Beatrice Baudelaire escrita por Jhiovan


Capítulo 2
Dois




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Se você neste momento tentar ler de olhos fechados, entenderá melhor a sensação de Beatrice ao tentar descobrir onde estava quando usava uma venda nos olhos. Somente sentia as curvas e buracos da estrada, avenida, rua ou o que quer que fosse o caminho percorrido pelo automóvel preto. Por fim, alguém abriu a porta e mandou que ela saísse. Ela obedeceu e quase tropeçou no caminho. Como você deve saber, a não ser que seja cego, para a maioria das pessoas é difícil andar sem enxergar. Por isso, Beatrice usou as mãos para não bater em nada - o que as vezes falhava. Havia alguém que lhe guiava e indicava por onde ir, o que ajudava um pouco.

"Por aqui. A esquerda. Isso. Siga em frente. Não! Em frente!", assim dizia a voz masculina. Após algumas voltas e batidas na parede, este alguém abriu uma porta e disse: "Agora sente-se."
Este homem finalmente tirou a venda de seu rosto e havia uma luz tão forte que lhe doeu a vista por alguns segundos. A menina não pôde enxergar o homem que falava por trás da luz.
"Muito bem, senhorita Beatrice Baudelaire.", chamou o homem misterioso que misteriosamente sabia seu nome. Ele tinha uma voz série e grave. "A partir deste momento será apenas chamada pelas iniciais B. B. Isso não se trata de um sequestro. É um recrutamento com total autorização de seus pais e responsáveis. Você passará por um treinamento para se tornar uma voluntária de nossa organização. Mas primeiramente precisamos saber se podemos confiar em você. Passará por alguns testes e avaliações, sendo este o único aviso prévio. Entendido, B?"
A pequena Beatrice permaneceu calada por uns instantes, estava confusa e atordoada demais para responder. Na verdade ela não estava entendendo muita coisa. Uma delas era por que seus pais haviam permitido que eles a levassem, outra era por que ela havia sido escolhida para e estar ali e outra como eles sabiam sobre ela.
"Er... Entendido, senhor..."
"Me chame de C", disse C.
"Eu tenho algumas perguntas, senhor C", B soltou.
"Pode me perguntar o que quiser, senhorita B. Mas nem todas terei que responder"
"Por que eu fui escolhida? Não faço nada de especial e além disso tenho só dez anos."
"Você tem mais habilidades do que pensa, minha cara B. Temos observado principalmente sua capacidade artística de encenação e em técnicas de disfarce. Elas serão muito úteis. Além disso, é com essa idade que..."
"Espera.", interrompeu B apesar de saber que era indelicado interromper adultos. "Quer dizer que vocês me observaram?"
"Não é delicado interromper adultos, mas você aprenderá isso. Sim, precisamos sempre de uma avaliação prévia do neófito antes de ingressá-lo em C.S.C."
O homem esticou as mãos, que usavam luvas pretas e entregou a B uma foto dela, mais nova, quando ainda estava aprendendo a andar. Era muito estranha a sensação de saber de repente, que sempre esteve sendo observada. Isso deixou-a ainda mais atordoada e confusa. Ela olhou para baixo pensativa e viu a tatuagem de um olho que continuava em seu pé.
"O que é isso?", perguntou apontando para o pé.
"É a marca de que você é membro de nossa nobre organização. Ela lhe acompanhará para onde você for, assim como deve ser sua lealdade a nós."
"E... o que vocês fazem de nobre além de levar crianças?", questionou B, que estava indignada com aquilo.
"Amanhã você terá todas as instruções que precisa sobre a organização." Seu tom de voz sério, mudou para um mais afetivo. "Não tenha mágoa, B. Seus pais e nós não faremos nada para lhe prejudicar. Com o tempo entenderá melhor."
Então C se aproximou e B pôde ver seu rosto. Ele possuía umas poucas rugas na testa, como de alguém que passa tempo demais com a cara séria. Ele usava um chapéu clássico marrom.
"Venha", disse C. "A senhorita V irá levá-la ao dormitório feminino e conhecerá suas colegas".

A senhorita V, era uma bela jovem de cabelos loiros e grandes que usava uma roupa branca de enfermeira. Ela sem dizer uma palavra, levava B em um corredor sem nenhuma decoração e seguiam sempre em frente. Beatrice - ou somente B - achou curioso alguém que não estava em um hospital estar usando roupas como tal.
"Desculpe a pergunta," arriscou-se B, "mas a senhora é enfermeira daqui?" A mulher soltou uma breve risada.
"Não, querida." V chamou-a como seu pai fazia. "Sou apenas uma voluntária. Assim como você um dia vai ser. Estava investigando um caso de um hospital em que muitos pacientes desapareceram. Mas isso não é algo que eu deva comentar com você ainda, querida." Elas chegaram ao fim do enorme corredor e a mulher bateu três vezes.
Uma voz de dentro do quarto gritou:
"Amiga ou inimigo?"
"Amiga!" respondeu V automaticamente.
"Senha?"
"Aqui o mundo é feminino"
B ficou sem entender o sentido daquele diálogo.
A porta se abriu, ou melhor foi aberta por uma garota bem maior que B, usando coque alto nos seus cabelos negros e um óculos no rosto. As duas entraram no dormitório feminino. Havia muitos beliches com várias crianças e jovens de idades muito diferentes, que se distraiam jogando cartas, brincando ou conversando. A senhorita V pigarreou para chamar atenção de todos, que pararam por um instante suas tarefas.
"Esta é B. B.", apresentou V. "É uma neófita, por isso quero que todos a tratem bem." Alguns deram acenos e sorrisos educados. Outros ignoraram o que a adulta disse. Ela voltou-se à Beatrice. "Vou deixá-la à vontade. O seu beliche é o de número 13.", e V saiu pela porta.
"Seja bem-vinda, B", disse a garota que abriu a porta. "Sou J. A.". Então sussurrou em seu olvido "Meu nome na verdade é Josephine Anwhistle".

Se você tivesse a oportunidade de conhecer tia Josephine muitos anos mais tarde, saberia que a morte de seu marido e a solidão deixou-a totalmente paranoica e com muitas fobias. Entretanto, no momento relatado, ela ainda não passara por esse trauma, comportando-se normalmente.

"Brigada. O meu é Beatrice Baudelaire. Por que usam abreviaturas?"
"O correto é dizer-se 'obrigada'. Porque é mais seguro.", falou olhando para os lados. "Nós como organização secreta devemos fazer tudo o mais seguro possível. Podem usar seu nome para muitas coisas más. Imagino que como neófita deve ter muitas perguntas na cabeça."
"Sim, uma delas é 'que é neófita?'", indagou Beatrice.
"O correto é dizer-se 'o que é'. Significa que você é um tipo de iniciante, que entrou recentemente."
"Você gosta de falar corretamente, não?"
"Sim, a gramática é o que eu mais amo", falou sorrindo. Beatrice, apesar de sentir-se confusa, agora sentiu-se um pouco melhor sabendo que era bem recebida por alguém. "Vamos, vou mostrar-lhe seu beliche."
Elas caminharam pelos corredores de beliches enfileirados, que seguiam ordem numérica. O 13 era o último do corredor à esquerda, ficando encostado à parede.
"Suas coisas estão lá. O seu é o de cima.", disse Josephine apontando.
"Essa é a novata que chegou hoje?", perguntou uma voz infantil escondida no beliche de baixo.
"Sim, Kit. Esta é B. B, esta é K." apresentou Josephine.
De baixo do beliche, apareceu uma criança loira ainda mais nova que Beatrice.
"Olá, K. Quantos anos você tem?" A menina tímida respondeu mostrando quatro dedos. Beatrice sorriu.
Mesmo estando em um local contra a sua vontade e rodeado de pessoas desconhecidas, a neófita possuía esperanças de que sua estadia pudesse ser agradável perto de pessoas agradáveis como elas. Isso, ao menos até ser acordada por sirenes e avisos de que havia um incêndio.


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Notas finais do capítulo

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