Paradoxo - Seson 2 escrita por Thaís Romes, Sweet rose


Capítulo 22
Bônus I - Lunnor.


Notas iniciais do capítulo

Oi xuxus!
Então, hoje vamos postar a primeira parte dos bônus, e como já viram no título, vai ser o encontro Lunnor.
Esperamos de verdade que vocês gostem, queríamos que fosse especial.



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LUNA

É terça feira, e tudo o que quero é deitar mais um pouco em meu quarto, agraciada pelas cortinas com blackout vermelhas em minha parede. Mas tenho treino, o que me tira o direito de querer qualquer coisa. Em pensar que esse já foi meu dia preferido da semana, até que esse garoto ruivo resolveu me tirar a alegria que só um quarto escuro, máscara para dormir, e Hozier tocando baixinho pode me conceder, após uma noite hakiando sistemas privados de máfias organizadas.

Me olho no espelho, enquanto prendo meus cabelos em um rabo de cavalo alto. Ando mais corada, minha pele apesar de continuar branca demais, está mais macia e uniforme, meus olhos mais brilhantes, quase pareço uma pessoa feliz e disposta, mesmo dispondo de poucas horas de sono. E só em pensar no motivo de tanto ânimo, meu coração dispara, sinto a ânsia subir por minha garganta e o costumeiro embrulho em meu estômago. O plano é não pensar nisso antes das cinco, quando vou ser obrigada a pensar, ou posso ter uma crise de pânico que arruinaria toda a minha noite.

Arrumo minha bolsa de treino com a muda de roupas que usaria para trabalhar no início da tarde, visto uma calça de malha preta, e um toper da mesma cor, colocando uma blusa branca larga de botão por cima, e deixo meu casaco pronto, no exato momento que sinto uma rajada de vento invadir meu quarto.

–Bom dia, Wally. –digo com a voz mais baixa que o normal, vestindo o casaco, acho que já me acostumei a ele, a muito tempo não me assusto mais com suas entradas repentinas.

–Por que foi Sara quem me contou sobre seu encontro com Connor? –sinto o ar me faltar, seguido da indignação em sua voz. Wally cruza os braços sobre o peito, me olhando de cima, como se fosse uma garota levada recebendo bronca do pai.

–Na... não estou pen... pensando sobre, até ser obrigada a pen... pensar. –respondo com sinceridade, mas meu coração se acelerou no momento em que ele pronunciou o nome. –Como Sara... –mas para a pergunta pela metade. –Connor!

–É o que os melhores amigos fazem Delphine. –ele bufa pegando minha bolsa sobre a cama, depois caminha em minha direção me levantando em seus braços como se eu fosse um saco de arroz. –Não acredito que não me contou!

Wally passa a correr, ainda tagarelando o fato de me mostrar uma amiga relapsa, e o quanto estava desapontado por não ter confiado nele. Apenas fecho meus olhos para evitar a tontura, fazendo isso, era quase como andar de montanha russa sem olhar, ajuda consideravelmente a não colocar meu desjejum para fora. Sinto meus pés novamente no chão, sei que estou em sua base antes mesmo de abrir meus olhos e reconhecer o convex. Meu amigo dramático estava parado da mesma forma, com os braços cruzados e a expressão de desgosto, ou traição, não consigo entender direito.

–Ah Wally, eu não sei o que dizer! –confesso confusa, como uma forma de me desculpar, e começo a desabotoar o casaco. –Connor me convidou para um en... encontro. –tento resumir o máximo a história. -Nós vamos jantar hoje, em um restaurante francês. –dou de ombros, mas só de pensar sinto um choque em meu estômago, como se alguém dançasse hip hop dentro dele, estou tão nervosa que chego a sentir dor física. –Não quero pensar a respeito agora, pode ser? –ele parece estudar meu rosto por um momento, e não me preocupo em esconder todo meu desespero.

–Luna. –me chama sério, e o olho com pesar, não queria mesmo continuar aquela conversa, se fosse qualquer outra pessoa eu já teria encerrado o assunto com uma única palavra mal criada, mas nunca faria isso com Wally. –Tira o casaco. –fala, e obedeço por reflexo. –Agora pendura casaco. –aponta para o suporte ao lado da porta. –Pega casaco. –abro um sorriso assim que percebo o que estava fazendo.

–Esperou quanto tempo para usar essa piada? –pergunto indo em direção ao ring.

–Três dias! Já estava me matando! –fala exagerado me fazendo gargalhar, okay, minhas terças não são das piores, Wally é o melhor amigo que poderia querer ter nesse momento. –Vem, não vou mais pegar leve, você já ficou boa, vamos trabalhar essa velocidade agora. –diz como se o assunto proibido não existisse, e o olho com carinho, na esperança de que em meu rosto ele possa ver minha gratidão. –Quem sabe se te deixar boa o suficiente, você vem para Keystone. –brinca enquanto disfere um golpe do qual consigo desviar com facilidade.

–Isso não vai acontecer! –respondo no contra-ataque, o fazendo abrir um largo sorriso.

FELICITY

–Isso vai ser tão divertido! –exclamo me sentando em frente a meus computadores na caverna, com um Oliver nervoso, que parecia quicar no mesmo lugar atrás de mim, mas eu não me aguentava de tanta animação.

–Asa Noturna, como está o perímetro? –ele toca o comunicador contatando Dick.

‘Limpo.’ Responde prontamente.

‘Isso é um exagero sem precedentes!’ Isis diz, entrando na frequência.

–Não é exagero. –repreende a filha, tão sério que Isis deve ter estremecido do outro lado. -O que fazemos é perigoso, e não quero meu filho e Luna explodindo de alguma forma lunática. –Oliver revira os olhos.

–Ah Hon, se lembra do nosso primeiro encontro? –pregunto alheia a seu mal humor, virando minha cadeira em sua direção.

–Você acabou em uma maca, sangrando.

–Você se lembrou da cor da caneta que eu mordiscava quando nos conhecemos. –suspiro nostálgica, as vezes sinto falta de todo aquele drama.

–Eu estava tão distraído que colocaram um rastreador em mim!

–Estava lindo com aquele terno cinza... E nervoso! –solto uma risada divertida. –Foi um lindo primeiro encontro!

–Foi um pesadelo!

‘Estou confuso.’ Dick fala.

–O que eu perdi? –Sara me tira de minhas lembranças quando volta uniformizada e para ao lado de Oliver.

–Nada. –diz de forma vaga. –Vamos. –pega o arco sobre a mesa e começa a se afastar.

–O que deu no tio Ollie? –me pergunta em voz baixa.

–Ele só está nostálgico! –dou de ombros com um largo sorriso no meu rosto, vejo a expressão de confusa no dela.

CONNOR

Saio do meu quarto com um terno escuro que Sara escolheu, ela me fez usar uma gravata azul clara, argumentando que era a preferida de Luna. Não tenho ideia de como conseguiu essa informação, e não parece algo que Luna diria sem sofrer nenhum tipo de tortura, mas não perguntei para descobrir. Dou a última ajeitada em meus cabelos usando o espelho do corredor, as vezes é estranho me olhar e constatar todas as minhas semelhanças com meu pai, tirando poucas coisas que herdei de Sandra, como uma pinta abaixo dos olhos, e o formato do meu queixo, o resto é basicamente um esboço do que ele era com minha idade, talvez por esse motivo nunca deixo nem um fio de barba em meu rosto.

Um cara como eu, costuma tirar de letra toda a dinâmica de um encontro, é como um jogo no fim das contas, eu faço os movimentos certos e cruzo a linha de chegada. Costumava marcar hora para termina-los, sair com mais de uma garota em um único dia, quando estava entediado, ou estressado com uma nova ameaça. Foi assim com todas as outras, cada uma delas, diversão sem apego. Mas hoje não tenho ideia do que estou fazendo.

O que torna ainda mais estranho marcar um encontro com uma pessoa que dorme na porta ao lado da minha. Não existe campainha ou algum tipo de regra social na qual me apoiar. Nunca sai com alguém com o intuito de impressionar, ou conseguir um segundo encontro, me sinto um adolescente no dia do baile. Por esse motivo passo direto por seu quarto e resolvo espera-la na sala, me arrependo no momento que vejo Phill jogado no sofá, com a manete do videogame nas mãos.

–Como vai ser? Devo te chamar de cunhado agora? –debocha dando pausa em seu jogo, e se vira para me olhar com um sorriso zombeteiro.

–Não enche Phill. –murmuro nervoso, me sentando no sofá, de forma tão formal que quem olha não diz que estou na minha própria casa.

–É só um encontro. –tenta ajudar.

–Não, não é! –ele solta um riso curto.

–Okay... Quer jogar? –oferece para me distrair.

–Não.

–Connor, é melhor relaxar. –ele fala em tom preocupado, olhando sobre meus ombros.

–Estou relaxado. –minto com os olhos fixos em seu jogo de guerra pausado, Phill é uma droga nesses jogos, ele morreria assim que saísse da pausa.

–Que bom, por que Lu está pronta, e vai precisar se preparar para ver isso. –aponta em direção a irmã, e gostaria de não ter mentido, por que não estava nada calmo naquele momento.

Um sorriso involuntário aparece em meu rosto e se espelha no dela. Luna usava um vestido azul escuro, e sem mangas, justo em seu corpo, acabando logo abaixo do joelho, com alguns padrões traçados em preto, que moldavam cada parte perfeita dela, destacando sua pele alva. Seus cabelos estavam arrumados em um coque de lado, com cachos caindo sobre o rosto. Ela é linda, mais linda do que qualquer outra mulher que conheço, isso em seus piores dias, quando está gripada ou com cólica, mas hoje é a imagem da perfeição.

–Você está maravilhosa. –elogio em meio a um suspiro idiota, droga. Preciso me controlar, dosar o que digo, não quero que ela corra no início da noite, ou no fim.

–Você também. –responde me fazendo respirar aliviado. Ficamos parados por alguns segundos, não conseguia parar de olha-la.

–Vão perder a reserva. –Philippe fala nos tirando do loop em que nos encontrávamos.

–O pirralho está certo. Vamos? –ofereço meu braço para ela que encaixa o seu nele, e sinto um choque percorrer todo o meu corpo, quando sua mão toca a minha acidentalmente, essa noite me faria aprender a suportar um novo nível de tortura.

Puxamos alguns assuntos bobos a caminho do restaurante, como o encontro de Phill, as notas escolares dele ou a faculdade que minha irmã cursaria. Minha família, e todos os agregados fizeram um bolão, estimulados por Diggle, Wally e Barry costumam implicar com a mania do velho em apostar tudo, e sinceramente, estou começando a notar certo sentido. Luna apostou que Isis viajaria por um ano, disse que minha irmã precisa se encontrar antes de escolher uma profissão, e eu apostei em um monastério, é ridículo e já sei que perdi dinheiro, mas não custa nada sonhar, bom na verdade custa, nesse caso oitenta dolores.

Ao contrário de Isis, Philippe já preenche e enviava todos os seus formulários, com um entusiasmo que minha irmã nunca terá. Ele decidiu cursar literatura, mesmo sendo um artista nato, não que ele não possa fazer arte dessa forma, mas alguém com o dom que Phill possui, tem a obrigação em investir para melhora-lo. Luna tentou conversar, e eu comprei um violão e o “esqueci” na sala, mas ele é um Delphine, não preciso descrever o tamanho de sua teimosia. Por fim falamos do casamento dos nossos amigos, ignorando com esforço a situação de Sara, até que chegamos no restaurante, e percebemos que não dava mais para falar de outras pessoas.

–Sr. Hawke. –um homem que deve ser algum parente distante do finado Alfred, nos recebe na porta e recolhe nossos casacos.

Ele nos guia pelo restaurante vazio, até uma mesa no centro, decorada com um castiçal dourado, e algumas pétalas de rosas espalhadas sobre a toalha branca. Puxo a cadeira para Luna se sentar, e tento não me distrair com duas pintas que acabo de descobrir em suas costas. Sempre existiu muita tensão entre nós, o que com o tempo passamos a aprender a administrar, mas parece que desde domingo estamos a ponto de estourar, era como se fossemos duas bazucas carregadas, apontadas um para o outro. E quando se divide uma casa com alguém que te desperta esse tipo de sentimento, as coisas mais simples se tornam impossíveis.

–Vou trazer a carta de vinhos. –o “Alfred” diz, antes de se retirar.

–Não tem ninguém aqui. –Luna sussurra quando ficamos sozinhos.

–Queria que fosse o mais fácil possível, para você. –respondo e ela abre um sorriso que me tira o fôlego.

–É estranho, e pode ser paranoia, mas senti que estávamos sendo seguidos durante todo o caminho. –fala olhando para os lados, e solto uma risada curta.

–Wally não é um treinador tão ruim afinal. –murmuro.

–Ele não é nada ruim! –defende com lealdade, o que só torna mais divertido. –Não entendo qual é a graça.

–Nós estávamos sendo seguidos. –confesso, e ela parece assustada com minha calma.

–Como assim se... seguidos? –olha para aporta e suas mãos seguram por reflexo a faca que estava a sua frete, ela está certa, Wally é um treinador melhor do que eu pensei.

–Tenho certeza que meus pais já te contaram parte, se não, toda a história deles. –ela confirma balançando a cabeça. –Pois então, meu velho decidiu ser precavido, o primeiro encontro dos dois explodiu, literalmente. –esclareço. –Então, ele e Sara estão guardado o perímetro, Dick fez toda a varredura da área mais cedo, e está fazendo a ronda com Isis para os cobrir. Wally só não veio ajudar por que não poderia deixar Keystone ao relento. –dou de ombros tentando minimizar o evento em que nosso encontro se tornou, Luna me olhava boquiaberta.

–Tudo isso para que no... nós...

–Não te colocaria em risco, nem mesmo para poder finalmente sair com você. –falo, com a sombra de um sorriso passando por meus lábios.

OLIVER

Sara estava encostada sobre uma mureta, no terraço do prédio em que montávamos guarda, em frente ao restaurante. Posso ver que queria perguntar algo, e mal se continha, mas meu estado de espírito não era dos mais convidativos no momento, por isso ainda resiste. Felicity por outro lado, fazia muitas observações, e não duvido que nesse momento já tenha invadido as câmeras internas do estabelecimento e esteja tentando fazer leitura labial da conversa dos dois.

–Vamos apenas ficar aqui e observar? –questiona entediada. –Pensei que ao menos poderíamos saber o que está acontecendo lá dentro.

‘Eu tomei dois calmantes no nosso primeiro encontro, como será que Luna está se aguentando? ’

Aponto para uma movimentação estranha no prédio ao lado. –Por favor que seja alguém em quem eu possa bater. –Sara murmura unindo as mãos como se fizesse uma oração antes de passar a corre ao meu lado. Atiramos flechas com cabos que nos levaram para o outro prédio, vejo uma sombra grande, se curvar sobre outra menor, preparo uma flecha mirando um e Sara faz o mesmo com o outro.

–O. Que. Fazem. Aqui? –digo de forma ameaçadora com minha voz alterada pelo modulador. E começo a distinguir as formas na escuridão.

–Na-nada. –gagueja um homem com a blusa semi aberta, vejo o rosto de uma garota escondida atrás dele. –Só estávamos...

–Saiam daqui e arrumem um quarto! –Sara ordena, e eles assentem nervosos antes de saírem correndo como se suas vidas dependessem disso. –Não sei o que está acontecendo Arqueiro, mas precisa parar de paranoia. –ela me olha séria, e começa a voltar para nosso ponto de guarda.

Muitas lembranças passam como flashes em minha cabeça, nenhuma delas boa. Felicity amarrada em seu antigo escritório no departamento de TI, parada sobre uma mina terrestre, sentada a frente do Conde Vertigo, que ameaçava matá-la. Depois dentro de um banco, tentando atrair o Rei dos Relógios, o que acabou com um tiro em seu ombro. Slade com uma katana em volta de seu pescoço, mal conseguia manter meu arco em minhas mãos. Seu corpo inconsciente, coberto por sujeira e sangue, após mais um dos malditos Condes Vertigos explodirem nosso encontro. Ela quase morta em meus braços, no dia em que a pedi em casamento...

‘Eles não são como nós éramos.’ Escuto a voz de Felicity pelo comunicador, me trazendo de volta a realidade.

–São exatamente como nós éramos. –eu via meus olhos em Connor quando ele olha para Luna, e é exatamente da mesma forma que olho para Felicity.

‘Não, não são. Nós não sabíamos se poderia ou não dar certo, era um tiro no escuro, não existiam exemplos a serem seguidos. Ninguém que conhecíamos, além de John tinha tanto a perder estando na vida que levávamos. Você precisou que Wally aparecesse do futuro, para te dizer que eu estava bem, e viva, ao seu lado. Só então me comprou aquele sorvete...’ Sua voz calma vai me colocando em ordem aos poucos. ‘A única coisa que Connor e Luna tem em comum com nós dois na idade deles, é o fato de se amarem mais do que qualquer outra coisa no mundo.’

–Não quero que Connor cometa meus erros. –confesso. –Ele se parece tanto comigo que...

‘Fisicamente, muitas partes do caráter dele, e claro, o fato de ter enrolado a garota por anos.’ Ela solta uma pequena risada. ‘Já se olhou no espelho Oliver? Não é mais o que era a vinte anos atrás. Connor nem mesmo conheceu aquele cara. Você é alguém do qual ele se orgulha, se espelha, exatamente como é hoje. Não por ser o herói com o qual ele compartilha o manto, o Arqueiro Verde não pode levar os créditos que você conquistou como pai. Oliver Queen é o verdadeiro herói do filho, e sei que ele nunca te escondeu isso.’

–Graças a você. –consigo respirar aliviado pela primeira vez em meu dia. –Que me puxa sempre que ameaço voltar para toda aquela escuridão.

‘É meu trabalho, sempre vou estar aqui para isso. E nossos filhos ficaram bem meu amor, por que vamos estar aqui por eles.’

–Sim, nós vamos.

LUNA

Olho para o prato de comida a minha frente, parecia apetitoso, isso se eu tivesse um estômago útil no momento, por que o meu só sabia se revirar dentro de mim, esquece o hip hop, agora está mais para alguma dança exótica do Brasil, frevo ou samba. Connor não partilhava do mesmo mal que eu, devorava seu ratatouille como se não houvesse amanhã. Duas coisas que apesar de todo o drama, um herói nunca deixa de fazer: Dormir quando tem tempo, e comer quando é possível.

–Como está seu Poulet Vallée d’Auge? –solta no mais perfeito francês, me fazendo sorrir.

–Não provei ainda. –Connor semicerra os olhos.

–Mas é seu preferido, você nunca dispensou um prato desses antes. –posso o ver tentando esconder sua expressão convencida. –Vai Luna. –incentiva, respiro fundo, contrariada e pego uma pequena porção para provar, ele espera que eu mastigue pacientemente, mas a forma que me olha não ajuda. -Então? –penso em dizer que não dá para sentir o gosto com ele e aqueles olhos azuis indecentes, mas minto, usando minhas lembranças do motivo de gostar tanto desse prato.

–Tem gosto de lar. –ele sorri para mim, satisfeito com a resposta e feliz por ter agradado. –Sabe, a minha mãe só conseguia cozinhar isso. –dou risada lembrando das expressões temerosas que meu pai fazia sempre que ela surgia com uma nova receita. –Ela tentava, juro! Mas não era a “coisa dela” cozinhar. Não conseguia fazer nada comestível, além, do poulet vallèe d’auge, esse era perfeito. Cheguei a enjoar de tanto que ela fazia. No último ano em que eles estavam vivos eu... reclamava sempre que sentia o cheiro. –coloco mais uma colher na boca, agora fecho meus olhos sentido o sabor do contreau, as maças e a crocancia dos pedacinhos do frango frito. Recomeço a dizer ainda com os olhos fechados. –Não tem o mesmo gosto, nem chega perto. Virou um tipo de obsessão minha encontrar um que seja igual...

Quando volto a abrir meus olhos a expressão de Connor me deixa sem ar. Ele me olhava com os lábios repuxados em um pequeno sorriso, seus olhos eram tão intensos que não me sentiria exposta dessa forma, nem mesmo se estivesse nua, a sua frente. As pupilas estavam completamente dilatas, escondendo a maior parte de seu azul elétrico, e as maçãs perfeitas de seu rosto estavam levemente coradas. Um suspiro involuntário escapa de meus lábios, não conseguiria falar nem mais uma frase com contexto no momento.

–Acabei de ter uma ideia! –ele se levanta e me oferece a mão.

–Connor, o que está fazendo? –deixa muito mais que o necessário para pagar a conta sobre a mesa. -Mas e tudo isso? E nosso encontro? –olho ao redor sem entender, enquanto ele me puxava para fora.

–Não pirem, estamos saindo em paz! –ele diz tocando o comunicador em sua orelha e dá risada de algo que disseram em resposta.

–Oliver podia ouvir nossa conversa? –estremeço com a ideia, ele segura a porta do carro aberta para mim, parecendo achar graça da situação.

–Não, Felicity me prometeu que só escutariam se eu acionasse. –respiro aliviada, e ele começa a dirigir pela cidade. –Luna, você é tão inteligente, mas as vezes acho que não faz o uso correto de seu super poder. –tenho até medo do que está se passando naquela cabeça perturbada. –Uma garota com memória fotográfica, não deveria se torturar em uma caça ao tesouro às cegas, quando tem o mapa para o baú guardado no cérebro! –ele para em frente a um supermercado, e sai apressado para poder abrir a minha porta.

–Não sei se você percebeu uma coisa. –murmuro caminhando a seu lado. Connor tinha suas mãos seguras em suas costas, uma postura que ele adotou depois que me convidou para sair.

–Que coisa? –pergunta pegando um carrinho de compras.

–Philippe vai estar em casa... –olho para meus scarpins amarelos, incapaz de encará-lo e o deixar perceber o quanto queria estar naquele restaurante agora, falando de coisas que me fariam gaguejar.

–Vai ser bom para ele se você conseguir, Philippe precisa entender que ainda pode fazer coisas que lembrem os pais de vocês, talvez seja exatamente o que ele precisa agora. –seu tom era completamente fraternal, e adoro isso no Connor, ele realmente se preocupa.

Agora entramos em nossa zona de conforto, onde não existe nervosismo, ou coisas erradas para serem feitas, ou ditas. Somos sincronizados, adiantando os movimentos um do outro, quase posso ler sua mente. Se Barbara e Dick dividem o campo de batalha e Felicity e Oliver tem aquela química estranha quando ele está em combate e ela o guiando, Connor e eu somos excelentes em tarefas domésticas, é sério, isso aqui é nossa zona de guerra.

Pego todos os ingredientes necessários enquanto ele caminha com o carrinho ao meu lado, assoviando “Eye Of The Tiger” e pega antes mesmo que o peça os ingredientes que estavam em alguma prateleira alta demais para mim. Não demora mais do que dez minutos e já estávamos de volta ao carro. Apesar de ser um lindo gesto, uma parte minha estava triste por não ter mais encontro.

FELICITY

Oliver entra na caverna seguido por Sara, eles apenas me olham antes de irem se trocar. Quando voltam, o vejo conversar com a afilhada por alguns minutos, os dois se abraçam, e Sara vem em minha direção, dando um beijo em meu rosto, então a teleporto para sua casa, onde encontraria seu noivo. Vigiar o encontro alheio deve ser um porre para alguém prestes a se casar.

–Então, Connor desistiu do encontro na metade? –pergunto me levantando e já pego minha bolsa.

–Não sei ao certo o que aconteceu, mas eles saíram felizes de um supermercado. –Oliver conta, e a história só parecia ficar ainda mais estranha.

–O que foram fazer em um supermercado? –ele sorri de toda a minha curiosidade, e dá de ombros como resposta.

–Como estão Dick e Isis?

–Até agora só evitaram alguns assaltos, e dispersaram meia dúzia de vândalos. Não parecem nada felizes.

‘Eu odeio terças feiras!’ Isis exclama em resposta pelo comunicador. ‘Quer dizer que o mané do Connor já terminou o encontro?’

‘Nightmare, eles moram na mesma casa. Sei que se tornou maior de idade a algumas horas’ debocha ‘, mas deveria perguntar mais uma vez a seus pais de onde vem os bebês.’ Oliver revira os olhos a meu lado.

‘Você não mora com os Queen’s, se eu não for esperta, posso ter uma demonstração ao vivo de como eles são feitos!’ ela devolve no mesmo tom, e sinto minha face queimar.

–Acho que já deu por hoje. –Oliver toca o comunicador, encerando a conversa. –Podem voltar para a base.

LUNA

–Por que voltaram tão cedo? –Phill pergunta surpreso ao nos ver entrando no apartamento.

–A qualidade da comida. –Connor responde mostrando as sacolas.

–Connor teve uma... –pondero por um segundo, pesando os prós e contras. –Digamos que boa ideia, boazinha... –soa exagerado de qualquer forma.

–Ele espera o momento certo para te levar para sair a mais de quatro anos. E quando finalmente acontece, vocês ficam menos de uma hora fora, voltam para casa, onde eu estou, e ainda pretendem cozinhar? –meu irmão franze o rosto. –Cara, sinto te dizer, mas essa é a pior ideia da história! –preciso morder meus lábios para não sorrir, ou concordar com Phill.

–Luna vai fazer Poulet Vallée d’Auge. –Connor ergue uma sobrancelha, e vejo o brilho instantâneo surgir nos olhos de Philippe. –E com os benefícios da memória dela, tenho quase certeza de que pode ser igual ao da mãe de vocês. Nós não faríamos isso em um lugar onde você. –aponta para ele. –Não estivesse. –sinto meu peito se encher de algo novo, desconhecido até então, Connor parece alheio a forma que o olhava enquanto despe o paletó, o colocando sobre um banco. –Vamos, ou não comeremos hoje! –bate palmas nos despertando e começo a instrui-los com tudo de que me lembrava, tomando para mim as tarefas mais detalhadas.

Trinta minutos depois estava tudo pronto, Connor e Phill arrumam a mesa enquanto eu termino a salada e ajeito o prato principal. Eles acendem velas e usam nosso melhor jogo de jantar. Quando olho para a mesa decorada, me surpreendo com o cuidado do trabalho dos dois. Me lembro de jantares como esse que nossos pais davam, apesar que na maior parte deles nós apenas comprávamos comida de um delivere qualquer.

–Precisam esperar, todos nós vamos provar juntos. –Connor diz quando estamos sentados, já com nossos pratos feitos a nossa frente, Phill e eu trocamos um olhar cumplice e o sorriso de alegria em seu rosto é impagável. –Agora!

Olhamos um para o outro antes de levar o garfo a boca, Phill é o primeiro a fechar os olhos, eu faço o mesmo em seguida. Não estava pronta para isso, não estava pronta para encontrar o que procurei por tanto tempo. Tive vontade se sorrir, chorar, ouvir a voz dos meus pais, mas apenas sinto uma única lágrima escorrer pela lateral da minha face. Estava perfeito.

–Eu senti falta disso. –a voz rouca de Phill me traz de volta do lugar onde emergi. Ele estava radiante, mas posso ver a pequena pitada de tristeza em seus olhos. –Obrigado. –suspiro olhando para meu irmão, depois para Connor.

–Tem uma forma melhor de agradecer. –Connor comenta despretensioso.

Phill e eu nos revezamos para contar antigas histórias da nossa família para Connor que ouvia tudo, cheio de interesse. Principalmente quando a peste do meu irmão resolveu falar de London, nosso antigo vizinho, um cara dez anos mais velho pelo qual eu tive uma paixonite adolescente. Eu acabava precisando completar algumas coisas nas histórias de Phill, das quais ele não se recorda, mas não me lembro de ter falado tanto assim a anos, ou me divertir nessa quantidade.

Os dois me baniram da cozinha quando começamos a arrumar as coisas, então peguei uma taça de vinho e fui para a sala, onde podia os ver cochichar um para o outro. Depois que se perde algo tão importante como os pais, até mesmo os momentos mais felizes como esses são tristes. Não posso evitar em pensar no que minha mãe falaria sobre Connor, ou imaginar as conversas que meu pai teria com ele, nos jogos que poderíamos jogar juntos quando fossemos visitar minha família, todos esses “se’s” são capazes de alegrar e massacrar o coração ao mesmo tempo.

–Pronta? –Connor arrumas as mangas dobradas de sua camisa social branca, enquanto caminha em minha direção afrouxando a gravata, meu irmão passa por mim, e para meu completo choque, pega o violão acústico no canto da sala e começa a dedilha-lo.

–Phill? –sussurro sentindo mais uma vez o nó se formar em minha garganta, ele apenas abre um lindo sorriso para mim, e passo a reconhecer os acordes de Friends, do Ed Sheeran. Escolha pretenciosa, mas resolvo que estou feliz demais para implicar com as indiretas do Phill.

–Isso é um encontro, lembra? –Connor me oferece a mão, aceito me levantando com sua ajuda, ele retira minha taça a deixando sobre mesa de canto, depois envolve minha cintura com sua mão livre e passamos a nos mover ao som da voz e dos acordes traçados por Phill.

–Você conseguiu o fazer tocar. –sussurro emocionada olhando em seus olhos.

–Philippe é bom demais para não saber o quanto é bom... –ele parece confuso com as próprias palavras. –Fiz sentido? –pergunta me fazendo sorrir.

–Fez. –confirmo deitando minha cabeça em seu ombro.

–Preciso te confessar uma coisa. –o tom temeroso de sua voz me faz olhar mais uma vez para seu rosto. –Quando nos conhecemos. –respira fundo nervoso. –Aquela garota...

–Camille. –completo ao perceber que ele não se lembrava.

–Isso! Ela não desmarcou o encontro, eu desmarquei. –seus olhos estavam inseguros, de uma forma que nunca vi antes. -Queria voltar e te ver, não sei se por ter achado charmosa a sua forma de não gostar de mim, pelo desafio de te fazer gostar, ou por não conseguir achar mais nada de atraente nela, depois que coloquei os olhos em você. –parecia ter medo de que o xingasse, o que me faz soltar uma breve gargalhada. –Não está brava. –não era uma pergunta, estava tentando me entender.

–Connor, a garota ficava desapontada, sempre que você aparecia na empresa depois disso, indo direto para a sala de sua mãe, mas sempre parando na mesa da assistente. –aponto para mim mesma. –Camille passou um ano sem se quer me olhar, mesmo eu dizendo para tudo e todos que nunca tivemos nada. Você visitou a QC todos os dias nas primeiras três semanas depois do incidente no elevador, esquecendo que havia dito a garota que estava na China! –nem ele consegue conter o riso, era absurdo demais.

–Eu não me lembrava dela. –assume, ao menos teve a decência de se envergonhar.

–Obrigada. –ele se afasta um pouco para ver meu rosto, de tudo o que poderia falar, vejo que essa palavra era a única que ele não esperava.

–Por te fazer ter menos amigos? –brinca, confuso.

–Não. Por ser o que você foi hoje, desde o dia em que salvou minha vida. –fico surpresa por não ter gaguejado, mas minha voz saiu cheia de certeza. –Por ter me aceitado com todas as minhas estranhezas, tornar Philippe parte da sua família, como ele é a minha.

Um sorriso enorme surge nos lábios de Connor, seguido de um pequeno suspiro. Uma parte da minha mente percebe quando a música acaba, e capta a saída discreta do meu irmão para nos dar privacidade. Connor passa as mãos por meus braços nus, até alcançar meu rosto, que segura com a maior delicadeza possível entre suas mãos, eu não me atrevo a respirar, ou me mexer, estava apenas hipnotizada por seus gestos. Acaricia minhas bochechas com os polegares, e descansa sua testa sobre a minha.

–Luna, vocês são a minha família. E eu adoro cada uma das suas estranhezas, quanto mais estranhas melhor. Não te trocaria por nada, para mim, você é perfeita. –diz cheio de carinho.

A verdade em seus olhos é esmagadora, e sei que os meus estão se enchendo de lágrimas, quando sinto seus lábios me tocarem. Primeiro próximo a minha boca, Connor estava me dando a chance de recuar se quisesse, como não faço nada, ele me dá primeiro um selinho delicado, depois sou eu que me inclino em sua direção, pedindo por mais. E finalmente estávamos nos beijando, não por um plano, ou por que deveria ter feito, nem mesmo por ele ser como um centro magnético que me faz girar a seu redor, mas por que é o que queremos, estamos prontos.


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Notas finais do capítulo

E os coros de Aleluia ecoam ao nosso redor!
Nos contem o que acharam!
Bjnhos