Pelos Olhos da Loucura escrita por Scout caramel


Capítulo 5
Medo


Notas iniciais do capítulo

Oi! Quero agradecer de novo a todo mundo que comentou, obrigada pelo incentivo e pelo tempo que vocês gastam comigo, seja lendo, comentando, etc. Saber o que vocês pensam me faz muito feliz, mesmo que nem sempre eu concorde, afinal, o que seria do mundo se todos sempre tivessem a mesma opinião?



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“Há um momento em que, mesmo aos olhos sóbrios da Razão, o mundo de nossa triste Humanidade pode assumir a aparência de um inferno.”
Edgar Allan Poe

Depois de devorar o restante dos biscoitos, Edgar se virou pra mim, o queixo cheio de migalhas, parecido como no dia em que o conhecera, quando ainda éramos meros estudantes de Direito. Eu era tão tímida que mal conseguia se fazer ouvir direito, ao contrário dele, que fazia piada com tudo e se enturmava tanto com a turma do fundão quanto com os CDFs. A faculdade teria sido bem pior do que realmente fora se não o tivesse conhecido, sem dúvidas. Por um minuto devo ter permanecido com o olhar distante, porque ele balançou a mão na frente do meu rosto, repetindo:
—Alô, terra para Joana, Alô... Houston, temos um problema.
—Para, Edgar, tô aqui... — Falei, rindo um pouco. Não consegui mais controlar minha risada.
—Que foi?— Ele perguntou, sorrindo confuso pra mim.
—Seu rosto, tá todo sujo. — Tentava explicar em meio as minhas próprias gargalhadas. Pra piorar, ele ainda tentava limpar as migalhas com a própria língua.
—Aqui. — Falei, levando a ponta dos dedos ao ponto da bochecha dele que ele não alcançara, quando ele segurou minha mão de repente. Senti meu rosto se aquecendo, a respiração dele mais próxima da minha; Seus olhos me encaravam, inquisitivos, talvez esperando por algum sinal... Céus, o que eu estava fazendo? Permanecia parada sem saber ao certo o que queria fazer, quando por fim ele desviou seu olhar do meu:

“Desculpa...” Foi o que ele disse, levantando-se do sofá, apalpando e guardando as mãos dentro do próprio casaco.

“Não, tudo bem... Não precisa se desculpar.” Foi o que eu disse.
O que eu queria realmente ter dito?

Nem eu mesma sabia ao certo.

Após aquela tarde, não tornamos a nos falar. Assumi que ele estivesse tão confuso quanto eu estava. Me revirava na cama, pensando e repensando todos os momentos passados, tentando decidir o que era cada coisa que sentia, cada coisa que entendia. Só o que consegui foi uma enorme dor de cabeça. Bobby esfregava a cabeça perto do meu rosto, deixando seus pelos por todo meu cabelo. Afaguei a base de suas orelhas, murmurando: — Sorte sua ser castrado... Não tem nem que se preocupar com essas coisas...

Edgar era meu amigo; Não podia ser mais nada meu... Não poderia dar certo.

Ou será que poderia?

Não, não poderia; Uma hora, ele veria que eu não era tudo isso que ele pensava de mim. Ele veria que a Joana de verdade era bem menos interessante e corajosa do que ele pensava. Essa era a parte sensata de mim, me alertando, avisando.

Ou isso seria a parte covarde de mim me dizendo que eu nunca seria boa o bastante pra ninguém?

Nada mais poderia estar fazendo menos sentido pra mim... Ao contrário do que seria lógico, quanto mais eu refletia naquele dilema, menos eu conseguia resolvê-lo; Precisava de algo que distraísse minha cabeça daquilo tudo. E depressa...

Como não conseguia pensar em mais nada que me distraísse, me voltei para o computador. Se era pra desperdiçar tempo, ao menos que desperdiçasse tentando descobrir uma nova pista, pensei. Digitei no buscador da internet as palavras-chaves “navio”, “Baía de Guanabara” e “Morella”, esperando encontrar um vídeo de alguma reportagem, ou mesmo alguma nota sobre o caso. Suspirava entediada rolando a barra de navegação, até que parei em frente a um vídeo que eu não havia visto ainda; Cliquei.

Nele o navio aparecia sendo rebocado para longe da praia, segundo o repórter para um desmonte. Nada dito sobre onde ficaria o tal lugar, mas a narração continuou: “A transportadora responsável, a WRV Transporter, será indenizada pelo que teria sido um “acidente de navegação, causado possivelmente por um vazamento de gás natural”. Claro que eu e o contador Geiger sabíamos que a história era diferente. Na hora, me lembrei de uma expressão aprendida num dos contos do Edgar Alan Poe; “Cui bono”, ou “Á benefício de quem”, duas mágicas palavrinhas segundo o detetive do conto. O caso era que eu podia não ter meios de saber de onde tal quantidade de radiação possa ter vindo, mas por outro lado eu tinha um possível motivo: Uma gorda indenização, um valor considerável por um cargueiro velho e cheio de mercadoria barata, ao preço das vidas daqueles miseráveis tripulantes, algo aceitável do ponto de vista de indivíduos sem escrúpulos.

Passei uma boa meia-hora vasculhando, procurando por algum registro dos proprietários da tal empresa, quando encontrei uma página que me pareceu confiável. Infelizmente não encontrei nenhuma informação útil, apenas que era uma empresa carioca fundada em 1889 com outro nome, por Pedro Vásquez Camargo. Os nomes não me eram nada familiares. Continuei pesquisando... Após uma série de sites e algumas menções, cheguei finalmente ao que queria: a transportadora passou por gerações até as mãos de Almir Ferreira Camargo, mais conhecido como Ferreirão, o governador! Me afastei do teclado, boquiaberta com aquela revelação. Era estranho pensar naquela possibilidade, mas de certa forma, fazia sentido: Provavelmente tal “indenização” seria na verdade uma chance pra lavar dinheiro, ou mesmo como produto de alguma transação ilícita entre o governador e alguma outra figura, talvez até relacionada com o tráfico. Ainda assim, era uma hipótese meio fraca, visto que não justificava o problema da radiação. Ai, toda aquela confusão de sentimentos deveria estar embaçando meu raciocínio...

Senti a mão coçando pra apanhar o celular e falar tudo isso ao meu parceiro, mas me contive. Não seria uma boa hora pra fazer isso, além de também não ser seguro, precisaria ter muito mais certeza e principalmente provas pra fazer isso ou incorreria num crime de calúnia e difamação.

Provavelmente nossos celulares estariam grampeados.

Tive então uma ideia, marcaria um encontro com ele pra falarmos disso, é lógico; Apanhei o celular, digitando um sms para Edgar: “Passa aqui em casa amanhã pra pegar seu casaco que você esqueceu.” Mandei a mensagem, imaginando que talvez assim ela passasse despercebida. Conversar pessoalmente era o único jeito.

Depois de alguns minutos, ele me respondeu: “Que casaco?” Se pudesse, teria esmurrado a cara dele se ele estivesse na minha frente.
Inspirei, me acalmando e digitei novamente: “Aquele que você deixou aqui. Vem amanhã, às 14:00, na pracinha.” Um local público era bom porque me daria um motivo pra checar se tinha alguém na nossa cola.

“Entendi” Ele me respondeu em poucos instantes.

Só depois me lembrei de tudo que tinha acontecido antes. Pobre Eddie, na certa pensaria que eu havia mudado de ideia sobre aquilo, sobre nós. Não queria quebrar o coração dele, mas já mandara a mensagem. Escrevi mais uma, dizendo:

“Somos amigos” Digitava, meu polegar dolorosamente à milímetros do botão de enviar, não chegou realmente a tocá-lo.

Apaguei a mensagem.


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Notas finais do capítulo

Bom, esse capítulo ficou menor simplesmente pela minha ansiedade em postar ele logo, então o que vem a seguir pode ser considerado uma espécie de sequência desse capítulo, se eu não fosse tão ansiosa em querer postar tudo assim que escrevo. Se houver algum errinho, por favor, se puder me apontar serei grata, se não puder releve que eu conserto depois! E bem, comentem o que acharam, porque eu realmente gostaria de saber o que vocês pensam do relacionamento entre a Joana e o Edgar: (voz de narrador de novela mexicana: Será amor, ou só amizade mesmo? E o misterioso caso do Morella...Será que o governador está mesmo envolvido num esquema intrincado e escuso, ou isso seria apenas um erro de dedução da nossa querida detetive? Leiam nos próximos capítulos de "Pelos Olhos da Loucura"...) XD