não o culpo. –Prometemos que vamos honrar o que Camille e o sen.... –ele a olha sério, e ela trata de corrigir. -Vocês, fizeram nesse local, a história que construíram. Sei que minha geração costuma jogar fora o que eles jugam estar estragado, e não dedicam tempo, nem energia para fazer algo dar certo. –ela suspira. –Meus pais se amaram até o último momento de suas vidas, eu não aceitaria alguém que me amasse menos, esperei por muito tempo até encontrar Connor, e sei que ele é o cara certo. Por favor, nos deixe formar nossa família aqui? –seus olhos estavam cheios de lágrimas, tive vontade de confortá-la, mas suas palavras foram tão reais que não pude deixar de me perguntar se não existia verdade nelas.

Mark parecia pensar por um momento, ele olha para uma fotografia antiga na parede, onde abraçava uma bela mulher negra, era Camille. Quando estava quase perdendo as esperanças, ele se levanta e caminha em nossa direção, nós fazemos o mesmo, e esperamos seu veredito.

–É de vocês. –sorri, e estende sua mão para mim em um cumprimento, aperto sua mão com o maior sorriso que posso no rosto, estava realmente feliz.

–Temos uma casa! –falo animado abrindo meus braços para Luna que pula em mim, se agarrando ao meu pescoço, a seguro firme, mantendo seus pés fora do chão, enquanto a abraçava apertado.

–E um celeiro! –murmura apavorada, quando a coloco novamente no chão, nossos narizes chegam a se tocar, e sinto toda a gravidade me puxando em direção a ela, mas me lembro de Mark que nos observava com um sorriso carinhoso.

–Camille teria adorado conhecer vocês! –sorrio sem graça, uma parte minha se sente mal por enganar aquele senhor.

SARA

–Mãe não me faça fazer isso. –olho para os lados da rua tomando coragem para entrar na loja.

–Não vou fazer nada. –ela me sorri vitoriosa. – E por isso que cada uma nessa família tem uma função.

–Não vou sobreviver. –estava quase em desespero.

–Você vai se casar, precisa ver todos os detalhes. –sorri como se tivesse uma carata na manga.

–Não posso terceirizar? –digo com uma pontada de esperança.

–Isso eu já fiz. –ela aponta para a porta da loja onde posso ver a rainha das comprar.

–Você não fez isso. –prendo o choro. Olho para Mama Smoak que nos acena freneticamente. –Diz que você não fez isso.

–Wally vem te buscar mais tarde. –beija a minha testa. –Depois me conta tudo. – acena para um taxi que para ao nosso lado.

–Como assim você não vai ficar? –era muito espanto para ser verdade.

–Claro que não, já passei por isso duas vezes na minha vida. Ok, uma não contou, mas agora é com você. –me sopra um beijo e bate à porta não me dando a chance de entrar atrás dela.

–Querida. –Mama me abraça não contendo os pulos de alegria, era quase impossível não se contagiar por sua felicidade. –Você vai casar com o amor da sua vida. – solta assim tão graciosa quanto espantada. –Isso é tão lindo. –um sorriso se forma nos meus lábios.

–Vou. –e de repente, não estou mais torturada em passar o dia escolhendo flores, roupas, guardanapos e tudo mais. Estou feliz por que isso tudo é só o começo.

LUNA

Passamos o resto da tarde resolvendo burocracias sobre a compra, mas uma coisa me incomodou o tempo todo enquanto estávamos lá. Connor é um homem público, o filho playboy do prefeito de Star City, mas mesmo assim Mark não o reconheceu, ou pareceu se lembrar dele. Na verdade ninguém parecia nos reconhecer enquanto estávamos no cartório de Keystone. Não que esteja reclamando disso, sonho com mais dias como esse, só gosto de saber o porquê de algumas coisas.

–Lu? –escuto a voz de Phill que entrava em casa, ele lança a mochila no sofá, ignorando meu olhar de protesto sobre o gesto, e vem em minha direção, dando um beijo em meu rosto.

–Se divertiu? –pergunto quando ele se joga ao meu lado, restringindo consideravelmente meu espaço, Philippe parece crescer mais a cada dia.

–Bom, nós fomos ao shopping fazer compras de natal, depois elas cozinharam e eu atrapalhei. E Marta te mandou um beijo. –sorrio deitando minha cabeça em seu ombro. –E vocês?

–Já tive domingos piores! –dou de ombros, o mais vaga que posso.

–Connor saiu? –ele olha em volta, depois tira a toca cinza que escondia seus cabelos cacheados.

–Está no quarto, foi tomar um banho.

–Tudo bem, vou falar com ele! –Phill aperta a ponte do meu nariz, e se levanta antes que eu possa revidar.

–O que você quer com Connor?

–Bom, ele marcou um encontro, quando eu. –aponta para o próprio peito. –Não o pedi para fazer nada. –seguro o riso. –Então, o seu... sei lá o que vocês são... O que interessa é que ele vai cozinhar! –levanto minhas mãos em rendição, não vou ficar no meio da rixa deles.

Dou risada sozinha escutando os berros dos dois, Phill não cedia, e Connor tentava o expulsar do quarto. Por fim acho que chegaram a um acordo, pois escutei a porta do meu irmão se fechar sem nenhum ato teatral, e em seguida, Connor apareceu no corredor, terminando de vestir uma camiseta branca, com os cabelos louros ainda molhados. Ele se senta na outra ponta do sofá, jogando as coisas de Phill para um Puff.

–Não assassinou meu irmão não é? –brinco, e ele me olha, ainda estressado.

–Não. –diz simplesmente, depois intensifico o olhar e a carranca dele parece diminuir um pouco. –Nós vamos comprar comida pronta, e eu vou pagar. –conta por fim, me fazendo dar risada. –Ele é exatamente como você! –de alguma forma, aquilo me pareceu uma ofensa.

–E como seria isso? –jogo uma almofada em sua direção, que ele pega sem nem mesmo olhar.

–Não dá para simplesmente dizer para vocês fazerem algo, mesmo que seja algo que vocês queiram, tudo tem que ser explicado. É tanta teimosia que minha cabeça dói!

–Olha quem fala. –reviro os olhos. –Connor, preciso te perguntar uma coisa. –deslizo para mais perto dele, que passa o braço no encosto do sofá, em minha direção.

–O que?

–Como Mark não vai nos reconhecer, em algum pronunciamento do seu pai, algo sobre a QC, ou da próxima vez em que se irritar com um paparazzi?

–Isso só aconteceu uma vez! –se defende, e o olho sem acreditar, ainda esperando minha resposta. –Depois que Dick voltou da Spyral, ele trouxe para a Liga, uma tecnologia. –franzo o rosto em protesto a sua explicação rasa. -Eu não sou um nerd como você, a única coisa que sei, é que foi desenvolvida pelo Lex, e ela impede que as pessoas se lembrem de seu rosto, assim que desviam os olhos. Ele se torna um espiral na mente delas, é impossível fazer qualquer associação.

–Okay. –era a coisa mais estranha que já ouvi na vida. –E como...

–Nos comunicadores, J’onn a ativou assim que saímos de casa. –me interrompe. –Está vendo? Esse é o problema dos Delphine. –diz indignado.

–Você nos ama. –dou de ombros me levantando, e sinto Connor me seguindo com os olhos, é quando me lembro. –Ah! –dou dois passos para trás em sua direção. –Preciso te devolver isso. –meu coração se aperta quando retiro a aliança delicada de meu dedo, e a coloco na palma da mão de Con. –Você me deixou pensar por todos esses anos, que a proposta foi apenas uma oferta de amigos. –as palavras começam a saltar da minha boca, os olhos azuis de Connor demonstram sua surpresa. –Mas não se compra uma aliança para oferecer ajuda a alguém... –suspiro, tentando entender não apenas ele, mas o que eu estava sentindo naquele momento. –Por que não me contou? –sussurro, sentindo um nó em minha garganta, os olhos de Connor brilhavam e vejo que procurava as palavras, tentava organiza-las com cuidado, talvez medo que eu saia correndo, talvez quatro anos tenham mudado tudo.

–Eu não sei. –é tudo o que diz, balanço a cabeça e tento colocar um sorriso em meus lábios, deve ter parecido muito mais uma careta. Minhas pernas estavam bambas quando começo a andar em direção a meu quarto. -Luna?

–Sim. –me viro, e ele ainda estava parado em frente ao sofá, com a mesma expressão torturada.

–Quer sair?

–O que? –questiono confusa.

–Em um encontro, comigo. Um jantar, em um restaurante? –ele pisca algumas vezes, me olhando com ar do Gato de Botas. Respiro fundo tentando encontrar minha voz, algo em tudo isso parecia inverso, mas conheço o Connor, ele nunca segue etapas, e tentar seguir comigo me parece algo... –Esse suspense, está me matando. –sussurra, me trazendo de volta para a terra.

–Hum... Jantar. –balanço a cabeça confirmando, e ele apenas continua com a expressão confusa. –E... eu, adora.... Adoraria jantar. –solto o ar pela boca, e saio dali o mais rápido que posso.


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Notas finais do capítulo

Hahaha tadinha da Lu, nem vai dormir mais depois dessa!
Mas vamos as novas, teremos um capítulo bônus de Natal, que será postado durante a semanado dia 25. Vai se tratar exatamente dos encontros Lunnor e Damisis, talvez algo sobre Sally, mas ainda estamos conversando a respeito. Então fiquem atentos!
Esperamos que tenham gostado, nos contem o que acharam do capitulo, Isis chamando a cavalaria, vulgo Batman. Damian sendo pego por Tim (isso que dá tentar enganar os mais velhos), o disfarce Lunnor, e essa família fofa que são os Delphine com Connor!
Bjnhos!